Já era hábito eu estar sempre sozinho. Todos os dias logo depois de voltar da faculdade sempre me encarcerava no quarto para poder relaxar. Segundo eu, claro. Numa sexta-feira tal, eu e o Alfredo Jamisse saímos juntos para um passeio tal simples. Primeiramente eu não queria, mas o Alfredo Jamisse tinha insistido muito acabei caindo nessa de passearmos. Não gostava nada sequer de quebrar os preceitos da minha mãe já que ela é que me criou sozinha, porque meu pai nos abandonou já lá se vão vários anos de solidão da minha santíssima e querida mãe.
Logo depois de sairmos de casa encontramo-nos com duas moças lindíssimas, com pele de chocolate, com tetas bem aconchegadas e pernas como as das bielorrussas; aquelas mulheres altas, de famílias bem abastadas e com uma aparência desejável. Só uma pessoa como eu é que poderia não desejar aquela grande mulher. O Jamisse de repente piscou olho para mim e eu acenei negativamente como quem não queria topar a cena. Ele insistiu. E resisti. Ele foi ter com uma delas e eu continuei parado no local perto do portão de casa. Subitamente a amiga da moça que estava com o Alfredo aproximou-se a mim e comecei a gemer de medo daquela beleza tão rara e aparentemente de famílias muito bem abastadas e aconchegadas ao luxo. O meu coração parou alguns instantes de bater e senti-me muito molhado. Acho que ela tivesse visto aquilo teria me chutado e pensado que eu sou um fraquinho e que não consigo me conter. Comecei a sentir um calor enorme que me invadia todo o meu miolo e comecei a transpirar. Ela não desistiu. Foi enfrente com muita ousadia e classe. Engoli saliva. Engoli da segunda, e da terceira vez como forma de ganhar coragem e superar o meu medo de estar ao lado de uma grande mulher e mulher bonita.
Enquanto eu estava no meu canto a comediar e a engolir a minha saliva o Alfredo já estava a beijar a amiga da Beija-flor. Sabem, eu nem lhe perguntei o nome, só fiquei gelado, mas bem gelado mesmo e encostadinho naquele murro da casa dos meus pais. Ela com as suas armadilhas e volúpia conseguiu me colocar na onda do prazer, na onda da vontade de invadir aqueles seios que me aniquilavam a vontade de estar sozinho naquele momento. Antes a minha única vontade era de fugir daquele local e deixa-la na companhia dos mosquitos que invadiam a minha zona. Já estava decidido a não voltar a tocar em nenhuma mulher na vida. Fiz um juramento comigo mesmo de não invadir mais. Não consegui, quebrei os preceitos da minha própria consciência. Apareceu-me uma ideia de bruscamente apertar agressivamente aqueles seios almejáveis, de engolir saliva e de morder a língua. Avancei já com muita teimosia. Comecei a comportar-me como criança. Vocês sabem muito bem, crianças queimam a mão a tentar mete-la no fogo sem arrependimento, porem com muito prazer. Já não queria ver quem estivesse a passar da rua. Nem sequer havia um conhecido por perto ou não. Embalei na investida. Entramos dentro do quintal. Sorte porque minha mãe não estava, alias, nem se estivesse não teria conseguido apagar o fogo que por dentro e por fora me queimava a pele e o coração. Chegamos na varanda numa investida bem dura e imparável. Não nos falávamos, só avançávamos na nossa investida. A cada segundo que passava a moça me atiçava mais fogo que não conseguia o conter nas minhas calças. Não quisemos perder mais tempo em blá-blá, pensei que fosse eu sozinho que não conseguia mais me conter por causa das forças daquela onda tão quente das águas tropicais do pacífico que eu já começava a jorrar. Avançamos na investida e finalmente chegamos na margem.
Dei-me consciência do que estava a acontecer depois de estar noutra margem a sentir aquele frio glacial. Quis deixar as minhas palavras voarem e assim o fiz.
- Olá!
- Oi! Respondeu ela.
-Tudo bem?
-Tudo bem não, tudo óptimo. Aliás, esta é uma das noites óptimas que já tive na vida. É verdade que com dimensões diferentes, mas óptima esta não deixou de ser. Como diz o Mia Couto "Cada Homem é uma raça" e você é uma boa raça. A propósito, você tem feito isto com a sua namorada? E ela não vem hoje? E se por acaso aparecer e me encontrar aqui empoleirada a ti não se vai chatear? Eu tenho muito medo de brigas. Na vida nunca lutei. Nunca briguei. Sou uma moça do bem.
- Sabes! Eu não sei por onde começar, porque você perguntou muito e embora eu tenha vontade de te responder. Deixo ao seu critério de análise. Eu também não gosto muito de falar de mim quando estiver ao lado de uma mulher, aliás, grande mulher como você. Na vida nunca me imaginei estando ao lado duma mulher como você. Você é excepcional. Você é uma virtude completa em si mesma. Nada lhe falta. Tem tudo que um homem pode precisar e a qualquer momento você pode o responder com muito êxito.
Fiquei embalado na onda da conversa e ela começou a sonecar enquanto minha mãe já estava a entrar. Eu a acordei e levei-a a correr para o quarto onde eu me deitava moribundo. Ficamos por muito tempo que eu também acabei tombando num sono profundo que nos embalou naquela viagem.
Não me dei conta do que estava acontecer ou que tinha acontecido com o Alfredo, preocupado eu estava como ele, claro que é meu amicíssimo e é o único que eu confio.
Eu fui o primeiro a despertar enquanto ela continuava ali bem dormida no leito que minha mãe comprou com muito suor e sacrifício.
Entrou-me uma chamada anónima. Fiquei preocupado e de súbito quis atender, mas depois sosseguei-me e deixei o meu telefone a chamar. Chamou por muito tempo até que ela acordou e me advertiu a atender aquela chamada anónima. Eu resisti. A chamada desligou-se. Cinco minutos mais tarde o mesmo número volta a ligar-me. Desta vez não resisti.
-?Alô?! Com quem falo?!?
- Sou eu Amor. Onde é que estas? Eu preciso muito de ti e da tua ajuda. Será que podes vir aqui no hospital do bairro agora? Tá bom. Tou sem credito, mas aguardo por ti aqui.
Eu tentei explicar a situação a moça que estava comigo naquele momento, mas ela não quis entender e arrancou-me o meu celular. Eu não quis contemplar aquela discussão que ela me queria proporcionar naquele instante. Eu estava sem cabeça para discutir sequer. Levantei-me do leito e vesti-me. Saí a correr e nem despedi a moça. Cheguei no hospital a minha namorada já não estava lá, tinha sido transferida para um outro hospital. Tentei pedir aos médicos para que me explicassem para onde é que ela tinha sido transferida e eles tão-somente se recusaram a prestar declarações acerca de pessoas estranhas. Aliás, o médico que me atendeu perguntou se eu tinha um vínculo familiar com a moça ou não e eu não tinha como mentir porque ele poderia se calhar me pedir a minha documentação de identidade. Disse a verdade e ele disse que não poderia me dizer, porque eu não era familiar da paciente (minha namorada nesse caso). Saí dali muito bem encolhido e já muito preocupado com a saúde dela. Voltei para casa a correr já a jorrar sangue no meu peito de tanta preocupação. Quando abro o quarto a moça com quem eu estava e que acabava de mergulhar e navegar com ela na varanda da casa da minha mãe já se tinha ido embora. Procurei o meu celular na cabeceira da cama e não o encontrei. Procurei por minha carteira onde tinha escrito o número da minha namorada e não o encontrei. Bem que não desconfiei. Continuei a procurar com muita fé. Mas, nada. Nada. E nada. Virei o meu quarto inteiro, mas nada. E nada. Pensei de imediato em ir ao hospital provincial para ver se a minha santíssima querida lá se eventualmente tinha sido hospitalizado lá na sede provincial ou não. Recordei-me que não tinha dinheiro de chapa. Fui a gaveta para levar o cartão do banco para poder levantar o dinheiro. Nada. Já comecei a ficar nervoso de verdade. Verifiquei se o código pin do meu cartão ainda existia. Nada. Nada. E nada. Comecei a chorar sozinho no quarto. Primeiro chorava o facto de a minha namorada estar hospitalizada, segundo, porque eu já não tinha dinheiro. A moça levou o cartão e o respectivo código pin. Não tinha porquê me lamuriar naquele instante e naquele lugar. Comecei a odiar aquele quarto.
Na semana anterior a minha namorada acabava de ser assaltada e foi nesse imbróglio que lhe foi arrancado o seu celular. Eu acabava de comprar esse celular para ela como presente, pois era dia do seu aniversário. É só para verem o meu azar.
Já com nervos a flor da pele procurei pelo Alfredo Jamisse nas periferias bairro e não o encontrei. Fui ao quarto e comecei a chorar de novo.

***

Passaram muitos dias, mas não conseguia me superar. Não conseguia me conformar com a situação que tinha acontecido. Foi um flagelo total que consegui desestabilizar toda a minha situação económica e emocional. Quando a minha namorada saiu do hospital não acreditou. Chamou-me para que eu fosse à casa dos seus pais para melhor explicar o que tinha acontecido. Ela ainda estava muito enfraquecida, pois logo que saiu do hospital deu-me esse juízo. Não acreditei, era ela. Bem acabada. A doença lhe tinha comido toda a sua massa. Contou-me detalhadamente o que tinha acontecido comigo e a amiga da Beija-flor. Fiquei muito espantado quando ela me segredou como teria conseguido aquelas informações.
Fiquei com um pouco de medo por alguns instantes. Mas ganhei um pouco mais de coragem. Eu só a respeito, mas medo dela não tenho, pois já a conhecia há bastante tempo.
A situação passou. Quatro anos mais tarde eu já estava quase comprometido com ela. Decidimos que nos casaríamos em Novembro que propositadamente calha com os dias dos nossos aniversários. Ela faz num dia anterior e eu então um dia depois. Estava tudo óptimo e aos mínimos detalhes estava bem organizado. Por ironia do destino a amiga da Beija-flor que nunca mais conheci o seu nome e que fiquei muito tempo enraivecido e constrangido dentro de mim apareceu-me. Há um velho ditado que diz que o tempo é a solução de tudo ou o tempo leva consigo todas as mágoas?