dr.Rabim Saize Chiria

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Licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique

 

 

1. As relações entre a cultura e economia na pós-modernidade na perspectiva de Jameson

Na perspectiva de Jameson, as relações entre a economia e a cultura na pós-modernidade evidenciam uma notável radicalização das tendências teorizadas, por Adorno e Horkheimer, na Dialéctica do Esclarecimento, acerca da indústria cultural, o que parece reforçar a ideia de que o nosso presente histórico é o resultado de um amplo processo de intensificação do passado. Ora, As teses de Jameson acerca dos papéis da cultura e economia apontam para um novo tipo de relação entre base económica e superstrutura:

Dizer que meus dois termos, o cultural e o económico, se fundem desse modo um no outro, significam a mesma coisa, eclipsando a distinção entre base e superstrutura, o que em sim mesmo sempre pareceu a muitos ser uma característica significativa do pós-moderno, é o mesmo que sugerir que a base, no terceiro estágio do capitalismo, gera sua superstrutura através de um novo tipo de dinâmica. E isso pode bem ser o que preocupa (e com razão) os que não aderiram ao termo; este parece nos obrigar, de antemão, a tratar dos fenómenos culturais no mínimo em termos de business, se não nos termos da economia política (Ibidem: 25).   

Segundo Jameson (1995: 14), na cultura pós-moderna, a própria cultura se tornou um produto, o mercado tornou-se seu próprio substituto, um produto exactamente igual a qualquer um dos itens que o constituem: o moderno era, ainda que minimamente e de forma tendencial, uma crítica a mercadoria e um esforço de reforça-la a se autotrascencer. No entanto, o pós-modernismo é o consumo da própria produção de mercadoria como processo.

“O estilo de vida da superpotência tem, então, com “o fetichismo” da mercadoria de Marx, a mesma relação que os mais adiantados monoteísmo tem com os animismo primitivos ou com as mais rudimentares formas de idolatria.” (Ibidem: 15). A valorização absoluta do valor de troca no pós-modernismo revela a conquista pela lógica mercantil, dos últimos enclaves pré-capitalistas, a saber: a natureza e o inconsciente.

Para Jameson, o moderno tinha como uma das suas experiências fundamentais a alteridade entre as grandes metrópoles e o campo. No entanto, havia claramente uma cultura das cidades e uma outra provinciana, camponesa que podia ser reconhecida em muitas áreas do terceiro mundo, ou associadas a um passado pré-capitalista do continente europeu. Pois, quando os habitantes da cidade visitavam o campo e as regiões agrícolas percebiam a inquestionável coexistência de dois mundos desnivelados, ou seja, eles podia realmente dizer, orgulhosos que eram absolutamente modernos. Porém, essa dicotomia desaparece no pós-moderno.

“As conclusão da modernização extinguiu as tradições camponesas, a saber, seu modo de produção agrícola, as antigas aldeias, as terras, que não eram propriedade privada e sua temporalidade” (Ibidem: 22). No ponto de vista de Jameson, o campo é agora domínio das grandes corporações, do agrobusiness. Mas, com isso não quer dizer que o globo terrestre foi homogeneizado por completo. O que Jameson reconhece – como tendência – é a radicalização de um processo que, na modernidade tolerava a existência das formas de vida tradicionais. No pós-moderno, os habitantes dos campos podem ter acesso a todas as tecnologias e meios de comunicação ou informação que, antes, era exclusivamente das grandes metrópoles.

“Hoje, a internet, a publicidades todos tipos de mídias estão presentes nos meios rurais, promovendo cultura urbana, quer dizer, estamos diante de um assombroso de estandardização da cultura mundial” (JAMESON apud VATTIMO; 1997: 36). Nesta linha de pensamento, Kurz (2004: 250), salienta que, os indivíduos se transformam, de fato, naquele homo “economocus” que outrora era uma simples imagem da economia política clássica. Porém, com a economização de todas as esferas devida, a economização da consciência (…), isto, graças a globalização, nos quatros cantos do mundo, não só nos centros capitalistas. Quando até mesmo amor e sexualidade, tanto na ciência quanto no cotidiano, são pensados cada vez mais como categorias económicas e estimados segundo critérios económicos, a comercialização da alma parece irresistível.

Tudo agora é organizado e planejado, a natureza foi triunfalmente cancelada, e também os camponeses o comerceiam pequeno-burguês, o artesanato, as aristocracias feudais e as burocracias imperiais. A nossa condição é mais homogeneamente modernizada, não estamos mais sobrecarregadas pelos estorvos das não-simultaneidade e não-cicronicidades (JAMESON; 1997: 315).   
 Jameson, salienta que tudo chegou a mesma hora no grande relógio do desenvolvimento ou da racionalidade (…), pois, esse é o sentido em que se pode dizer que o modernismo caracteriza-se por uma modernização incompleta, ou que o pós-modernismo é mais moderno que próprio modernismo Ora, Segundo Jameson (2006: 90) “a reestruturação produtiva do modo de produção capitalista promoveu profundas alterações económicas, políticas e culturas na sociedade e os impactos dessas transformações na produção cultural fez com que fosse orientada para a produção de mercadorias, duma sem precedentes na história do capitalismo.

A falta de profundidade e um novo tipo de superficialidade volatilidade é considerada como outra característica da cultura pós-moderna. De acordo de Jameson (1995) a cultura de consumo passou a ser disseminada como o único modo de vida possível na ordem mundial vigente e globalizada e a integrar o tecido social que conforma o cotidiano da maioria dos países, fortalecendo o individualismo e ocorrendo os vínculos sociais.

Em jeito de conclusão, salientar que Para Jameson apud Bonnici (1999: 33), o pós-modernismo é a cultura do pastiche que não pode ser confundido com a paródia (imitação e escárnio). O pastiche é uma “paródia branca” ou cópia vazia. O pastiche é intimamente ligado ao outro item pós-moderno da “morte do sujeito” ou o fim do individualismo (…), portanto, a pós-modernidade se destaca pela cultura das citações e da intertextualidade, envolvendo “ o fracasso certo da arte e da estética, o fracasso do novo, o aprisionamento do passado.

Ademais, Jameson apud Bonnici (1999: 36) a firma que o pós-modernismo é perdidamente uma cultura comercial. Não há resistência do pós-modernismo ao capitalismo consumidor; antes o reproduz e o reforça. A cultura não é mais “ideológica” mas uma actividade económica, talvez a mais importante actividade económica de todas. Não há apenas (…) distinção entre alta cultura e cultura popular, mas de modo especial, o aniquilamento da distinção entre a cultura e a actividade económica, exigindo uma tomada serie de posição no que diz respeito as práticas culturais.