De acordo com a organização mundial de saúde, todos os partos que acontecem antes da 37ª semana de gestação devem ser considerados pretermos, esses que são vistos como um problema a ser enfrentado no que tange ao bem estar do recém nascido e as suas possibilidade de manter-se vivo. Parafraseando com Rezende, 2011, podemos afirmar,que o parto pré termo é considerado um problema magno de saúde pública, ele expõe ainda,que houve um considerável crescimento na incidência de partos pretermos.

Esse considerado aumento pode estar relacionado a inúmeros fatores, tanto sociais como também biológicos ou até mesmo patológicos,a preocupação do ministério da saúde em relação a esse tipo de intercorrência, dar-se por conta dos prejuízos que os RNs sofrem ao nascer antes do tempo previsto,RADES,2004, em seu artigo, “Determinantes diretos do parto prematuro eletivo e os resultados neonatais”, expõe alguns fatores de risco que eles são condicionados,afirmando que, a prematuridade é a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal,sendo responsável por 75% das mortes neonatais,ao passo que a morbidade esta diretamente relacionada aos distúrbios respiratórios e as complicações infecciosas e neurológicas.  

A classificação da prematuridade divide-se em duas categorias, a espontânea, acontece com a espontaneidade do trabalho de parto propriamente dito ou esta relacionado a rotura das membranas prematuramente, e a eletiva, quando ocorre por indicação médica, por intercorrência materna ou fetal, ambas são desfavoráveis para o bem estar do RN.

São inúmeras as causas que corroboram para o acontecimento do parto pré-termo, LABOR,2004,em seu artigo influências de doença periodontal no trabalho de parto pré-termo”,nos ajuda a perceber que são vários os fatores relacionados,dentre eles destacam-se,os antecedentes maternos, Doenças maternas, antecedentes de partos prematuros ou abortos de repetição, idade da mãe (menor de 18 anos e maior de 35 anos), causas relacionadas com a gravidez, síndrome de HELLP (também conhecido por eclampsia), técnicas de reprodução assistida que se associam a gravidez múltipla, rotura prematura de membranas (rebentamento das águas), Diabetes/Hipertensão, insuficiência cervical (fraqueza do colo do útero), placenta prévia (a placenta está totalmente alojada sobre o colo do útero), malformações do feto,outros fatores também são relevantes como,situações de stress físico ou psíquico,hábitos pouco saldáveis,tabaco,álcool e demais drogas,além de todos esses fatores, podemos relacionar também,as vaginoses bacterianas como uma provável causa dos partos pré-termos.

Com o passar do tempo e a evolução da ciências as pesquisas que circundam variados assuntos vão se expandindo, com o objetivo primordial de esclarecer as duvidas, e resolver problemas que assolam a humanidade, implicando assim na qualidade de vida das pessoas. As pesquisas científicas sobre a relação das vaginoses bacterianas e o parto pré-termo são várias, porém com o propósito de compreender ainda melhor essa relação faz-se necessário que entendamos o que de fato é essa doença,quais suas características, sinais e sintomas em fim conhecê-la para melhor relacioná-la.

Parafraseando com Rezende,2011, a vaginose bacteriana é uma alteração na microbióta normal da vagina, onde a flora de Lactobacillus SP. É substituída por elevadas concentrações de bactérias anaeróbicas, podemos citar por exemplo as Prevotellas SP. e Mobiluncus SP., ele afirma ainda que as vaginoses são uma das principais causas de leucorreia, embora, 50% das mulheres apresentem assintomaticamente.

Visando definir a vaginose,CARVALHO,2011 em seu artigo “associação da vaginose bacteriana com o parto prematuro espontâneo”, define que:

A vaginose bacteriana é uma condição polimicrobiana em que a flora de Lactobacillus spp.normal é substituída por um grande número de outros microorganismos, principalmente anaeró-bios, como Gardnerella vaginalis, Prevotella sp.,Bacterioides sp., Mobiluncus sp., Peptostreptococcus spp. e Mycoplasma hominis, que são alguns dos germes freqüentemente associados à vaginose bacteriana.( CARVALHO,2011).

               

Assim compreendemos a vaginose bacteriana como um distúrbio ginecológico, que segundo AMORIN e SANTOS 2003, é de fato muito comum entre as mulheres, os seus sintomas podem ocasionar bastante incomodo, além da queixa de corrimento genital refere-se muitas vezes odor vaginal desagradável, que se acentua durante a menstruação e depois do contato com o fluido seminal, com todos esses fatores podemos afirmar que as relações sexuais ficam comprometidas, afetando também os aspectos biopsicossocial das mulheres.

 

Ainda em relação as informações contidas no artigo, “Tratamento da Vaginose Bacteriana com Gel Vaginal de Aroeira”,que tem como autor, AMORIM e SANTOS,2003, podemos definir que a vaginose B. acontece pela alteração do PH da vagina, eles ainda afirmam que:

 

A vaginose bacteriana constitui infecção polimicrobiana, primariamente anaeróbica. Sua presença representa alteração do ecossistema vaginal, ocorrendo significativa redução      dos

lactobacilos e elevação do pH (maior que 4,5),com crescimento exagerado de bactérias que podem ser 96 RBGO - v. 25, nº 2, 2003encontradas em baixa concentração em mulheres normais, como Gardnerella vaginalis, Mycoplasma hominis e espécies de Mobiluncus e Bacteroides.(AMORIN E SANTOS,2003).

               

De acordo com os achados é possível manter fortes relações entre a Vaginose B. e o trabalho de parto pré – termo,muitos autores afirmam que as infecções no trato geniturinário, podem de forma ascendente chegar até o colo do útero e provocar danos no mesmo, ocasionando o seu amolecimento e até mesmo a ruptura das membranas,CARVALHO,2001, embasado num estudo realizado com 611 gestantes, do serviço de pré-natal da clínica obstétrica do HCFMUSP, pode nos expor que a vaginose bacteriana diagnosticada pelo Gram do conteúdo vaginal representa fator de risco para o parto prematuro, com risco relativo de 1,8,e acrescenta ainda que:

 

  A vaginose bacteriana revelou-se um fator de risco para a prematuridade em nosso estudo. Das 103 gestantes positivas para vaginose bacteriana, 9,7% evoluíram para parto prematuro. Já no grupo de gestantes negativas para esta infecção, apenas 3,2% evoluíram para parto com menos de 37 semanas. A presença de vaginose bacteriana na bacterioscopia do conteúdo vaginal  levou a um risco relativo de 1,8 para parto prematuro comparado ao risco das gestantes com bacterioscopia do conteúdo vaginal normal.( CARVALHO,2001.).

 

            Existem também alguns autores que não define a vaginose bacteriana como causa nos partos pré termos,porém não descartam  a possibilidade da relação, afirmando que a V.B. associada a outros fatores são determinantes para a intercorrência de parto pré termo.RADES,2001,em seu artigo,  Associação da vaginose bacteriana com o parto prematuro espontâneo,nos ajuda compreender essa concepção,afirmando que:

             

Existem evidências de que o parto prematuro é mais freqüente entre gestantes com alteração da microflora vaginal. Porém, ainda é controverso se a infecção vaginal é realmente a causa do desencadeamento do parto prematuro7, 8. A vaginose bacteriana é uma das infecções genitais mais comuns e está associada a resultados adversos da gestação, tendo sido observada também associação com o parto prematuro7, 9,10. No entanto, o rastreamento sistemático das infecções vaginais no pré-natal não é universalmente aceito, uma vez que não é consenso que o seu tratamento reduz as taxas de prematuridade.(RADES,2004)

               

Outro aspecto que merece destaque, é a somática de riscos a própria vaginose Bacteriana, pois ela não é capaz de ativar a cascata de inflamação sozinha, essa que por sua vez provoca alterações no colo uterino ocasionando o parto pretermo, existindo também fortes relações com fatores genéticos,  quem nos ajuda a compreender melhor essa abordagem é BETTIOL,2010, que em seu artigo, “ Epidemiologia do nascimento pré-termo:tendências atuais”, corobora com uma visão controversa,nos que diz respeito ao relacionamento da patologia em estudo com o parto pré-termo,afirmado que:

 

Um dos pontos nebulosos na epidemiologia do nascimento pré-termo é o fato de que algumas mulheres experi­mentam o estímulo infeccioso, mas este isoladamente não é capaz de ativar a cascata inflamatória e desencadear parto prematuro. É proposto que a cascata inflamatória só seria ativada em mulheres predispostas geneticamente13. Desse modo, indivíduos geneticamente predispostos a responder a infecções com uma intensa resposta inflamatória podem ter risco aumentado de ter um parto pré-termo.(BETTIOL,2010.).

                É notório que a vaginose bacteriana é uma doença que pode ser diagnosticada precocemente, desde que as gestantes realizem de forma correta as consultas de pré-natal, cabendo ao profissional de saúde proceder de maneira integrada e minuciosa essas consultas, tais que são responsáveis por uma gestação sem intercorrências e um parto sem complicações.

            Quando me refiro a um pré-natal qualificado e de maneira integral, verificamos que são vários os fatores que merecem destaque, desde as questões sociais, biológicas como também o nível de educação, tanto da gestante,como da sua família,BARATA,2009,nos ajuda a compreender essa abordagem social,esclarecendo a importância que as desigualdades sociais existem no âmbito da saúde, abrangendo diversas áreas do mundo, Hoje em dia vivemos em uma sociedade bastante capitalista onde a globalização cresce cada vez mais, a partir daí percebe-se que as camadas populares estão intimamente divididas por classes seja ela, a classe baixa, média e a classe alta, a partir daí pode perceber que os agravos sociais atingem principalmente a classe baixa e parte da classe media. Geralmente as doenças acometem mais a classe baixa, como por exemplo, as Vaginoses Bacterianas, que afetam mais constantemente as populações com menos informações e um baixo nível de higiene,BARATA,2009,afirma também que:

 Podemos começar dizendo que as desigualdades sociais que nos interessam são diferenças no estado de saúde entre grupos definidos por características sociais, tais como riqueza, educação ocupação, raça e etnia, gênero e condições do local de moradia ou trabalho. (BARata, Rita Barradas p. 11).

            A comunicação ganha um relativo destaque no que diz respeito a um pré-natal bem realizado, afinal é ela o principal instrumento de ação na realização do mesmo, e no diagnóstico de diversas doenças, a exemplo da Vaginose Bacteriana, SILVIA,2010,em sua fascinante obra, “Comunicação tem Remédio”, Expõe de maneira muita clara a necessidade de uma comunicação efetiva e eficaz, afirmando que:

Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente a conceituar seus problemas,enfrentá-los,visualizar sua participação na experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de comportamento.(SILVIA,2010,p.14). 

Além da comunicação o perfil humanizado do profissional de saúde,torna-se indispensável,para o diagnóstico o tratamento e a elaboração de condutas corretas nos casos de vaginose bacteriana. Além disso é primordial que o profissional Enfermeiro saiba lidar com inúmeras situações,uma delas é a morte, que em muitos casos de parto pré-termo acometem principalmente os RNs, KUBLER-ROSS,2008, em sua brilhante obra,”Sobre a Morte e o Morrer” aponta o profissional da saúde com maior preparo para lidar com essa delicada situação o Enfermeiro que assiste com maior presteza os pacientes e os familiares envolvidos no contexto.

Em uma das passagens do livro uma médica, que antes era Enfermeira, nos expõe o quanto é importante o papel do profissional de saúde no contexto da morte, e fala ainda sobre o perfil desejado desse profissional, afirmando que:

A equipe que escolheu este tipo de trabalho deveria ter meditado profundamente sobre  ele e encontrado satisfação num campo que não o das atividades e objetivos do hospital. Se eles próprios acreditam e gostam de fato desse trabalho, ajudarão ao paciente mais com atos do que com palavras.(KUBLER-ROSS,2008,p.250.)

Voltado ainda para essa abordagem humanística do contexto que uma gestante pode estar inserido, podemos parafrasear com SILVA, que em sua obra,”O amor é o caminho”, nos faz perceber também o quanto é importante o bom relacionamento com os pacientes e com a morte, ela diz que:

É porque nos envolvemos que aprendemos com a vida, no curso intensivo de vida que é um hospital. O modo como nos protegemos da perda pode ser modo como nos distanciamos da vida. (SILVA. p.39).

Assim percebemos que é impreterível a oferta de um tratamento humanizado a essas pacientes que apresentam a V. Bacteriana, devendo oferecer um tratamento de forma integral estando em direta conexão com os aspectos bio-psico social da gestante, deve-se registrar também o fundamental papel da família nesse contexto.

Desta forma,podemos concluir que a vaginose bacteriana pode sim ter fortes relações com o parto pré-termo, porém não podemos defini-la como causadora dessa complicação, afinal de acordo com a literatura aqui esboçada, fica claro que diversos outros fatores de riscos são determinantes para o acontecimento dessa intercorrência, podemos citar como exemplo, a predisposição genética, antecedentes de parto pré-termo, multiparidade, alguns comportamentos de risco como, a ingestão de álcool, o uso de drogas, em fim a somática de inúmeros fatores poderá tornar a Vaginose Bacteriana uma determinante para o parto Pré-Termo.