As Cruzadas e a Santa Igreja na idade media

Robson Stigar

Introdução.

As Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições de caráter "militar" organizadas pela Igreja, para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis. O movimento estendeu-se desde os fins do século XI até meados do século XIII. O termo Cruzadas passou a designá-lo em virtude de seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina.

Omovimentodas cruzadas e seu significado


O movimento cruzadista foi motivado pela conjugação de diversos fatores, dentre os quais se destacam os de natureza religiosa, social e econômica. Em primeiro lugar, a ocorrência das Cruzadas expressava a própria cultura e a mentalidade de uma época. Ou seja, o predomínio e a influência da Igreja sobre o comportamento do homem medieval devem ser entendidos como os primeiros fatores explicativos das Cruzadas. Partindo desse princípio, podemos afirmar que as peregrinações em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja, através do conceito de Guerra Santa, a guerra divinamente autorizada para combater os infiéis, os hereges e todos os demais que não aceitavam a igreja.

Tendo como base a intensa religiosidade presente na sociedade feudal a Igreja sempre defendia a participação dos fiéis na Guerra Santa, prometendo a eles recompensas divinas, como a salvação da alma e a vida eterna, através de sucessivas pregações realizadas em toda a Europa.

O Papa Urbano II, idealizador da Primeira Cruzada, realizou sua pregação durante o Concílio de Clermont rompida com a separação da Igreja no Cisma do Oriente, o Papa assim se dirigiu aos fiéis. A ocorrência das Cruzadas Medievais deve ser analisada também como uma tentativa de superação da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Baixa Idade Média. Por esta razão outros fatores contribuíram para sua realização. Muitos nobres passam a encarar as expedições à Terra Santa como uma real possibilidade de ampliar seus domínios territoriais.

Aliada a esta questão deve-se lembrar ainda de que a sucessão da propriedade feudal estava fundamentada no direito de primogenitura. Esta norma estabelecia que, com a morte do proprietário, a terra deveria ser transmitida, por meio de herança, ao seu filho primogênito. Aos demais filhos só restavam servir ao seu irmão mais velho, formando uma camada de "nobres despossuídos", a pequena nobreza, interessada em conquistar territórios no Oriente por meio das Cruzadas.

Tanto a Cruzada Popular como a das Crianças foram fracassadas. Ambas tiveram um trágico fim, devido à falta de recursos que pudessem manter os peregrinos em sua longa marcha. Na verdade, as crianças mal alcançaram a Terra Santa, pois a maioria morreu no caminho, de fome ou de frio. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram seqüestrados e escravizados pelos mulçumanos. Com os mendigos da Cruzada Popular não foi diferente.

Embora tivessem alcançado a cidade de Constantinopla (sob péssimas condições), as autoridades bizantinas logo trataram de afastar aquele grupo de despossuídos. Para tanto, o bispo de Constantinopla incentivou os peregrinos a lutarem contra os infiéis da Ásia. O resultado não poderia ser outro: sem condições para enfrentar os fanáticos turcos seldjúcidas, os abnegados fiéis foram massacrados. Além dessas duas cruzadas, tiveram ainda oito cruzadas oficialmente organizadas, em direção à Terra Santa.

Guerra Santa liberou o comércio

No século XI, dentro do contexto histórico da expansão árabe, os muçulmanos conquistaram a cidade sagrada de Jerusalém. Diante dessa situação, o papa Urbano II convocou a Primeira Cruzada (1096), com o objetivo de expulsar os "infiéis" (árabes) da Terra Santa. Essas batalhas, entre católicos e muçulmanos, duraram cerca de dois séculos, deixando milhares de mortos e um grande rastro de destruição.

Ao mesmo tempo em que eram guerras marcadas por diferenças religiosas, também possuíam um forte caráter econômico. Muitos cavaleiros cruzados, ao retornarem para a Europa, saqueavam cidades árabes e vendiam produtos nas estradas, nas chamadas feiras e rotas de comércio. De certa forma, as Cruzadas contribuíram para o renascimento urbano e comercial a partir do século XIII. Após as Cruzadas, o Mar Mediterrâneo foi aberto para os contatos comerciais.O que foram as cruzadas naquele determinado momento? No momento em que o Papa Urbano chama os fiéis para as cruzadas, havia um interesse muito grande em terras. A nobreza já não tinha mais como dividir as terras. A Europa precisava de uma expansão.

Ao mesmo tempo a Igreja precisava barrar o avanço do islamismo, pois ele avançava em passos largos sobre a Europa, pois já havia chegado à península Ibérica e tomado todo norte da África. Então, a idéia de tomar a Terra Santa, onde Jesus nasceu e morreu, e que estava na mão de infiéis, explica o motivo religioso das cruzadas. Havia um motivo religioso que era forte no momento das cruzadas. Mas existia também uma motivação econômica e uma motivação psicológica.

As cruzadas modificaram a Europa profundamente, trazendo novos elementos que mudaram a vida das populações européias daquela época. A economia modificou-se radicalmente. Deixou de apenas produzir alimentos; conheceu novos produtos, aprendeu novos métodos de trabalho; e enriqueceu com novas indústrias. Politicamente, as cruzadas selaram a ruína do Sistema Feudal. Antes de partir os senhores penhoraram suas terras aos camponeses. A liberação desses camponeses ficou mais fácil ainda. Além disso, houve grande quantidade de pessoas que foram e não voltaram.

Principais Repercussões

Se tomarmos como referência somente a essência religiosa das Cruzadas, podemos afirmar que estes movimentos fracassaram, ou seja, não atingiram seu principal objetivo: libertar a Terra Santa do domínio mulçumano.

Na verdade, os cristãos obtiveram algumas vitórias isoladas que possibilitaram, inclusive, a formação dos Estados Latinos do Oriente: O Reino de Jerusalém, os Condados de Edessa e Trípoli e o Principado de Antioquia. Mas, a fundação desses territórios, após a Primeira Cruzada, representou apenas um aparente domínio dos cristãos sobre regiões orientais, pois os mulçumanos logo retomaram o controle a partir do século XIII.

Devemos considerar, no entanto, algumas decorrências indiretas provocadas pelos cruzados em suas expedições. De maneira geral, houve a expansão da cristandade pela Europa Oriental (parte da Grécia e dos Bálcãs), Setentrional (Escandinávia) e o início do processo de reconquista da Península Ibérica. Vale ressaltar ainda outro resultado indireto extremamente negativo: a intolerância religiosa cada vez mais acentuada, especialmente com relação à comunidade judaica na Europa. O aumento do anti-semitismo entre os cristãos culminou com o massacre de milhares de judeus em todo o continente europeu.

Vale ressaltar que houve o restabelecimento das rotas comerciais entre Europa e Ásia. Com as Cruzadas, o Ocidente retoma o controle das rotas comerciais, pondo fim ao domínio árabe no Mediterrâneo e, a partir da intensificação das relações comerciais, outras grandes mudanças foram geradas na sociedade feudal. Ocorre o desenvolvimento das cidades, o surgimento de uma rica camada de comerciantes (a burguesia), a expansão dos mercados, o aumento da circulação monetária, o despertar do espírito de lucro e a difusão do racionalismo econômico.

Vale lembrar também que o movimento das Cruzadas contribuiu para o retrocesso da servidão medieval, pois alguns aristocratas, precisando de recursos para suas expedições, vendiam a liberdade para os servos. Havia ainda a ocorrência de fugas, em algumas propriedades, onde a ausência dos senhores facilitava a libertação. A fuga era empreendida por alguns camponeses entusiasmados em participar das Cruzadas ou por aqueles que procuravam uma nova vida nos centros urbanos, tornando-se artesãos ou comerciantes.

Finalmente, vale destacar algumas repercussões de caráter cultural promovidas pelas Cruzadas. Podemos afirmar que o contato com as requintadas civilizações orientais (bizantina e árabe) provocou um refinamento no modo de vida europeu. Uma grande quantidade de produtos do Oriente foi trazida à Europa. Dentre eles, destacam-se o café, o cravo, a canela, a pimenta, o arroz, o algodão, etc. Também foram assimiladas novas técnicas de cultivo, de produção de ferro, de fabricação de tecidos, bem como novas práticas financeiras e comerciais.

O grande desenvolvimento do comércio que as cruzadas propiciaram foi um dos fatores das profundas transformações que levaram do Modo de Produção Feudal ao Modo de Produção Capitalista na Europa durante os séculos seguintes; em outras palavras, aquelas grandes expedições de caráter primordialmente ou alegadamente religioso prepararam o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.

As cruzadas ajudaram a expandir as atividades comerciais, pelo menos por três motivos: os cruzados não eram os únicos a irem às expedições cruzadistas, os viajantes mercadores iam juntos, e assim serviam como abastecedores dos peregrinos com seus produtos. Os cruzados voltavam para suas terras de origem com um gosto pelos novos luxos e confortos descobertos durante a viagem. As cidades italianas, principalmente Veneza e Gênova, ficaram imensamente ricas com o comércio desses produtos na Europa.

Conclusão

Com as cruzadas, muitos camponeses puderam deixar os domínios senhoriais. O campo perdeu população, e as velhas cidades receberam uma boa parte desses camponeses que deixaram os domínios senhoriais. Engolindo a derrota sofrida, os cristãos tinham todos os motivos para odiar os árabes. Mas esta raiva sentida vinha junto com a admiração e a inveja sentida diante de um inimigo sofisticado, que possuía muitos conhecimentos que para os europeus eram desconhecidos.

As Cruzadas não alcançaram sua meta principal, que era garantir o domínio cristão de Jerusalém. Em compensação, o encontro entre as duas culturas fecundou a Europa. A maravilhosa porta do Oriente foi aberta e os árabes transmitiram uma porção de novidades aos ocidentais. Imagine a sensação que um cruzado causava quando voltava para sua terra. Além de histórias sobre suas aventuras militares, trazia presentes sensacionais comprados de mercadores árabes. Produtos lindos, que vinham de lugares em que nenhum outro europeu jamais tinha pisado. Tapetes persas, pimentas, açúcar, cravo e canela da índia, porcelana chinesa, seda do Japão, tecidos, perfumes exóticos, pérolas.

Não é difícil concluir que essas cruzadas despertaram o comércio ativo entre europeus e os árabes. O Mar Mediterrâneo voltou a ser atravessado por navios abarrotados de mercadorias. Os lugares que mais cresceram com isso foram às cidades italianas, especialmente Gênova e Veneza. A espada dava lugar ao lucro.

Em muitos outros aspectos as cruzadas foram um desastre! Os cruzados não conseguiram expulsar definitivamente os muçulmanos E isso durou por séculos, chegando até os nossos dias.