1. Introdução

As análises atuais que se incidem no campo da educação apontam para a questão do sentido necessário ao total envolvimento do aluno no ato de aprender e do professor no de ensinar. Nessa perspectiva, a importância da compreensão do contexto que circunscreve este ato ganha corpo, incentivando iniciativas pedagógicas que venham clarificar a prática educativa. Pensar sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na sala de aula e os desdobramentos que delas decorrem para o sujeito infantil significa, fundamentalmente, pensar sobre as relações que se estabelecem entre educadores, alunos e os conteúdos de aprendizagem, visto que apenas o intelecto não é o bastante para educar uma criança, é preciso, tal como argúi Gottman (2001), mexer com uma dimensão da personalidade, mexer com a emoção.

Na história da humanidade, encontramos em seus traços, presença forte e preponderante da ciência cartesiana, positivista, lógica. A utilização de modelos arquitetados racionalmente para explicar a realidade, por muito tempo imperou nos processos educacionais, rejeitando por sobremaneira os aspectos subjetivos e/ou históricos que fundamentam os sujeitos. Com o tempo, essa epistemologia cartesiana, não mais abarcava todas as demandas que compõe o complexo humano, visto que a progressão dos conhecimentos, as articulações do senso comum, e as novas necessidades humanas, apontaram a emergência de um novo "modelo" que conseguisse responder as angustias e inquietações afloradas. Surge então, uma crise paradigmática, e com ela a emergência de se considerar "o ser", subjetivo.
Erigem nesse contexto, discussões acerca do fator emocional na vida dos sujeitos educandos, como forma de amenizar conflitos, propiciar uma boa convivência entre alunos e professores, influindo assim, positivamente sobre o ato de ensinar e aprender, visto que pesquisas constatam que ate mais que o QI, a percepção emocional e a capacidade de lidar com os sentimentos, determinam o sucesso do indivíduo. Diante deste contexto, e considerando a relevância em romper do campo que só acolhe a racionalidade metódica para um campo igualmente importante que surge do fator emocional, faz-se aqui o seguinte questionamento: Qual a influência do desenvolvimento emocional no processo de aprendizagem? Essa pergunta é formada no sentido de se considerar a necessidade de novos olhares e apontamentos sobre as questões concernentes à emoção, reconhecendo ser este um campo ainda pouco explorado. Esses eventos nos faz perceber que não encontraremos resultados, nessa esfera, a curto prazo, dada a sua complexidade. Posto isto, o objetivo deste artigo é identificar a influencia do fator emocional no desenvolvimento da aprendizagem dos educandos, pois, esse é um aspecto que vem balizando as discussões no campo da educação com vistas ao aprimoramento das formas de ensinar.
Após esta breve incursão, e buscando respostas às interrogações levantadas, partimos para o percurso metodológico que se desenvolveu em momentos bastante específicos. Inicialmente empreendemos uma pesquisa bibliográfica com leituras e fichamentos a fim de aprofundarmos o entendimento acerca do objeto de estudo. A pesquisa bibliográfica é essencial também para nos apropriarmos de conceitos relacionados ao tema. A partir de uma maior clareza acerca do objeto de estudo, torna-se mais fácil, através das lentes teóricas, identificar seus desdobramentos. Nesse sentido, Gil (2002), argúi que a pesquisa bibliográfica nos permite alcançar os objetivos propostos, sem comprometer os requisitos científicos.
Ao desenvolver as primeiras idéias sobre o tema, nos orientamos por um sistema de pensamento, cujos momentos diferenciados se afetaram de forma recíproca. A preparação remete de modo constante aos momentos de estudos indispensáveis à pesquisa, a fim de dominar os aspectos teóricos e metodológicos da posição assumida. O percurso argumentativo desvelado se distribui em momentos bastante específicos. Inicialmente apresentamos o tema em estudo e suas noções gerais, um breve apanhado sobre os elementos que constituem o objeto, o objetivo da pesquisa, bem como o percurso metodológico adotado. No segundo momento fazemos um breve apanhado sobre a educação e seus modelos pedagógicos por ser eles apontados por diversos pesquisadores como um dos principais obstáculos à evolução de métodos que assegurariam um melhor desempenho dos alunos. Na seqüência, esboçamos rapidamente o processo de ensino e aprendizagem no contexto da educação. Discutimos no momento seguinte a educação emocional como uma proposta inovadora para os processos de ensino e aprendizagem, considerando a suma relevância da competência emocional. São apresentadas neste item, algumas contribuições dos irmãos Chabot como possibilidades que se abrem para a educação. Por fim trazemos algumas contribuições emanadas durante o estudo. Enfim, o que mobiliza este artigo e o torna original é a discussão do que se refere as novas formas de se ensinar e aprender levando em consideração o fator emocional.
2. A educação e seus modelos pedagógicos: Entre o (dês) prazer de ensinar e aprender

O nosso país, como muitos outros do ocidente, adota um sistema de educação criado por volta de 1890, um sistema que poderíamos considerar ultrapassado se levarmos em conta as inúmeras mudanças e descobertas ocorridas na humanidade. Na educação, embora os conhecimentos tenham se ampliado, muitas das práticas usadas para a disseminação dos mesmos, perduram e sobrevivem a séculos.

É de consenso, que muitas são as perspectivas que legitimam as práticas dos professores, muitas delas são libertadoras, outras bancárias, punitivas, enfim, existe uma diversidade de posturas e modelos, mas a que perdura muitas décadas e que ainda hoje, embora de modo mais ameno, é disseminada, é a tradicional. Nos meandros da educação, a perspectiva denominada "tradicional", que persiste ainda hoje no âmago das relações entre professores, alunos e conteúdos da aprendizagem, confere aos docentes a função de transmissores de conhecimentos, mas também de controladores dos resultados obtidos, o que lhes define como detentores do saber, e sua função consiste em informar e apresentar aos alunos situações de obtenção de conhecimentos, através de explicações, projeções, leituras, dentre outros métodos que colocam o professor como o sujeito absoluto no processo de ensino. Desse modo, cabe ao aluno interiorizar o conhecimento tal como lhe é apresentado, através de ações habituais como a repetição do que se tem que aprender e o exercício, entendido como cópia de modelos e memorização, até que seja capaz de automatizá-lo. Esta concepção é coerente com a crença de que a aprendizagem consiste na reprodução da informação, sem mudanças. Este modo de entender o ensino e a aprendizagem onde está implícita a idéia de que o professor domina o conteúdo e os métodos de ensino, e os alunos são todos igualmente capazes de alcançar a compreensão, o entendimento, configura uma determinada forma de relacionar-se em classe (ZABALA, 1998).

Essa marca divisória entre alunos e professores começa a sofrer alterações no início do século XX, especialmente com o início da Psicologia da criança no Brasil, que despertou a necessidade de debates sobre a participação dos alunos no processo de aprendizagem, evidenciando-se as contribuições da Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem a partir da abordagem interacionista do conhecimento (FONTANA E CRUZ,1997).

Com o advento das novas áreas como a psicologia, muitas indagações começam a permear o cotidiano escolar. Somadas a isso está a idéia de que existe outras questões que influem no ato de aprender, o que traz em foco as demandas da aprendizagem, classificando-a numa escala não apenas de responsabilidade do aluno, nem unicamente do professor, eis que fatores e questões de outras ordens interpõe-se nesse processo.

É sobre esse tipo de questões que a psicologia pode ajudar a refletir, uma vez que, no decorrer da sua história, ela tem enfocado como objeto de estudo o desenvolvimento humano, os processos de aprendizagem e a própria criança, além de ter produzido conhecimentos que certamente contribuem para a compreensão do processo de apropriação/elaboração do conhecimento. (FONTANA e CRUZ, 1997, p.06).

Desse modo, é importante considerar, levando-se em conta as colocações de Teberosk (1996) que o modo de organização dos conhecimentos das crianças está intrinsecamente relacionado às suas experiências, cabendo ao professor enquanto mediador do processo de ensino e aprendizagem fazer uso destes mecanismos para a promoção/construção do conhecimento. No contexto da sala de aula, muitos são os fatores que corroboram ou interferem no desenvolvimento da criança, visto que o universo das interações humanas é complexo e permeado por conflitos. Nessa dinâmica, o professor é desafiado a lidar com a singularidade dos sujeitos bem como com os métodos de ensino a ser adotados, visto que a heterogeneidade presente na sala de aula trás consigo a necessidade de novos métodos que assegurem a pluralidade presente no universo da sala de aula.

Todas essas questões interpõem no processo de desenvolvimento e aprendizagem do educando. Teóricos como Vigotski (1998) ressaltam não apenas as complexas mudanças sofridas pelo individuo e seu meio, como também a importância da condição individual de apreender e expressar os significados simbólicos e afetivos em relação ao outro. Esse teórico concebe o sujeito como interativo e construtor da própria subjetividade, em situações de intersubjetividade, daí decorre a idéia de que nas situações de interação humana, o outro é elemento indispensável na compreensão de como o sujeito se constrói e é construído no contexto social em que vive.

As interações que ocorrem entre os sujeitos são imprescindíveis para a sua constituição. Assim, Smolka e Góes, (1993, p. 9) esclarecem que "a constituição do sujeito, com seus conhecimentos e formas de ação, deve ser entendida na relação com outros, no espaço da intersubjetividade". Essa afirmação nos faz entender que é nas e através das interações, que nos tornamos quem e o que somos, o que acaba por determinar a nossa forma de agir e comportar nos vários contextos.

Esse modo peculiar que cada indivíduo possui, relaciona-se às suas aspirações, inclinações, crenças, enfim, o ser humano se encontra envolto em uma multiplicidade de significados, o que o faz tender para aquilo que realmente lhe é significativo, para o que o movimenta enquanto pessoa. Eis que essa interpretação, talvez equivocada, nos conduz a admitir outros elementos que constituem e configuram o ser humano, se acreditamos, com base em estudos de teóricos da psicologia como Goleman (1996), que possuímos inteligência racional e emocional, então, ambas estão atreladas à intelectualidade, o que nos aponta a importância de considerar a emoção nos processos de aprendizagem. Ao demonstrar que não apenas a razão, mas também a emoção influencia nossos atos, exercendo grande poder sobre nós, Daniel Goleman (1996), nos assinala a relevância da emoção para o desenvolvimento da aprendizagem.

A aprendizagem acontece quando a criança é capaz de fazer assimilações diante daquilo que é relevante para seu contexto de vida, e o que faz sentido para a criança apresenta-se imbuído de questões emocionais, seja através do medo, das frustrações, da motivação, enfim, a criança conhece o mundo enquanto cria, e, ao criar o mundo, ela nos revela a verdade sempre provisória da realidade que se encontra. Construindo seu universo particular no interior de um universo maior reificado, ela é capaz de resgatar uma compreensão do mundo, devolvendo, por meio do jogo dialógico que estabelece na relação com os outros, os múltiplos sentidos da realidade (SOUZA, 1996).

Nessa relação horizontal que a criança estabelece com o meio, o aprendizado ocorre por intermédio das emoções. De acordo com as concepções de Antonacopoulou (2001), a aprendizagem é um processo intensamente emocional, orientado, inibido e conduzido por diferentes emoções, incluindo medo e esperança, excitamento e desespero, curiosidade e ansiedade. Esses paradoxos trazem consigo a existência de uma intima relação dialógica entre ambos os termos. Sendo o estudo das emoções, fator preponderante na descoberta da relação homem e meio, se faz necessário integrar a esse contexto, posicionamentos sobre como o processo de aprendizagem pode ser bem trabalhado quando levada em consideração a utilização de metodologias que viabilizem sua plena inserção no processo emocional da criança.

3. O processo de ensino e aprendizagem no contexto da educação

Ao se firmar como a instituição que a humanidade criou para socializar o saber sistematizado, a escola se consolida como um espaço de aprendizagem. Sob esse ângulo, as práticas desenvolvidas por cada sujeito que nela atua deve convergir para garantir os objetivos da instituição - o sucesso dos alunos. Como a escola apresenta suas demandas e carências, sobretudo no que diz respeito às ações pedagógicas que viabilizam o processo de ensino e aprendizagem, a figura do professor surge como possibilidade de viabilização do trabalho pedagógico. Ao tentar tornar aparente uma articulação entre ensino e aprendizagem, estamos tornando visível um vínculo ou conexão particular entre sujeitos cujos compromissos se situam no universo da educação. Para nos introduzirmos nesta questão, uma retomada aos esclarecimentos destes termos faz-se necessária para clarificarmos nossas percepções e estabelecermos as possíveis correlações.

A transmissão de conhecimentos não deve esgotar-se na sala de aula, mas perpassar pelo universo dos indivíduos, fundamentando-se em um processo de contínua construção e aprendizagem. Querendo ou não, a prática cotidiana do educador contribui para reforçar ou superar determinadas formas de agir e pensar. É necessário que os educadores tenham consciência de sua prática e saibam a serviço de que projeto de sociedade ela está e de que forma a prática adotada irá contribuir para a formação do ser humano. "O aluno aprende quando ele se torna sujeito de sua aprendizagem (...) não há aprendizagem sem sujeito da educação e da aprendizagem" (GADOTTI apud CISEK, 1998, p.44).

A colocação supracitada nos chama atenção para uma questão bastante incidente no espaço escolar que versa sobre uma certa confusão entre o ensino e a aprendizagem em meio às pessoas diretamente ligadas à educação, em que é muito comum que o ensino sobreponha a aprendizagem, em função da equivocada suposição de que a aprendizagem ocorre automaticamente, como obra inevitável do ensino.

A aprendizagem é heterogênea e diferenciada de individuo para individuo, ela depende do envolvimento de cada um, frente ao que é proposto por quem ensina. Não se pode pois, confiar piamente na crença de que o ensino do professor atinja a todos os alunos da mesma forma, e nem tampouco que a aprendizagem seja um pressuposto do ensino. Pode haver ensino sem aprendizagem, assim como pode ocorrer aprendizagem sem ensino, pois, em consonância com Cagliari, (1998, p. 37) "aprender depende muito da história de vida de cada aprendiz, de seus interesses, de seu metabolismo intelectual". O que frequentemente percebemos é a homogeneidade do ensino, o que acaba, na maioria das vezes, desconsiderando as vicissitudes do processo de aprendizagem, dificultando-se assim o envolvimento do aluno frente às aprendizagens reais e significativas.

Em função talvez da aprendizagem não ocorrer no mesmo ritmo que o ensino, os educadores apresentam dificuldades em trabalhar com os alunos que apresentam características diferentes, como os de ritmos mais lentos ou mais rápidos de aprendizagem. Somados a isso está a postura e o compromisso do professor frente as demandas de cada criança, visto que é fato comum muitos professores enfrentarem a sala de aula sem ter clareza do que pretende ensinar, e do que esperam que os alunos consigam aprender. Sem finalidades claras que apontem o nível de conhecimento dos alunos, ou que os orientem sobre o que se espera que eles aprendam, torna-se muito mais complicado para o professor colaborar com o processo da aprendizagem, uma vez que são os objetivos estabelecidos a aprendizagem e norteiam as metodologias e estratégias a ser definidas tanto para o processo do ensinar, quanto para o do aprender.

O ato de aprender se processa de vários modos, de forma consciente ou inconsciente, vendo, observando, pensando, ouvindo, lendo, fazendo coisas, por ensaio e erro. Já o ato de ensinar é intencional, e tem por objetivo ajudar ao aprendiz a assimilar e estruturar conhecimentos de forma mais eficiente e eficaz, e por esse motivo, precisa ser cuidadosamente planejado e ministrado (OLIVEIRA e CHADWICK, 2002).

Analisar essas questões pode representar um avanço significativo e produtivo no plano pedagógico, visto que é importante que o professor tenha uma noção clara e precisa dos elementos que circunscrevem e estão envoltos dos processos de aprendizagem, seja para melhor se posicionar, seja para aperfeiçoar e/ou modificar proposições assumidas.

Lançar um olhar mais acurado sobre a aprendizagem nos subterrâneos escolares, exige um posicionamento firme sobre o cenário escolar, com ênfase na atuação docente, em suas idéias e metodologias sobre o aprender. Para Vygotsky (1998), quando o professor está efetivando o seu papel de contribuir com o desenvolvimento do aluno, ele promove em consonância com os mesmos, uma situação de ensino. Os indivíduos em interação social são despertados e guiados para expandirem seus processos internos. Esses processos costumam oportunizar a troca criativa e inventiva desde que o professor em sua prática lance mão de metodologias que reforcem as possibilidades das crianças nas situações de interações e trocas em sala de aula. O desenvolvimento de tal responsabilidade coletiva implica na realização de ações fundamentadas no ser humano, em suas crenças, valores, seus mundos de vida. Nesse cenário a educação emocional emerge como uma possibilidade.

4. Educação emocional: Uma proposta inovadora para os processos de ensino e aprendizagem
A importância da Emoção no contexto educativo está concatenada a sua capacidade de pressagiar aspectos importantes e comportamentais da vida do ser humano. Esse entendimento tem levado psicólogos, educadores e pesquisadores a desenvolverem estudos, buscando conhecer as influencias do fator emocional na vida cotidiana das pessoas, bem como seus reflexos no contexto educacional. Para melhor clarificar essa discussão, torna-se necessário adentrar no campo conceitual da Emoção, para a partir de tal entendimento, compreendermos sua aplicação no campo educacional. Com base em Fortes D'Andrea (1996), são bastante reduzidos os fatos psicológicos que se podem comparar com as emoções, uma vez que elas demarcam fatos únicos em nossa vida, e mais do que isso, elas influenciam a forma como reagimos a estas experiências. Os autores Smith e Lazarus (1990 apud Woyciekoski e Hutz, 2008) defendem que as emoções podem causar impactos relevantes no bem-estar subjetivo dos sujeitos, além de influenciar a capacidade de resolução de problemas. As concepções desses autores nos apontam que as emoções são responsáveis pelas relações do indivíduo com o ambiente externo.
Diante da quantidade de informações a serem dirimidas pelos alunos, bem como da urgente cobrança que se instala sobre as crianças desde a mais tenra idade, surge a necessidade de novas formas de se pensar a educação. Nessa perspectiva, entra em cena o que há de mais recente em termos educacionais: a educação emocional. Trata-se de uma radical mudança nos sistemas pedagógicos, resultado de pesquisas desenvolvidas por estudiosos americanos, e aqui apresentadas com base em análises feitas pelos canadenses, Daniel Chabot e Michel Chabot. Ambos defensores do método pedagógico das competências emocionais. Segundo esses autores é importante "sentir" para "aprender", pois o aspecto tradicional não dá conta de abarcar todas as questões de aprendizagem e seus desdobramentos.
O foco da educação emocional é abrir novas perspectivas para escola e família atuarem no apoio às crianças. Não se trata de desprezar as competências tradicionalmente instituídas, ao contrário, trata-se tão somente de acoplar às competências tradicionais o valor emocional. Verifica-se a partir dessa proposta de educação, o alicerce teórico para uma nova visão de pedagogia e de aprendizagem. Os autores Lopes, Brackett, Nezlek, Schütz e Salovey (2004, citados em Woyciekoski e Hutz, 2008) reforçam que competências emocionais são imprescindíveis nas interações sociais, visto que, as emoções nutrem funções comunicativas e sociais, além de conterem informações sobre os pensamentos e intenções entre sujeitos. De acordo os teóricos, a ocorrência de uma interação social positiva e satisfatória demandaria que os indivíduos percebessem, processassem e manejassem a informação emocional de forma inteligente. Esta idéia de que as competências emocionais são relevantes tem levantado o interesse pelo assunto e vem inspirando programas de aprendizagem social e emocional em algumas escolas.
Até pouco tempo, a emoção era desconsiderada dos campos de sistematização do conhecimento, somente tinha vazão as competências técnicas e cognitivas. Com o surgimento e aceitação da emoção como possibilidade de aprendizagem, pode-se mesclar esta competência às demais, o que consequentemente conduz os estudantes a assimilarem uma maior quantidade de informação.

Durante um longo período, a humanidade se sustentou na crença de que para tomarmos boas decisões e dirigirmos nossas vidas de modo satisfatório, precisávamos ser inteligentes, racionais, lógicos, técnicos. Se um aluno apresentasse uma dificuldade de aprendizagem, o reflexo imediato dos educadores sempre foi colocar em voga suas competências cognitivas. Hoje, com as novas descobertas e estudos antropológicos, sociológicos e psicológicos que centram-se no ser humano, sabemos que esses não são os únicos elementos que nos garantem uma vida de sucesso. Nesse cenário, que vem se caracterizando pela emergência de novos paradigmas, apontamos a competência emocional como um dos elementos relevantes para o aprendizado e o desenvolvimento integral do individuo.


5. Algumas considerações

As colocações aqui apresentadas aludem à existência de questões que na situação pedagógica interpõe-se entre o que se ensina, a forma como a criança recebe e/ou absorve esse conhecimento, e os resultados desses processos, que na maioria das vezes, se relacionam com o contexto de vida da criança. A partir das discussões acerca do desenvolvimento emocional e processos de aprendizagem, se pode questionar sobre o alcance de suas implicações teóricas. O discurso pedagógico hegemônico se sustenta na ilusão de que conhecendo as leis da aprendizagem, o pedagogo tem condições de pensar em métodos viáveis garantindo assim o sucesso do aluno. Com as nuances enfrentadas, não se pode atribuir a responsabilidade da aprendizagem da criança unicamente ao professor, visto que existe uma teia de elementos que se entrecruzam e que corroboram ou dificultam a concretização do processo. Desta forma, à luz das teorias da aprendizagem e sob as lentes teóricas dos escritos acerca do desenvolvimento emocional, buscamos apresentar as influências desses campos no processo de ensino e aprendizagem e como o educador pode colaborar com o desenvolvimento do educando.
O docente é mediador essencial da aprendizagem da criança e essa mediação ocorre através das mais variadas atividades e dos múltiplos momentos vividos no espaço escolar. A conotação da palavra por si só já trás a idéia que rompe com a velha, mas sempre presente, concepção de que o docente é dono exclusivo do saber, e avança para uma outra concepção, que acolhe a troca, a empatia, e que por isso dá vazão às relações emocionais e afetivas que emergem no bojo da educação. No entanto, não se pode perder a noção do papel do professor como aquele que possui conhecimentos e experiências diferentes e mais sólidas que as dos alunos, em relação ao currículo proposto, e que pode auxiliar os alunos em suas demandas. Por conseguinte, deve intervir sistematicamente para que os alunos aprendam de modo efetivo e significativo. Eis aí a grande importância de se considerar o aspecto emocional nesses espaços de trocas e construções, tendo em vista que se o conhecimento racional que por tanto tempo monopolizou os processos educativos não mais da conta, por si só, de abarcar as mudanças oriundas da pós-modernidade, é necessário buscar novas formas de se ensinar e aprender.
Os estudos desenvolvidos na área da educação emocional reforçam o fato da Inteligência Emocional enfatizar a noção de que o sucesso e a adaptação na vida cotidiana, nos mais diversos âmbitos, e aqui se inclui o pessoal, interpessoal e o profissional, não dependem unicamente dos aspectos cognitivos e intelectuais. Esses aspectos sofrem largas influências de outros fatores como sensibilidade emocional, competências emocionais e sociais, bem como capacidade de sentir e pensar de forma integrada, de modo a utilizar estas informações para a resolução de problemas e criação de comportamentos estratégicos.
Tomando como ponto de partida todas as discussões e idéias aqui apresentadas e sem ter a pretensão de esgotar esse debate, dada sua complexidade, consideramos em consonância com as concepções de Nonaka e Takeuchi (1997), que ao refletirmos sobre o fator emocional e a aprendizagem, não podemos ignorar que nenhuma época acumulou sobre o ser humano, conhecimentos tão numerosos e diversos como a atual. Mas, também, época nenhuma soube menos do homem, pois pouco se sabe acerca dos sentimentos presentes no processo de aprendizagem.












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