Artigo escrito juntamente com meu amigo e historiador Ewerson Dubiela.

                Quando se fala em guerra do Paraguai, deve-se entender que foi bem mais que um conflito armado entre a Tríplice Aliança, Império do Brasil, Argentina e Uruguai, e o Paraguai do caudilho Solano López. Há bem mais também sobre as causas que levaram os quatro países ao conflito, como por exemplo, a questão do controle do Rio da Prata e a questão do Império Britânico temer que houvesse uma potência econômica e militar na América do Sul, entretanto necessitava-se de um pretexto para iniciar uma guerra, o pretexto foi justamente a desordem política que desencadeou na invasão do território uruguaio pelas forças imperiais brasileiras.

A GUERRA CONTRA AGUIRRE 

            Em 1864, ocorre a “Guerra contra Aguirre”, pode-se resumi-la na defesa dos interesses brasileiros na região e proteção da província do Rio Grande do Sul, uma vez que estavam rompidas as relações com Argentina e Uruguai. Algumas das causas desta guerra foram às agressões cometidas contra brasileiros da região, ou seja, muitos brasileiros possuíam terras e gados na localidade que acabavam sendo invadidos e furtados, além de haver perseguição e violência contra estes brasileiros. Houve uma tentativa do governo imperial de intervir com diplomacia, como era o seu procedimento, junto ao presidente do Uruguai Atanasio Aguirre, porém sem efeito, no que resultou um ultimato ao mesmo o qual foi recusado. No Uruguai, haviam dois partidos políticos, o primeiro, dos “blancos”, o qual pertencia o então presidente Aguirre e o segundo, o qual pertencia o general Uruguai Venâncio Flores, era o “partido colorado”. Mesmo com efetivos militares na fronteira, que tentava controlar que a violência não transpassasse para o Rio Grande do Sul, não houve êxito de Flores em tentar realizar a proteção. Flores então solicitou ajuda do governo imperial, com um empréstimo financeiro e uma divisão do exército brasileiro na capital Montevidéu. Esta divisão era chefiada pelo brigadeiro Francisco Félix Pereira Pinto, o qual passou a fronteira em março de 1864, neste mesmo tempo, Almirante Tamandaré com forças do exército brasileiro tiveram a permissão de fazer represálias a fim de proteger os interesses brasileiros na região. Em 1 de Janeiro de 1865, a região do Paysandú se rendeu as forças brasileiras, Leandro Gomes, comandante uruguaio da região foi aprisionado e morto por seus compatriotas, após isso, as forças imperiais marcharam para Montevidéu, impondo sítio a capital Uruguaia em 2 de Fevereiro, no dia 15 do mesmo mês Aguirre então foi deposto e Flores assumia o poder, criando um governo provisório. Em 20 de fevereiro de 1865, com a presença do Visconde do Rio Branco e do presidente do Senado do Uruguai, Tomás Villalba foi assinado a Convenção de Paz.

            A grande questão então se designa a seguinte pergunta: Em que o Paraguai se insere neste contexto? Isso é o que tentaremos responder a seguir.

CAUSAS E OBJETIVOS DA OFENSIVA PARAGUAIA

            A guerra do Paraguai ocorreu de dezembro de 1864 a março de 1870, pode ser chamada de guerra da tríplice aliança, os paraguaios a chamam de Grande guerra.

Contextualizando o Paraguai podemos dizer que o mesmo estava tendo um grande crescimento interno, havia indústrias, escolas, armas produzidas internamente, a população era quase toda alfabetizada e as condições de vida eram boas, enfim, o Paraguai caminhava para se tornar uma potência na América do Sul.

O que levou Solano Lopez a atacar o Brasil, foi à intervenção militar do Império Brasileiro no Uruguai e o temor de que o Império junto com a Argentina acabassem por engolir os Países menores da América do Sul, com isso, em 11 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda que transportava o presidente da província do Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos, foi aprisionado pelas forças de Solano Lopez por achar que houvessem armas sendo transportadas nele, sob fome e maus tratos todos os tripulantes sucumbiram, sem exceção. Em finais de dezembro daquele ano, as forças de Lopez invadiram o Mato Grosso, sem qualquer aviso prévio, a declaração de guerra veio em 13 de dezembro daquele ano e em 18 de março de 1865, o governo paraguaio declarava a guerra contra a Argentina, pois o presidente Bartolomeu Mitre não permitiu que o exército paraguaio atravessasse suas fronteiras para atacar o Uruguai e invadir o Rio Grande do Sul, em março de 1865 as tropas de Lopez invadiram Corrientes na Argentina visando o Uruguai e o Rio Grande do Sul. No Uruguai, Lopez esperava encontrar apoio dos Blancos, porém ocorreu o contrário, o Uruguai, já governado por Flores acaba por ficar contra o Paraguai e solidarizando-se com os brasileiros e argentinos.

A TRÍPLICE ALIANÇA E A GRANDE GUERRA

Em 1º de maio de 1865, o império brasileiro, a república da Argentina e  Uruguai assinam o tratado da Tríplice Aliança, esta visava a luta contra o governo de Lopez e o Paraguai. Entretanto, as forças somadas não eram o suficiente para conter o exército paraguaio no começo, tanto o Brasil quanto as duas repúblicas achavam-se despreparados militarmente.

O ENVOLVIMENTO INGLÊS

Como descrito, o Paraguai a partir do século XIX estava em grande desenvolvimento, tendo alcançado grande processo econômico autônomo, principalmente a partir de sua independência política, ocorrida em 1811. Tendo erradicado o analfabetismo, surgido o fábrica de armas e pólvora, indústrias siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente sistema telegráficos. O Paraguai produzia alimentos tendo uma forte economia agrícola, com isso gerava emprego para a população, ou seja, o Paraguai era autônomo internacionalmente.

Com toda essa expansão econômica paraguaia prejudicaria os interesses ingleses na região e havia um temor por parte dos ingleses, de que o Paraguai tornara-se um exportador de manufaturados, ou que o modelo de desenvolvimento autônomo e independente poderia servir de exemplo para os demais países da região. Sendo assim a Inglaterra teria grandes interesses em financiar uma guerra contra o Paraguai.

Outra questão era de que o Brasil não possuía relações diplomáticas com os britânicos desde 1863, por iniciativa do próprio Dom Pedro II devido a “Questão Christie” e provavelmente o governo imperial queria voltar a ter relações com a Inglaterra, isso mostra a aceitação do Brasil perante o interesse inglês.

Sendo o Brasil fraco militarmente, sem um exército propriamente formado e com armamento praticamente sucateado, a Inglaterra fez um total de empréstimos em 1865 de algo em torno de sete milhões de libras para Brasil e Argentina. Pode-se dizer que a praticamente a guerra inteira foi financiada pelos ingleses.[1]

CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

Ao final da guerra em 1870, o Paraguai estava destruído, teve grande parte de sua população destruída. Todos os países que lutaram na guerra tiveram grandes perdas, não apenas causadas pela guerra, mas também por doenças como a cólera.

O Paraguai tornou-se o país mais pobre da América do Sul, e ao fim da guerra contraiu uma dívida de 1,5 milhões de libras da Inglaterra.

 "Dos erros de análise dos homens de Estado envolvidos nesses acontecimentos, o que maior conseqüência teve foi o de Solano López, pois seu país viu-se arrasado materialmente no final da guerra. E, recorde-se, foi ele o agressor, ao iniciar a guerra contra o Brasil e, em seguida, com a Argentina". [2]

 O Brasil teve sua dívida externa praticamente dobrada, o que causou uma forte crise financeira. A escravidão passou a ser questionada, em especial por que os escravos que lutaram na guerra não receberam a alforria. O exército brasileiro passou a ser uma instituição forte e organizada e fortaleceu-se o movimento republicano ao final da guerra, principalmente na Província de São Paulo, pois a final, o Paraguai era uma República.

CONCLUSÃO

 

A Guerra do Paraguai foi o conflito mais sangrento na história da América Latina, onde se destruiu praticamente um país inteiro. E pode-se classificar o conflito como inútil, pois uma das razões da luta era o domínio da navegação no Rio da Prata, porém, já estava sendo empregado o uso do trem como meio transporte na América do Sul.

O único país que saio ganhando foi à Inglaterra, pois todos os países que participaram do conflito fizeram empréstimos dos ingleses, que mantiveram o controle. E pode-se dizer que a guerra foi um dos fatores que aceleraram o fim do Império brasileiro.

  REFERÊNCIAS 

BETHELL, Leslie.  O imperialismo Britânico e a Guerra do Paraguai. São Paulo. Scielo Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141995000200014&script=sci_arttext (acesso em 29 set. de 2011)

 FURTADO, Joaci Pereira. A Guerra do Paraguai (1864-1870). São Paulo: Saraiva, 2000

 MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. Editora Contexto. São Paulo, 2006.

 VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Objetiva, 2002, pg.323



[1] BETHELL, Leslie.  O imperialismo Britânico e a Guerra do Paraguai. São Paulo. Scielo Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141995000200014&script=sci_arttext (acesso em 29 set. de 2011)

[2]DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra. Companhia das Letras, 2002, pg. 95 e 96.