As disciplinas da organização da aprendizagem (Organização que aprende)

Wagner Araújo

Inspirado no livro ‘A Quinta Disciplina-Arte e Prática da Organização que aprende’ de Peter M Senge

 

 

    É muito comum nos dias de hoje perdermos a nossa capacidade de entender o mundo que nos cerca como um sistema de forças interligadas entre si, e que o administrador precisa aprender a resgatar como estudamos em ‘jogos empresariais’, disciplina normalmente ministrada nos cursos de Administração de Empresas.

   Por tratarmos de comportamento humano dentro de organizações, sentimos a necessidade de descrever seus componentes como ‘disciplinas’, que neste contexto significa “um conjunto de teorias e técnicas que devem ser estudadas e dominadas para terem os melhores resultados quando postas em prática”.

   São cinco estas disciplinas que servem para facilitar a aprendizagem nas organizações de forma a contribuir, da melhor maneira possível, para as ações de aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos com as práticas de melhoria contínua. Embora possam ser estudadas independentes uma das outras, cada uma delas tem uma representatividade decisiva para o sucesso das demais. As disciplinas são:

  

Ÿ Domínio Pessoal – Ou Maestria Pessoal, é a base espiritual da organização que aprende. Através dessa disciplina aprendemos a entender e nos aprofundarmos de forma contínua nossos objetivos pessoais, nossa forma de abordar a vida de modo mais complacente, desenvolver a paciência e o trabalho criativo, preparando-nos para o convívio com outras pessoas buscando ser mais proativos e menos reativos.

   Para que o domínio pessoal torne-se uma disciplina, deve incorporar outros dois movimentos: Primeiramente devemos esclarecer o que é importante para nós (o que desejamos) e depois aprender a enxergar, de forma contínua, a realidade do momento (onde estamos com relação ao que desejamos).

 

Ÿ Modelos Mentais – Trata-se de idéias bem entrelaçadas entre si, generalizadas e que modelam a nossa forma de encarar o mundo e as nossas atitudes. Faz-se importante saber que esses modelos são ativos, ou seja, eles modelam o nosso modo de agir e é mister que o administrador saiba como gerenciar este modelo em sua equipe, pois duas pessoas com diferentes modelos mentais, podem, por exemplo, observar o mesmo acontecimento e descreve-lo de maneira diferente, isso porque olharam para detalhes diferentes cada uma delas.

   A eficiência de um líder normalmente está relacionada ao contínuo aperfeiçoamento de seus modelos mentais e se faz necessário que jamais o seu modelo mental seja imposto para as outras pessoas, sob pena do mesmo não conseguir atingir os seus objetivos.

 

Ÿ Objetivo Comum – Ou Visão Compartilhada. Nenhuma organização se tornará grande se não tiver internalizado entre seus colaboradores e clientes os seus objetivos, seus valores e sua missão. Uma visão genuína gera excelência e consequentemente aprendizagem de forma natural, porque as pessoas da organização querem se empenhar ao máximo para atingir suas metas, sejam pessoais ou profissionais.

   A visão compartilhada é de fundamental importância para a empresa, pois proporciona o foco e a energia para que ocorra esta aprendizagem de forma natural, porem faz-se necessário que ocorram atitudes que devem ser realizadas para que o objetivo principal chegue a ser alcançado. As atitudes que podem ocorrer com relação a um objetivo a ser alcançado são:

- Comprometimento: A pessoa quer. Criará as ‘leis’ que se fizerem necessárias para a realização do que foi planejado.

- Participação: A pessoa fará o que for necessário dentro do ‘espírito da lei criada’.

- Obediência Genuína: Enxerga os benefícios do objetivo. Faz tudo o que se espera e um pouco mais. Segue a ‘lei’ ao pé da letra. É o ‘bom soldado’.

- Obediência Formal: Enxerga os benefícios da ‘lei’, mas de maneira geral. Faz o que é esperado e nada mais.

- Obediência Relutante: Não enxerga de forma clara os benefícios do objetivo, mas também não quer perder o emprego, por isso faz o que lhe compete porque é obrigado não escondendo a sua falta de interesse.

- Desobediência: Não enxerga os benefícios do objetivo e não faz o que é esperado.

- Apatia: Nem é contra e nem a favor do objetivo. Sem interesse.

 

   A partir desses exemplos podemos verificar que as atitudes podem variar entre obediência e comprometimento e para o gestor é fundamental que conheça a diferença entre os dois. Comprometimento traz energia, paixão e empolgação para o grupo. A pessoa comprometida com os objetivos não age de acordo com as ‘regras do jogo’, ele se faz responsável por essas regras. Se as ‘regras’ se tornarem um estorvo, ele encontrará uma maneira de mudá-las.

 

Ÿ Aprendizagem em Grupo – Este é um processo de alinhamento e desenvolvimento de capacidade de um grupo criar os resultados que os seus membros realmente desejam. Dentro das organizações o aprendizado em grupo tem três dimensões fundamentais:

- Primeiro, é necessário analisar com discernimento as questões complexas. O grupo deve aprender a canalizar a energia de maneira positiva em prol do conjunto e não do individual.

- Segundo, existe a necessidade de tornar as ações inovadoras, coordenadas. Em uma empresa as equipes de sucesso desenvolvem o mesmo tipo de relação, onde cada membro tem consciência de que faz parte de uma equipe e age de modo a complementar as ações dos outros integrantes.

- Terceiro, existe a influência dos membros de um grupo sobre outros grupos. Por isso é sempre importante de que o gestor identifique a característica individual de cada membro da equipe e procure canaliza-la para o bem coletivo.

   A disciplina do aprendizado em grupo requer a prática do DIÁLOGO e da DISCUSSÃO.

 

Ÿ Raciocínio Sistêmico – A essência do raciocínio sistêmico está na mudança de mentalidade, o que significa ver as relações interligadas entre si, ao invés de cadeias lineares de causa-efeito. Precisamos ter, também, a visão dos processos como algo mutável e não como algo estável.

   A realidade é feito por processos em forma de círculos, mas temos a tendência natural de vê-los em linha reta. Ao analisarmos um evento qualquer, verificarmos que nele estão presentes muitas variáveis atuando simultaneamente de forma a se organizarem num círculo de relações de causa-efeito.

   O raciocínio sistêmico é a quinta disciplina, pois é ela quem integra as outras quatro, juntando-as num conjunto coerente de teoria e prática, evitando o isolamento das mesmas, evitando que sejam vistas apenas como ‘macetes’ ou ‘modismo’. Reforçando a atuação de cada uma delas, o raciocínio sistêmico está sempre mostrando que o todo pode ser maior que a soma das partes.

   Todavia, para realizar seu potencial em toda a plenitude, o raciocínio sistêmico precisa das outras quatro disciplinas e assim torna compreensível o aspecto mais sutil da organização da aprendizagem, a nova maneira pela qual os indivíduos vêem a si mesmo e ao mundo, pois no âmago da questão está a mudança de mentalidade, a qual implica em deixarmos de nos ver separados do mundo para passarmos a nos considerar parte integrante dele. E a realidade irá mudar.