AS CONTAS DO LEÃO

Até o final de abril todos teremos que ter apresentado ao “leão” as nossas declarações de anual de rendimentos. Atividade odiosa embora tremendamente facilitada pelas benesses da informática, com direito a programa gratuito, amigável e de fácil acesso, só que as facilidades param aí. Este acerto de contas anual, não raro, nos provoca um estresse todo especial, misturado com raiva surda e uma grande sensação de impotência. Na verdade, se esta data coincidisse com as eleições, quaisquer que fossem elas, certamente teríamos resultados bem diferentes do que estamos acostumados a ver.

Vivemos num país que detêm o recorde mundial de tributação em quaisquer dos aspectos possíveis e imagináveis de ser analisado e sem a menor perspectiva que qualquer governo, inclusive o que se diz trabalhista, apresente a menor vontade de corrigir.

 O nosso governo, que se diz trabalhista, continua tributando produção e consumo ao invés de patrimônio e renda. Este é um erro terrivelmente perverso na medida em que submete a todos, ricos e pobres, a pagarem qualquer coisa perto de 30% de tudo aquilo que comem, bebem ou usam. Isto só faz aprofundar ainda mais o abismo que existe entre os ricos e pobres, a função social do tributo fica sistemática e totalmente prejudicada porque este é um caso raro onde até a miséria e a fome são tributadas em pelo menos um terço do que custa. E ainda têm coragem de gastar montanhas do escasso dinheiro público com a inútil propaganda do “fome zero”.

 

Mas existem males bem piores, vejam: além de tributar errado, o governo arrecada mal porque busca achacar folhas de pagamento de assalariados e prestadores de serviços enquanto o grosso dos tributos continuam nas mãos dos grandes devedores que continuam burlando o fisco por conta da inépcia de um sistema paquidérmico e inoperante de arrecadação. Facilmente conclui-se que a lei é igual para todos, desde que não tenham bons advogados.

 

O diabo é que a coisa toda não para por aí, além do governo tributar errado, arrecadar mal, tem ainda um aspecto mais brabo: gasta pior. Tudo que é gasto pelo governo tem sempre em um caminho mais difícil e mais caro e, não raro, esbarra na corrupção. Desde a decisão de compra do avião presidencial até remédio para atendimento social, passando por obras eternamente inacabadas, estradas sem manutenção e escolas que nunca funcionam e quando funcionam são para atender sempre os mais favorecidos, contribuindo mais um pouco para a exclusão social. Tudo isto sem contar a montanha de obras inacabadas, eternamente adiadas, para aumentar os ganhos das empreiteiras como, por exemplo, a transposição do rio São Francisco.

 

Acabamos por não saber o que é pior: inépcia ou corrupção? Com relação á corrupção já temos juízo formado, apenas precisamos solidificar o sonho de ter um governo que administra privilegiando o planejamento e cumpre o planejado.

 

Não podemos nos dar ao luxo de deixar “frouxa” a nossa memória e quando retornarmos às eleições buscarmos fazer valer a única chance de escolhermos os melhores sem, todavia, eliminarmos os piores.