As Teorias Psicogenéticas Aplicadas na Educação Informal

CAMILO, Allan; CAMARGO, Camilla; XAVIER, Diego; BIGHETI, Juliana

[email protected]

Graduandos do curso de História da Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Orientadora: SALVUCCI, Mara

Resumo:

O MIS (Museu da Imagem e do Som) é uma instituição pública de educação informal, localizado na cidade de Campinas, e está sempre aberto a todos os interessados. O Museu tem um forte trabalho pedagógico na região e este trabalho utiliza muito das teorias de grandes estudiosos como Vygotsky, Wallon e Davydov. Este trabalho visa apresentar o que é o MIS, os trabalhos pedagógicos oferecidos por esta instituição e relacionar essas atividades pedagógicas com as teorias de aprendizado dos teóricos citados acima.

Palavras-chave: museu, pedagógico, teoria.

Psychogenetic Theories Applied in Informal Education

Abstract:

MIS (Image and Sound Museum) is a public institution of informal education situated in the city of Campinas, and is always open to all interested people. The Museum developed a strong pedagogical work for its surroudings and this work is based in the theories of great scholars such as Vygotsky, Wallon and Davydov. This paper´s goal is to present MIS, the pedagogical activities offered by this institution and relate these educational activities with the learning theories of the scholars mentioned above.

Keywords: museum, pedagogical, theory.

Introdução:

O objetivo deste trabalho é mostrar o que é o MIS, alguns pontos das teorias de Vygotsky, Wallon e Davydov e a aplicação das mesmas no âmbito da educação informal. Neste trabalho falaremos do MIS (Museu da imagem e do som de Campinas) e como o trabalho pedagógico deste Museu, local onde a educação não se dá sob pressão e não é voltada para o mercado e sim para a reflexão, aprendizagem de assuntos geraise socialização e inclusão de jovens e adultos de todas as origens, inclui as teorias de Vygotsky, Wallon e Davydov. Para a produção desse artigo foram necessários algumas visitas à referida instituição, onde foram realizadas entrevistas, observações e participações nos projetos da instituição.

O Papel Pedagógico do Museu

Desde sua criação, o Museu através de políticas públicas e do empenho dos seus diretores e equipe, vem preservando e difundindo um dos maiores acervos de memória audiovisual da região, contribuindo para que a cidade contemporânea compreenda a história cultural da cidade de Campinas ao aproximar-se dos fragmentos do passado pelo Museu e que através desta exposição, abre-se ao olhar e a apreciação pública.

O MIS (Museu da Imagem e do Som) é uma instituição pública de educação informal, aberto a todos os interessados da sociedade. Pessoas de todos os tipos e idades freqüentam o local e diversos profissionais atuam dentro do Museu (administradores, professores, historiadores, filósofos e alunos de diversos cursos de graduação, que dão palestras com freqüência).

O trabalho realizado no Museu se baseia em um tripé: trabalham o conteúdo da história em si, a história da tecnologia e a linguagem audiovisual. O objetivo dos trabalhos do Museu é trazer liberdade da mídia controladora. Grande prova disso é que a própria mídia se nega a divulgar os trabalhos do Museu. Semanalmente, anúncios dos projetos são enviados ao Diário do Povo e a outros jornais, porém nunca são publicados, o que se constitui, de certa forma, um crime contra o direito do saber.

O que se propõe é uma resistência. O Museu é o lugar do público. O público decide o que quer que seja feito e participam do processo educativo. Nada lhes é imposto. O Museu não é estatal. Deve-se mudar a forma de visão do mundo, trabalhando junto ao invés de sermos "levados" pelo Estado. Grupos de todos os tipos freqüentam o Museu: Movimento das Mulheres Guerreiras (prostitutas que lutam pela sobrevivência), Movimento GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), grupos de estudantes de idades variadas, etc. Pretende-se, dessa forma, trazer tolerância e união à comunidade.

Quando se fala de resistência, se pretende resistir contra a ditadura do pensamento único da imprensa e do mercado, criar um movimento anti-capitalista, social e cultural.

Os apaixonados por filmes e outros meios de comunicação, formam um clube, como um clube de futebol, e trabalham juntos à favor de sua paixão e à favor da educação da comunidade. Esse grupo, liderado pelo historiador Orestes Augusto Toledo, formado na PUCC, está em contato com grupos similares espalhados pelos quatro cantos do mundo, graças à internet, cada grupo respeitando suas diferenças e individualidades e aprendendo uns com os outros, trabalhando desta forma, um importante aspecto da educação: a educação informal.

Sobre o MIS

O casarão em estilo clássico localizado na Rua Regente Feijó foi construído em 1878 pelo Barão de Itatiba, Joaquim Ferreira Penteado. Constituía-se de duas casas geminadas, onde vivia o barão e seu genro Antonio Carlos Pacheco e Silva. Em 1907, a construção foi vendida para a prefeitura e abrigou o Paço Municipal até 1968, quando se mudou para o Palácio dos Jequitibás. Foram feitas várias modificações no prédio para adaptá-lo as necessidades da prefeitura: foi construído um anexo nos fundos da casa, as paredes que dividiam as casas não existem mais, os azulejos da parte inferior foram retirados e sucessivas camadas de tinta branca cobriram as pinturas parietais existentes em todo o prédio, que representavam paisagens européias. Por seu valor histórico e arquitetônico de estilo neoclássico, este prédio foi tombado pelo IPHAN, o Condephaat e Condepacc. No terreno, por haver uma pequena exposição de azulejos, da idéia de ser um Museu de azulejo, mas ao subir as escadas de madeira (assim como todo o piso), temos expostas fotos digitalizadas produzidas por crianças de comunidades carentes, uma sala dedicada aos músicos da cidade de Campinas, uma ala com informações e pôsteres de filmes, além de outras salas que abrigam material exclusivamente campineiro (filmes e objetos) e uma exposição de aparelhos eletrônicos, desde a década de 20 até os dias atuais. O Museu foi criado em 1975 pelo poder público, idealizado por Henrique de Oliveira Junior e Dayz Peixoto Fonseca.

Atividades educativas que acontecem no cotidiano do Museu

O programa Pedagogia da Imagem contempla as atividades educativas do MIS Campinas destinadas a:

a)Discutir e promover a democratização do uso dos meios de comunicação e informação;

b)Realizar atividades compreendidas como: "educação para os meios", "educação para a comunicação" e "alfabetização audiovisual";

c)Incentivar a apropriação das linguagens audiovisuais pelos setores populares;

d)Promover a visibilidade, a expressão e a participação de comunidades das periferias por meio do uso do audiovisual;

e)Promover a formação e gestão de ecossistemas comunicativos abertos e dialógicos nos diversos espaços educativos públicos e populares;

f)Promover investigação e debate científicos sobre o consumo cultural, a recepção midiática e a produção audiovisual de caráter popular, dentre os públicos atendidos.

Sobre o trabalho pedagógico no MIS e as teorias psicogenéticas em questão

No que se refere à teoria de Vygotsky, a mediação dos símbolos é o ponto mais relevante. Símbolos para Vygotsky são mediadores do processo de aprendizagem e no MIS, símbolos como a linguagem, o cinema e a música adquirem sentido e significado. Como o próprio nome já informa (Museu da Imagem e do Som), o MIS transpira símbolos, como fotos de intérpretes da música, cartazes de filmes de décadas passadas, a apresentação de filmes e músicas, que são símbolos que retratam a realidade de uma sociedade.

Estes símbolos servem para o aprendizado e entendimento de uma determinada sociedade ou ação histórica. Há uma sala no Museu onde se expõem equipamentos de captura e exibição de imagens, máquinas fotográficas da década de 20, filmadoras do início do século e também equipamentos modernos, que mostram a evolução deste tipo de equipamento e trabalho. Os próprios equipamentos são símbolos culturais de aprendizado.

Outro trabalho de aprendizado feito por meio de símbolos é a apresentação de filmes. Toda sexta-feira e sábado, o Museu faz apresentações de filmes diversos, de países diferentes e documentários raros, não "liberados" pela mídia. Para cultura e educação dos indivíduos interessados, o historiador Orestes, antes da exibição de um filme, dá uma explicação histórica sobre o mesmo, localizando-o no tempo, identificando o objeto, expondo erros e exageros. Assim, o estudante assiste ao filme entendendo todo seu contexto. Após a apresentação do filme, uma discussão é feita, liderada pelo historiador Orestes, onde é discutido não só a história do filme e sim como ou o quê podemos aprender dela, mas também o trabalho histórico do filme como documento: fotografia, imagem, o que o diretor quer informar com aquele "documento", que é o filme, conforme ensina Marcos Napolitano. As pessoas podem discutir o que entenderam, compartilhando pontos de vista diferentes, pois devido às experiências de vida de cada um, um mesmo filme pode receber críticas e opiniões diferentes. Este trabalho é feito como mostra Vygotsky: a atividade é um conceito-chave e mediatiza a relação entre homem e realidade. O homem não reage mecanicamente aos estímulos do meio, mas sim, pela sua atividade, se coloca em contato com os objetos ao seu redor e os transforma.

Davydov apresenta a teoria do ensino desenvolvimental, onde o indivíduo é impulsionado ao desenvolvimento mental e a aprender por si mesmo, a partir do conteúdo transmitido. Para Davydov, é necessário ensinar os alunos a orientarem-se independentemente da informação. Deve-se ensiná-los a pensar, mediante um ensino que impulsione o desenvolvimento mental, e não apenas por meio da transmissão de conteúdo. O professor ou orientador deve integrar conteúdos científicos e processos de pensamento.

A atividade feita no MIS que mais se relaciona com esse pensamento é o trabalho feito com os estudantes das comunidades campineiras, que recebem máquinas fotográficas e filmadoras, e são orientados a retratar a sua realidade através de fotos e filmagens.

O Museu se propõe a ir até as escolas da região, ou talvez os estudantes até o Museu, para ensiná-los a fazer filmes e participarem de palestras, oficinas e treinamentos de assuntos diversos, como história da arte, filosofia e outros, ministrados por profissionais e alunos em graduação. Como exemplo, temos um curso de filosofia a ser ministrado por alunos de graduação da Unicamp. O trabalho educativo na área de criação e filmagem de curtas ensina os alunos e alunas a terem visão crítica, a pensarem por si mesmos e a não serem levados pela mídia, pois os estudantes aprenderão a fazer o que a mídia faz (cortes, edição, construção jornalística, etc.) e verão como as notícias e informações podem ser manipuladas. São, dessa forma, instigados a pensar, analisar, a criticar e terem opinião própria. Aprendem a estudar e buscar conhecimento fora do que é passado em sala de aula, e descobrem suas próprias "verdades".

Acabam ocorrendo duas formas de aprendizado: o técnico, pois aprendem a manusear câmeras e máquinas, e também um aprendizado libertador, que os ensina a não ficar dependente de informações que recebe, mas sim de saber pesquisar e descobrir sem dependências.

A teoria de Wallon se foca em uma visão holística do indivíduo, que mostra que o ser humano não é apenas cérebro. Para aprender, o aluno e a aluna precisam ter seus sentimentos e idéias respeitados, para ganhar confiança e saber que faz diferença na sociedade. Para tanto, a afetividade e o respeito são essenciais no processo de aprendizado.

Este é um ponto forte do MIS. No final do ano, os curtas-metragens produzidos durante as atividades citadas acima são apresentados no Museu em uma sessão especial, onde os grupos se reúnem para apreciar o seu trabalho. Depois, tudo é catalogado e arquivado, para uso do historiador do futuro.

O Museu disponibiliza também cursos e palestras para instrução de professores, e se torna assim um espaço de integração social, sempre aberto ao público, interagindo e promovendo a união de todas as etnias, gostos e estilos. Vemos no Museu grupos de donas de casa, lésbicas e homossexuais, negros e brancos, professores e alunos, cada um trabalhando a favor de seu grupo e da interação e sociabilidade entre todos, como sendo parte de uma só raça: a humana. Esta socialização traz sentimento de paz e confiança e dá aos estudantes alegria de aprender, buscar informações e lutar por uma sociedade mais informada e unida.

Considerações finais

A instituição visitada (MIS) forneceu exemplo prático de muito do que foi estudado pelos grandes teóricos do desenvolvimento da inteligência e da aprendizagem, como Vygotsky, Wallon e Davydov. O Museu trabalha com o conceito de educação informal, conceito esse que, dependendo da realidade, pode trazer mais benefícios do que a instituição formal em si, pois dá liberdade para que as pessoas possam aprender sendo quem elas realmente são, sem serem manipuladas ou forçadas a concordar com o que não concordam, o que, infelizmente, tem sido realidade na maioria das instituições formais de ensino. A educação pode cumprir o papel de fazer a transformação social, de melhorar os indivíduos, de ensinarem-lhes a pensarem por conta própria, a terem sua opinião, ao mesmo tempo em que respeitam a dos outros, como pôde ser visto no trabalho realizado no MIS.

Baseando-se nos estudos feitos até agora, fica claro a grande importância da educação na vida dos indivíduos e da sociedade como um todo, porém a mesma deve ser usada não para controlar, mas para perpetuar o que já foi aprendido pela humanidade, para que possamos, baseando-se no que já foi descoberto, descobrir mais e aprender mais, continuando assim nosso processo evolutivo.

Para tanto, cabe aos educadores e responsáveis criarem, ou deixarem em aberto, todas as oportunidades de educação possível para proveito da sociedade. O MIS, instituição visitada para a realização desse trabalho, mostra como a educação pode ser realizada de forma completa e interessante aos estudantes, e mostra o sucesso da aplicação de teorias como as de Vygotsky, Davydov e Wallon.

Ficou muito claro também a extrema importância do profissional de educação, seja professor, pedagogo, diretor de escola e outros que devem ser responsáveis por ensinar as pessoas a serem livres, por meio do conhecimento e da oportunidade de se conhecerem e serem quem são, sabendo, porém, se equilibrar, para garantir um bom convívio em comunidade e melhoria do mundo. Para tanto, o próprio profissional deve saber se melhorar, para que possa também, ensinar aos outros como fazer o mesmo, aplicando dessa forma, as teorias acima citadas, e mostrando como esta aplicação pode criar um trabalho muito bem sucedido.

Referências bibliográficas

NAPOLITANO, Marcos (e outros) – Fontes Históricas – Editora Contexto, 2005.

LA TAILLE, Y; OLIVEIRA, M, K e DANTAS, H. – Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo, Summus, 1993.