As causas do fracasso escolar

Por: Suzana Francini

 

O fracasso escolar é hoje um grande problema que faz parte do sistema educacional. Muitas vezes para se isentar da responsabilidade deste fracasso, busca-se sempre um responsável, alguém que possamos colocar a culpa alegando uma justificativa plausível para assumir total responsabilidade causada para esse dano.

Patto (1990), ao pesquisar fracasso escolar no Brasil, explica o mesmo a partir de um processo social que se realiza no cotidiano escolar, resultante de um sistema educacional que gera barreiras que impedem que seus próprios meios sejam alcançados. Assim, as relações de hierarquia de poder, os segmentos escolares e o trabalho pedagógico burocrático acabam tornando a prática escolar sem motivação e descompromissada.

Na visão de Ireland (2007, p. 23) “o fracasso escolar sempre existiu, uma vez que o ser humano não pode viver sem aprender e, quando aprende, à vezes fracassa”.

 No entanto, a autora enfatiza que a questão que hoje se coloca sobre o fracasso escolar, considerado um problema importante nas sociedades contemporâneas, não é mais uma questão pedagógica apenas, mas de um problema social e econômico.

A partir dos anos 90, as pesquisas que investigavam o fracasso escolar assumiram duas tendências (ANGELUCCI et al., 2004). Na primeira delas, culpabilizava‐se os alunos e suas famílias (ANGELUCCI et al., 2004; ASBAHR e LOPES, 2006; ZUCULOTO e PATTO, 2007) e, na segunda, ele era entendido como decorrente de causas intraescolares, atribuindo‐se aos professores ou a questões institucionais e políticas da escola a responsabilidade pela reprodução das desigualdades sociais, que acabavam por reforçar as dificuldades escolares (ANGELUCCI et al., 2004; COLLARES, 1992; PATTO, 1990). 

Muitas vezes a escola estabelece o problema do fracasso no indivíduo, considerando-o como portador de algum tipo de “desvio” ou “anormalidade”, com os seguintes argumentos: “se não aprende a culpa é dele, se não aprende tem problemas, se não vai bem é porque não se esforça,” e entre outras falas. Jamais se leva em consideração o que o aluno pensa em relação a este fracasso escolar e o que ele reflete sobre essa falta de progresso. Dar voz ao aluno quando estamos tentando solucionar um problema onde o colocamos como o centro da culpa, muda-se totalmente o ponto de vista da investigação.

“A causa do fracasso passa, assim, a ser situada na própria criança que de vítima se transforma em réu. Dizemos vítima porque, segundo este ponto de vista, esquecemos de considerar que esta criança sofre as conseqüências de um sistema social e educacional perverso, que não lhe oferece as condições necessárias para se apropriar do conhecimento dito formal, cientifico ou padronizado (ou seja, o conhecimento que a escola objetiva transmitir).” (COSTA, 2003).

Sabemos que a aprendizagem é construída dentro e fora da escola. Atualmente, o aluno chega à escola, independente da sua faixa-etária, repleto de conhecimento prévio e em variados contextos. Compreendemos que com os avanços das altas tecnologias, esse aluno, independente da sua classe econômica, faz parte não só de uma mídia de informação televisiva, mas também informatizada.

Hoje os ambientes de aprendizagens não são mais delimitados a tempo ou a um espaço escolar. Atualmente esse aluno está exposto a novos processos de aprendizagens, e por isso podemos descartar qualquer possibilidade de caracterizar o aluno com definições de mentes vazias, ou tábuas rasas. O aluno absorve conhecimento o tempo todo, desde o seu nascimento até a velhice, pois os conhecimentos estão em todo lugar.

 Entretanto, quando esse aluno, sem qualquer comprometimento intelectual ou físico, é inserido em um sistema educacional de ensino escolarizado, onde se tem por objetivo a formação para a cidadania, ele ainda fracassa.

Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às classes menos favorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. Paulo Freire relata que a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. O aluno precisa apenas de que lhe sejam facilitadas as condições para o auto-aprendizado.

Para uma aprendizagem acontecer de forma significativa não se pode abrir espaço para o ensino através de depósito. Hoje o professor deve estar sempre aberto a aprender a aprender, em um ambiente onde o aluno faz parte da construção da sua aprendizagem. Não sendo o professor o único detentor do saber.

Para o teórico, o docente da educação deveria conduzir os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. "Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", escreveu. Isso sugere um começo fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar.

 

BIBLIOGRAFIA

ANGELUCCI, Carla B. et al. O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991‐ 2002): Um estudo introdutório. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n.1, p. 51‐72, 2004. Disponível em: Acesso em: 10 mar. 2014.

COLLARES, Cecilia Azevedo Lima. Ajudando a desmistificar o fracasso escolar. Série Ideias, São Paulo, n. 6, p. 24‐28, 1992. 

COSTA, D. A. F, Fracasso escolar: diferença ou deficiência? Porto Alegre; kuarup, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987

IRELAND, Vera. Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever. Brasília: UNESCO, MEC/INEP, 2007.

PATTO, Maria H. S., A produção do fracasso escolar. Histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T.A. Queiroz, 1990.