ESMAC

Escola Superior Madre Celeste

As escolas brasileiras anseiam por verdadeiros educadores

                                       LÉCIA REGINA COSTA DE SOUSA *

RESUMO

Através desse trabalho procuraremos aprofundar pouco mais no significado de ser professor. Baseados no texto (diálogo entre Paulo Freire e Adriano Nogueira) Que fazer: teoria prática em educação popular no subtítulo Conversando com outro tipo de leitor (a): o (a) profissional educador (a) e fazendo uma junção dos conhecimentos observados em sala de aula com algumas experiências vivenciadas no mesmo contexto é que se pretende desenvolver essa reflexão crítica sobre o profissional que temos hoje em muitas escolas brasileiras. As experiências relatadas durante o desenvolver do texto serão baseadas nas observações realizadas em duas escolas públicas no município de Ananindeua/PA, fazendo um paralelo com o que descrevem os autores acima citados. O objetivo é relatar que, embora haja um grande avanço e mudanças de paradigmas educacionais, ainda presenciamos práticas antagônicas àquilo a que se deseja e também reforçar a necessidade de se ter profissionais competentes dentro dos contextos escolares brasileiros.

Palavras – chave: Classes populares. Competência. Educação.

ABSTRACT

Through this work will seek to deepen little more on the meaning of being a teacher. Based on the text (dialogue between Paulo Freire and Adriano Nogueira ) What to do : practical theory in popular education in the subtitle Talking with another type of reader ( a) : the ( a) professional educator ( a) and making a junction of knowledge observed in room class with some experiences in the same context is that if you want to develop this critical reflection on the professional we have today in many Brazilian schools . The experiences reported during the development of the text are based on observations made at two public schools in the district of Anantapur / PA, making a parallel with describing the authors cited above. The aim is to report that although there is a breakthrough and changing educational paradigms also witness practices antagonistic to what we want and also reinforce the need to have competent professionals within the contexts Brazilian schoolchildren.

Words - Tags: Classes popular. Competence. Education.

*Estudante do Curso de Pedagogia. 6º semestre. Esmac. E-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

Começarei essa análise partindo do texto de Paulo Freire (um diálogo entre este e Adriano Nogueira) que debatem sobre um determinado tipo de leitor: o (a) profissional educador (a) fazendo um passeio pelas observações desse mesmo tipo de leitor, mas um leitor diferente do qual os mesmos autores discutem. Por que diferente? À luz do perfil desses educadores “inquietos”, “valentes”, “opçionados”, aqueles educadores que escolhem por “opção” trabalharem com as classes populares. Aqui pretendo fazer um paralelo entre tipo de profissionais com outro tipo, aqueles que estão também em muitos lugares, em muitas, porém, apenas para trabalhar como docente não por opção mas, por falta de outra opção, aquele que está na sala de aula para ganhar o seu dinheiro.

Antes de tudo, quero agradecer a Deus por toda sabedoria e conhecimento, pelas inspirações dadas aos nossos grandes nomes da Educação brasileira, como no caso aqui, Paulo Freire. Sua teoria, anseios, preocupações e reflexões acerca da qualidade de ensino para a cultura popular e demais compêndios que têm auxiliado e contribuindo sobremaneira para que muitos educadores melhorassem suas práticas na incansável luta e busca para nossos queridos alunos e escolas brasileiras.

EXPOSIÇÃO

Ao fazer a leitura do texto “Que fazer: teoria e prática em educação popular”, especificamente no capítulo que trata do diálogo com um leitor – o profissional educador,, chamou-me atenção este capítulo que descreve minuciosamente o perfil, a postura do educador comprometido com o saber, com mudanças significativas, com quebra de paradigmas, com a qualidade do ensino/aprendizagem, com igualdade de direitos a todos.

Quero expressar, aqui, nessas poucas linhas a angústia de saber que infelizmente, em muitos contextos escolares, talvez mais comuns do que imaginemos ainda existem profissionais (se é que assim podemos chamar) longe do alcance de um professor como desejamos.

Ao vivenciar o estágio na escola G. C. S. da rede estadual do município de Ananindeua /Pa, durante dez dias de 2013, e na U.P.A escola pública municipal no ano de 2012, pude contemplar a prática de muitos docentes e constatar que a teoria é, quase sempre desvinculada da prática. Essas escolas com turmas de classes populares, crianças a adolescentes da periferia, de bairros marginalizados, possuem um quadro de professores suficientes, uma boa estrutura física, espaço livre etc. Apesar de comportar um espaço amplo fisicamente, no sentido pedagógico deixa muito a desejar. Principalmente ao olharmos para o seu público, para a sua demanda de alunado. Nota-se o despreparo de muitos profissionais, algumas atitudes são percebidas como atos irresponsáveis mesmo, como exemplo disso cito a ato de encher uma sala pequena com crianças na faixa etária de quatro e cinco anos, ligar um aparelho de TV com qualquer mídia que os próprios alunos trazem (e que já estão cansados de assistir a tal programação) e deixa-los durante duas horas consecutivas porque os professores estariam preparando material para semanas de jogos. O cansaço, a fadiga, a temperatura alta, alguns conflitos entre alunos era comum se perceber. Nessa situação, onde estaria o compromisso, o cuidado, a competência desses professores?

Nota-se que esses professores não se questionam como Paulo Freire descreve “[...] aqueles (as) educadores (as) que fazem a seguinte pergunta: que posso fazer para que seja tomado a sério o interesse das crianças populares?” ou então se perguntarem assim “em minha atividade profissional, que é que tem acontecido com os interesses e as características peculiares da cultura popular?”

Não pretendo, de forma alguma, fazer apologia ao trabalho incompetente de muitos professores da rede pública de ensino nem desacreditar que existem profissionais competentes que assumem o compromisso de formar o cidadão e transformar realidades. Esses profissionais existem e merecem nosso respeito e consideração. Meu propósito é, sem dúvida, expor minhas profundas reflexões diante de uma trabalho que vem, “decrescendo” pois, o aluno cresce em estatura e em idade, porém, seu intelecto, sua “formação” não acompanha  seu desenvolvimento físico – biológico.

Diante das observações em estágio via que muitos professores já entravam na sala de aula com a ideia de que está ali para repassar conteúdos. Demonstrando que suas preocupações estão em encher o quadro e terminar seus conteúdos.

Esse professor não se dá conta da importância do seu papel dentro da sala de aula. Aí volto a falar de Paulo Freire quando este diz que o professor que “conhece e reconhece seu compromisso como um ato também político”, pois, segundo FREIRE (2011) esse (a) professor (a) está se dando conta de que além de ser um (a) profissional da educação, ele (a) é um (a) cidadão (ã) da vida política.

Paulo Freire diz que o professor que exerce sua profissão como um ato político não no sentido autoritário, mas como “um conjunto de normas ‘invisíveis’ que estão presentes no relacionamento de pessoas diferentes” e esse mesmo professor “vai se clareando a si mesmo”. “Abraçando” a ideia desse autor, poderemos perguntar: em que situação se encontra aqueles que não têm, em suas práticas de sala de aula, essa visão política? Estariam escurecendo-se a si mesmos (as) e à sua classe inteira. Isso é angustiante.

Essa questão política e fundamental é uma que parece ter sido esquecida por muitos docentes, quando estes se limitam em apenas repassar conteúdos, símbolos etc., numa relação professor-aluno intermediada por um quadro, livro e um pincel.

Muitas são as problemáticas, na escola, que envolvem a questão da competência de professores. Assim devemos nos questionar, onde estar a competência da qual T.RIOS fala? Esta autora quando se refere à educação e ao papel do professor descreve como competente aquele que professor que:

O profissional competente terá de ser exigente. [...] O profissional exigente não se contentará com pouco, não procurará o fácil; sua formação deverá ser a formação de um sujeito atuante no contexto social e no processo de transformação de um sistema autoritário e repressivo; o rigor será uma exigência para sua prática. T. RIOS (2011.p.104).

É exatamente esse tipo de profissional que nossas escolas precisam. Desse professor “inquieto”, “curioso” que se esforçam para realizar um trabalho competente.

Novamente  a inquietação surge ao lembrar das “minhas escolas”, escolas pelas quais passei o período de estágio. Assim me pergunto: o que estaria acontecendo com muitos de nossos professores hoje? Seria a desvalorização da categoria? Muitas horas de trabalho extras classe? Baixos salários? A violência escolar ou aquela que envolvem o contexto escolar de forma mais generalizada?

O interessante do diálogo de Paulo e Adriano sobre essa questão do profissional educador é perceber como é possível e não difícil ser um agente condicionador de mudanças significativas. Imaginar-se escolher, optar por trabalhar com alunos da classe populares, aqueles da periferia, encarando o grande desafio de trabalhar para ressignificar.

O que fazer então diante da grande necessidade que o Brasil enfrenta no âmbito educacional? Outro fator angustiante é perceber que nas teorias é tudo tão maravilhoso e na prática não é bem assim que vemos que se percebemos. Sobre essa dicotomia PIMENTA (2006) descreve:

Essa compreensão tem sido traduzida, muitas vezes, em posturas dicotômicas em que teoria e prática são tratadas isoladamente [...]. A prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática. Tanto é que frequentemente os alunos dizem que na minha prática a teoria é outra. Ou ainda, o adágio que se tornou popular de que quem sabe faz; quem não sabe ensina.

PALAVRAS FINAIS

Já ouvi alguns relatos de colegas de curso e de professores que atuam já há um bom tempo sobre essa questão dicotômica “ na teoria é uma coisa, na prática é outra”.  Aquelas diziam ter medo de entrar para esse grupo; o grupo da acomodação, da mesmice. Enquanto estas dizem não ter jeito, “é o sistema”, “ninguém foge disso”, “não adianta vir com muita cede ao pote”, “iniciante é assim mesmo”. Essas afirmações e outras soam como se não houvesse mais jeito. Não acredito. Nossos alunos, principalmente esses da cultura popular, têm sede de motivação, de um educador que os coloque diante dos desafios dos quais eles são capazes de enfrentar; precisam de um educador que os estimule a lutar, que os faça acreditar em si mesmos, que traga algo novo, interessante, que os faça pensar, refletir e agir. Enfim, que exerça com competência o compromisso de ser, verdadeiramente, educador. Só assim poderemos ver as futuras gerações não como analfabetos funcionais, mas, como cidadãos que valorizam as suas famílias, as suas escolas, a sua sociedade. Uma sociedade moldada nos padrões da ética e da cidadania. Não um padrão imposto, mas, um padrão solidificado no amor ao próximo, na boa convivência, no direito à igualdade de direitos. Essa gloriosa missão está lançada não só no seio familiar, nas igrejas, mas nas nossas escolas, nas mãos de um profissional chamado educador.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

LIMA, Maria Socorro Lucena; PIMENTA, Selma Garrido. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Proíssis. Vol.3 Número 3 e 4. 2005/2006. P.7, 9, 12.

NOGUEIRA, Adriano; FREIRE, Paulo. Que fazer: teoria e prática em educação popular. - 11. ed.- Petrópolis, RJ. Vozes, 2011.p.65-75.

RIOS, Terezinha. Ética e Competência. -20. ed.-São Paulo: Cortez, 2011.p. 104.