Quem poderá viver nos dias de hoje sem os aparelhos eletrônicos que estão à nossa disposição, pelos preços mais acessíveis a qualquer classe social?

Nunca tivemos acesso a tantas informações. No entanto observo que antes, sem elas as pessoas viviam bem mais felizes e tranqüilas, sem se sentirem presas da ansiedade que domina as gerações de agora, ávidas por saber das últimas fofocas, dos gabaritos das provas e dos resultados disso ou daquilo. Elas também querem ser as primeiras a anunciar, e por isso ligam, ligam, ligam. Antes as notícias não corriam tão rapidamente, e quando os acontecimentos chegavam ao seu conhecimento, o impacto nas pessoas já não era tão grande, porque tudo já havia passado. Muitas coisas não eram sabidas e quando eram, os ânimos já haviam se acalmado e muitos dissabores eram evitados. Mas hoje a evolução trouxe consigo o mal da precipitação e da intranquilidade, que gera o grande mal da ansiedade e da agressividade, através de palavras e atos impensados, causados por um simples e fácil serviço de comunicação, muitas das vezes usado de uma forma inconseqüente. Esse excesso de comunicação entre as pessoas, se por um lado traz muitos beneficios, por outro é altamente pernicioso. As pessoas se precipitam e se comunicam ininterruptamente a qualquer hora do dia e da noite. Até mesmo nas ruas, apesar das proibições motoristas dirigem com aparelhos celulares conectados ao ouvido. A qualquer momento somos comunicados de fatos e acontecimentos na família, ou em qualquer outro tipo de grupo ou relacionamento. E algumas dessas informações podem bloquear os sentidos e até mesmo desnortear uma pessoa, em qualquer lugar onde ela esteja. Imaginemos o seguinte diálogo entre o motorista de um coletivo e sua mulher, numa rua de grande movimento, na hora do rush:

- É isso mesmo que você ouviu; tô caindo fora e levando o menino.   Sou nova e tenho o direito de ser feliz com outra pessoa. Você não vai me achar nunca mais!

- Você não pode...  você não pode fazer...

E ela desliga o aparelho na cara dele. Agora a vida dos passageiros e pedestres estará nas mãos de um homem completamente desorientado, bombardeado por uma notícia que jamais poderia ter sido dada naquele momento.

Os disse-me-disse não poderiam encontrar nos meios de comunicação de bolso um terreno mais fértil para a sua proliferação, e muitos encontram nele uma maneira fácil de falar covardemente o que não teriam coragem de dizer, olhando nos olhos. E o tal objeto num piscar de olhos se torna uma arma destruidora da paz interior e do equilíbrio, principalmente nos relacionamentos amorosos.

Não sou contra o desenvolvimento tecnológico, mas sou a favor de que as pessoas se eduquem e pensem, antes de fazer uso de qualquer um desses meios de comunicação que estão hoje à nossa disposição. Eu fico pasma em ver o mau uso dos telefones celulares, em ver as pessoas gritando pelas ruas, falando dos seus problemas particulares sem se dar conta de que estão se expondo. Não consigo entender como não conseguem mais ficar um instante sem digitar alguma coisa enquanto estão numa sala de espera, num ponto de ônibus, no cinema antes de começar o filme e até mesmo dentro de uma igreja. O povo parece estar deslumbrado e os modernos aparelhos tornaram-se um vício, algum tipo de entorpecente, algo que os hipnotiza.

Entre esses péssimos habitos que estão na moda, está o gesto de só se referir a alguém que ligou, ou falar que ligou, dobrando para dentro os três dedos centrais de uma das mãos e esticando o dedo polegar e o minimo e leva-la ao ouvido, imitando assim o braço de um aparelho de telefone fixo. Que hábito idiota e feio! E o pior é que qualquer entrevistado ou entrevistador, qualquer orador, seja político ou religioso, está fatalmentete contaminado por esse ridículo cacoete.

Também nas páginas de relacionamentos sociais, muita gente coloca a sua vida numa vitrine diante do mundo todo. Caramba! Só que há uma grande diferença entre o uso e o abuso, e já é tempo de podermos nos adaptar às modernidades sem esses exageros, sem essas discrepâncias e esses shows de exibicionismo e insensatez.

Que tal os pedagogos e os etiquetistas começarem a fazer um retoque social, dando um trato nos hábitos do povo brasileiro? Já não será sem tempo.

Junia - 2013