As medidas de controle de antissepsia é um método eficaz para a prevenção do sitio cirúrgico?

 Jaina  Quitéria Pereira Rodrigues

                                                      Alessandra Alves dos Santos

                                                       Carolina Fonseca de Souza

                                                       Isabella de Menezes Rodrigues

                                                       Edijane Andrade de Araújo

                                                      Rose Cleice Nascimento de Jesus

                                            Lorena de Andrade de Santana Almeida

 

Bacharelandas do Curso  de enfermagem da Faculdade AGES

 

Na história da medicina cirúrgica, são relatados casos que hoje para nossa atualidade podem ser considerados bárbaros, devido a procedimentos rudimentares, ausência de anestesia e auto índice de mortalidade pós-cirúrgica por falta de técnicas assépticas. Porém com o avanço tecnológico, descoberta da anestesia, antissepsia e assepsia e aprimoramento das técnicas de enfermagem no cuidado com o paciente pós-cirúrgico, notou-se uma espetacular diminuição da mortalidade. Desta forma, pode-se inferir que, além do bom andamento do ato cirúrgico, é imprescindível a atuação de enfermagem na prestação de cuidados preventivos à infecção, sendo esta uma das complicações que mais acomete o paciente pós-cirúrgico segundo pesquisas, devido a distúrbios fisiológicos, patológicos, cuidados ou educação deficiente tanto da equipe de enfermagem quanto para a com a família. (SANTANA, 2009)

Nos séculos XVI A XIX, conforme Margotta (2002, p.89) as cirurgias aconteciam com pacientes alcoolizados, buscando analgesia. Este procedimento era extremamente doloroso, o paciente era contido e o índice de infecção alto era comum tanto pelo ato cirúrgico quanto pelo método de cauterização da incisão, como descrito: "os ferimentos de bala eram venenosos devido à pólvora e que o melhor tratamento era cauterizá-los com óleo de sabugueiro fervente misturado com melaço".

Apesar de a dor intraoperatória ser superada pelo advento da anestesia em meados do século XIX, feridas cirúrgicas inflamavam e infeccionavam, sendo que 45% dos pacientes que sofriam de amputações morriam, ou ainda, contraiam tétano, erisipela e septicemia. (SANTANA, 2009 Apud Goffi, 2006).

 

“Meu pai conseguiu numerosas curas, se bem que – apesar do meu extremo asseio pessoal – não tratasse o escalpelo com mais cuidado do que uma faca de mesa, tirasse as ataduras de uma caixa exposta continuamente á poeira das más estradas; e as pomadas, com uma lasca de madeira que ele próprio arrancava a um toco de lenha. Tinha, assim como Felix, a sorte de operar numa parte do corpo que, ao contrario de outras partes, não reagia com febres mortíferas. (THORWALD,2010, p.44)

 

Vale ressaltar também que durante a guerra da Criméia em 1854 a enfermagem utilizando técnicas de cuidados empregadas por Florence Nightingale gerou tanto sucesso que melhorou as condições hospitalares, dando vantagens desta forma, as tropas alemãs que conseguiram diminuir a mortalidade dos soldados (GEOVANINI et al,2005).

Nesta experiência vivenciada por Florence, foram produzidas diversas anotações e conclusões sobre a importância do cuidar enfatizado em seus dois livros, conforme Geovanini et al (2005) A apresenta: Notas sobre hospitais (1858) e Notas sobre Enfermagem (1859) onde ela cita que a enfermagem cuida tanto da doença quanto de ações preventivas em saúde por meio do educar-cuidar-pesquisar. A cura não era mérito da enfermagem ou da medicina, estas deveriam promover condições favoráveis à manutenção do doente para que a natureza se encarregasse de atuar sobre ele.

A infecção é uma complicação inerente ao ato cirúrgico e se faz necessário um grande esforço para mantê-la sob controle e em níveis aceitáveis, dentro dos padrões de uma determinada instituição hospitalar, de tal modo que a análise de seus índices constitui, hoje, um parâmetro de controle de qualidade do serviço prestado por um hospital (FERRAZ et al., 2000).

As ISC encontram-se em segundo lugar dentre as infecções hospitalares. A mais importante área de prevenção baseia-se no preparo do paciente, exemplo: banho pré-operatório, tricotomia, antissepsia da pele, colocação dos campos cirúrgicos, antibioticoprofilaxia cirúrgica, etc. Sem contar, a importância da limpeza e desinfecção do ambiente que é de extrema importância (CATANEO et al., 2004; SMELTZER e BARE, 2008).

A assistência de enfermagem segundo Possari (2006) constitui na prevenção de ISC ou tratamento de complicações, pois menor que seja o procedimento cirúrgico, o risco de complicações sempre estará presente. A prevenção no pós-operatório promove rápida convalescença, evita infecção hospitalar, poupa tempo, reduz gastos, preocupações, ameniza a dor e aumenta a sobrevida do paciente.

A pele do paciente é uma das principais fontes de microrganismos causadores de infecção do sítio cirúrgico (ISC), principalmente em cirurgias limpas. Em decorrência, assumem importância os cuidados com a sua pele próxima à área operatória, no sentido de evitar a transferência de microrganismos desta região para a incisão, durante a cirurgia ( VOLPATO E PASSOS, 2007).

O staphylococcus aureus é responsável por muitas infecções de ferida no período pós-operatório. Outras infecções podem resultar de Escherichia coli, Proteus vulgaris, Aerobacter aerogenes, Pseudomonas aeruginosa e outros organismos. Quando ocorre um processo inflamatório, geralmente isto causa sintomas dentro de 36 a 48 horas. A frequência do pulso do paciente e sua temperatura aumentam, o número de células brancas do sangue (CBS) eleva-se e a ferida geralmente torna-se edemaciada,  quente e dolorida no local da incisão. Os sinais locais podem estar ausentes quando a infecção é profunda (SMELTZER e BARE, 2008).

A ISC, uma das causas mais comuns de complicações cirúrgicas sérias, ocorre frequentemente por deficiências na sistematização e falta de práticas e processos seguros nas instituições. A eficiência e a qualidade do trabalho das equipes cirúrgicas dependem do conhecimento e dos padrões de comportamento e comunicação, além da habilidade e consciência sobre os riscos envolvidos. No entanto, a realidade de tensão e estresse da sala de operações (SO) exige das equipes um bom relacionamento interpessoal para reduzir os danos ao paciente. (Ferraz, 2009; ANVISA, 2009).

 A higienização das mãos consiste em um dos maiores desafios para a prevenção das infecções relacionadas ao cuidado em saúde, devido a sua baixa adesão pelos profissionais da área. Estudos mostram justificativas para esta baixa adesão como; falta de motivação, irresponsabilidade, falta de consciência, pouca importância ao fato da transmissão cruzada de microrganismos, ausência de pias próximas aos leitos, reações cutâneas nas mãos, falta de tempo dentre outros. Com o intuito de prevenir as complicações pós-cirúrgicas tardias, o enfermeiro deve mediar ações a serem implementadas, no processo de enfermagem, definido por Lefevre (2005, p.29) como: “... é uma forma sistemática e dinâmica de prestar os cuidados de enfermagem. Essencial a todas as abordagens de enfermagem, promove cuidado humanizado, dirigido a resultados e de baixo custo. Também impulsiona as enfermeiras à continuamente examinarem o que estão fazendo e a estudarem como poderiam fazê-lo melhor".

Os cuidados relacionados à prevenção da infecção do sítio cirúrgico (ISC) devem ser iniciados já antes da internação, no caso das cirurgias eletivas, e estendidas ao pós-operatório. Porém, as medidas mais importantes para o controle da infecção em cirurgia são aquelas que devem ser aplicadas enquanto o paciente está no Centro Cirúrgico (intra-operatório, pré e pós-operatório imediatos) (CARNEIRO et al., 2003; GALVÃO, SAWADA E ROSSI, 2002).

Segundo (SANTANA, 2009), conclui-se que toda a equipe multidisciplinar tem um papel crucial na prevenção da ISC tendo consciência da necessidade da assepsia e antissepsia e técnicas cirúrgicas que minimizem ao máximo as complicações. Para a enfermagem vê-se a importância da enfermagem na elaboração de um plano de cuidados que amplie ações desde o pré-operatório até o pós-operatório a fim de garantir ao máximo a integridade e recuperação do paciente embasada na efetiva anamnese e exame físico do mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Paripiranga - BA

Novembro, 2011

 

Referências bibliográficas

 

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