O século XVIII foi denominado como Século das Luzes, pois se viu a movimentação de muitos intelectuais e pensadores da época contra as injustiças sociais, a intolerância religiosa e a manutenção de facilidades para os mais abastados e detentores do poder.

          Os iluministas, como eram chamados, defendiam o livre comércio independente do Estado, bem como mais liberdade religiosa, igualdade entre os homens, liberdade de expressão e o direito a voto na escolha de seus governantes. Tudo com o anseio por uma sociedade mais justa e, por conseguinte a felicidade, tudo por meio da razão.

          Eram definitivamente contra o absolutismo “monárquico”, contra o poder da Igreja, pois restringia sobremaneira a produção intelectual livre, contra o mercantilismo, pois acreditavam que o Estado contrariava o individualismo dos burgueses. Outra das bandeiras dos iluministas era o desenvolvimento da ciência em pró de nova sociedade.

          Uma das marcar mais evidentes do movimento é que este colocava segurança na razão humana, tanto que se acreditou que o uso da racionalidade levaria o homem a um progresso sem limites. No entanto, o iluminismo era mais uma atitude do que um conjunto de ideias. Mesmo porque o desejo de se reexaminar todos os valores e ideias já existentes trouxe à tona uma diversidade enorme de novas teorias, muitas vezes contraditórias entre si e até mesmo incoerentes. Mas apesar de tantas divergências de ideias entre os iluministas a Igreja não deixou de ser duramente atacada. Porém algo interessante é que percebe que a grande maioria dos críticos não a abandonara.

          Com o avanço do ânimo exacerbado pela ideia da razão sobre a fé formaram-se grupos de aristocratas com o intuito de se discutir sobre escritos filosóficos e as experiências científicas, o que se denominou despotismo ilustrado. Tal realidade não deixou de influenciar sobremaneira a religiosidade, fazendo com que a iluminação da razão sobre a fé determinasse como consequência uma desmistificação da mesma, provendo os cristãos de argumentos mais palpáveis e racionais sobre as crenças, afastando de vez aquela visão mágica da religião. No entanto não se pode negar que o iluminismo foi decisivo para o declínio da Igreja, ao mesmo tempo em que impulsionou o avanço do secularismo que até hoje persiste. Além de firmar as bases para o liberalismo econômico e político do século XIX.

          Aconteceu que o iluminismo acabou por deflagrar a Revolução Francesa, a qual trazia consigo a essência das ideias mais violentas dos iluministas, o que por sua vez trouxe descrédito para o movimento diante dos europeus à época dos fatos.

          Como se vê, o iluminismo pode ser tido como um complexo elenco de ideias heterogêneas, contando com muitas teorias sobre uma mesma base. Contudo, com a busca da perfeição, pode-se perceber que o próprio movimento estava repleto de imperfeições. Nesse sentido, podemos afirmar que este movimento trouxe muitas contribuições para o desenvolvimento das ciências e do pensamento ocidental, no entanto não pode ser tido como a descoberta mais importante da humanidade, desprezando toda a tradição cultural e religiosa que foi construída durante séculos de história, ainda que estas também não sejam isentas de certas contradições.

          Apesar do relativismo e do materialismo, que são extremos fundados no seio do iluminismo, á de se colocar como contribuição o fato da razão acrescentar certa razoabilidade no que trata das questões de fé, as quais são em primeira instância intangíveis, mas que pela razão se tornam mais compreensíveis e passíveis de inteligibilidade.

          Outro benefício do iluminismo figura no caráter universal dos direitos humanos que se baseia na própria ideia de dignidade humana, criada à imagem de Deus, o que também salienta o aspecto prático da mensagem do Evangelho.

          Também não podemos nos esquecer da liberdade de religião e sua prática, o que nem sempre foi respeitado por sistemas absolutistas, ou de outras vertentes radicais.

          Assim, com acertos e desacertos o iluminismo não pode ser descartado diante de sua importância na história, mas compreendido em suas múltiplas facetas para que depois de uma crítica construtiva se possa aproveitar o que de melhor foi produzido pelos “iluminados” de sua época.

         

         

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, Jairo da Mota. Filosofia da Religião. Batatais: Claretiano, 2012. p. 51-100.