Eu sofria bullying na escola. Não conseguia passar um único dia sem sofrer agressões por parte dos meus colegas. Cochichos pelas costas, risadinhas, até corredor polonês quando eu passava. E tudo isso por inveja, uma vez que eu era o garoto mais bonito da escola. Mas eu não tenho culpa de ter nascido lindo, com um corpo atraente, sorriso perfeito e um cabelo macio e sedoso.

            Ok, claro que isso não é verdade. Sempre fui alto, magro e desengonçado. E, talvez por isso, tenha estudado tanto e me dedicado à minha profissão. Hoje sou realizado em algumas áreas.

            Mas existem, é claro, aqueles momentos de total satisfação, ou constrangimento.

            Está manhã, por exemplo, quando ia para o trabalho, encontrei um antigo colega de colégio. Sabe o cara mais bonito da turma? O tal que tinha o corpo atraente, sorriso perfeito e o cabelo macio e sedoso? Pois é, ele mesmo.

            O mais engraçado é poder observar como a vida dá voltas e é coerente (ou incoerente em alguns casos). No meu caso continuo alto, magro e desengonçado. Mas ele me surpreendeu totalmente. Cabelos rareando com entradas na fronte, corpo do tipo de quem malhou mas relaxou e criou o que chamam por ai de “calo” (eu chamo de banha mesmo, ou barriga de chop), um sorriso amarelado, barba por fazer, as pernas pareciam finas saindo de uma bermuda surrada e, para arrematar tudo isso, uma sandália tipo holandesa branca de borracha (as tais crocxi que andam fazendo sucesso entre os adolescentes). Como eu falei antes, existe uma coerência na forma como eu amadureci, mas não na forma como ele fez isso.

            Nada como um dia depois do outro. Se aquelas garotas que me rejeitaram pudessem me ver agora. (provavelmente continuariam me rejeitando, mas ele, tenho certeza, teria ainda menos chances).

            Para finalizar ele apontou para a panturrilha e falou: “Olha minha tatoo nova, fiz essa semana. Tomei coragem e comi a dor sem reclamar, não está massa?”.

            O desenho, segundo ele falou era um símbolo judeu que significava paz, amor e prosperidade, e era mais ou menos assim: .

            Eu sorri e concordei. Nos despedimos e segui o meu caminho pensando nas ironias da vida. Me perguntando se algum dia nos veríamos novamente. Um pouco de prazer por, aparentemente, estar melhor do que ele (isso, não me orgulho, por uma pontada de inveja dos tempos de escola), e finalmente, por que aquela criatura que mais parecia uma pêra enfiada em dois palitos tinha tatuado um pretzel na perna.