O conto escrito por D.H. Lawrence nos mostra três grandes momentos na vida dos personagens: O primeiro nos revela um flashback, onde o mundo retratado é o da personagem Mabel, o segundo se dá no presente com o personagem Fergusson – cemitério em alguns momentos também no passado e o terceiro Homem x Mulher : uma tentativa de suicídio seguido de amor.

            Segundo D.H. Lawrence o conto nos transmite como os personagens agem e se situam diante da realidade em que são colocados, para o autor Lawrence a civilização moderna não consegue viver naturalmente porque a própria sociedade tem a capacidade de bloqueia-los. Pois vivendo em um mundo cheio de tecnologias é algo negativo e isso torna o homem preso entre a civilização e a natureza. Durante todo conto percebemos que os personagens  são comparados a animais, onde estão sempre sendo dominados [...] se não fosse  pela fixidez impassiva de seu rosto, “cara de buldogue” (Lawrence, pág. 07), [...] se fosse um animal como Joe, seria um animal que controla, e não um que é controlado (Lawrence, pág. 10).

            No conto a morte é presente, a história nos apresenta perspectivas diferentes, uma a partir do momento em que Mabel vive com o pai e seus irmãos e a outra quando o pai morre e como a situação afeta a sua vida. Depois da morte de seu pai, Mabel e seus irmãos ficam cheios de dívidas para pagar, e isso os obriga a vender todos os cavalos que possuem. Criando novas perspectivas de vida, mas o destino de Mabel é incerto, pois a personagem nos apresenta uma incapacidade de planejar o seu futuro e isso os deixava tensa e cheia de dúvidas. Aparentava ser uma mulher decidida e independente, mas ao mesmo tempo devido as consequências da vida se via frágil e fraca, pois as pessoas que mais a amava já havia morrido e sua vida parecia não ter mais sentido diante de todo aquela situação, a personagem Mabel era passiva, muito orgulhosa diante dos irmãos, cunhados etc...onde baseava-se ao seu orgulho pelo dinheiro que possuía em sua vida real, citado no seguinte trecho:

Então, não obstante a brutalidade e grosseria que havia, a sensação do dinheiro a mantinha orgulhosa, confiante. Os homens podiam ser bocas sujas, as mulheres na cozinha podiam ter má reputação, seus irmãos podiam ter filhos ilegítimos. Mas enquanto havia dinheiro, a moça se sentia estável, e brutalmente orgulhosa e reservada.( Lawrence, pág. 17)

           Muitas vezes agia por insistência, sem pensar no que poderia acontecer, não tinha intelectualidade. A partir do momento em que ela ia visitar o túmulo de sua mãe lá ela se encontrava e sua vida parecia ter sentido, pois na sua imaginação ela estaria protegida de tudo o que lhe fazia sofrer, lá não haveria insultos e humilhações.

            A personagem Mabel era depressiva e durante todo conto era solitária, o cemitério era o lugar onde ela fazia uma ligação com a morte, ela via a morte como algo positivo, pois sentia-se segura e lá ninguém poderia incomodá-la, lá ela poderia viver em seu mundo interior para ela.

           No conto o cemitério nos representa vida e morte, vida porque a personagem principal só vê sentido em sua vida se estiver ao lado da mãe, dentro de seu útero, e morte pela simbologia que o cemitério nos representa. Existe uma força possessiva entre Mabel e sua mãe, mesmo depois de morta a mãe ainda o dominava. E isso fez com que a personagem Mabel quisesse ir para junto da mãe, se entregando à uma outra vida, tentando se afogar, sem saber que estava sendo observada, após ser resgatada por Fergusson ela acredita que ele o ame, embora nunca tivessem se encontrado. O que levou a Mabel a essa tal afirmação foi o fato de sua família não demostrar nenhum sentimento e preocupação alguma com ela, por isso ela (Mabel) não via opções que levasse a pensar diferente. E a única solução que encontrou foi o suicídio. Então, quando o personagem Fergusson salva, sua esperança na vida se renova e ela se convence de que ele a ame de verdade. Essas esperanças e mudanças obtidas pela personagem à medida que avança no conto, seus sentimentos se aprofunda e isso a fortificava sentindo- se amada. Os personagens se deixam envolver de forma bem intensa, algo acontece de forma que nem mesmo eles se dominam:

Suas mãos o estavam arrastando, arrastando-o para junto dela. Ele estava com medo, aterrorizado. Pois não tinha realmente intenção de amá-la, e ainda assim suas mãos o estavam arrastando [...] Uma chama parecia queimar a mão que segurava no ombro macio. (A filha do negociante de cavalos,p.29).

         Ao acordar a personagem tem outra concepção de vida, pois a partir do momento em que Mabel se vê despida ao lado Fergusson ambos sentiam se descobertos um pelo o outro, envolvendo-se emocionalmente, é como se ela renascesse novamente.

REFERÊNCIAS

Lawrence, D.H. "A filha do negociante de cavalos". In: A filha do negociante de cavalos; A meia branca; Sol. Trad.: Rosana Castilho, Gisele Wokaff, Andréia Martins L. Mateus. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. (Col. Leitura), pp.7-35