Introdução

Venho por meio desta pequena resenha discutir as diferentes concepções cinematográficas contidas nos filmes das potências beligerantes (EUA, URSS, Alemanha e França) antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Para discutir este tema utilizei como bibliografia a obra do autor Marc Ferro "História da Segunda Guerra Mundial". Esta obra aborda as nações beligerantes tanto antes como durante a guerra e, tem como objetivo estudar onze questões, dentre elas a propaganda dos dois lados da guerra, a situação da França e o seu "jogo duplo" liderado por Pétain e Laval, o pacto germano-soviético, Pearl Harbor, o extermínio dos judeus, a resistência, os povos colonizados, o fascismo e o nazismo entre outros estudos. Mas para realização desta pequena resenha utilizarei apenas o primeiro capítulo da obra de Marc Ferro "A entrada em Guerra: Espírito público e cinema" que analisa as várias produções cinematográficas produzidas pelas potências envolvidas no conflito citadas anteriormente, antes e durante a guerra, para entendermos como a opinião pública preparou psicologicamente sua população para este possível conflito. Para melhor entender esta leitura, dividirei a resenha em três partes: balanço geral das potências em guerra, as quatro nações beligerantes (EUA, URSS, Alemanha e França), e suas produções cinematográficas e as considerações finais, analisando-as criticamente.
Balanço geral
No inicio do texto, o autor faz uma pergunta instigante "De que maneira a opinião pública dos futuros países beligerantes entrou na guerra?". Partindo desta questão, Marc Ferro, analisa como os países demonstram para seu povo a futura situação de seu país caso uma guerra viesse a acontecer. Ele diz que países como a França entraram na guerra "recuando", não com "uma flor no fuzil" como em 1914 e, junto com a Inglaterra com uma política "pacífica", viram as ambições de Hitler aumentarem cada vez mais, onde os nazistas não encontraram intervenção nenhuma, desde a remilitarização da Renânia, a anexação da Áustria e Tchecoslováquia, até ao apoio do governo de Francisco Franco contra o legitimo governo republicano. Ele cita também "que tudo que se passava como se a Inglaterra segurasse a França pela mão" , esta apenas a seguia.
Em relação ao anticomunismo, estas nações tinham a mesma idéia de pensamento, mesmo porque o pacto entre Hitler e Stálin aproximou franceses e ingleses, tornando o antinazismo outro inimigo a combater, mas a anglofobia e o ódio contra judeus reinante na França, apenas dividiam os franceses, deixando claro que apenas americanos e soviéticos tinham um consenso antinazista mais disseminado. Analisarei agora as produções cinematográficas das nações envolvidas no conflito.
As nações beligerantes
França: O antinazismo na França foi muito pouco expressado, a idéia que o autor nos passa é que a opinião pública promulgava o "espírito de Vichy antes de Vichy", tanto na literatura quanto no cinema. Qualquer um naquela época que fosse argumentar alguma coisa eram acusados de belicismo, em uma nação que pregava acima de tudo a paz, mesmo sendo a democracia mais ameaçada pela Alemanha nazista. No cinema o antinazismo é muito pouco expressado e, nos casos onde aparecerem alemães, a preocupação é mais com a Alemanha do que o próprio nazismo. A maioria dos filmes preocupa-se em demonstrar uma forte anglofobia, onde a aliança com ingleses demonstra não ser muito confiável. Ainda assim, os franceses temem a Alemanha sem ao menos realmente conhecerem o nazismo, onde na própria França existissem muitos admiradores do nazismo, mostrando uma ambigüidade tanto dos líderes Pétain e Laval, quanto da extrema direita. Até mesmo o cinema americano foi capaz de perceber e relatar em seus filmes o jogo duplo e a superficialidade dos franceses.
EUA: O cinema americano demonstrou ter uma poderosa opinião pública isolacionista. Mas as preocupações com o fascismo e o nazismo começaram bem antes da entrada do país na guerra, foi na guerra civil espanhola que surgiram os primeiros filem antinazistas. Ao entrar na guerra, a maior preocupação dos americanos era explicar o "por que nós lutamos", principalmente identificando o principal inimigo da democracia, o nazismo e todos os regimes totalitários, mesmo antes até do Japão, seu principal agressor. Outro tipo de produção cinematográfica chamava a atenção na questão da imigração tanto japonesa, alemã ou italiana, mostrando que estas pessoas poderiam largar o regime totalitário de seu país e se refugiarem na América. Mas quando os EUA entraram na guerra, os filmes deixavam clara a preocupação em glorificar as qualidades do povo americano e denunciar o agressor japonês em relação às torturas aos prisioneiros, aos pilotos que saltavam de pára-quedas, e em esconder do povo os horrores que os soldados americanos passaram na guerra.
URSS: No inicio da guerra da guerra as produções cinematográficas na Rússia foi menor em relação aos outros países, devido até as dificuldades encontradas após a invasão alemã. Mas, os filmes produzidos deixaram claras as intenções antinazistas, mostrando tanto a pobreza da população rural para culpar o invasor nazista, divulgando também a garra dos russos perante a invasão alemã. Apesar de o cinema ter uma importância significativa na URSS, não foi dada tanta atenção as produções cinematográficas, já que os lideres russos se importavam mais com a educação, não conferindo ao cinema a mesma importância a palavra escrita, diminuindo a produção após 1946, quando os filmes ficaram sob censura.
Alemanha: Durante o período nazista no poder, o cinema foi tido como a principal força da propaganda, onde o profissionalismo das produções cinematográficas levou o cinema até as salas de aula. Destacava-se nos filmes, principalmente o heroísmo alemão na primeira guerra, a imagem de seu líder, os inimigos da Alemanha, o comunismo e os judeus (anti-semitismo). O cinema serviu também para esconder os fracassos alemães, principalmente após a derrota em Stalingrado, forçando a sua população há ainda acreditarem na vitória alemã. Com o prosseguimento da guerra e o início dos bombardeios nas cidades alemãs, a produção cinematográfica começou a diminuir gradativamente, servindo apenas para manter a esperança das pessoas nas cidades ocupadas.

Considerações finais

O autor Marc Ferro consegue demonstrar claramente no capitulo analisado, o que as opiniões públicas dos países estudados, através de suas produções cinematográficas expressaram na vida real. A França como um país dividido, tanto em relação ao nazismo, como na incerteza de uma aliança com os ingleses. Os EUA e sua preocupação em apontar o principal inimigo da democracia: o nazismo. A URSS e seu antinazismo ferrenho e a vontade de incentivar sua população a beira da derrota soviética perante aos alemães. E por fim a Alemanha com sua glorificação ao führer e ao heroísmo alemão, expressando também o anti-semitismo e o anticomunismo, levando os filmes ao profissionalismo das produções cinematográficas até para as salas de aula. A critica que faço ao autor é positiva, pois este foi um estudo minucioso das produções fílmicas tanto antes como durante a Segunda Guerra Mundial. O autor soube relatar, esmiuçar o cinema dos países envolvidos no conflito de uma maneira de fácil entendimento, citando as várias produções de suas respectivas nações e suas reais preocupações em passar a sua população a idéia de validação da entrada no conflito, a fazer com que seu povo acreditasse na vitória final.
Por fim, esta obra foi analisada em apenas um capitulo, tendo os demais onze capítulos a serem estudados em novas pesquisas, esta que é uma obra, ao meu ver, riquíssima em informação sobre o conflito mundial de uma maneira bem diferente da que estamos acostumados a estudar.

Referência Bibliográfica

FERRO, Marc. História da Segunda Guerra Mundial, São Paulo, Ed. Ática, 1995.

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