Vanessa Massaro

A globalização da economia que tem acontecido nos últimos vinte anos teve como uma das suas principais consequências, o surgimento de grandes grupos empresariais no cenário econômico mundial, os quais tem uma enorme importância para as atividades econômicas dos países como um todo.

Não é simples fornecer uma definição de empresa multinacional, mas o primeiro a tentar realizar este feito foi, segundo Muchlinsk, David E. Liliental em abril de 1960 através de sua tese denominada “The Multinacional Corporation”, na qual o jurista define as empresas multinacionais como “empresas que tem sua sede em um país, mas que operam e são subordinadas as leis, usos e costumes de outro país”.( tradução nossa)

Porém, no âmbito econômico, a empresa multinacional é uma entidade econômica que organiza a própria produção em pelo menos dois países distintos através de seus investimentos diretos, e inclusive, tais atividades podem ser realizadas através do aproveitamento de atividades econômicas já existentes, transformando-as em filiais, ou então, através da criação de uma nova atividade empresarial naquele país.

Com relação aos vínculos que podem ocorrer dentro deste contexto, se considera a empresa controlada como aquela empresa que opera em outro país, mas tem seu capital acionário controlado na porcentagem de 10% a 50% pela empresa mãe, e a empresa filial é aquela cujo controle acionário é de mais de 50% .

Para uma definição mais técnica podemos citar o parágrafo 1.3 da “Guidelines OECD” que define as multinacionais como: “empresas ou entidades sediadas em mais países e coligadas de maneira que possam coordenar as suas atividades e o seu funcionamento de vários modos, e entre uma ou mais destas entidades pode haver um grau significativo de influencia na atividade de uma sobre a atividade outra; os graus de autonomia podem variar nos ambitos das empresas de maneira bastante distinta, no que se refere à autonomia de uma empresa multinacional para com outra empresa do mesmo modelo empresarial”.(consulta Jan/2016, http://mneguidelines.oecd.org/) (Tradução nossa)

A OIL (Organização Internacional do Trabalho) bem como outras organizações da mesma espécie, entende que é necessário definir de forma bastante detalhada as multinacionais, porém, na declaração sobre os princípios das empresas multinacionais e da política social da OIL, no parágrafo 6º., tal organização internacional se limita a dizer que: as multinacionais são empresas ...... que possuem ou controlam a produção, a distribuição, os serviços e outros meios, fora dos países onde esta localizada a sua sede.( tradução nossa)

Contudo podemos dizer que as multinacionais se caracterizam pela dimensão de seu capital social e pela sua capacidade de investimentos, como por exemplo, pelo investimento em pesquisas e tecnologia, bem como, pela grande capacidade de introdução de produtos e serviços no mercado mundial.

Tais empresas comportam também certa complexidade na sua organização societária, e os mercados globais do qual fazem parte estes colossos não tem concorrência e também não tem monopólio, mas oligopólio, pois em um mundo onde haja concorrência não podem existir as multinacionais, uma vez que estas tem um caráter de oligopólio criado pelo mercado, mesmo que de forma imperfeita e não muito definida.

 A origem das multinacionais se deu após a segunda guerra mundial e os primeiros grandes investimentos a nível mundial se deram através das grandes empresas americanas nos anos 60. Através de uma enorme expansão horizontal, se constituíram em outros países empresas muito parecidas com as empresas mães, e tais filiais obtinham vantagens que derivavam da colaboração dos países para os quais se expandiam.

A partir dos anos 80 a melhora nas telecomunicações e nos meios de transporte possibilitou a facilidade na comunicação das empresas com seus países de origem, e o aumento na possibilidade de adquirir cotas no mercado mundial aumentou a competitividade, trazendo um crescimento importante.

Neste período iniciou-se a formação de um mercado de capitais muito mais integrado e globalizado, pois houveram importantes mudanças no setor financeiro, como por exemplo, a eliminação das barreiras ao movimento de capitais através de uma maior flexibilidade nos fluxos financeiros, tendo como resultado a constituição de um eficiente mercado de bolsa de valores global.

A queda do muro de Berlim em 1989 e o fim da guerra fria acarretaram um grande interesse na expansão das multinacionais no mundo inteiro, havendo também a passagem para uma nova fase nas relações comerciais através da transformação dos sistemas dominados pelas multinacionais americanas para um sistema mais complexo, articulado e diversificado, como o sistema atual.

Podemos citar alguns fatos que definem muito bem o poder das multinacionais na economia mundial, como por exemplo, a redução progressiva de impostos para incentivar investimentos que tem ocorrido em alguns países, o alargamento da base de contribuintes para as classes sociais menos abastadas, a garantia de igual tratamento entre os investimentos estrangeiros esternos e investimentos nacionais adotados em alguns países, a busca no reforço da proteção da propriedade privada, a liberação dos comércios internacionais em geral, o encorajamento dos setores econômicos voltados à exportação, a busca constante da maioria dos países em limitar o déficit público através da reorganização das despesas públicas, e também, a preocupação no fornecimento de estruturas e serviços básicos, necessários para favorecer o desenvolvimento das populações e do comércio em geral.

Podemos afirmar seguramente que a redução nos custos é um dos motivos principais para haverem sedes produtivas em outros países, pois esta tem sido a melhor solução encontrada quando os custos das transações comerciais são muitos elevados.

Uma empresa que opera no mercado global tem a necessidade de obter informações sobre seus clientes, seus fornecedores, sobre os usos e costumes, sobre as leis e regulamentos vigentes em vários países do mundo, portanto, através da internacionalização a empresa consegue todas estas informações na sua própria filial.

Podemos concluir através deste trabalho que a maior vantagem da internacionalização da empresa esta concentrada na construção de um poder contratual forte, ou seja, na capacidade das multinacionais em desfrutar de diversas vantagens obtidas através da globalização de suas atividades, bem como, no maior controle sobre os custos de produção.

Bibliografia:

Muchlinski Peter T., Multinational Enterprises and the Law (Oxford, Oxford University Press, 2.nd ed, 2007)

Legislação:

Guidelines OECD:  http://mneguidelines.oecd.org/