Jean Pierre Vernant, nascido em Provins, 4 de janeiro de 1914 e falecido em Sèvres, 9 de janeiro de 2007, foi um historiador e antropólogo francês cuja especialidade era a Grécia Antiga e a mitologia grega. Destacado historiador da Antiguidade, Vernant carrega a justa fama de ter colocado os estudos helênicos em outro nível. Ao lado de uma geração de estudiosos importantes, seu trabalho fundamentava-se na psicologia, na sociologia e na antropologia e alterou a forma de pensar a história antiga de uma forma geral, analisando o conjunto, ou seja, o político se relacionava com o religioso, e assim por diante. Aproximou-se muito do estruturalismo, da própria história cultural, a antropologia e a semiótica. Saberes que juntos fizeram da sua escrita um espaço para ações de interpretação e leituras dos mitos gregos.

Entrou para a política muito cedo e fez parte de uma organização revolucionária ateia com sede em Moscou. Entrou para o Partido Comunista Francês (PCF) em 1932 e lá permaneceu até 1970. Crítico feroz do Partido, apesar disso sempre manteve uma atitude de apoio. As perturbadas relações do PCF com o stalinismo criaram recorrentes atritos de Vernant com a direção do Partido. Com a Guerra da Argélia, essa relação se tornará ainda mais tensa, resultando na ruptura de Vernant com o PCF. Os jovens intelectuais de 1968 vivenciaram a radicalização crescente dos movimentos políticos que promoveram profundas divisões na sociedade francesa. O PCF não apoiou o movimento de independência das colônias francesas na África e esse fato esse que fez com que Vernant se desligasse do Partido.

Sua primeira obra importante, As Origens do Pensamento Grego, publicada em 1962, foi lida por muitos como uma recusa das teses dos defensores do "milagre grego", mas também poderia ser lida como um duro ataque à política do Partido Comunista Francês e uma erudita defesa de uma política da verdade. Nessa obra Vernant procurou apresentar as raízes políticas da racionalidade grega. A laicização do pensamento político, realizado na passagem do século VIII antes de cristo ao século VII a.c. asseguraria, para Vernant, o advento da própria filosofia e o aparecimento da polis foi o acontecimento decisivo para tal. Na polis grega a política e o logos passaram a vincular-se estreitamente. A palavra assumiu uma posição de preeminência sobre todos os demais instrumentos de poder, enquanto a razão se expressou primeiramente na política. Com Aristóteles uma lógica do verdadeiro, própria da teoria, foi contraposta a uma lógica do verossímil. É o caráter público dessa política e desse logos, que permite a todos controlar seus objetivos e resultados. A polis fez uma distinção entre um domínio público de um domínio privado, e estabeleceu práticas abertas ao público do que antes era exclusividade de uns poucos privilegiados. E era justamente a estes poucos integrantes do PCF que Vernant dirigia suas críticas. A submissão do PCF ás regras do jogo da democracia liberal e à política externa da União Soviética tornava sua prática política incapaz de encarar as possibilidades de mudanças sobre as quais os intelectuais dissidentes procuravam chamar a atenção.

Durante a segunda guerra mundial Vernant foi membro da resistência francesa e após o término do conflito voltou a lecionar aulas de filosofia no sistema escolar. Em 1948, passou a integrar o Centro Nacional de Pesquisas Científicas. Em 1958, foi nomeado diretor da VI seção da Escola Prática de Altos Estudos. Em 1964, fundou seu próprio centro de pesquisas: o Centro de Pesquisas Comparadas Sobre as Sociedades Antigas.

Intelectual, professor e pesquisador, inovou e revolucionou as pesquisas na área dos estudos clássico. Sua obra recebeu influências das maiores correntes de pensamento que marcaram o pensamento europeu do século XX e que foram o marxismo, a sociologia durkheiminiana e o estruturalismo francês. A escola estruturalista influenciou vários campos desde a linguística, literatura e antropologia. Este estudo se destacava por se basear em estruturas - cada elemento da sociedade se encontrava interligado a estruturas. O Estruturalismo se propõe a analisar os fatos de uma forma a descrevê-los, dando ênfase no sistema, percebendo as ligações entre as unidades no seu aspecto de relação signo e referente.

Influenciado pelas pesquisas de psicologia histórica, ao inserir aspectos psicológicos na formação do pensamento grego, Vernant expandiu o leque de possibilidades analíticas de um modo nunca visto. A compreensão da humanidade grega, suas singularidades e traços distintivos, longe de aprisionar Vernant no passado e nos limites do caso particular, lança a análise na direção de uma indagação mais ampla sobre o humano, sobre a racionalidade e sobre o simbólico o que, de novo, impõe ao intérprete as perspectivas psicológica e antropológica.

Vernant se utiliza de tudo isso, perspectiva integradora das realidades humanas, multidisciplinaridade, integração de diversos campos do saber, questionamentos múltiplos e variados, para dar uma visão profunda e modificadora  da vida humana e que serve para que nós possamos vislumbrar um futuro próprio com mais consciência do tipo de destino que aspiramos.