ASPECTOS DA ADOLESCÊNCIA - RESENHA 

Decebal Corneliu Andrei (org). Reencontro com a Esperança

          Em “Reencontro com a Esperança”, Londrina – Pr. 1999, (coletânea de reflexões sobre a adoção e família), o escritor, sociólogo, professor e ex-presidente da Brasligth no Rio de Janeiro,    Decebal Corneliu Andrei, propõe a existência da dicotomia Criança – flor, dicotomia esta, rica em paralelismo e significado para a vida em sua dinâmica final.

           Afirma que a flor é a criança do reino vegetal e como toda criança é linda, qualquer que seja sua origem e cor, desde que tratada com o mesmo carinho e desvelo. A flor, como  qualquer criança, evoca pureza e fragilidade, mas também a teimosia de brotar no meio das adversidades, para alegrar a vida em torno de si podendo, tanto uma quanto a outra , surgir na beira da estrada, correndo o risco de ser pisada por um caminhante distraído e apressado.

         Ambas, a criança e a flor pelo seu encanto natural e, principalmente, sua razão de ser, que é de garantir a continuidade da vida, deveriam merecer os melhores cuidados e condições de desenvolvimento: a flor, brotando de uma planta sadia, e a criança, crescendo dentro de uma família bem estruturada e que a queira de verdade. Muitas vezes, porém, a flor e, mais amiúde, a criança, nascem sem serem desejadas, entram na vida quase que por acaso, parecem atrapalhar, são tratadas mal ou mesmo jogadas fora. Inúmeras flores e criança se perdem e desaparecem como se jamais tivessem existido, se tiverem sorte, serão encontradas, ou por uma criança que acolha a flor jogada, ou por um adulto com alma de criança, que acolha seu pequeno semelhante desamparado.

            Andrei questiona o porquê de proteger, cuidar e salvar as flores e explica que elas são as verdadeiras guardiãs da vida e que se imaginar um mundo sem flor se terá a visão de uma terra virando deserto. Do mesmo modo, a criancinha, nascida num palácio em berço esplêndido ou debaixo de uma ponte envolta em trapos, é a grande e única garantia de perpetuação da humanidade. Se se imaginar um mundo sem crianças aparecerá a imagem de um futuro envelhecido; morrendo.

            Para o autor a flor e a criança têm um brilho intenso, mas fugaz. Sua trajetória é curta, não se pode mantê-las para sempre e acabam; a flor, em poucos dias ou semanas e a infância humana em poucos anos.

          Na dinâmica da vida, elas acabam para se poder alcançar o estágio final do desenvolvimento; nas plantas, o fruto; nos homens, o ser adulto. Essa passagem não é repentina nem suave, entre a infância e a maturidade existe a fase do fruto verde nas plantas  e da adolescência para os homens, fase cheia de perigos e dificuldades. É nos pequenos frutos saídos da flor que os insetos daninhos fazem seu nefasto trabalho, contaminando o interior, o que só aparecerá quando os frutos apodrecerem.

           Os pequenos frutos verdes são como os filhos quando deixam de ser criança: não têm defesa própria diante dos agentes que lhes querem instilar a degradação e a doença. As pequenas manchas e furinhos nas frutinhas verdes, como são pequenas passam despercebidas ao jardineiro ou aos pais desatentos e despreparados, porem o ma jál se instalou e acompanhará  o crescimento dos frutos e dos jovens.

            A dicotomia criança – flor passa a ser fruto verde – adolescente. O fruto verde já tem tamanho de fruto maduro, porém é duro, sem sabor e as vezes intragável, comenta Andrei. De maneira similar evolui a adolescência, em ambos os casos se processa uma a transformação contínua até se chegar à fase adulta; “proveitosa” caso os perigos tenham sido evitados ou afastados, “danosa”, se o começo da maturação foi descuidado. Os frutos em formação e os adolescentes não têm personalidade específica como tem a infância e a maturidade.

           A adolescência tanto nos frutos como nos homens, é uma fase transitória de maturação, sem responsabilidade nem utilidade própria, mas vital para a futura vida útil. A dicotomia, porém, não é mais perfeita porque a dinâmica vegetal é diferente da humana. Nos vegetais, a quantidade compensa as perdas. Nos homens não há a abundância e a fertilidade dos vegetais. Cada árvore dá centenas de frutos, cada casal, principalmente nos dias de hoje, tem um ou dois filhos.

          Cada adolescente, cada criança é, portanto, importante e essencial. Se um recém nascido, alerta o autor, for abandonado ou pertencer a uma família que não mereça pátrio poder, deve ser recolhido e, de preferência, adotado. Se, no começo da adolescência, aparecer sinais de desencaminho, devem ser tomadas as medidas possíveis pelos pais e pela sociedade.

          O início da adolescência é o período que requer mais atenção. Dela pode depender todo o futuro de uma pessoa. Do ponto de vista físico e biológico, a criança ganha para toda a vida os caracteres adultos, mas, psicológica e intelectualmente permanece ainda criança. A voz é mais grossa, mas o riso e o choro continuam infantis. Os filmes de aventuras e as revistinhas são os preferidos, mas, escondido satisfazem suas curiosidades sobre as manifestações adultas. Adoram sorvete de chocolate, mas morrem de vontade de provar um cigarro ou uma bebida mais forte. Vão regularmente ao culto religioso porque os pais exigem, mas entre eles, rolam as piadinhas picantes e a abundancia de palavrões. Precisam de um abraço de mãe e sentam em seu colo, mas já trocaram os primeiros beijos de namoro. Adoram os pais e aceitam ser por eles protegidos e mimados, mas dão, facilmente crédito as pessoas que lhes dizem que os velhos são ultrapassados e que há muitas coisas boas que eles não conhecem. Esta fase é sem duvida crucial para o desenvolvimento humano e nela se definem como será a pessoa adulta.

             Os pais e entidades que lidam com adolescentes, ou mesmo, pré-adolescente se perderem de vista as manifestações precoces e os pequenos desvios de conduta, em pouco tempo estarão diante de um adolescente incontrolável ou de um adulto desajustado.

            Decebal aponta os perigos que rondam essa fase e comenta que nem a Psicologia ou a Pedagogia apresentam receitas infalíveis.

            “... A flor, uma vez fecundada, deixa de ser a criança do reino vegetal e começa a transformação em fruto. Quando fecundada na época imprópria, o fruto sai ruim e não amadurece, da mesma forma a menina que ao iniciar a maturidade  engravida,  o filho não será fonte de alegria, mas de dor e de dificuldades...”

            Oferecer aos adolescentes responsabilidades domésticas e sociais da família é uma sugestão eficaz, mas tomando cuidando para que estas não sejam tão somente imperativas de obrigação, tendo em vista que o ser humano, em geral, não aceita bem se sentir obrigado, e os jovens muitos menos. Deverão então estar assumindo responsabilidades, o que causa plena realização no ser humano. Deverá estar a par das dificuldades enfrentadas pela família a partir dos 8-9 anos, o que ajudará neste processo de conscientização quanto as responsabilidades. Isso não implica na nódoa do trabalho infantil, comum nos meios economicamente mais carentes, o que desfigura a infância e afasta da escola.

      Atividades extracurriculares tais como: música, artes marciais, esportes, literatura, ciências e o aprendizado de ofícios como eletrônica, marcenaria, agricultura, jardinagem e uma gama de muitas outras possibilidades como dança, bordado, arte culinária, moda, enfim, apresentam auxilio profícuo para o desenvolvimento, como também na identificação das tendências vocacionais. Ressalta-se também o escotismo, o excursionismo e associações culturais regionais.

            “... A característica dominante da juventude é o idealismo”, o sentido heróico da vida e o enfrentamento corajoso de obstáculos... Os adolescentes são, por tal, devoradores de livros, filme, fitas de vídeo game de luta e aventuras... Ideologia político-social mais exaltada tem seus fanáticos seguidores entre os jovens como também a mesma tentação para o vicio e a delinqüência, tem como suporte o enfrentamento e a existência de uma liderança carismática.

             Encaminhar, desde a puberdade para atividades sadias, os manterá longe dos vícios, do imobilismo, das tentações apresentadas como caminho da luz, numa disputa com os maus caminhos, vista que quanto mais perniciosos mais atraentes são, seria a solução.A educação religiosa também é muito importante para a formação sadias das crianças e adolescentes. Vale lembrar que logo na puberdade se faz necessária a educação sexual.

Os pais não são mais os heróis infalíveis da infância, mas se a relação predominante com os filhos for de amor e dedicação, alicerçarão a confiança e seus conselhos terão peso.Encaminhando o adolescente para ajudar irmanamente crianças carentes, orfanatos e o semelhante desafortunado, certamente fará com que não dê ouvidos às tentações destrutivas, tornando-se, desde cedo, num cidadão ativo.

         Andrei conclui dizendo que a criança e o adolescente são tão frágeis, mas não tão numerosos como as flores. Cada garoto ou garota que se perde no caminho é uma perda irreparável para o futuro da humanidade, para a próxima e todas as vindouras gerações adultas.