Será que todos queremos trabalhar o tempo todo? Às vezes, temos diversos interesses na vida. Alguns podem ser transformados em atividades laborais, outros não.

            No mercado de trabalho somos a própria mercadoria. Ou peças necessárias, formadas e lapidadas para manter a engrenagem funcionando. Mas, e se resolvemos não ocupar o lugar de peças? Subverter a lógica do profissional certo para o lugar certo. E se fazer parte dessa engrenagem nos custar alto demais? Talvez, para alguns de nós, nenhuma promessa de consumo seja sedutora o suficiente para justificar a venda de nosso tempo e de nossos interesses.

            Então, estamos fora do mercado. Um mercado que nos exige foco, dedicação e ambição em uma curva sempre ascendente. Na mídia, manuais de empregabilidade, dicas para garantir o emprego. A carreira é algo que precisa ser dirigida. A finalidade? Tornar-se atraente para o mercado, vender-se como qualquer outro produto. É assim que o mercado vê nossa formação profissional.

            Nesse contexto, qualquer voo mais autoral é visto com temeridade. Trocar de área? Cuidado. Um profissional qualificado não aceitar posição de gerência? Melhor não contratar. Ou não tem ambição ou esconde algo. Como se a ambição só pudesse estar ligada à profissão ou ao consumo. Deixar um emprego com uma boa remuneração por um trabalho que paga menos, mas que permite outros tipos de gratificação? É completa loucura.

            Como furar essa lógica? Derrubar esse muro feito de discurso único e fechado? Não há qualquer resposta pronta e, provavelmente, cada um constrói a sua própria resposta. Qualquer coisa diferente disso seria banalizar o assunto. Mas pode ser interessante pensar no que nos é mais caro e nos perguntarmos o quanto disso está presente no nosso dia a dia.