AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM QUE DÃO SUSTENTAÇÃO ÁS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

 

Resumo.

 

Essa pesquisa bibliográfica busca relacionar as concepções de linguagem, às teorias e a prática do professor. Relata ainda sobre as três concepções: a Linguagem como expressão do pensamento, Linguagem como meio objetivo para a comunicação e Linguagem como processo de interação, essas concepções de linguagem com o passar dos tempos, foram se modificando, mas percebe-se que a conduta do professor varia de acordo com os objetivos que quer alcançar em suas aulas e também, ter um novo olhar para um velho problema de como é ensinado a linguagem na sala de aula, demonstrando que as suas ações,  também são submetidas à uma das três concepções de linguagem, pois em livros didáticos, ainda é encontrado nas instruções, nos títulos, nas  gramáticas,  em algumas sugestões de atividades.

O intuito principal é de que os assuntos abordados, seja percebidos a vinculação entre as práticas pedagógicas com as teorias, pretendo através, dessa pesquisa, mostrar a necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas, para favorecer na formação do aluno e refletir sobre o já-conhecido, aprender o desconhecido, provocar e produzir o novo. Geraldi (2002, p. 63).

 

 

Palavra-chave: ensino, concepções de linguagem, aluno, professor, práticas pedagógicas.

 

 

Ana Maria Libardi, natural do Estado do Rio Grande do Sul, licenciada em Pedagogia, Universidade Federal de Mato Grosso, Psicopedagoga, Curso de Especialização em Educação “LATO SENSU”, Tangará da Serra, MT.

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

 

 

As grandes transformações ocorrem no século XX. Como também, a evolução  da tecnologia, surgindo e dando suporte a diversas áreas de conhecimento e tornando o mundo mais rápido e comunicativo. Por isso, o homem começou a olhar o mundo com uma nova visão, descobrindo outros caminhos para mudar a realidade. Essa evolução ocorreu também com a língua, hoje conceituada muito diferentemente dos séculos passados. Sabe-se que a língua é “um ato social, responsável pela interação entre os humanos e é fundamentada nas necessidades da comunicação” (CARDOSO, 1999; p. 15). Dentro dessa comunicação temos as concepções de linguagem, usadas nas práticas pedagógicas, daí da importância dos embasamentos teóricos para se ter um melhor desenvolvimento no cotidiano escolar, além de percebermos que toda sociedade humana se organiza e utiliza da linguagem verbal e não-verbal para haver comunicação.

Com esses embasamentos espero contribuir no Ensino de Língua Portuguesa e assim podermos ampliar o conhecimento dom aluno, para que o mesmo possa interagir e ser um sujeito crítico, capaz de assumir uma postura diante do mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM QUE DÃO SUSTENTAÇÃO ÁS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS.

 

Qualquer que seja a raça, a cultura o espaço que ocupe, o tempo em que vive, o homem está sempre em contato com outros homens, inter-relacionando-se, comunicando-se e essa inter-relação se dá através da Linguagem.

De acordo com o dicionário “Aurélio” Linguagem é: “sf. O uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas, próprio de um indivíduo, grupo, classe,...”

Pode-se dizer que a linguagem é universal e é através dela que os homens estabelecem a troca do diálogo, além de representar o real por signo, sendo este um símbolo que pode representar alguma coisa.

Para POSSARI e NEDER (2005, P. 19) apud BAKTIN (1986):

“O símbolo se refere á língua verbal e é convencionado, ou seja, é preciso que  quem fala e quem ouve e quem lê, estejam de acordo sobre o significado que se quer fazer entender...”

 

Para que haja este entendimento o homem precisa aprender o sentido do símbolo para interpretá-lo na sua função significativa.

A linguagem é uma área de conhecimento humano que também tem formas diferentes através de diferentes concepções cada uma delas determina as formas de utilização e compreensão, destacando=se entre elas: a Linguagem como expressão do pensamento, Linguagem como meio objetivo para a comunicação e Linguagem como processo de interação.

A Linguagem como expressão do pensamento é vista como um ato puramente individual, sendo gerada no interior do pensamento do indivíduo, ou seja, a língua é processo individual não se constrói pela interação ou condições sociais.

As experiências dos alunos não são levadas em consideração, pois são vistas como incorretas diante do padrão linguístico escolhido como correto, ou seja, a Linguagem como expressão do pensamento, os alunos fazem exercícios, usam regras no empregar da língua, dominando as sua produção escrita, essa gramática tradicional era muito valorizada, pois levava o aluno a organizar o pensamento e a própria linguagem, não ocorrendo à interação do outro, obedecendo três operações: raciocinar, julgar e conceber.

Ainda de acordo com esta concepção de linguagem, a gramática é um conjunto de regras que deve ser seguida por aqueles que querem falar e escrever corretamente, sendo esta a gramática Tradicional ou Normativa. O ensino é prescritivo ou tradicional e não levam em conta os conhecimentos linguístico dos alunos.

O professor tem como objetivo ensinar os alunos a substituir seus padrões de atividades linguísticas, considerados errados, por outros considerados certos. Neste sentido de acordo com POSSARI e NEDER (2005, P. 58) apud HALLIDAY (1974):

 

Significa selecionar os padrões em qualquer nível, apontados por alguns membros da comunidade lingüística, e usar práticas padronizadas de ensino, para persuadir o aluno a se conformar á aquele padrão...

 

Com o padrão lingüístico imposto igualmente a todos através da gramática tradicional, NEDER ressalta que o aluno é induzido a substituir sua linguagem por outra mais bem elaborada, por constituir a forma gramaticalmente correta.

Nesta concepção de linguagem a base para a alfabetização é a letra ou sílaba e a língua escrita predomina sobre a fala. Diante desse contexto as aulas de linguagem se apresentam como um conjunto de atividades desvinculadas da realidade e a alfabetização em si desenvolvem-se a partir da silabação.

Quanto à concepção Linguagem como meio objetivo para a comunicação, o ensino baseado nos pressupostos teóricos dessa corrente linguística tem como base o sistema linguístico e sua temática de funcionamento. A alfabetização começa pela frase através do ensino descritivo e através de exercícios estruturais onde se usa a mecanização para essa correção não levando em conta o processo de evolução da linguagem.

A língua padrão é prerrogativa de uma camada social privilegiada, sendo imposta aos demais sem se levarem em conta suas condições de vida e independente da interação social ou geográfica do aluno a norma padrão tem fazer parte do seu repertório. As pessoas que não falam corretamente são automaticamente desprestigiadas pela sociedade. Assim para esta concepção a variação de linguagem está relacionada com a profissão, grau de escolaridade e situação econômica.

De acordo com POSSARI e NEDER (2005, p. 60) apud HALLIDAY, o ensino tem como objetivo ensinar o aluno á natureza da linguagem para que a use sem lhe ser necessário compreender o porquê e como as funções que dela se espera, ou, na verdade quais são essas funções. Diante do exposto se percebe que o aluno internalizará regras linguísticas diferentes daquelas que usa.

A gramática em que se baseia esta concepção é a Estrutural e a gerativo transformacional e tem o objetivo descrever fatos linguísticos  e corrigir ou substituir padrões de língua, tendo como base o conceito de estrutura, assim a língua é o conjunto de todas as regras fonológicas, morfológicas e semânticas que determinam o emprego dos sons e relações sintáticas necessárias para a produção dos significados.

A Linguagem como processo de interação, é muito importante para o aluno, saber usá-la corretamente é essencial para sua socialização. Esta teoria tem como objetivo de análise o ato de fala, não separa a linguagem do seu processo histórico, produto da interação entre os homens. Ela é vista como um processo de construção social.

Diante desse pressuposto, nesta concepção de linguagem é dada ao aluno a oportunidade de aprender diferentes variedades de língua e também usá-las quando a situação exigir.

O ensino é produtivo que tem como objetivo a ampliação do conhecimento já adquirido pelo aluno, além de embasar-se em diversas gramáticas. Assim busca colocar o aluno em situações efetivas de uso da língua, considera-se o adequado e o não adequado a determinada situação de fala.

O estudo de linguagem é fundamental em diversas correntes teóricas que embora trabalhem com metodologias diferenciadas apóiam suas posições na relação entre sociais e linguísticos.

A linguagem não é só verbal, falada ou escrita, pode ser também não verbal representada pela música, arquitetura, gestos, artes plásticas, artes gráficas, artes cênicas, fotografia, cinema. Assim qualquer que seja sua manifestação de linguagem se dá através de determinado sistema de signos que é produzido coletivamente.

A linguagem deve ser pensada um produto da realidade e parte constitutiva dessa realidade, o sistema de signos organiza e dá sustentação  a todas as linguagens possíveis.

Infelizmente a linguagem não verbal não tem muita prioridade nas escolas, pois esta prioriza a linguagem verbal. O aluno antes de entrar na escola já faz uma leitura do mundo em que vive, tem muitas experiências de linguagem verbal e não verbal daí a necessidade de não se priorizar apenas a linguagem oral e escrita. O papel da escola neste sentido é trabalhar com os diferentes tipos de linguagens em sala de aula.

Entre as formas mais comuns de linguagem não- verbal podemos destacar a TV, outdoor, gibis, cinema, etc.,... Que como dito anteriormente chegam ás pessoas antes de falarem e escreverem.

As atividades de linguagem não nas escolas se limitam ás aulas de Educação Física e Educação Artística. Ver, ouvir, mover-se, pensar, sentir, interagir com o mundo, permitem o indivíduo a apreensão do seu autoconhecimento e dos fenômenos de seu espaço e tempo, as atividades não- verbais não devem ser restritas ás aulas de Educação Física e Educação Artísticas, elas devem ser estimuladas em todas as disciplinas.

As experiências sensoriais, afetivas e intelectuais deverão ser estimuladas e para que isso aconteça é de fundamental importância o diálogo, contato com materiais, formas, cores e sons. E que para ter sentido e possa ser interpretado o destinatário deve captar a mensagem, podendo ela ser emitida pela linguagem corporal durante a comunicação de ambos (FURNHAM, 2001).

Além das produções não- verbais dos alunos, como pintura, o desenho, as massinhas, outros materiais poderão ter lugar no processo não verbal, proporcionando à reconstrução de textos. Assim as crianças escolhem e selecionam objetos que de alguma forma lembram o objeto simbolizado.

A linguagem verbal é uma linguagem de sons que permite a interação entre o locutor e o ouvinte. Para que esta interação verbal aconteça o locutor tem que ser capaz de utilizar um signo adequado ás condições de uma situação concreta dada e o ouvinte ser capaz de compreender sua significação em uma enunciação. BAKHTIN nos relata que:

 

Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 2007, p.113).

 

Diante do exposto acima se percebe que só há interação verbal quando existe entendimento, e não haverá diálogo se esta interação entre as pessoas não ocorrer. Portanto,  linguagem verbal é aquela que tem por unidade a palavra (oral ou escrita). Existem diferenças entre a linguagem oral e a escrita, mas isso  não o faz ter uma oposição rígida.

A Língua por ser um sistema de normas produzidas socialmente só tem sentido quando os sinais servirem para suas necessidades de fala. O que importa é aquilo que permite que a forma linguística representa em dado contexto aquilo que o torna um signo adequado ás condições concreta dada.

POSSARI e NEDER (2005; p. 12), apud LABOV, citado por Orlandi (1981; p. 101), classifica como comunidade linguística:

 

[...] um grupo de pessoas que compartilha um conjunto de normas comuns com Respeito á linguagem verbal. Ele chama, todavia, a atenção para o fato de que o conhecimento dessas normas não faz com que as pessoas falem do modo. Daí a afirmação de que conhecer uma língua não é apenas conhecer formas citadas pela gramática, mas o valor social atribuído a ela.

 

Contudo a forma linguística só terá sentido como um signo se for variável e flexível, e ela se apresenta sempre aos locutores em situações precisas, portanto dependente de todo um contexto sócio cultural e histórico. O uso da língua sempre está relacionado á vida. Assim o ensino da linguagem tem que levar em conta o processo de interação e a relação do homem com o mundo pela linguagem.

Nesta perspectiva o processo de alfabetização visa valorizar as diferentes variedades de língua trazidas pelos alunos, onde a utilização da palavra se dará dentro de um contexto real, sendo que sujeito e objeto estão em constante interação, diante deste contexto os processos de conhecimento é visto como uma aventura em construção, do qual participam aticamente professor e aluno.

 

 

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 

CARDOSO, S.H.B. Linguagem e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 1999

 

FURNHAM. A. A Linguagem corporal no trabalho. São Paulo: Ed Nobel. 2001.

 

GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. Cascavel: Assoeste, 1984.

 

POSSARI, Lucia Helena Vendrusculo S NEDER, Maria Lucia Cavalli Linguagem (O ensino: o entorno, opercurso). Cuiabá: DEUFMT, 2005.