RESUMO

A educação especial passou por várias transformações ao longo das últimas décadas. A modificação do conceito de alunos com "deficiência", para o de alunos com necessidades educativas especiais, trouxe mudanças significativas na educação, dentre as quais, proporcionar a estes alunos o acesso a escolas regulares, valorizando a integração como forma de educação não-segregadora.

Essa integração foi criticada e considerada ineficiente, o que levou a um movimento por uma educação inclusiva que possibilite um ensino de qualidade para todos os alunos, sem nenhuma forma de exclusão. Tornar essa prática uma realidade são mudanças necessárias no contexto escolar.

1 INTRODUÇÃO
As crianças com necessidades educativas especiais enfrentam várias dificuldades em ingressar na rede regular de ensino devido à rejeição das escolas, à incapacitação dos profissionais da área e outros fatores que demonstram ainda haver um longo caminho a percorrer na educação inclusiva.

Nessa perspectiva, o presente trabalho pretende analisar a educação e práticas integradoras que estão inseridas em escolas públicas de ensino regular que possuem alguma classe especial. Essa pesquisa encontra sua justificativa no fato de que os profissionais da área possam ter uma maior compreensão no assunto e a partir disso, criar melhores condições para uma educação mais inclusiva. E a relevância deste tema para o curso de Psicologia é contribuir cientificamente a fim de abranger o conhecimento acerca desse tema.

Frente a esses objetivos, constitui relevante a seguinte problemática: Como a educação especial e as práticas do ensino integradoras estão inseridas nos colégios da rede de ensino estadual da cidade de Aracaju?

Diante dessa problemática, fundamentou-se no estudo do processo histórico da educação especial à inclusão desses alunos no ensino regular, as práticas da integração educativa e sua definição, bem como das principais deficiências que interferem na aprendizagem desses alunos.

Em relação ao método, essa pesquisa de campo do tipo qualitativa utilizou para aquisição de dados, entrevista semi-estruturada com professores, e foram feitas observações sistemáticas das práticas integradoras do ensino especial na escola referenciada. Para análise desses dados utilizamos a técnica de analise de conteúdo.

2 O QUADRO DAS DEFICIÊNCIAS

Conhecer a natureza das deficiências é de extrema importância, pois as mesmas podem afetar no processo de desenvolvimento conseqüentemente na aprendizagem. Segundo Coll et.al.(2004, p. 283):

Os alunos com necessidades educativas especiais decorrentes de deficiências sensoriais, motoras ou psíquicas apresentam um série de peculiaridades que incidem em seu processo de desenvolvimento pessoal e que é preciso conhecer a fundo para ajustar a resposta educativa e proporcionar-lhes as ajudas necessárias.

Para tanto, é necessário o "ir além" dos professores, de nada adianta procurar conhecer as peculiaridades de cada aluno especial, se a formação e especialização oferecidas ao corpo docente de ensino são carentes nessa área. É necessário assim, responsabilidade por parte das autoridades com a educação especial, entender que não basta ter professores disponíveis, mas qualificados para lidar com a demanda.

O intuito maior é que haja uma melhor interpretação a respeito de como lidar com as diversas situações que ocorrem com os alunos especiais. São dessas respostas, que muitas vezes têm que ser imediatas, que Coll vem trazer em relação ao desenvolvimento pessoal do aluno.

Essa sensibilidade se relaciona entre a aprendizagem e a deficiência dos alunos especiais. São fatores que trazem subsídios indispensáveis no trabalho em classe e fora dela também, na relação com os demais estudantes, com sua própria família e nos demais contextos em que vivem.

As dificuldades de aprendizagem são divididas em primárias e secundárias. As primárias são, em geral, de cunho emocional. Já as secundárias são resultantes de limitações ou deficiências orgânicas devidamente diagnosticadas (FONTES, 2003).

Visando uma compreensão global das deficiências, a OMS propôs três níveis para esclarecer todas as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade, e desvantagem social. Todos esses aspectos foram de extrema importância para estabelecer uma educação especial que se adéqüe às necessidades dos alunos. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007)

Diante disso, sintetizaremos os principais aspectos no qual as deficiências se apresentam, conforme Oliveira (2004):

? Deficiência física afeta o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, decorrente de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, más formações congênitas ou adquiridas;

? Deficiência visual caracterizada pela redução ou perda total da visão;


? Deficiência auditiva caracterizada pela perda total ou parcial, congênita ou adquirida da capacidade de compreender a fala através do ouvido;

? Deficiência mental caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, que se manifesta com limitações impedindo que o indivíduo responda adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades, desempenho na escola, lazer e trabalho;


? Deficiências múltiplas caracterizam-se por apresentar no mesmo indivíduo, duas ou mais deficiências primárias (mental, visual, física) com comportamentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa.

As deficiências podem acontecer por vários fatores que podem ser adquiridos antes, durante ou depois do nascimento. Sendo assim, a causas mais freqüentes durante a fase pré-natal podem acontecer por alterações de genes ou cromossomos, ou por fatores ambientais durante a gravidez. Na fase peri natal pode acontecer por problemas vividos no parto, prematuridade, baixo peso ao nascer, entre outras. Na fase pós-natal podem acontecer por cuidados inadequados que a criança recebe após o nascimento, tais como: acidentes, privação de afeto, intoxicação, etc. (FONTES, 2003).

Apesar da importância do professor conhecer os fatores e condições da deficiência, é necessário que o mesmo saiba como deve proceder diante de tais situações e como esses fatores influenciam na aprendizagem, e assim fornecer o suporte que o aluno carece para se desenvolver. Ou seja, de acordo com American Association on Mental Retardation (1997) apud Coll et. al. (2004, p. 283):

(...) identificar as capacidades, as limitações e necessidades de apoio. Por exemplo, a avaliação da mobilidade e da comunicação nos alunos com deficiência motora com o objetivo de identificar os suportes técnicos mais adequados; ou a avaliação, tanto das características comunicativo-linguísticas nos alunos surdos, como também o grau de perda dessas características; aspectos etiológico-neurológicos e de saúde (condições de saúde/doença, higiene, hábitos alimentares).

O exercício educar alunos especiais não pode ser visto como algo voluntário ou através de pessoas têm boa vontade. A valorização das práticas pedagógicas são semlhantes ao dos demais alunos do ensino regular, devendo assim ser encaradas como algo sério e de responsabilidade a fim de dar os suportes necessários para o entendimento diário das limitações e capacidades dos portadores de necessidades especiais, que possivelmente estão em constantes transformações e precisam de uma atenção mais aprimorada e observando as particularidades de cada indivíduo.

3 METODOLOGIA

3.1 Método
A pesquisa realizada fundamentou-se em compreender e analisar as práticas integradoras de classes especiais de colégios públicos de ensino regular. Por esse motivo a pesquisa é do tipo qualitativa, pois, é a que melhor se adéqua a este referencial, facilitando a compreensão do objeto em análise.

3.2 Sujeito

A pesquisa referida foi realizada em colégios da rede de ensino estadual, na cidade de Aracaju-Se.

Participaram desse estudo cinco professores e alunos de cada classe especial das referidas instituições.

3.3 Instrumentos

Quanto à coleta de dados de informação para atingir nosso propósito, optamos por um roteiro de entrevista semi-estruturada, que de acordo com Minayo (1996, p. 108):

(...) o que torna a entrevista semi-estruturada um instrumento privilegiado para a coleta de informações na pesquisa social é a probabilidade de acessar condições estruturantes da realidade, sistema de valores, normas e símbolos por meio do discurso do sujeito.

A entrevista possui sete questões, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições pré-fixadas pelo pesquisador. Também foram feitas observações, na instituição.

3.4. Procedimentos

Para que possibilitasse a utilização dos instrumentos de coleta de dados e por fim analise dos dados, os procedimentos foram realizados da seguinte forma: Nos dia 28 e 30 de Maio de 2008 foi Explicado o objetivo do estudo e realizado as entrevistas com as professores em sala de aula das escolas estaduais mediante a autorização. Foi observado o contexto da investigação. Afim de que os questionamentos fossem respondidos, e também para a observação da instituição como forma de abranger a compreensão os dados coletados, focando o ambiente escolar, as práticas pedagógicas e a interação social. A duração das entrevistas foi de aproximadamente 45 minutos, durante as mesmas transcrevido os dados para posterior analise.

O retorno as escolas se deu nos dias 3 e 6 de junho de 2008 a fim de observar o ambiente, as instalações das instituições, os laboratórios de informática, cantinas, salas de aula, entre outros, no qual os alunos especiais aprendem as relações sociais com os demais colegas. Tal observação inclui a presença do pesquisador durante a realização de atividades, tanto pedagógicas quanto atividades integradoras, com os demais alunos regulares.


4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Os dados do presente estudo foram submetidos à análise de conteúdo, na qual serão destacados com a fala das professoras, transcrições das observações realizadas nas instituições, como forma de facilitar a compreensão e propor reflexão sobre as mesmas.

Em relação ao perfil sóciodemográfico, as entrevistadas têm em média 36 anos e possuem formação universitária no outros cursos, relatam não terem experiência na área, e recentemente fizeram cursos de capacitação oferecidos pelo governo, com pretensões de fazer uma especialização em educação especial.

As classes especiais possuem entre 11 e 19 alunos, incluindo meninos e meninas, cujas idades variam entre 11 a 21 anos.

O primeiro ponto a ser analisado é identificar o objetivo da classe especial inserida num colégio regular. Uma das entrevistadas afirmou que: "Temos o objetivo de preparar o aluno para inclusão, alfabetizando e amenizando os desvios de conduta". Isto demonstra que o processo de integração nessa escola consiste em adaptar os alunos portadores de deficiência em classes especiais, onde ficam nesta situação até conseguirem acompanhar uma turma regular.

Segundo o informe de Warnock (1978) apud Coll et.al. (2004, p. 24):
A integração é física quando a classe ou unidade de educação especial está inserida numa instituição de ensino, porém é uma organização independente, apesar de compartilhar alguns lugares como pátio ou refeitório.


Nestas escolas estaduais ocorrem processos semelhantes, porém pode-se dizer que não são organizações totalmente independentes e os alunos não compartilham apenas os mesmos espaços, mas também participam de atividades de integração.

Segundo as entrevistadas, a integração ocorre mais nas atividades extraclasses, quaisquer atividades, assim eles são incluídos. Nas visitas às instituições pode-se observar atividades integrativas, em muitas delas os alunos da classe especial ensaiavam para apresentação de uma quadrilha junto aos demais alunos da escola.

Muitas são as dificuldades que os alunos com necessidades especiais encontram para serem aceitos e reconhecidos como ser humano igual a todos. Uma das professoras relatou: "Os alunos passaram por dificuldades devido ao preconceito dos pais dos alunos que influenciavam os filhos a discriminarem esses estudantes." Ela relata ainda que para solucionar tal problema a educadora fora em cada classe dar informações a esses alunos sobre as características e limitações das crianças especiais, a fim de melhorar o convívio entre eles.


Conforme Oliveira (2004), as escolas devem acomodar todos os alunos independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. O de educar com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles com deficiências severas.


Quando solicitado a esclarecer qual metodologia sa professora faziam uso, afirmaram que constrói relatórios mensais e anuais individuais, e maioria a partir dos dados do relatório fazem uma análise a respeito do desenvolvimento da capacidade de aprendizagem. A depender desse desenvolvimento, aplicam uma avaliação do ensino regular a fim de verificar se o aluno está preparado para o processo de inclusão.

Conforme Coll et. al. (2004, p. 38) "os alunos são diferentes em seu ritmo de aprendizagem e em seus modos pessoais de enfrentar o processo educacional e a construção de seus conhecimentos". Na entrevista, as professora relatam que as principais necessidades dos alunos deste tipo de classe é a dificuldade de memorização, e para solucionarem este problema utilizam métodos tais como, contar histórias. E para superarem as dificuldades de calcular, fazem uso de objetos concretos.

Assim podemos verificar que a educação especial nesses colégios buscam se adequar as dificuldades e limitações de cada aluno utilizando recursos, materiais de apoio a fim de obter melhores condições de ensino.

Além disso, as docentes demonstravam boa vontade ao facilitar os conteúdos para tornar simples a aprendizagem e, criar um ambiente de cooperação entre os alunos, elucidando que a integração sem exclusão é um objetivo alcançável.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os alunos de educação especial são aqueles que apresentam alguma deficiência, seja de ordem física, sensorial ou mental, mas a ampliação do conceito de necessidades educativas possibilitou que esses alunos tivessem um ensino mais igualitário e menos exclusivo. Um fator de considerável importância é a constante especialização dos profissionais da área da educação especial.

Através desta pesquisa foi possível analisar o contexto de integração da classe especial das instituições de rede regular de ensino, na qual se pode verificar que há possibilidade em transformar essa prática integradora em um ensino mais inclusivo. Tendo em vista que a igualdade, o respeito a esses estudantes, e a convivência em um ambiente sadio sem preconceitos faz parte também do caminho para uma boa inclusão.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da educação. Secretaria da Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: 2007.

COLL, César et. al. Desenvolvimento Psicológico da Educação: Transtornos do Desenvolvimento e Necessidades Educativas Especiais v. 3: 2 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2004.

FONSECA, Victor da. Educação Especial- Programa de Estimulação Precoce- Uma Introdução as Idéias de Feurstein. Porto Alegre: Artes Medicas Sul,1995.

FONTES, S.A.S. Educação e Exclusão: Inclusão de Crianças Portadoras de Necessidades Especiais no Ensino Regular. Aracaju, 2003.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1996.

OLIVEIRA, Adelaide Tavares. A criança portadora de necessidades educativas especiais e sua inclusão na rede regular de ensino. Aracaju, 2004.

URBINA, Suzana. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

SANT?ANA, I. M. Concepções de professores e professores, São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v10n2/v10n2a09.pdf> acessado em: 06/062008