AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM: DO BEHAVIORISMO AO
CONSTRUTIVISMO NA EAD

Jeovane Soares Rodrigues1

Márcia Regina Silva Rodrigues


Introdução

Antes de adentrarmos no tema a ser tratado, faz-se necessário situarmos historicamente em relação às teorias psicológicas que procuraram explicar os processos de desenvolvimento e aprendizagem, para que possamos compreender o salto revolucionário e qualitativo alcançado e conhecendo assim verdadeiramente como o sujeito aprende. As teorias psicológicas produzidas ao longo do tempo não estão fundadas nos mesmos pressupostos filosóficos, elas são influenciadas pelo contexto histórico social e cultural de cada época, o que faz com que cada uma delas tenha seguido o seu próprio curso de desenvolvimento. Sendo assim, a Psicologia é uma área que tem como objetivo buscar compreender o homem em todos os seus aspectos do desenvolvimento humano, desde o nascimento até o momento de maturidade. Apenas no século 20 surgiu o estudo mais científico da criança começando a apresentar uma ciência do comportamento infantil, que inicia descrevendo comportamentos característicos de determinadas fases e organizando escalas de desenvolvimento. Psicologia e Educação se enlaçam dando origem a Psicologia da Aprendizagem e a Psicologia da Educação. Hoje, as teorias do desenvolvimento oferecem o estudo de crianças, bem como adolescentes e adultos, possibilitando inúmeras aplicações na clínica, na escola e nas instituições da sociedade.
1 Pós-Graduandos em Especialização Educação a Distância pela UNEB-BA, Polo UAB de
Brumado-BA. Texto a ser avaliado pela professora Rita Rapold, componente curricular
Psicologia Ecológica (PE) O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma releitura das discussões nos fóruns I e II da disciplina Psicologia Ecológica (PE) do curso de especialização Educação à Distância UNEB/UAB.


1. Contribuições do Behaviorismo para o estudo da aprendizagem

Com a teoria comportamental, os teóricos acreditavam que o desenvolvimento humano resultava de um processo de aprendizagem contínuo, objetivo e científico. Assim nascem as discussões do fórum I. Diante das ideais de Estímulo-Resposta de Skinner, o desenvolvimento humano, precedia da experiência individual no meio ambiente, marcada por reforços positivos e negativos, os quais contribuíam para que o indivíduo desenvolvesse ou extinguisse comportamentos específicos. Portanto, o homem é considerado como produto do ambiente, uma cera mole, tendo a realidade externa como fonte exclusiva do conhecimento. Skinner defendia o argumento de que o professor não só era dispensável, como também era um mau instrumento de ensino. Sua defesa estava no fato do professor trabalhar com grupos de alunos, não podendo acompanhá-los individualmente. Partindo deste argumento lançou suas
famosas “máquinas de ensinar”, considerada percursora do uso educacional dos computadores. Esta teoria tem aplicações no ensino e na educação, principalmente no tocante à aprendizagem, tem-se como contribuição o método de ensino programado, o controle e a organização das situações de aprendizagem pelo emprego de esquemas de reforçamento e a tecnologia de ensino, o uso do computador na escola.


2. Teorias Psicogenéticas e o processo de construção do conhecimento

Nos anos 80, o aprendizado foi enfatizado pelas ideias cognitivistas, as quais defendiam que o processo cognitivo acontecia quando o individuo atribuía significados à realidade em que se encontrava. Destaca- se neste contexto Piaget e Ausebel, e mais recentemente, incluiu-se as ideias de Vygotsky, entre outros. Tendo como pauta as teorias de Piaget e Vygotsky, o fórum II discutiu sobre a influência destes dois autores, e suas correntes, as mais destacadas no meio Educacional. Nas explanações levantadas, desenha-se um resumo sobre as ideias de Piaget as quais priorizam a interação entre sujeito e o objeto e o crescimento cognitivo, que para ele, se dá a partir da ação do indivíduo sobre o objeto de seu conhecimento, bem como as ideias de Vygotsky, em sua abordagem socioconstutivista, com destaque para a interação social, a cultura e a linguagem as quais exercem forte influência sobre a aprendizagem e são consideradas fatores importantes para a formação de conceitos na estruturação da mente. Ao analisar Piaget e Vygotsky, no tocante a concepção de mediação sustentada por suas teorias, entende-se que, na visão vygotskyana, a interação social, a colaboração e a linguagem ganham destaque para a construção da estrutura cognitiva, formalizadas e expressas a partir do contexto sociocultural do indivíduo. Isso difere das ideias de Piaget, que privilegia, em sua teoria, fatores individuais, internos e genéticos, na perspectiva da Epistemologia genética o meio social não é incluso como fator importante para a estruturação da mente. Ambas as teorias Piagetiana e Vygotskyana, são conhecidas como construtivistas ou interacionistas já que nestas concepções o conhecimento é construindo pelo indivíduo durante toda a sua vida. A Epistemologia Genética de Jean Piaget e a Sócio-histórica de Vygotsky, compartilham de ideias semelhantes, mas também apresentam diferenças entre si, segundo Castorina (1998)
“... para Piaget, as estruturas de pensamento em desenvolvimento são constitutivas da aquisição de sistemas conceituais, incluindo os considerados por Vygotsky; ao contrário, para este, a aprendizagem escolar dos sistemas conceituais precede a aquisição da estrutura lógica que poderia corresponder aos mesmos. Enquanto Piaget focalizou seu interesse na gênese da lógica dos conceitos, na sua sistemática operacional e na sua explicação cognitiva, Vygotsky enfocou-o no
contexto da sua aquisição escolar” (p.38). Neste sentido, as qualidade e capacidades básicas de cada ser humano já se encontrariam basicamente prontas e em sua forma final por ocasião do nascimento, sofrendo pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo de sua existência. Buscando superar o reducionismo entre desenvolvimento e aprendizagem, surgem as teorias construtivistas (interacionistas), que têm como corrente filosófica a dialética, defendendo que o conhecimento se dá através das trocas do organismo com o meio (físico, sócio-cultural, histórico). Assim, tanto a hereditariedade como o meio ambiente têm responsabilidade na construção do conhecimento. Jean Piaget como um dos representantes deste grupo, afirma que as noções de tempo, espaço e a logicidade de raciocínio são construídas pelo indivíduo através da ação em trocas dialéticas com o meio. Segundo os interacionistas, potencialmente todos têm capacidade de construir suas estruturas cognitivas, mas não significam que todos vão aprender ao mesmo tempo. Uns avançam mais rapidamente, outros menos e a interação com o meio pode favorecer ou desfavorecer desenvolvimento. Em face às escolas psicológicas, evidenciamos que para os teóricos de base empirista o desenvolvimento e a aprendizagem são processos idênticos que resultam da ação do meio sobre o indivíduo, já para os racionalistas, o desenvolvimento é resultante do amadurecimento progressivo de estruturas pré-formadas no indivíduo, e a aprendizagem é um processo externo independente do desenvolvimento. Já os interacionistas consideram esses dois processos complementares, embora inerentemente diferentes, cada um exerce influência sobre o outro. E tais processos são resultantes de estruturações e reestruturações progressivas mediante a ação do sujeito sobre os objetos e destes sobre o sujeito. As contribuições de Piaget e Vygotsky para a EAD impulsionou o Ensino à Distância, já que a EAD era vista como meramente instrucional e o aluno era transformado em um receptor de conteúdos, até que no final da década de 60, as principais Universidades à distância passaram a divulgar um discurso centralizado na concepção humanista, descrevendo a EAD como autoaprendizagem centrada no aluno. Superando esta visão, considerada simplista por muitos, valeu-se das ideias de Piaget e Vygotsky, e outros como Paulo Freire para alavancar o ensino à distância. A aprendizagem passou a ser compreendida como sendo uma mudança de comportamento num processo de interação, motivação e iniciativa do aluno. Na Ead, a ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal), teoria desenvolvida por Vygotsky, pode ser percebida na aplicação do uso da internet ou por meio de um ambiente que tem o computador como instrumento de aprendizagem. Lucena (1998) relata que:
“... a interação entre pares permeada pela linguagem (humana e da máquina), potencializa o desempenho intelectual porque força os indivíduos a reconhecer e a coordenar as perspectivas conflitantes de um problema, construindo um novo conhecimento a partir do seu nível de competência que está sendo desenvolvido dentro e sob a influência de um determinado contexto histórico-cultural”. (p. 50) O conhecimento é a justaposição do que o sujeito traz com o que é apresentado a ele e a interpretação que ele faz a partir do que já conhecia anteriormente, desenvolvendo uma construção nova. Para Piaget, a aprendizagem é uma das formas de aquisição de conhecimentos, que pode gerar uma construção de conhecimento ou não. Com base nas ideias de Jonassen (1996), destaca-se que as tecnologias propiciam uma aproximação da instrução centrada no aluno permitindo apoiar a aprendizagem construtivista na EAD. Esta construção em EAD acontece com o uso das tecnologias, ambientes virtuais e suas ferramentas, além da mediação do tutor, material didático-pedagógico, interação aluno-aluno e a motivação do aprendiz.


Considerações

Diante do que foi abordado, detectamos que não se aprende apenas com a estrutura cognitiva, se aprende também com a carga energética ou afetiva que se coloca no objeto do conhecimento. Neste sentido, nem as estruturas cognitivas, nem a afetividade, nem a influência do meio isoladamente consegue explicar os processos normais e patológicos da aprendizagem, mas a integração desses fatores oferece uma avaliação mais ampla e profunda. Ainda se evidencia na EAD é que o sujeito aprende não só na instituição de ensino, aprende se também na família, na comunidade, na sociedade e na relação com ele próprio, ou seja, o ponto de vista de Vygotsky. Portanto, a aprendizagem é uma construção intrapsíquica que se processa na interação do sujeito com o meio e pelo meio.


Referências

CASTORINA, José A. Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Àtica, 1998. JONASSEN, D. O Uso das Novas Tecnologias na Educação à Distância e a
Aprendizagem Construtivista. Em Aberto, Brasília, n. 70, ano 16, abr./jun.,1996. LUCENA, Marisa. Teoria Histórico-Sócio-Cultural de Vygotsky e sua
aplicação na área de tecnologia educacional. Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, v.26 (141) abr./jun., 1998.