As desigualdades sociais e o papel transformador da Educação

 

Por muito tempo discutiu-se a Educação no Brasil negligenciando sua relação com a economia. Porém, num certo momento, ficou impossível continuar a tentar analisar e explicar o processo educativo descolado da realidade econômica do país no qual ele se inseria. As implicações do desenvolvimento econômico do país de certa maneira apareceram na Educação, de uma forma ou de outra, particularmente quando se avalia os resultados do processo educativo. Na verdade, há uma interdepência entre o processo educativo e o desenvolvimento cultural de um país. Mudanças sociais que levem a população a ter uma melhor condição de vida nem sempre acontecem porque nem sempre acontecem porque a própria mudança pode ser reacionária, conservadora ou progressista. Apenas no ultimo caso se pode falar em avanços em direção ao desenvolvimento social. Do contrário, o que se tem é a manutenção do status quo.

A riqueza de um país, expressa por seu Produto Interno Bruto (PIB), isto é, toda a riqueza que é produzida, nem sempre corresponde ao resultado observado na Educação. Mas não se pode negar que o nível de escolaridade está intimamente ligado ao grau de desenvolvimento econômico. O problema começa quando se confunde o desenvolvimento econômico com o desenvolvimento social; ou pior quando nem aos menos considera os indicadores sociais, tais como taxa de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, mortalidade infantil, taxa de analfabetismo e outras. O desenvolvimento social implica em qualidade de vida para a população, independente do desenvolvimento econômico.  O país pode ser uma grande economia e não ser desenvolvido socialmente. Sua população, nesse caso, não desfruta dos direitos que deveriam ser assegurados pelo Estado – como saúde, moradia, transporte, segurança e, é claro, educação.

Vivemos num país que é um exemplo (triste por sinal) dessa situação: temos uma economia consolidada, aberta para o mercado internacional, com um grande parque industrial e uma fabulosa produtividade no campo, com supersafras, mas com milhões de miseráveis.

As desigualdades sociais e o subdesenvolvimento

A desigualdade existe em vários países do mundo; aliás, na maioria deles, especialmente ao sul da linha do Equador. O que anteriormente era chamado Terceiro Mundo, denominado também países subdesenvolvimento ou em desenvolvimento – o Sul – congrega a maior parte da população mundial e também o maior número de pobres e miseráveis do planeta. Os problemas sociais nesses países enormes, em todos os setores da vida social, resultando em alarmente estatística de violência, instabilidade política e outros.

Aproximadamente três quatros da população mundial vivem em situação de subdesenvolvimento. Por mais que se saiba que o crescimento econômico e desenvolvimento social raramente caminham juntos a um mesmo ritmo, o que se verifica é que as desigualdades são maiores em algumas regiões do mundo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) criou no final dos anos 80 um novo índice para avaliar o grau de desenvolvimento e a qualidade de vida das populações dos países no mundo e comparando-os entre si, com o objetivo de chamar a atenção de uma ação global para combater a pobreza no mundo. O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – é composto por indicadores sociais e econômicos como a escolaridade, expectativa de vida e renda per capta. O que se pode perceber é uma grande disparidade entre os países, especialmente entre o norte e o sul do planeta. E mesmo entre os subdesenvolvidos se podem encontrar grande diversidade, uma vez que a concentração de renda é maior em uns do que em outros. Esse tipo de classificação é muito importante para que se possam estabelecer parâmetros para discutir e buscar saídas para a situação.

Há também o fato de que grande parte dos países menos desenvolvidos é governada por uma elite econômica que se constitui também em elite política que governa para garantir seus privilégios e garantir seus interesses da população em geral. É preocupante também o alto índice de corrupção que se verifica e esse é fato grave, uma vez que boa parte dos recursos públicos é desviada por conta dos “negócios” realizados por essas pessoas. O dinheiro perdido com a corrupção é um dinheiro que dificilmente volta em beneficio do povo.

 

Origens históricas do subdesenvolvimento

É claro que não é por acaso que hoje temos aproximadamente 77% da população mundial vivendo nas regiões mais pobres do mundo. Na verdade, a explicação deve ser buscada nas origens do próprio subdesenvolvimento, que está ligada a própria evolução do capitalismo. Nesse processo, alguns países enriqueceram à  custa da exploração dos outros, especialmente durante o processo de colonização verificado desde o século XVI, quando Portugal e Espanha resolveram se lançar ao mar em busca de novas terras para expandir seus mercados e novos produtos para incrementar seu comércio. Foram seguidos por outros países, como França, Itália, Bélgica, Holanda e, sobretudo, Inglaterra. Ao longo de quase quatro séculos, os países europeus constituíram colônias de exploração em países da América, África ou Ásia.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, aconteceram o inicio a descolonização Afro Asiática trazendo com ela o agravamento da situação das ex-colônias que foram “abandonadas à sua própria sorte” por suas antigas colônias. Suas economias estavam aniquiladas, as atividades industriais (quando existiam...) estavam defasadas, assim como a agricultura tinha baixa produtividade e todos tinham enormes dívidas externas.

Em 1951, a ONU divulgou um relatório que já denunciava as desigualdades entre os países, chamando a atenção especialmente para os novos países surgidos no processo de descolonização. A realidade era alarmante. Ali viviam 68% da população mundial, mas apenas 17% da renda mundial estavam em suas mãos. É o que chamamos de concentração de renda, fenômeno muito conhecido por todos os nós brasileiros, ou seja, aquela situação em que a maioria vive com muito pouco enquanto uma minoria acumular a maior parte da riqueza nacional, o que só agrava o subdesenvolvimento.

A solução para esse problema não é fácil e tampouco será implementada sem o envolvimento dos países ricos que, afinal, são os grandes responsáveis por essa situação. É preciso que esses se conscientizem da sua responsabilidade diante das desigualdades mundiais e colaborem para diminuir as disparidades entre os países subdesenvolvidos e entre esses o mundo desenvolvido.

A Economia e a Educação

Precisamos entender o que é globalização e ficarmos atentos as suas influências; porque a economia contemporânea caracteriza-se pelo intenso processo de globalização que traz consigo um intenso aumento da produtividade nunca antes visto. A busca por maior produtividade gera a necessidade de qualificação da mão de obra. E é nesse contexto que a Educação adquire uma importância ainda maior, já que terá um processo importantíssimo nesse processo de preparação e/ou atualização.

É importante ressaltar o fato do IDH considerar a escolaridade um indicador importante para avaliar a qualidade de vida de um país. E fica cada vez mais claro para todos que a Educação é uma condição básica para o desenvolvimento. Não é possível imaginar que um país queira sair de sua condição de subdesenvolvimento sem elevar o grau de instrução de seu povo e, portanto, sem investir muito em Educação. Mas ainda há aqueles que não perceberam isso...

Referências

TEDESCOS. J.C. Sociologia da Educação. 2. Ed. Campinas: Autores Associados, 1995.