Há uma crítica que constrói, edifica, habilita e frutifica em novos valores e competências, há, porém, aquela que é fruto do temor e da vaidade. Ninguém está imune a nehuma delas quando  se propõe a atingir a coletividade. Entretanto, como o intuito do Projeto Nova Coletânea não é o de promover-se, mas aos novos autores que ainda se encontram à margem do mercado editorial, faz-se, aqui, necessária a explicitação do tema levantado em discussão na última Bienal do Rio sobre a banalização da cultura pela facilidade de se publicar textos e novos autores nas vias virtuais. Porque somos partidários da inclusão é preciso ir às essencias do discurso institucionalizado no qual se vislumbra uma preocupação saudável com a qualidade dos conteúdos emitidos pela virtualidade, mas também da defesa de interesses que contrariam o fomento à produção e inclusão de literária de novos autores pelo surgimento das novas tecnologias de informação propiciadas pela internet.

Novos autores surgem a todo instante em nosso país. São milhares de postagens em sites literários, alguns especializados em captar essa efusiva produção de novos textos e torná-los uma forte ferramenta na associação de sua página ao interesse de busca do leitor virtual. Oportunismo midiático à parte, deve - se comemorar essa integração de interesses que tem levado muitos a se tornarem cada vez mais hábeis em se comunicar com o outro e com o mundo através da palavra.

Sim, há muito mais conquistas no avanço dessas novas tecnologias do que imaginaria nossa vã filosofia, diria William Shakespeare. A informação e a cultura unificando interesses individuais e coletivos, um novo mundo em erupção, se estabelecendo como nova forma de comunicação, talvez mais ampla e, efetivamente, mais interativa.

Porque há muito do que tratar falarei, especialmente, do processo de produção na edição desses textos, porque, surge, assim, um novo leitor, acredito que cada vez mais consciente dos contextos que formatam a opinião de um escritor. Ele, o leitor, terá oportunidade de investigar, pesquisar e reconhecer realidades antes não ao alcance das páginas impressas, isso é uma realidade. Poderá verificar os vários tratamentos dado a um tema específico ou a um assunto de seu interesse e pensar as fontes e, muitas vezes, verificar as referências bibliográficas, tudo ao seu alcance num só clique. Limitações sempre terão tanto o que lê como o que escreve. Sendo assim, deve tanto um como outro se orientar para uma leitura seletiva sempre quando possível. Entreter é bom, mas se queremos conquistar leitores assíduos e fidelizados, precisamos emitir idéias e dados com a devida precisão e credibilidade.

Dotado de mais informações contextuais, em profundo diálogo com os gêneros literários, o novo leitor e o novo escritor encontram aqui um instrumento indispensável para a sua formação, bem como um desafio em lidar com a democratização do acesso propiciado pela rede no endereçamento de suas idéias. Todos estamos, aqui, muito próximos da coletividade. Nossas expectativas e interesses ainda que sejam muito pessoais e queiram provocar reações das mais subjetivas no outro devem respeitar àqueles que navegam e que estejam formando sua opinião, a sua personalidade e seu caráter. Sei que meus alunos estão de olho no que escrevo.  Creio ser saudável registrar o que penso nos espaços em que o exercício desta liberdade não desrespeite os valores e os princípios de uma cultura, da boa conduta e do que faz gerar cidadania.

Graças à internet e ao empreendedorismo dos editores das ferramentas WEB, aqui acorrem escritores famosos e anônimos. Rendem-se todos a esse universo para experimentar a grande influência de suas obras sobre o público leitor ou, simplesmente, para serem agraciados por um comentário ou visita que lhe de estímulo para a composição de uma outra página.

Por meio dessa ferramenta de comunicação, o Brasil se revela como um país de leitores de poetas, contistas e cronistas tantos quanto não podíamos imaginar. Atendendo à nova demanda de produção literária e cintífica, a WEB oportuniza a chegada de grandes talentos à esfera global quase que imediatamente. Escritores novos e novos escritores, tendo muito o que aprender, mas dividindo, democraticamente, o mesmo espaço de inclusão. Sim, porque há por aqui aqueles que estão dando os primeiros passos na produção literária; dizem: "Bruno, dê uma olhada e me diz se isso aqui é um poema mesmo"; outro: "É uma crônica o que escrevi ou um conto?"; "Esse texto serve à Nova Coletânea?" O melhor é que todos estamos aprendendo com essa nova realidade. Acredito que seria uma imensa precipitação julgar os processos de produção virtuais um erro, uma aculturalização, uma banalização cultural. Queria ver um Brasil leitor e hoje o vejo indo mais além. É um Brasil que lê e que escreve mais. Falo por mim mesmo, eu agora escrevo mais, muito mais... Como professor da rede pública, cujo salário impediria o acesso a qualquer livro ao custo da abstinência a bens de consumo extremamente necessários, a inclusão digital e literária propiciada pela rede tem-me feito, apesar ainda de algumas limitações, uma pessoa mais feliz e um profissional mais renovado.

Amo livros, amo o texto, acredito que muito temos de melhorar, contudo, reconheço nestes novos tempos a grande oportunidade para se revolucionar o entendimento e formar alianças benéficas pelo futuro educacional do país. "Uma nação se faz com homens e livros", já dizia Lobato. Seja impresso ou virtual, vamos oportunizar a boa leitura a todos, vamos fomentar a produção escrita, vamos pensar o país, adotar estratégias de inclusão; vamos, enfim, educar para valer.

A perfeição é pretensão, embora uma excelente meta a se buscar. Como professor, só posso dizer que devemos encarar a produção virtual recente como um excelente material para estudos do pensamento social, do estilo e das tendências desse tempo. Temos aqui uma grande vitrine para a exposição do pensamento dos novos e dos grandes clássicos que não podem ser ignorados. Tudo é mais acessível... Textos de Sófocles, Aristóteles, Platão, obras que ainda influem a cultura mundial. De Karl Marx a Shakespeare, Arthur Conan Doyle, tudo a apenas um clique (http://www.vbookstore.uol.com.br/). A leitura está mais acessível , a produção escrita viabilizada com recursos que tornam mais atrativa e motivadora nossa leitura. Se posso direcionar o leitor a essa leitura, o faço com a mesma alegria de recebê-los junto a meus textos. Quero um Brasil estudante, em qualquer idade, porque sendo um que leciona, descobri que aprender é a mais belas das faculdades humanas, pois foi ela que nos diferiu do primata. Não podemos resistir ao convite que nos faz esses novos tempos. Melhoraremos com o aperfeiçoamento da crítica, com o engajamento de especialistas no estudo desse processo desmitificador da cultura. Não podemos mitificar a escrita ao ponto de menosprezar o talento emergente de tantos na rede.

Sob a discussão que se engendrou nos últimos dias na Bienal do Rio de Janeiro acerca da banalização do discurso e da produção literária, temi que pecassem pela crítica exacerbada ao escritor virtual, porque sei que este está há muito marginalizado não somente pelo mercado editorial tradicional, mas pela falta de condições de sobreviver de sua vocação ao escribato. Profissão essa tão importante e que, apesar da grande contribuição que dá ao país, não tem reconhecimento legal nem fórum legítimo que defenda seus interesses com representatividade. Que alguns tenham o privilégio de serem publicados e a competência incontestável de se impor ao público leitor e ao mercado tradicional, só podemos louvar, porém negar a inclusão de novos autores neste cenário de oportunidades e democracia literária é lutar contra a própria causa.

Não obstante seja esse um veículo de comunicação democrático, em cuja seleção de conteúdo caiba ainda muitos erros, há acertos. Como professor, penso que esse é um fenômeno que merece um estudo especializado, científico, sem o preconceito, o otimismo ou o pessimismo de quem se veja diretamente afetado por ele.

Pedagogicamente, na minha opinião, os diários eletrônicos, os blogs ou sites literários são um fenômeno ímpar de fomento à prática da leitura e da produção escrita. Estamos  caminhando a passos largos para vivenciar descobertas de grandes talentos, sim, porque essa geração promete. É preciso olhar com os olhos da "TIA" que via os nossos garranchos e "LASCAVA" aquele elogio para que não desistíssemos de continuar. É um primeiro momento, respeitemos. Sob certa cautela, é compreensível, porém uma palavra descuidada pode nos levar ao desestímulo e a um grande prejuízo nesse caminho de aprendizagem.

Aqui é o novo grande centro do mundo, o novo centro da cultura e da arte. Inaugura-se em cada página uma nova dimensão, um novo espaço... É o espaço da comunicação virtual, onde escritores, personalidades de todas as modalidades artísticas, seja visual, audiovisual ou da estética da palavra utilizam-se de todo os recursos possíveis para construir uma nova expressão de mundo e realidade, uma identidade coletiva.

É tempo de BLOGAR, então façamos dessa atividade uma grande celebração da conquista desse espaço e, literalmente, construamos uma nova página na história da cultura do país e do planeta.

Deixo aqui uma boa sugestão aos amigos que me leram até agora. Eis um bom espaço para  embasarmos nossa produção, pois nos propicia uma leitura aprazível e de qualidade . Seja escritor, porém seja, antes de tudo, um bom leitor. O site que indico subsidiado pelo governo federal é o "Domínio Público" , onde estão textos dos nossos inesquecíveis padre Antônio Vieira, o qual compôs o "Sermão da Sexagésima", além de Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar, tudo gratuito. Terão também a famosa "Crítica da Razão Pura", de Immanuel Kant, o "Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens", de Rousseau.

Até o próximo texto, certamente, depois de uma boa leitura dos nossos escritores clássicos e contemporâneos.

Bruno Resende Ramos

29 - 09 - 2009