AS CAUSAS DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA: A REBELIÃO GAÚCHA CONTRA OS ABUSOS DO IMPÉRIO.

RESUMO: Este trabalho tem como finalidade explicar quais foram às causas que ocasionaram a Revolução Farroupilha. Uma luta que persistiu cerca de dez anos contra o império e que teve como seu principal ideal a guerra contra os abusos cometidos contra a província, como por exemplo, o aumento dos impostos estabelecidos pelo Império que gerou uma série de descontentamentos por parte dos rio-grandenses, que se sentiram completamente desvalorizados após tantos anos de serviços prestados. E para isso iremos utilizar os seguintes autores. Inicialmente examinaremos como Sandra Jatahy Pesavento nos leva de volta ao século XVII para nos mostrar quais foram às causas que impulsionaram os rio-grandenses a Revolta dos farrapos.[1] Em seguida verificaremos como Jocelito Zalla e Carla Menegat refletem sobre as relações de conflitos existentes entre a província e o Império.[2] E por fim observaremos de que forma Walter Spalding nos mostra o que estava ocasionado o descontentamento geral na província do Rio Grande do Sul.[3]

Palavras-chaves: revolução, império e conflito.

Os agentes que impulsionaram a Revolta dos rio-grandenses.

Para melhor entendermos quais foram às causas que levaram os rio-grandenses a Revolta dos farrapos Sandra Jatahy nos convida a “retornar aos tempos da conquista da terra e ao povoamento do extremo sul” [4], onde verificamos que o Rio Grande do Sul no século XVII era uma zona de fronteira litigiosa e que “passava a ter um valor bem preciso: com os rebanhos de gado, que integravam a economia sulina à economia central de exportação do Brasil”,[5] e assim despertava o interesse da coroa.

Num contexto de diversas batalhas pela posse da terra e do gado seguido de conflitos intensos com os castelhanos, os rio-grandenses usufruíam de maior autonomia de administração, especialmente em função das necessidades que tinham por causa da guerra. No século XVIII com o crescimento da atividade do charque e as vitórias conquistadas na guerra, acompanhado da inclusão da Banda Oriental ao Brasil, denominada de Província Cisplatina, tudo isso contribuía ainda mais para aumentar o seu prestígio.[6]

Porém com a independência em 1822 está relação se modificou totalmente, bem após a ascensão dos cafeicultores e comerciantes do Rio de janeiro ao controle central pós-independência. Criando assim uma alteração nas relações entre a sede do poder central e a província do Rio Grande do Sul, onde foi sentida pelos rio-grandenses como perda de autonomia, seguida de um desprezo e desconsideração para com os homens do Sul.[7]

A insatisfação dos rio-grandenses era total, eles se consideravam injustiçados com relação à economia local, onde reclamavam de serem “taxados com pesados impostos sobre o gado, a terra e o sal, mas a situação era mais agravada pela questão do charque”.[8] Sobretudo após a perda da Província Cisplatina tudo isso contribuí bastante para o desprestígio do Sul o qual foi também culpado pela derrota. A revolta era evidente.

Especificamente com relação ao Rio grande do sul as questões que realmente calavam mais fundo eram aquelas relativas ao charque e à identificação de desprestígio do valor militar da província, tantas vezes comprovado nas lutas contra os castelhanos.[9]

E diante de tanta insatisfação com o desprestígio em relação aos serviços prestados como: a proteção da fronteira e as guerras vencidas contra os castelhanos, os rio-grandenses num clima de descontentamento total e de muitas ideias filosóficas que pairavam diante dos líderes farroupilhas, em pouco tempo ocorreria uma revolta[10]

O conflito existente entre a Província e o Império

Através de estudos e pesquisas, Jocelito Zalla e Carla Menegat, expõem que o principal causador da Revolução Farroupilha, estava na relação de conflito existente entre a província e o Império. Relação está a qual era apresentada pelos rio-grandenses repleta de “queixas relacionadas às injustiças que o governo imperial cometia, como a sua inaptidão em negociar e os prejuízos que causava aos cidadãos da província”.[11]

Se constituindo assim como ponto chave que ocasionou a revolta dos farrapos, o aspecto que revelava o atrito existente entre a província e o império, mostra que.

A própria noção de que fora o Império que falhara com a província, como numa relação em que o centro administra os anseios de todos os entes, tem se prestado a inúmeros usos, garantindo que outra noção trazida nesse mesmo conjunto se perpetue a de que o papel que cabe aos sul-rio-grandenses é o do protagonismo no contexto da nação.[12]

Demostrando desta maneira que foi o próprio império que falhou com a província, trazendo esta noção de que com a falha do império os rio-grandenses tinham por direito e dever se manifestar através de uma revolta. Ocasionando com isto um choque de interesses causados entre a província e o império, e assim durante o período regencial formou-se uma verdadeira desordem que resultaria no seu decorrer em uma crise, que desde modo se desenvolveu em um conflito armado.[13]

Os precedentes da Revolta dos homens do sul.

A visão que Válter trás sobre as causas que incentivaram a Revolta dos farrapos, tem como objetivo comprovar que o Rio Grande do Sul desde algum tempo vinha sendo oprimido e martirizado pelo governo central. Onde é evidenciado pelo autor através de documentos como correspondências que relatam essas queixas e reclamações, mostrando que.

O Rio Grande está abandonado, o Rio Grande está sendo dilapidado pela corte, ao Rio Grande procura-se até matar indústrias e comércio com impostos exorbitantes, como aquele que pesava sobre o charque - 600 réis fortes por arroba-facilitando, desse modo, a entrada do artigo vindo de Montevidéu nos demais portos do Brasil e por um preço muito inferior, quase a metade, ao do charque rio-grandense. Assim sobre os couros, sobre a erva-mate, sobre tudo, enfim.[14]

Além de todo esse descontentamento o autor ainda relata que os impostos já existentes eram ainda mais altos, sendo “cobrado o dízimo sobre todos os produtos que a província exportava: charque, couro, erva-mate, sebo, graxa, trigo, etc., aumentando assim, ainda mais os preços e dificultando a exportação”.[15]

Para Válter o Rio grande se tornava cada vez mais como uma espécie de província de exploração, onde tudo que se precisava como: dinheiro, recrutamento, aboletamentos, e em especial de forças armadas, entre outros serviços recorria-se a eles. E por fim o autor ainda relata o episódio com a perda da Cisplatina o qual proporcionou aos rio-grandenses inúmeros motivos para sentirem desvalorizados. [16]

Portanto diante dos argumentos aqui descrito, podemos entender que a forma com que os autores e autoras relatam quais foram às causas que proporcionaram a Revolução Farroupilha, gira em torno de seu principal causador o conflito existente entre a província e o Império que é evidenciado por Sandra Jatahy de forma detalha desde sua origem, e explicada por Jocelito Zalla e Carla Menegat com ênfase no atrito existente entre a província e o Império, e por fim descrito por Válter Spalding como uma forma de exploração por parte do Império aos rio-grandenses depois de tantos anos de serviços prestados.

Por isso fica evidente para o leitor que o principal causador desta Revolução é descrito pelos autores e autoras de estilos diferentes mais de forma clara e objetiva, pois gira em torno do mesmo objetivo, ou seja, mostrar quais foram os motivos que geraram a Revolução Farroupilha, que foi como uma resposta dos rio-grandenses ao abusivo e pesado imposto cobrado a eles tanto sobre o gado, a terra e entre outros produtos, como também a desconsideração e desprestigio deles para com os homens do sul gerando assim a necessidade de uma revolta.



[1] PESAVENTO, Sandra Jatahy. “Uma Certa revolução Farroupilha”, In: GRINBERG, Keila, SALLES, Ricardo (org.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. pp.235-243.

[2] JOCELITO, Zalla, CARLA, Menegat. “História e memória da Revolução Farroupilha: breve genealogia do mito”. Revista brasileira de História, v.31, n.62. São Paulo, 2011.

[3] SPALDING, Válter. “Os antecedentes”, In: A Revolução Farroupilha: história popular do grande decênio, seguida das “Efemérides” principais de 1835-1845. - 3. ed.il.- São Paulo: Ed. Nacional; [Brasília]: Ed. Universidade de Brasília, 1982.pp.12-28.

[4] PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit., p.235.

[5] Ibidem, p.238.

[6] Ibidem, pp.237-239.

[7] Ibidem, pp.239-240.

[8] Ibidem, p.241.

[9] Ibidem, p.243.

[10] Ibidem, pp.241-243.

[11] JOCELITO, Zalla, CARLA, Menegat, Op.cit., p.3.

[12] Ibidem, p.3

[13] Ibidem, pp.2-4

[14] SPALDING, Válter. Op.cit.p.12.

[15] Ibidem, p.12.

[16] Ibidem, p.12-13.