1 - O HISTÓRICO DAS DROGAS

O problema das drogas é uma questão social e de fato atinge uma grande parcela dos adolescentes e em alguns casos crianças. Mas as drogas apenas potencializam a violência que já habita o imaginário social e a própria sociedade de maneira assustadora. "A adolescência é uma época marcada por inúmeras transformações, descobertas, rupturas e aprendizagens e representam a passagem do período da infância para a vida adulta" ( Aberastury e Knobel, 2000).

Pode parecer ironia, mas a toxicomania moderna nasceu como filho indesejável da medicina, um efeito colateral dela. É claro que muito antes dos médicos procurarem remédio ideal contra dor, a Europa toda já estava cheia de "casas de ópio", para onde as elites se dirigiam em busca do prazer ate então lícito da opiomania. Não se sabia, porém, que o efeito agradável do ópio era também devido a uma substancia que mais tarde se transformaria em verdadeira coqueluche nas rodas sociais.

"As drogas, qualquer uma, forte ou fraca, incluindo o fumo, álcool e todas a variantes contemporâneas, são condutas de exorcismo. Exorcizam a realidade a ordem social, a indiferença das coisas. Mas não se deve esquecer que através delas é a próprias sociedade que exorciza certos poderes esquecidos, certos impulsos, certas contradições internas. Exorcizar é produzir para maldizer. È ela que produz este efeito e é ela que produz este efeito e é ela que condena. Se não pode deixar de produzi-lo(o que queria desejável), ao menos deixe de maldizelo". Baudrillard(1987, p.2)

Quando se fala em uso de drogas, as pessoas demonstram medo e preconceito da droga algo que se deseja distancia, pois culpa, angustia e desespero são sentimentos de muitas famílias convivem com o usuário de drogas. Muitos pais protegem os filhos para que não entre em contato com tais substancias, porém se esquecem que na maioria das vezes é na própria família que as crianças efetuam seu primeiro contato com elas.

Geralmente os jovens iniciam suas experiências com as drogas consideradas licitas, como o álcool e o tabaco em seus ambientes familiares. Após, podem recorrer às ilícitas para aumentar o seu prazer, procurar outras emoções ou fugir de seus problemas, sendo os inalantes e a maconha as drogas mais consumidas nesta fase (Bucher, 1992).

Ao observar a história da humanidade, nota-se que o homem sempre conviveu com o uso de drogas, sem que isto fosse motivo de alarme social. Os seres humanos sempre buscaram o prazer, o alivio da ansiedade e outras alterações do nível de consciência através da ingestão de varias substancias naturais ou sintéticas.

Para MAFFESSOLI. "a violência é uma das maneiras que movimentam as relações humanas. Ela não deixa de levar em conta a instabilidade social como integrante de tudo que, em vez de eliminar os antagonismos, busca ordena-los. (apud GUIMARAES: 1996, p.9). Para ele, podem ser percebidas três modalidades de violência: "dos poderes instituídos", caracterizada pela violência do Serviço Público, dos Estados e dos órgãos burocráticos; a "violência anômica" e a "violência banal"

. Estas modalidades apresentam aspectos específicos de um duplo movimento de destruição.

A violência dos "Poderes Instituídos" se manifesta através da burocracia, sendo objetivos desta a planificação e o controle racionalizado da vida social. O mecanismo da burocratização propicia que seja centralizado tudo o que está relacionado à ordem do policial, do fiscal e do militar, criando um aparelho administrativo que garantirá a todos os meios uma gestão centralizada.

A burocracia é resultante da lógica da homogeneização e esta impossibilita que sejam expressos os antagonismos internos a todo o corpo social. Quando saturação do princípio da heterogeneidade se manifesta, surge o totalitarismo ou a sociedade de controle e de dominação.

Uma organização estatal totalitária enfatiza a supremacia do individualismo explicando o processo de atomização cada vez mais intenso da sociedade, provocando uma indiferenciação generalizada, concomitantemente, um agravamento da violência.

"A violência anômica é uma violência fundadora, que mostra a capacidade de identificação de uma sociedade consigo mesma, bem como a de estruturar-se coletivamente no momento de assumir e controlar a sua violência". (MAFFESOLI, 1987, apud guimarães, 1996, p. 12).

O homem, através do excesso, mostra a necessidade irreprimível de se dizer inteiramente aqui e agora, para proteger-se da dominação. Ao manifestar o excesso, a violência fundadora torna passageiro tudo o que existe de ordem no mundo, lembrando que "em sempre por um ato de violência que se inicia um novo sistema social". (MAFFESOLI, 1987, apud GUIMARÂES, 1996, P. 13). A crueldade, a violência, a desordem a perda são facetas da vida contínua levada ao extremo. Todos os descomedimentos têm como base a incerteza do futuro e se constitui em uma forma de protesto contra o que não constitui um eterno presente.

A violência e sua estrutura sempre geram uma nova ordem, inserindo-se num movimento duplo de demolição e de construção. O lado construtivo da violência permite entender essa forma social como auxiliadora da ordem. Todos os que, de uma ou de outra, se

rebela contra a ordem, como os revolucionários que terão o poder, o pensador maldito que será referência obrigatória, o artista desacreditado que implanta uma nova moda, são exemplos que mostram a existência de um movimento duplo que une anomalia e ordem.

Na violência "

banal" existe uma passividade que não se integra ao instituído, mas que se opõe a ele propiciando a supervisão do poder. As submissões aparentes podem representar resistências reais desde que as atitudes tomadas em conjunto visem quebrar ou desviar as imposições da planificação social.

A delinqüência juvenil vem crescendo e não deve ser dissociada da questão da criminalidade. Deve ser tratada a partir de dados reais e científicos. Para prevenir a violência qualquer política implementada tem que considerar que uma das causas da patologia da violência é a falta de atenção com que este assunto ou matéria vem sendo tratado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente possibilitou a delinqüência juvenil fique restrita às infrações do Direito Penal. Anteriormente era considerada, como delinqüência juvenil, comportamentos não tipificados nas leis penais. O menor em "situação irregular" podia ser privado de liberdade em penitenciária por tempo indeterminado. Esta privação de

liberdade era determinada sem um processo legal e o menor permanecia detido, inclusive após ter atingido a maioridade, sendo liberado somente pelo juiz das execuções penais. Estas medidas tão severas para os menores não mostravam eficácia na prevenção dos delitos e na recuperação deles.

No Brasil, em um estudo realizado em 1980, por juristas, para conhecer as causas da criminalidade no país, foi constatado que o MENOR INFRATOR é conseqüência do abandono a que é exposto. O estudo mostra que os menores infratores podem ser agrupados como vivenciando os problemas seguintes: a) Desorganização ou inexistência de um grupo familiar, b) Condições impróprias ou inadequadas da personalidade dos país decorrendo daí a ausência de afeto e de autoridade, c) Renda familiar insuficiente, modesta ou mesmo vil; d) Desemprego, subemprego com rentabilidade; e) Falta de instrução e da qualificação profissional dos membros familiares; f) Moradia ou habilitação inadequada e condições precaríssima, inclusive de higiene, facilitando a proliferação do vício em toas as escalas.

Já no Pará, quando o Código de Menores estava em vigência, os menores era apreendidos e não tinham direito à defesa. Muitas vezes o menor era encaminhado para a delegacia porque estava próximo a uma loja usando sandálias e com roupas usadas.

O Estatuto da Infância e da Juventude proporcionou ao jovem o direito de defesa. Quando o menor é encontrado na rua, sofre maus tratos, violência sexual e está fora da escola, hoje não é mais encaminhado ao juizado, mas ao Conselho Tutelar. O Conselho atende aos menores que ainda não cometeram atos inflacionais. O atendimento é feito de diversos modos como, por exemplo: Conversa com responsáveis; Encaminhamento para Núcleo de Apoio a família; Encaminhamento ao centro de Apoio à família; Autorização aos responsáveis a matricularem o menor na escola e outros.

Quando menor pratica um ato infracional é encaminhado ao juizado, que dependendo do ato do juiz pode expedir sentenças. Para o menor trabalhar em empresas, que têm convenio com o juizado; Para ficar em liberdade vigiada; Para ficar em regime semi-aberto ou Para

ficar interno (sem liberdade). Segundo MONTEIRO (2000), muitas são as causas que levam o menor à delinqüência. No entanto a desagregação familiar e os problemas sócio-econômicos são as principais.

Dados fornecidos pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude mostram que no ano 1995, 919 adolescentes foram atendidos por terem cometidos ato infracional. A idade dos adolescentes variava entre 12 e 17 anos. Observando-se que de acordo com a elevação da idade, aumenta a participação no total de adolescentes, pois com 12 anos foram atendidos 26 adolescentes, com 15 anis 184 receberam atendimento e a maior quantidade 306, possuíam 17 anos. (Tabela – 5), (ver em anexo).

A maior parte dos menores atendidos fora m do sexo masculino, que teve uma participação de 87. No que se refere situação escolar verifica-se que somente 44,5% estudam os demais não estudam, sendo que 15% dos menores são analfabetos.

CANDAU (1999), diz que hoje as manifestações de violência nas escolas vem procurando bastantes pais e educadores. Em decorrência disso, é importante lembrar que existem diversas formas de violência que acontecem por diversos motivos que acabam afetando o cotidiano escolar. Alguns pesquisadores e pesquisadoras falam,a necessidade de se fazer um estudo objetivando buscar as causas para que, possa ser trabalhada tal problemática, durante as práticas pedagógicas, a fim de que sejam amenizadas.

A violência é vista principalmente nas escolas públicas porque não recebem investimentos do Estado, seus professores são mal remunerados, seu prédio é decadente e ainda tratam os jovens como "lixo".A aprendizagem muitas vezes não se realiza. Os jovens sentindo-se extremamente desvalorizados por um lado, e por outro sendo atraídos pelo individualismo e consumismo vive conflito e o extravasam através de atos violentos. O desemprego aumenta a falta de perspectiva para o jovem que deseja trabalhar para obter o que quiser. Então muitos, não tendo outro caminho, passam a roubar, traficar e/ou matar.

PERALVA apud CANDAU (1999), diz também que, na visão dos alunos a violência na escola é vista como uma forma de "protesto". Portanto, é um meio que eles encontram de manifestar resistência ao julgamento escolar ou de protesto pela falta de competência dos professores e funcionários que atuam nas escolas.

CANDAU (1999), ressalta que, na visão dos adultos, as manifestações de violência nas escolas, podem ser causados pela falta de "competência relacional" (3), dos profissionais que estão em exercício. A violência também é provocada pelo fracasso de formalização dos papéis tanto dos aluno como do professor.

A pesquisa confirma dados já levantados por Waiselfisz (2000), que chamam a atenção para o fato de as principais vítimas de violências serem os alunos , seguidos de professores, funcionários e diretores.

Verificou-se que o impacto mais significativo da violência é tornar o ambiente da escola pouco apropriado às aulas, acentuando as faltas dos alunos e a piora da qualidade do ensino. Veja a tabela 1 e a tabela 2 no anexo.

Considerando o âmbito nacional; está tudo errado na política de combate às drogas no Brasil. A cocaína não é o inimigo número 1 a ser combatido, ao menos no que se refere ao consumo entre jovens freqüentadores de escolas públicas. Os grandes vilões estão expostos nas prateleiras do mercado legal – álcool, tabaco, acetona, cola de sapateiro, remédio para emagrecer, xarope contra tosse e colírio – sem que os organizadores das campanhas antidrogas se mobilizem de fato contra seu uso indiscriminado. Lançado na quinta-feira da semana passada o III Levantamento sobre Consumo de Drogas, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, CEBRID, atesta o erro de alvo e põe a nu a estéria que costuma cercar o assunto. Ao contrário da alardeada explosão de consumo, o uso de psicotrópicos chegou a cair em Brasília, no Rio de Janeiro e em Salvador. No restante do país manteve-se praticamente estável.

Evolução do consumo entre estudantes no Brasil (em %), excluindo álcool e cigarro. Veja a tabela 3 no anexo.

Ouvidos 24.634 estudantes de 1º e 2º graus da rede estadual de ensino em dez capitais brasileiras, ficou comprovado que 1 em cada 4 estudantes já experimentou drogas, mas apenas 1 em cada 100 fez uso de cocaína. O índice dos que se drogam freqüentemente com o pó e de 1 em 1.000. Já os solventes – acetona, cola de sapateiro, éter ou benzina – deprimem o sistema nervoso e geram alucinações em 1,8% alunos, 18 vezes mais que os usuários de cocaína. Remédios calmantes inibidores de apetite, de ação euforizante, arrastam 1,1% dos estudantes ao mundo dos psicotrópicos – 11 vezes mais que o pó branco. Isso tudo sem considerar aquela droga que insiste em ser chamada como tal – o álcool. Bebem rotineiramente 18,6% dos adolescente. Quanto ao consumo do cigarro, 5,3% vivem ao soltar baforadas. Percentual de estudantes que usam drogas freqüentemente. Veja a tabela 4 no anexo.

PESQUISA DETALHADA

Tabela nº 5: Uso de drogas por escolares da rede pública de 10 capitais brasileiras em 1987 e 1989, em % (exceto álcool e tabaco). Percentagem de escolares que fizeram uso, ver no anexo.

Estes dados se deixam interpretar da seguinte maneira: a maior parte dos escolares brasileiros (78,8% em 1987 e 73,8% em 1989) nunca experimentaram drogas psicoativas; dos que experimentaram, apenas uma minoria (2,7% em 1987 e 3,5% em 1989) são usuários frequentes. Nas escolas públicas investigadas, existe pois um certo uso de drogas, mas em termos de saúde pública, este não chaga a ser alarmante.

Como os dados globais podem incluir distorções quanto as eventuais diferenças regionais, reproduzimos na tabela 6 os resultados segundo as 10 capitais pesquisadas. Tabela 6: Uso de drogas por escolares brasileiros em 10 capitais, em % (exceto álcool e tabaco).

Segundo essas taxas, em dois anos o uso de drogas na vida (exceto álcool e tabaco) aumentou em todas as capitais, com exceção de Brasília (por razões difíceis de explicar). A taxa mais elevada foi encontrada em Belo Horizonte (onde o aumento bruto alcançou o recorde de 12,6%), seguido de São Paulo e Rio de Janeiro. No uso freqüente, entretanto, destacam-se, após Belo Horizonte, as cidades de Porto Alegre e Recife.

No conjunto, o dados apresentam uma homogeneidade elevada, do sul ao norte do país, apesar de todas as diferenças culturais e sócio-econômicas. O uso freqüente averiguado continua relativamente baixo, apesar do amplo leque de drogas pesquisadas, a saber: estimulantes / anorexígenos, ansiolíticos / tranqüilizantes, alucinógenos (LSD, mescalina, cogumelos), inalantes, maconha, cocaína, opiáceos naturais e sintéticos, xaropes e anticolinérgicos ("Lírio", Artani, Akineton, Asmoserona), conforme CARLINI & al. (1990).Para se ter uma ideia sobre a prevalência das diversas substâncias, apresentamos na tabela 3 as taxas por drogas agrupadas, além de dados de escolas privadas de quatro capitais.

Tabela 7: percentagem das drogas mais usadas (na vida) em dez capitais, redes pública e privada, em 1989.

A leitura desta tabela leva a

três conclusões importantes. Primeiro, a substâncias psicoativas mais usadas, entre todos os escolares das cidades investigadas, são os inalantes ou solventes (loló ou lança-perfume, cola, esmalte, gasolina, acetona e outros). A distância, vêm na ordem: ansiolíticos, anfetaminas e maconha. Esta ultima, enquanto primeira droga realmente ilícita, ocupa assim o quarto ou, levando em conta álcool e tabaco, o sexto lugar.

O problema não termina com o levantamento dos motivos que levam a evasão escolar. Os caminhos nos levaram até a Penitenciária do Coqueiro, onde conhecemos o programa de educacional penitenciário, que apesar de ser cheio de boas técnicas, o mesmo ainda mostra-se deficiente, e acaba nos levando a um outro problema.

Segundo Ana Beatriz (2004), diversos autores apontam a evasão escolar como resultado da dependência química. Muitas causas são apontadas na literatura como

responsável pela "drogatização" crescentes nas escolas, mas também alertam para falhas na formação de professores. Os educadores que lidam frequentemente com este tipo de problema procuram ajuda fora da escola para resolve- los; na família ou buscando parcerias com profissionais de várias áreas, como psicologia, medicina, fonoaudiológica, assistência social e jurídica. É preciso conhecer e compreender as metodologias e estratégias de ensino para atuar de modo mais eficaz. Os projetos de prevenção auxiliam nas melhores respostas para diminuir a evasão escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A complexidade da circulação das drogas na sociedade e dos fatores condicionantes do envolvimento dos jovens no seu consumo foi documentada em diversas partes deste trabalho, assim como a presença do tráfico no entorno da escola, sua infiltração no espaço escolar. Também foi mostrado que existem diversas estratégias de sedução dos jovens, acionadas por diferentes protagonistas, inclusive o próprio consumidor. Foi discutido também o papel de varias instancias de sociabilidade que facilitam ou não o acesso às drogas.

Tanto os atores ouvidos, como as literaturas de referencia do trabalho, sugerem que cenários macros socioculturais propiciam a expansão do consumo. Fatores como a exclusão social, o desencanto político-cultural-ético, a perda de referencias coletivas, e ausência de projetos de vida dão lugar a situações propensas ao consumo de drogas. Tais situações podem ser pensadas tanto em nível de suas particularidades locais como por meio das grandes redes em nível global.

Documenta-se a diversidade de percepções sugerindo, como ressalta Velho (1999: 24), que "não há como pressupor comportamentos e atitudes homogêneos dentro do que se costuma chamar "mundo das drogas".

Uma das tendências, verificada entre os diversos atores entrevistados, é associar drogas à violência. O consumo de drogas ilícitas, assim como de bebidas, pode ser visto como coadjuvante deflagrador de diversas formas de violência. Contudo, muitos desses discursos não se apóiam necessariamente em fatos presenciados de agressões por usuários. Também são ambíguas as referencias que estabelecem nexo entre violência contra terceiros e o uso de drogas. Nota-se certa transferência de medos e inseguranças generalizadas nesses tempos, quando não controlado, o estranho-como as drogas (no caso do uso), seria considerado a principal causa da insegurança da violência.

As vulnerabilidades sociais, as inseguranças e os processos macrossociais podem levar à inferência de que a escola seria impotente para lhe dar com a questão das drogas, já que ela apenas refletiria um problema que lhe passa que se ancora em complexos processos e em um poder criminoso, que vem ganhando expressões, que alarma a sociedade - o tráfico de arma e de drogas. Ou seja, a questão das drogas não se restringe não somente aos jovens, nem à escola.

Assim sob a repercussão dessas questões nas escolas, ou seja, o consumo pelos alunos e mesmo o trafico nas suas dependências, restaria à escola-quando se admiti uma postura fatalista diante do quadro traçado – tão somente acionar medidas de repressão ou de eliminação dos envolvidos com o uso e o trafico de drogas. A estratégia, nesse caso, seria apelar para expulsões e transferências bem como ações localizadas de cunho protetor e de tendência policial (Com murar e isolar a escolar das comunidades adjacentes).

Contudo a pesquisa remete a uma leitura positiva – mesmo quando se considera o numero de alunos das escolas de ensino fundamental e médio no Estado do Pará envolvidos com drogas preocupantes. Observa-se que a maioria nunca esteve envolvida com drogas ou, já experimentou, não o faz mais e, mais importante, a pesquisa aponta que muitos tem uma postura critica sobre drogas e que necessariamente estigmatizam os consumidores. Ao contrário consideram que eles precisam de colaboração, ajuda.

A escola é um lugar onde os jovens socializam-se, e onde podem ter uma interação com adultos significativos (como os professores). É também um lugar que possui como massa/objetivo, conhecimentos, valores e afetos. Vários vetores sociais contam a favor da escola como um lugar privilegiado para acionarem-se programas preventivos e de atenção. No caso dos consumidores, faz-se necessário o apoio de serviços e profissionais especializados.

Contudo alguns depoimentos registrados nesta pesquisa alertam que, entre membros do corpo técnico-pedagógico e pais, há percepções pautadas por preconceitos e estereótipos em relação à juventude e aos consumidores de drogas. Para alguns professores e, inclusive, para alguns jovens, os usuários de drogas são pessoas doentes ou de personalidade fraca. Alguns chegam a qualificar o consumo de drogas como um desvio.

Muitos não consideram, por exemplo, que são construtos da droga, entre outros: a compulsão socialmente alimentada pelo prazer e a curiosidade em relação ao novo em relação àquilo que é muito falado e condenado. Vários entrevistados refletem sobre a associação entre drogas, frustrações e buscas, mas poucos ressaltam o estatuto dado às drogas de caminho para o prazer e a diversão, em si, e como um rito de sociabilidade e a sua sedução.

A tendência predominante é enfatizar o mal das drogas, ignorando os múltiplos sentidos dado às drogas pelos jovens e as relações com suas biografias diversas. Mas há de se advertir que também foram encontrados vários depoimentos em outra linha, inclusive sobre experiências que estimulam os jovens a participar de projetos preventivos e de atenção a consumidores, o que sugere que os educadores têm condições e vontade para atuar na prevenção e no acompanhamento de situações que envolvem o consumo de drogas.

Comprova-se em vários aspectos e itens pesquisados, a distância entre as percepções de alunos e membros do corpo técnico-pedagógico e pais sobre questões até factuais, como o nível de consumo de drogas nas escolas – o que sugere que faltam vivências e informações compartilhadas, diálogo e conhecimento reflexivo, o que pode prejudicar a construção da escola cidadã, onde existe a possibilidade de diálogo e sentimentos de pertencimento.

Reconhece-se que não se faz suficiente acionar programas específicos de caráter preventivo somente no âmbito da escola. Mas defende-se a propriedade de apresentar recomendações para programas e ações, a maioria de caráter preventivo, que tenham a escola como agente propulsor, não somente visando à proteção de seu público, mas também, pelo seu efeito de multiplicação em distintos espaços sociais.

A perspectiva da Escola de Emaús é combinar programas de prevenção na escola com a construção de uma

escola protetora/escola protegida, ou seja, escolas voltadas à proteção integral, o que passa por lidar com o tema de drogas não somente por meio de programas específicos, mas por uma outra concepção de escolas que estimulem outras buscas, novos conhecimentos e a ênfase no lúdico em outros sentidos do prazer (que não as drogas), na solidariedade, no conhecimento de qualidade, na ideia de pertencer e de ser sujeito de projetos individuais e sociais.

Têm-se dois eixos de preocupação que se entrelaçam quando se desenvolvem as recomendações seguintes: Primeiro, no plano de ter o jovem como foco, investir para que este desenvolva sua criatividade crítica e que venha construir seus próprios mecanismos alternativos às drogas e uma postura reflexiva sobre significados subjetivos e sociais das drogas, em particular, via atividades associativas. Isso visa diminuir os riscos associados ao consumo de drogas.

Enfatiza-se, portanto, a construção do conhecimento crítico, a modelagem ética e a escolha informada e reflexiva. É comum nas escolas não se ressaltar a importância do trabalho no plano afetivo e crítico, dando prioridade ao cognitivo, às informações, sem o necessário envolvimento subjetivo dos alunos.

O segundo eixo das recomendações é enfatizar a escola como ponto de referência, sua excelência e o seu clima, ou seja, que as políticas sobre drogas pautem-se pelo resgate da sua qualidade e por uma maior democracia, sem tutela e pretensão de controle sobre os jovens. Enfim, a escola é o local propício para ajudar na prevenção das drogas, no sentido de que

reúne várias qualificações que colaboram para a difusão de tal perspectiva na comunidade e na sociedade.

A seguir, lista-se recomendações gerais e específicas que devem ser acionadas nas escolas e por elas. Algumas foram resgatadas nos relatos dos autores entrevistados-alunos, seus pais e membros do corpo técnico-pedagógico das escolas-, outras foram extraídas de diversas fontes. Ressalta-se que lidar com drogas significa também lidar com processos sociais amplos. Varia, portanto, o nível de intervenção e sua especificidade. Mais importante do que programas pontuais-ainda que estes também sejam válidos- são as posturas pedagógicas, a vontade de mudança de cultura escolar (Debarbieux, 2001), tornar mais simétrico o diálogo entre professores e alunos, explorando a comunicação, e aumentar o investimento feito pelo estado da melhoria das condições de vida dos professores e sua capacitação (tanto substantiva, em nível de qualidade de ensino, quanto em termos de postura ético-valorativas.

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DENOMICAÇÕES DAS TABELAS

TABELA 1........................................distribuição dos homicídios nos dias da semana entre os jovens de 15 a 24 anos – Brasil , 2000.

TABELA 2....................................... média de violência por dias úteis e final de semana – municípios de Belém e Ananindeua, 2006.

TABELA 3........................................uso de drogas entre estudante entre 1987 e 1993 noBrasil

TABELA 4 …...................................percentual das drogas usa por estudantes

TABELA 5 …..................................Percentagem de escolares que fizeram uso, ver no anexo.

TABELA 6...................................... Uso de drogas por escolares brasileiros em 10 capitais, em %(exceto álcool e tabaco).

TABELA 7........................................percentagem das drogas mais usadas (na vida) em dez capitais, redes pública e privada, em 1989.

TABELA 8.......................................principais causadores da evasão escolar

TABELA 9..................................... uso de drogas no estado do Pará por estudantes