ASPECTOS DA MODERNIDADE: AS CIDADES E SUAS LEITURAS

Daniela dos Santos Damasceno

RESUMO: Em fins do século XIX, o crescimento das metrópoles entraria definitivamente para o elenco das importantes questões do pensamento social. Alguns autores fizeram da cidade seu cenário poético e narrativo, como Edgar Allan Poe (Londres) e Charles Baudelaire (Paris). Assim como eles, João Paulo Barreto, mais conhecido como “João do Rio”, foi um pesquisador das mudanças afeitas à cidade do Rio de Janeiro e de como sua urbanização afetava os indivíduos, grupos e classes sociais. A partir deste cenário, este artigo tem como objetivo expor relevantes contribuições da modernidade aos escritos de João do Rio, tomando como base o conto “O bebê de Tarlatana rosa” (1911). Ademais, tenta identificar, analisando também o conto The Man of the Crowd (1840), aproximações entre os escritores Poe e João do Rio que provoca um diálogo acerca da temática “cidade-modernidade”.

PALAVRAS-CHAVES: Cidade; Multidão; Efêmero; Modernidade; Sujeito moderno.

1 Introdução

Através das grandes transformações ocorridas na vida econômica, social e política dos indivíduos no final do século XIX e inicio do século XX, o desenvolvimento das cidades mudou de ritmo e os sinais urbanos começaram a invadir as ruas. Este fenômeno foi marcado por novas condições sociais, tais como: o crescimento do fenômeno das massas urbanas, a mecanização de diversas esferas da vida social e incertezas sobre o futuro do século que se iniciava.

Diversas destas inovações aconteceram em países ricos europeus, e posteriormente em outros países do mundo. Portanto, diante deste cenário, a sociedade da primeira metade do século XX requeria um novo modo de olhar para o mundo e novas propostas estéticas, além do desafio de encarar a cidade como tema e inspiração para a criação de grandes obras artísticas, em especial artes literárias.

Segundo Hyde (1989), a literatura modernista nasceu com Baudelaire. É muito difícil determinar nascentes artísticas, mas com certeza podemos corroborar com a motivação: o mesmo viu surgir as reformas parisienses. A Paris analisada por Baudelaire é uma cidade em fase de desconstrução e ao mesmo tempo em crescimento. Baudelaire foi capaz de perceber as mudanças e interpretar a destruição de uma cidade devido ao nascimento de outra em forma de poemas e contos. No poema em prosa “As multidões” Crowds (1857), Baudelaire vai chamar atenção para a cidade e a multidão que a preenche como templo para o ser que ele denominou de flâneur. No trecho que segue, Baudelaire faz referência ao poeta que possui a capacidade de enxergar em ambos os termos: multidão e solidão, uma única palavra e sentimento. O poeta de Baudelaire consegue povoar sua solidão na multidão ao mesmo tempo em que a observa:

O viandante solitário e pensativo colhe desta universal comunhão uma singular ebriedade. Aquele que facilmente abraça a multidão co¬nhece febris prazeres, de que eternamente estará privado o egoísta, hermético como um cofre, e também o preguiçoso, fechado como uma ostra. Ele adota como suas todas as profissões, todas as alegrias, todas as misérias que as cir¬cunstâncias lhe apresentam. (BAUDELAIRE, 1857)

Outro leitor da cidade foi o poeta Edgar Allan Poe que, antes de Baudelaire, seu tradutor para o francês, já retratava a partir da figura de um “velho” o flâneur londrino e o amor pela massa urbana, no conto “O homem das multidões”. No ano de publicação do conto (1840) Londres era a cidade mais populosa do mundo, com cerca de 700.000 habitantes. Diante deste contexto, Poe atentou-se para o caráter heterogêneo das multidões. No conto, o narrador de Poe vai captar os vários aspectos da massa urbana.

“[...] Sentia um calmo mas inquisitivo interesse por tudo. Com um charuto na boca e um jornal nas mãos, eu tinha me divertido a maior parte da tarde, ora percorrendo anúncios, ora observando o grupo heterogêneo do salão, ora sondando a rua através dos vidros enfumaçados.” . (POE, 1840, p.164).

Com a percepção dilatada, há no narrador a curiosidade de se difundir e explorar o mundo, ora lendo o jornal, ora sondando as pessoas dentro do salão, ou observando a multidão através da janela de um café:

A princípio minhas observações tomaram um rumo abstrato e generalizante. Olhava para os transeuntes em massa, e considerava-os em suas relações coletivas. Logo, no entanto, passei para os detalhes, e examinava com minucioso interesse as inúmeras variedades de figura, vestuário, jeito, andar, rosto e expressões fisionômicas. (POE, 1840, p.166).

No conto, durante o dia, o narrador descreve as distintas classes operárias que preenchia as ruas de Londres. No entanto, ao entardecer, o espaço urbano passa a ser ocupado não por classes de trabalhadores, mas pela marginalidade avulta: vagabundos, prostitutas, e criminosos.

À medida que a noite avançava, avançava em mim o interesse pela cena; pois não só ia se alterando materialmente o caráter geral da multidão (suas feições mais amenas iam sumindo com a retirada gradativa da porção mais disciplinada das pessoas e as mais grosseiras surgindo em mais acentuado relevo, à medida que a hora adiantada trazia toda espécie de infâmia para fora da toca) [...]. (POE, 1840, p.176).

O presente artigo tem como objetivo examinar em que a modernidade, antevista em escritores como Baudelaire e Poe, contribuiu para os escritos do poeta João do Rio tomando como base a análise do conto “O bebê de Tarlatana rosa”. Além disso, analisa a forma como o autor trabalhou com a temática cidade-modernidade e se encontrou tematicamente (cidade; multidão; sujeito moderno) com outros poetas modernistas que retrataram aspectos de diferentes cidades e em diferentes contextos.

2 João do Rio e a cidade do Rio de Janeiro.

No Brasil, as mudanças que marcaram o inicio do século XX foram mais evidentes na cidade do Rio de Janeiro. A cidade estava em processo de transformação física e ideológica, com novas perspectivas de vida e organização social. Para isso, o prefeito Passos iniciou a destruição de uma cidade em favor da construção de uma nova cidade. Diante deste cenário, os aspectos coloniais da cidade deram passagem para o processo de modernização marcada pelos moldes europeus, mais especificamente parisienses, com demolição de casas, cortiços, morros devido à construção de edifícios e aberturas para novas ruas, avenidas, viadutos e reconstrução de prédios.

Um dos primeiros a descrever a complexidade e heterogeneidade da cidade do Rio de Janeiro foi João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto), um tradutor, jornalista, contista, cronista e teatrólogo brasileiro. O escritor João do Rio nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1881 e apesar de ter uma breve passagem pela escola, ele ficou conhecido por sua escrita inovadora na forma e no conteúdo dentro do campo jornalístico e literário.

O autor começou a escrever na imprensa a partir de 1898, e mais especificamente no primeiro jornal carioca chamado Gazeta de noticias em 1903. Gomes (2005) caracteriza João do Rio como um múltiplo cronista a ser aquele capaz de “captar o efêmero, o contingente, o circunstancial, que é o mundo moderno atrelado ao universo urbano marcado pela mudança”. (GOMES, 2005, p. 15). Dentre suas reportagens mais conhecidas estão “As religiões do Rio” e “Momentos literários”, ambas reunidas em livros que constituem importantes informações acerca do movimento literário do final do século XIX no Brasil.

Assim como João do Rio, Lima Barreto dedicou-se a análise do espaço urbano, em especial ao subúrbio e as mudanças advindas pela modernidade no século XX. Através dos seus escritos, Barreto denunciava o processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro e as consequências originadas por este fenômeno como: condições precárias das moradias do subúrbio e dos guetos pobres das cidades, desigualdade de direitos e a fragmentação da identidade do homem. O escritor carioca proporcionou o resgate dos aspectos históricos das cidades. Para isso, seu foco estava nas ruas, nos andarilhos que amavam a urbe, e nos efeitos da modernidade sobre a vida dos menos favorecidos na sociedade. Nos seus escritos, Barreto revelava problemas sociais, políticos e econômicos em que viviam os subúrbios que eram poucos assistidos pelo poder governamental. Como evidenciado na seguinte passagem do livro Clara dos Anjos:

Há casas [no subúrbio], casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o bambu, que não é barato. (BARRETO, 1956, p. 115).

Contudo, João do Rio ofereceu visão crítica peculiar ao processo de desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro e aos aspectos mais sensíveis da urbanização do espaço da cidade e de seus habitantes. Portanto, suas obras refletem a transformação das ideias que de certa forma influenciaram o dia a dia das pessoas e interpretam as mudanças na mentalidade da população carioca no início do século XX.

Foram várias as obras de cunho literário escritas por João do Rio, provavelmente as mais conhecidas são: o livro publicado em 1908 “A alma encantadora das ruas” e o livro “Dentro da noite” lançado em 1910. Ambos reúnem crônicas em que o autor descreve a partir da multiplicidade do olhar a cidade do Rio de Janeiro da belle époque e toma de análise os vários componentes que completam a cidade. Assim anunciou:

"Dentro da noite é a maior coleção de taras e esquisitices até então publicada na literatura brasileira. Oito histórias tratam de diversas formas de deformação sensorial (hiperestesia): sonoras, olfativas, sadomasoquistas – incluindo abuso de drogas, sexo e cleptomania. Cinco abordam diretamente a busca da satisfação sexual da elite na classe baixa, e três ameaçam com o perigo das doenças contagiosas oriundo de tal mistura." (RIO, 1910 p.12).

3 As Cidades e suas leituras

Por intermédio da literatura se consegue ressignificar o passado, suas histórias e também conhecer as cidades. João do Rio foi um dos grandes observadores, etnógrafos e reprodutores das mudanças impostas à cidade do Rio de Janeiro, pois ao descrever e analisar criticamente os novos panoramas da cidade urbana na belle époque carioca comparando-a a Paris, o mesmo se propôs a realizar uma leitura da nova cidade do Rio de Janeiro. Portanto, é esta proposta que faz de João do Rio observador da calamidade urbana.

Como um leitor da cidade, João do Rio procurou captar as visões efêmeras que determinam o cotidiano da cidade real e idealizada. Na crônica “O bebê de tarlatana rosa” (RIO, 1910, p.45-49), o autor trata da não aceitabilidade do diferente, do fingimento, além da figura do flâneur e do seu amor à multidão. A narração do conto é dividida em duas etapas: a primeira faz do personagem Heitor o narrador protagonista de uma história carnavalesca; e a segunda o narrador testemunha, em que os amigos de Heitor são seduzidos pelo prazer do discurso. Eis um trecho introdutório:

"Havia no gabinete o barão Belfort, Anatólio de Azambuja de que as mulheres tinham tanta implicância, Maria de Flor, a extravagante boêmia, e todos ardiam por saber a aventura de Heitor. O silêncio tombou expectante. Heitor, fumando um gianaclis autêntico, parecia absorto” (RIO, 1910, p.46).

É na cidade que vai surgir à figura do flâneur, o observador da multidão, do individuo fragmentado e incerto da sua identidade, dos encontros e desencontros, além do amor fugaz. No conto de Poe tanto o narrador como o enigmático personagem partilham características do flanêur. O narrador de Poe representa de forma mais ativa o escritor moderno, aquele que busca o novo e descreve os vários aspectos da massa urbana a partir do estado de convalescença, em que procura por surpresas e vê tudo como novidade. No entanto, a partir do momento em que ele entra na multidão, o mesmo já não é capaz de olhar interessadamente para ela e descrevê-la com a mesma precisão quando fora dela. O misterioso personagem no conto de Poe estabelece na multidão sua residência, que deve ser desfrutada de forma não apenas “apaixonada”, mas com um toque maníaco. Apesar de não se encaixar em nenhum dos grupos descritos pelo narrador, o velho, na figura do “homem das multidões” e ao mesmo tempo do flâneur, vai povoar sua solidão e de forma pertinente, irá desfrutar e gozar das ruas, com o único propósito: tomar um banho de multidão.

O enredo do conto de João do Rio envolve duas pessoas que se encontram por acaso durante as festas carnavalescas do Rio de Janeiro: Heitor de Alencar e uma pessoa fantasiada de bebê de tarlatana rosa, com um nariz postiço que esconde sua verdadeira face. O trecho que segue ilustra a riqueza sensorial do conto:

[...] eu senti que se roçava em mim, gordinho e apetecível um bebê de tarlatana rosa. Olhei-lhe as pernas de meia curta. Bonitas. Verifiquei os braços, o caído das espáduas, a curva do seio. Bem agradável. Quanto ao rosto era um rostinho atrevido, com dois olhos perversos e uma boca polpuda como se oferecendo. Só postiço trazia o nariz, um nariz tão bem feito, tão acertado, que foi preciso observar para verifica-lo falso. (RIO, 1910, p.46).

Heitor de Alencar pode ser considerado figura próxima a de um dândi. No entanto, enquanto o dândi repugna a massa urbana, Heitor a procura para, através do uso das máscaras, se tornar um anônimo e provar dos desejos carnais. Como o homem da multidão de Poe, o narrador do conto de João do Rio se aventura por avenidas e ruas, entrando e saindo de danças e bailes:

“[...] E saindo, à noite, para a pornéia da cidade, saio como na Fenícia saíam os navegadores para a procissão da Primavera, ou os alexandrinos para a noite de Afrodita.” (RIO, 1910, p.46).

Assim como Poe, João do Rio encontrou nas ruas o espaço em que todos os habitantes são pertencentes. Para ele, a rua será o fator intrínseco à vida humana:

Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! Em Benares ou em Amsterdão, em Londres ou Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é a agasalhadora da miséria” (RIO, 1908, p.1).

Portanto, Heitor de Alencar encontra nas ruas e no carnaval a chance de aguçar os sentidos e se deslocar de uma classe privilegiada para acanalhar-se na massa urbana.

Não havia o que temer e a gente conseguia realizar o maior desejo: acanalhar-se, enlamear-se bem. Naturalmente fomos e era desolação com pretas beiçudas e desdentadas esparrimando belbutinas fedorentas pelo estrado da banda militar, todo o pessoal de azeiteiros das ruelas lôbregas e essas estranhas figuras de larvas diabólicas, de íncubos em frascos de álcool, que têm as perdidas de certas ruas [...]. (RIO, 1910, p.46).

Na multidão existe uma forma de solidariedade, seja nos encontros inesperados e/ou nos compartilhamentos de emoções efêmeras, em que anônimos se cruzam e dividem suas inquietações e angústias por incertos momentos. Tal tipo de encontro inesperado no poema de Baudelaire “A uma passante” gera no flâneur observador novas emoções e desejos: “Longe daqui! Tarde demais! Nunca talvez! / Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste, / Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!” (BAUDELAIRE, 1985). Assim como no já citado conto de Poe “O homem das multidões”, em que a curiosidade incita o narrador protagonista e se transforma numa paixão fatal pelo velho indescritível ou o próprio homem da multidão: “Me veio então um ardente desejo de não perder o homem de vista — de saber mais sobre ele” (POE, 1840, p.178).

No conto de João do Rio “O bebê de tarlatana rosa”, a formosa pessoa mascarada, seria no conto de Poe o amante das multidões ou o homem das multidões. Segue: “O meu bebê gordinho e rosa parecia um esquecimento do vicio naquela austeridade da noite. - Então, vamos? indaguei. - Para onde? - Para a tua casa. - Ah! não, em casa não podes... - Então por aí. - Entrar, sair, despir-me. Não sou disso!” (RIO, 1911, p. 48). Assim, Heitor de Alencar parte do fascínio, do desejo erótico, para caçar a formosa jovem fantasiada de bebê de tarlatana rosa, que se perde na massa. Assim:

O bebê ficou. Mas no domingo, em plena Avenida, indo eu ao lado do chauffeur, no burburinho colossal, senti um beliscão na perna e uma voz rouca dizer; ‘para pagar o de ontem’. Olhei. Era o bebê rosa. Sorrindo com o nariz postiço, aquele nariz tão perfeito. Ainda tive tempo de indagar, aonde vais hoje? - A toda parte! respondeu, perdendo-se num grupo tumultuoso. (RIO, 1910, p.47).

A máscara do bebê de tarlatana rosa inquietava Heitor de Alencar, que buscava a cada passo conhecer o novo e desvelar o escondido:

Então, sem poder resistir, fui aproximando a mão, aproximando, enquanto com a esquerda a enlaçava mais, e de chofre agarrei o papelão, arranquei-o. Presa dos meus lábios, com dois olhos que a cólera e o pavor pareciam fundir, eu tinha uma cabeça estranha, uma cabeça sem nariz, com dois buracos sangrentos atulhados de algodão, uma cabeça que era alucinante - uma caveira com carne [...]. (RIO, 1910, p.48).

Sob a máscara existia outra máscara ou apenas o rosto desfigurado de uma pessoa jovem, que foi imediatamente rejeitada pelo narrador, por considerá-lo diferente. Seria possível considerar uma ambivalência sexual também? A pessoa fantasiada tenta através das máscaras esconder o “verdadeiro eu” para sentir prazer e ser aceita, ao mesmo tempo em que enganar e fingir ser um outro alguém que não é. Diante desta cena, João do Rio fornece uma análise acerca dos preconceitos e das normas impostas à sociedade da época, ao mesmo tempo em que faz uma crítica ao valor estético e a alienação dos indivíduos na sociedade. O narrador acentua o mistério:

Heitor de Alencar parou, com o cigarro entre os dedos, apagado. Maria de Flor mostrava uma contração de horror na face e o doce Anatólio parecia mal. O próprio narrador tinha a camarinhar-lhe a fronte gotas de suor. Houve um silêncio agoniento. Afinal o barão Belfort ergueu-se, tocou a campainha para que o criado trouxesse refrigerantes e resumiu: - Uma aventura, meus amigos, uma bela aventura. Quem não tem do Carnaval a sua aventura? Esta é pelo menos empolgante. E foi sentar-se ao piano. (RIO, 1910, p.49).

4 Considerações finais

A cidade é o espaço onde todos convivem e se conflituam; sendo assim, ela será parte essencial na vida de seus moradores. Diversos autores analisaram e descreveram as cidades, possibilitando o resgate histórico do passado e/ou de um período específico na história da humanidade. A partir dos textos teóricos e literários para a realização deste artigo, percebe-se que apesar de retratarem diferentes cidades e em diferentes épocas, os autores Poe e João do Rio constituem um diálogo semelhante acerca da cidade-modernidade nos contos “O bebê de tarlatana rosa” e no conto “O homem das multidões”. Assim como em Baudelaire, ressoam nesses as transformações céleres e estupefactantes nas sociedades modernas de fins do século XIX e início do século XX. Vários fragmentos da cidade moderna são detectados pelos autores, como exemplo: as ruas como fator da vida da cidade, o flâneur, a fragmentação do sujeito e o amor à multidão. No Brasil, João do Rio foi um cronista que percebeu de fato as mudanças, não apenas reinterpretando a cidade carioca como espaço de vivência, mas avaliando em que a vivência no espaço urbano da modernidade afetou o comportamento humano e as normas sociais.

5 Referências Bibliográficas

ABES, Gilles Jean. Análise de uma tradução dos pequenos poemas em prosa de Baudelaire. Santa Catarina, 2010. ALBERTI, Verena;

VELHO, Gilberto et al. De olho na rua: a cidade de João do Rio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2008. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Brasiliense: 1956.

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução Ivan Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1985.

_____, Charles. As multidões. In: Pequenos poemas em prosa. Rio de Janeiro: Nova fronteira editora, 1976.

GOMES, R. C. Nossos Clássicos: João do Rio. Rio de Janeiro: Agir, 2005.

HALL, Stuart. Nascimento e morte do sujeito moderno. In: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 1ª edição em 1992, Rio de Janeiro, 11ª edição em 2006, tradução: tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro.

HYDE. G.M. A poesia da cidade. São Paulo: Schwarcz editora, 1989.

POE, Edgar Allan. Poemas e Ensaios. São Paulo: Globo, 1999. 3. ed. revista. Trad. Oscar Mendes e Milton Amado.

RIO, João do. A Alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Editora Garnier, 1908.

_____, João do. Dentro da noite. Rio de Janeiro, 1910.