Angela da Conceição Pena¹

Maria Augusta Lima das Neves²

No Brasil, ao longo dos anos, a educação vem passando por mudanças gradativas e significativas que dizem respeito à sua organização estrutural, administrativa e funcional, pois as lutas travadas pela sociedade civil, no intuito de uma educação digna e de qualidade a todos, fez com que as conquistas fossem legalizadas por meio de leis, decretos, pareceres, reformas educativas e planos de ação que a fundamentam como um processo de inclusão social.

Dessa forma, essa realidade permite uma tramitação da educação elitista, onde poucos eram favorecidos, para um sistema de ensino de massa, no qual todo cidadão tem o direito à educação. Todas essas mudanças sociais se refletem também na postura do professor frente ao desenvolvimento tecnológico, científico, econômico, social e político do qual o sistema educacional faz parte e influencia diretamente os rumos que a sociedade vem tomando e a vida do homem de modo geral, haja vista a educação ser considerada a base de transformação de uma dada realidade em prol de um futuro melhor. Portanto, deve-se primar pela formação e valorização do professor como agente de transformação e mediador entre o conhecimento e o homem.

Por outro lado, partindo do princípio de que a formação continuada de professores seja um elo para a construção de uma identidade profissional e promoção da mudança nas práticas educacionais, percebemos sua importância enquanto formação dialética, ou seja, que priorize o professor em seus aspectos humanos e profissionais. No entanto, para que ocorra uma formação salutar, faz-se necessário não só investimento técnico profissional, mas também pessoal, os quais possibilitarão ao professor uma reflexão mais ampliada acerca de seu “ser” enquanto sujeito histórico-social, inserido em um espaço educativo, construtivo e transformador, que é a escola.

Neste sentido, durante todo o século XX, educadores vêm buscando alternativas para tornar mais efetiva e significativa a aprendizagem escolar, pois desde a primeira metade do referido século, a preocupação com atividades mais dinâmicas, participativas e coletivas tem pontuado a história dos esforços realizados na busca de uma educação de qualidade pelas diferentes instituições de ensino.

Segundo essa nova visão, a forma de aprender se mostra tão importante quanto as áreas do conhecimento, porque se aproxima da forma como o homem deve atuar na vida real agindo positivamente na solução de seus problemas e participando ativamente da construção da sociedade e da cultura. Além do mais, é inegável a necessidade de alimentarmos uma educação próxima dos educadores e educandos, capaz de aguçar a criatividade, de despertar o gênio inventivo, de aperfeiçoar o temperamento e o caráter, bem como a capacidade de resistência e adaptação dos mesmos. É necessário levantar possibilidades e alternativas viáveis, articulando e colocando em ação conhecimentos, habilidades e valores, democratizando o saber para reconstruirmos a visão de mundo que levamos cinco séculos para sedimentar, mas que já não mais atende às exigências do mundo atual.

Diante do exposto, vale ressaltar que a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – Anfope – estruturada e organizada em meados da década de 80 como Comissão Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação, no movimento de reformulação dos cursos de formação do educador, muito vem contribuindo com as discussões sobre o currículo na formação de professores de forma a aproxima-lo de uma prática mais centrada no chão da sala de aula, elaborando coletivamente uma acepção sócio-histórica de educador em contraposição ao caráter tecnicista, conteudista e academicista que caracterizavam, até então, as políticas de formação de professores no Brasil.

Isto posto, é nessa esteira de luta que a ESMAC vem defendendo também uma política de formação dos profissionais da educação e valorização do magistério, em condições de igualdade, sólida tanto na formação inicial quanto na continuada, abrindo espaços à criatividade, à busca pelo novo, pelo inusitado. É fundamental que ofereça também inúmeras possibilidades de construção e reconstrução de saberes necessários ao convívio desses atores sociais, em interação com o meio em que vivem, favorecendo a transposição dos conteúdos aprendidos em sala de aula para o contexto de vida e ampliação do universo cultural dos educandos em formação através da pluralidade de espaços sócio-educacionais.

Neste sentido, a ESMAC ao longo de sua existência  vem desenvolvendo na sua estrutura curricular, através de inovações no que diz respeito à Prática e às Atividades Complementares, um trabalho mais consistente e integrado, visto que o processo de formação do educando perpassa por conhecimentos significativos que dão suporte ao futuro profissional, já que as experiências vivenciadas no âmbito escolar e na sociedade de modo geral contribuem para um fazer pedagógico mais eficiente e eficaz.

As atividades complementares são componentes curriculares de caráter acadêmico, científico e cultural, cujo foco principal é o estímulo à prática de estudos independentes, transversais, opcionais e interdisciplinares, de forma a promover, em articulação com as demais atividades acadêmicas, o desenvolvimento intelectual do acadêmico, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho.

Essas atividades promovem a apropriação de conhecimento e o desenvolvimento de competências e habilidades, mediante situações de aprendizagem fora do contexto da sala de aula, vinculadas ao mundo do trabalho.

Vale ressaltar que aas estratégias para realização das atividades complementares , são realizadas desde o início do curso, sendo supervisionadas pelo docente na sala de aula, no decorrer das orientações dos discentes para atuação em campo.

Mediante as atividades complementares, os alunos têm a oportunidade de enriquecimento didático, curricular, científico, cultural e social, uma vez que este componente é capaz de agregar as várias abordagens presentes no processo de formação ampliando-o e tornando-o mais flexível, em um mínimo de 200 horas, de acordo com o que preconiza a Lei de Diretrizes e Bases ( 9394/96)

Sendo assim, o oficio do professor enquanto agente transformador é fundamental no processo de mudanças e principalmente de responsabilidade social, bem como  na formação de futuras gerações capazes de contribuir significativamente no contexto sócio educacional.

Diante disso, a escola enquanto espaço de formação deve promover o exercício permanente de  formar cidadãos, dar aos alunos os ensinamentos de que eles necessitam para viver e trabalhar neste mundo que está em constantes mudanças, bem como orientá-los para a vida. Através de um trabalho crítico e da busca pelo exercício da cidadania, a escola deve mostrar às novas gerações a importância de cada indivíduo e seu papel na sociedade, enquanto cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. É preciso que a escola compreenda que também é seu papel, dar ao aluno condições para se inserir no meio social.

É necessário, pois, a implantação de uma escola cidadã, onde os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade, capaz de assegurar o conhecimento historicamente acumulado, sem preconceitos, sem discriminação, discutindo sua autonomia e educando para que o aluno seja capaz de encontrar resposta do que pergunta (GADOTTI, 1995).

              A esse respeito, Libâneo (1998), afirma que a escola com a qual sonhamos deve assegurar a todos a formação que ajude o aluno a transformar-se em um sujeito pensante, capaz de utilizar seu potencial de pensamento na construção e reconstrução de conceitos, habilidades e valores.

           O professor, por sua vez, deve considerar no exercício de sua função o aluno como sujeito de múltiplas relações, que por estar em processo de formação, deve ser considerado em sua totalidade. Assim, deve assegurar ao educando uma formação crítica, capaz de levá-lo a refletir sobre temáticas cotidianas e interferir positivamente em seu meio e, sobretudo, em sua vida para transformá-la.

                Para tanto, torna-se necessário ao professor, o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências de pensar, além da abertura, em suas aulas, para a reflexão dos problemas sociais, possibilitando aulas mais democráticas, através de um saber emancipador. Pois, apropriar-se criticamente da realidade significa contextualizar um determinado tema de estudo, compreendendo suas ligações com a prática vivenciada pela humanidade (LIBÂNEO, 1998, p. 42).

                Reforçando o explicitado, o Parecer 09/2001 elucida que a Prática deve ser entendida como “situações didáticas em que os futuros professores coloquem em uso os conhecimentos que aprenderam, ao mesmo tempo em que possam mobilizar outros de diferentes naturezas e oriundas de diferentes experiências, em diferentes tempos e espaços curriculares”. Assim, as práticas pedagógicas são conteúdos trabalhados didaticamente em sala de aula e transpostos para o contexto social, através da implementação de projetos, fazendo deste momento, uma oportunidade de resignificação e extensão acadêmica visando atender a problemas de responsabilidade social.

Dessa forma, as Atividades Complementares, complementam e enriquecem a formação acadêmica do aluno universitário, visando incentivar o desenvolvimento de sua autonomia no gerenciamento de seu próprio processo de formação e enriquecimento pessoal e cultural. Além disso, contribuem para construção de um diferencial de qualidade do currículo profissional do futuro educador.

Assim sendo, a ESMAC, dentro de sua proposta curricular, vem estimulando não apenas o conhecimento cognitivo, mas também a ampliação do universo sócio-cultural a partir de uma visão crítico-reflexivo de mundo, permitindo que esse homem ao realizar a leitura de seu contexto, descubra suas raízes e se perceba enquanto homem local capaz de construir sua identidade como cidadão global.

                Nesse contexto, enquadram-se atividades que favorecerão a ampliação do universo cultural dos alunos através da pluralidade de espaços sócio-educacionais, da implantação de grupos formados por profissionais de áreas e disciplinas diferentes e da possibilidade de execução de projetos integrados voltados para o social.

Sendo assim, a profissão educador, enquanto agente de transformação no processo de mudanças e responsabilidade social, é fundamental para formação de gerações futuras capazes de contribuir com as mudanças e atuar no mundo, num diálogo franco e aberto com ele.

REFERÊNCIAS

A bibliografia aqui incluída é de carácter genérico. Cada docente divulgará a lista de bibliografia complementar que  utilizará na organização do seu tema

AMORIM, M. O Detetive e o pesquisador. Documenta. Eicos/Cátedra Unesco de Desenvolvimento Durável/UFJF. v. 6, n.8, p.127-141, 1997

ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus,1995. 

BIZ, Osvaldo. Participação política: limites e avanços. Porto Alegre: Evangrad, 1992.

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília : 1996.  

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994

CURRIE, Karen L. Meio ambiente: interdisciplinaridade na prática. Campinas/SP: Papirus, 1998.

FERACINE, Luiz. O professor como agente de mudança social. São Paulo: E.P.U., 1990

FONSECA, C. Quando cada caso não é um caso: pesquisa etnográfica e educação. Revista Brasileira de Educação, n. 10, p. 58-78, 1999

________. O Processo metodológico de pesquisa: uma instância de aprendizagem. 2001a. [Relatório de pesquisa para o CNPq

GADOTTI, Moacir. Escola cidadã. 3ª Ed., São Paulo: Cortez, 1995.

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998

LÉVY, P. As Tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993

MOISÉS, Lúcia Maria. O desafio de saber ensinar. 4ª Ed. Campinas/SP: Papirus, 1999.

MORAIS, Regis de (Org.). Sala de aula: que espaço é esse? 3ª Ed., Cam pinas/SP: Papirus, 1998.

 OLIVEIRA, M. K. Três questões sobre desenvolvimento conceitual. In: OLIVEIRA, M. B.; OLIVEIRA, M. K. (orgs.). Investigações cognitivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. p. 55-64

RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 1995.