"O exercício pode preservar algo de nossa força até a velhice".
(Cícero).

"Portanto levantai as mãos cansadas, e os joelhos vacilantes, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que é manco não se desvie, antes seja curado".
(Hebreus 12:12-13).

"A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo".
(Joseph Addison).

"A felicidade está na actividade".
(Leonardo da Vinci).

"Se toda a população fosse mais activa, e não estamos a falar de todos serem desportistas mas de pelo menos todos andarem 30 minutos por dia, os portugueses eram mais felizes, tinham melhor saúde, melhor qualidade de vida e mais prazer e o país poupava muitos milhões de contos em hospitalizações, comparticipações de medicamentos e outras despesas de saúde, etc., relacionados com as doenças devidas ao sedentarismo, recursos esses que poderiam ser canalizados para outras necessidades. Poupava-se também muito sofrimento, muita invalidez e muitas mortes".
(Dr. Themudo Barata).

Introdução:

Inúmeros autores dedicam-se há muito tempo ao estudo da Prática das Actividades Físicas, suas peculiaridades, seus fins, objectivos, métodos, técnicas e procedimentos, pensando nas diferentes etapas do desenvolvimento humano. Entretanto, as investigações específicas sobre a sua importância no processo de envelhecimento são bem mais recentes.

Concebendo o Envelhecimento como um processo holístico e inevitável do ser humano, também chamado de terceira e quarta idade ou velhice, abordamos a questão da importância da prática da Actividade Física, para promover um envelhecimento fisiológico e não o envelhecimento patológico.

Ressaltamos a importância da Actividade Física para os Idosos, enquanto prevenção primária (para a manutenção da saúde e evitar o surgimento de patologias) e também como prevenção secundária (para evitar o agravamento das doenças já existentes, minimizar suas consequências e auxiliar no seu tratamento).

Abordamos as modalidades consideradas mais apropriadas às pessoas idosas, com suas principais características.

Chamamos à atenção para aspectos recomendáveis e não aconselháveis aos idosos que praticam actividades físicas com certa regularidade.

Logo, acreditamos que um maior conhecimento acerca da prática de actividades físicas pelos idosos, suas características e peculiaridades, seus benefícios à saúde, sua adequação a esta faixa etária e algumas recomendações e restrições pode promover um envelhecimento mais saudável.

Definição dos Termos:

Alguns autores fazem questão de diferenciar actividades físicas de exercícios físicos. Entretanto, no nosso entender, esta distinção não será fundamental para desenvolvermos a temática em questão. Logo, citamos a seguir uma definição de Actividade Física e outra de Exercício Físico, mas sem a referida preocupação.

Actividade Física

Segundo Barata (2006), "pode-se considerar como actividade física tudo aquilo que implique movimento, força ou manutenção da postura corporal contra a gravidade e se traduza num consumo de energia".

Exercício Físico

Horta (2006) defende "o exercício físico regular não significa apenas actividade desportiva, de lazer, ou competitiva, mas também outras actividades diárias, como por exemplo, relacionadas com certas áreas de trabalho manual (jardinagem, "bricolage", actividades profissionais mais activas, etc.), subir e descer escadas não utilizando o elevador, marcha na rua (indo a pé para o emprego) descer na paragem do autocarro anterior á habitual. A prática de exercício físico regular é aconselhada pela comunidade científica a fim de preservar o bem-estar físico, psíquico e social das populações, com particular ênfase nos países mais industrializados".

Cinesiterapia ou Cinesioterapia

Alguns estudiosos da actividade humana têm se dedicado ao estudo dos movimentos ou da cura pelo movimento, principalmente para aliviar as dores reumáticas, como nos chama à atenção Queiroz (2004) "a cinesioterapia, isto é, a terapêutica pelo movimento, que designaremos por exercícios ou plano de exercícios, é uma das armas básicas em reumatologia"

Envelhecimento

Maia (1997) afirma que "o envelhecimento é um processo. Um conceito dinâmico, Que expressa marcha. Progresso. Sucessão. Evolução. Desenvolvimento de fases normais. Ou patológicas dos dinamismos biológicos. Envelhecer é um processo. Ser velho é um estado. Envelhecer é uma coisa. Ser velho é outra coisa", arremata o psiquiatra brasileiro.

Acreditamos que podemos definir o envelhecimento como um processo dinâmico vivido pelo ser humano no decorrer de sua existência caracterizado por um conjunto de modificações biopsicossociais, tendo peculiaridades subjectivas, dependendo da realidade global de cada pessoa. Cada ser humano envelhece de maneira distinta, segundo sua herança genética, sua educação, cultura, valores e ambiente físico-social.

Saúde

Acreditamos que uma das melhores definições de saúde, pelo seu carácter globalizante e holístico, seja a utilizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde):

"A saúde é um estado de total bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença e enfermidade".

Sedentarismo

Desde 1992, o sedentarismo, com base em critérios de causalidade, recebeu o status de factor de risco primário (causal; variável independente) da morbi-mortalidade populacional por diversas doenças cardíacas e outras doenças crónicas não-transmissíveis, status semelhante aos outros três grandes factores de risco primários: tabagismo, hipertensão arterial e hipercolesterolemia. Fala-se que de cada cinco portugueses, apenas um possui um estilo não-sedentário.

Qualidade de Vida

Segundo o Grupo de Qualidade de Vida, da divisão de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde qualidade de vida é "a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações" (WHOQOL GROUP, 1994). Ou seja, uma visão multifacetada de cada um, dentro do contexto em que vive.

Benefícios da Prática de Actividades Físicas nas Pessoas Idosas:

1.   Bem-estar físico e mental e melhor qualidade de vida:

Todos sabemos que os benefícios ou vantagens da prática da actividade física pelos idosos são inúmeros. E não se restringem ao âmbito físico e orgânico, mas repercutem também no bem-estar mental e emocional, proporcionando uma melhor qualidade de vida. O famoso Cooper (1982), há mais de duas décadas, já afirmava "exercício aeróbio: a chave para conseguir equilíbrio físico e mental"

As doenças neurodegenerativas também podem muitas vezes ser evitadas graças aos exercícios físicos, como nos escreve Póvoa (2001) "beneficiando o corpo com exercícios, na verdade, estamos beneficiando também o cérebro, melhorando a sua oxigenação e prevenindo as doenças neurodegenerativas"

2.      Benefícios ao sistema cardiorespiratório:

Inúmeras investigações científicas em todo mundo têm comprovado os benefícios em prol da saúde e da qualidade de vida dos seres humanos idosos, e não só, que praticam regularmente actividades físicas. Os chamados exercícios aeróbios (caminhar, correr, nadar e pedalar) produzem os seguintes efeitos:

Optimizam o sistema cardiorespiratório, contribuindo para a redução do LDL e simultaneamente aumentando o HDL.

Reduz-se o risco de crises de taquicardia ou arritmia, pelo consequente aumento do volume de sangue bombeado pelo coração.

Graças ao aumento do tónus muscular, há um fortalecimento dos vasos sanguíneos, evitando ou reduzindo o surgimento de complicações vasculares, tais como tromboses, varizes, flebites, etc.

3.       Benefícios ao Sistema Imunitário e Prevenção de Cancro:

Salgado (2006), no sítio da web "Vya Estelar", destaca os benefícios das actividades físicas em relação às defesas do organismo e a incidência do cancro, mencionando que "algumas pesquisas mais recentes apontam também que ser fisicamente activo ajuda a evitar tumores no cólon, nas mamas e na próstata. A explicação, segundo os pesquisadores, é que quando o corpo está em movimento as funções do organismo são mais agilizadas e a nossa "máquina" trabalha com mais força e rapidez. Isso faz com que sobre pouco espaço e tempo para que as substâncias que favorecem o câncer entrem nas células e se multipliquem. Um estudo, por exemplo, mostrou que homens praticando exercícios vigorosos diariamente apresentaram uma redução de 50% no risco de câncer de intestino. A causa provável para isso é que o exercício físico estimula a função intestinal, fazendo com que haja eliminação de toxinas cancerígenas, impedindo com isso que entrem em contacto com a parede intestinal".

A seguir, apresentamos um quadro com outros benefícios da prática da actividade física pelos idosos:

Aspectos
Sistemas

Benefícios e/ou Vantagens Decorrentes
Da Prática da Actividade Física Regular

Aspectos Mentais,
Psico-sociais e na
Qualidade de Vida

Melhoria do humor e sensação de bem-estar.

Oxigenação cerebral e melhoria das capacidades cognitivas.

Menor possibilidade de depressão.

Optimização da qualidade de vida.

Aumento da auto-estima e autoconfiança.

Promoção da socialização.

Alívio do stress.

Retardo do envelhecimento, favorecendo a autonomia e independência.

Favorecimento do sono.

Sistema
Imunitário

Melhoria da capacidade imunitária.

Diminuição da incidência de cancro (mama, cólon etc).

Aspectos  do
Metabolismo

Diminuição do risco de doenças metabólicas.

Auxílio no controlo do peso.

Prevenção da diabetes do tipo Mellitus.

Sistema
Locomotor

Prevenção e/ou alívio de dores nas costas.

Prevenção da osteoporose.

Correcção postural.

Fortalecimento muscular e ósseo.

Melhoria da coordenação motora e equilíbrio.

Sistema
Cardiovascular

Melhoria do desempenho cardiovascular.

Aumento da oxigenação dos tecidos.

Auxílio do controlo da tensão arterial.

Prevenção de doenças coronarianas.

Além da prática das actividades físicas, é importante ainda destacar que há diversas técnicas e procedimentos com a finalidade de despertar as pessoas para a estimulação do cérebro. A chamada NEURÓBICA (KATZ & RUBIN (2000) tem defendido um cérebro activo como um cérebro saudável, através da utilização dos cinco sentidos de maneiras inesperadas. Por exemplo, escovar os dentes com a mão diferente da que utiliza habitualmente. Tomar banho com os olhos fechados. Não precisamos acrescentar novas actividades ao nosso quotidiano, mas sim realizar de maneira diferente a nossa rotina diária.

O simples facto de alterarmos um percurso que fazemos de casa ao trabalho ou realizarmos uma determinada acção de uma outra maneira, já nos ajuda a tornar nosso cérebro mais dinâmico. Quando alteramos alguns procedimentos rotineiros, estamos fazendo trabalhar partes menos desenvolvidas do nosso cérebro, e que, se não as usarmos, tornar-se-ão atrofiadas, acabando por morrerem.

Modalidades de Acitividades Físicas Mais Recomendadas aos Idosos:

São muitas as modalidades de actividades físicas que podem ser praticadas pelos idosos. Entretanto, algumas são mais convenientes nesta faixa etária. Segundo J. Gomes Ermida (2000), as mais indicadas aos idosos são: a marcha, a natação, a ginástica, o golfe e a dança. A seguir, tentaremos abordar cada uma delas:

  • Marcha (andar, caminhar, com calçados e roupas confortáveis, bem protegidos da exposição solar excessiva).
  • Natação ou Hidroginástica (de acordo com as possibilidades, aptidões e interesses do idoso. Lembrando que muitas vezes o cloro das piscinas podem não fazer bem aos idosos).
  • Ginástica (uma excelente sugestão trata-se do alongamento, pois ajuda a desenvolver ou manter a flexibilidade, além de relaxar. De preferência, deverá ser realizado na parte da manhã, para despertar o idoso para as demais actividades do dia. Há inúmeros tipos de ginásticas úteis ao bem-estar físico e mental dos idosos).
  • Golfe (a prática deste desporto escocês pode favorecer os movimentos de pernas e mais ainda dos braços dos idosos, além de favorecer o contacto com a natureza e o caminhar por áreas verdes).
  • Dança (uma óptima actividade física e terapêutica para os idosos que se sentem solitários, e não só, pois alia o movimento à música. Explora a expressão corporal e a coordenação motora).

Dicas Para a Prática do Exercício:

  • Manter sempre uma boa postura.
  • Fazer alongamentos para todos os músculos.
  • Ter um período adequado de aquecimento.
  • Gradualmente aumentar o nível dos exercícios (sobrecarga).
  • Ter cuidado com a excessiva fadiga muscular.

Cuidados e Restrições em Actividades Físicas para Idosos:

Alguns cuidados e restrições devem ser considerados para que o idoso possa praticar suas actividades físicas. Eis os principais:

Necessidade da Consulta Médica Prévia:

Não basta sabermos as actividades físicas mais apropriadas aos idosos. Outrossim, é indispensável que o idoso passe por uma consulta médica antes do seu início em quaisquer actividades físicas. Como assinala Póvoa (2001) "os exercícios são muito úteis para a oxigenação do corpo, mas antes de começar é fundamental fazer uma consulta médica para avaliar as funções cardíacas e o estado geral e ainda receber orientação sobre o tipo de exercício mais apropriado".  J. Gomes Ermida (2000) também enfatiza esta necessária ida ao médico, quando em seu artigo Envelhecimento e Exercício Físico, assevera "o início ou reinício da prática do exercício físico, pelo idoso, deve ser sempre precedido de exame clínico completo". Logo, nunca um idoso deverá dar início ou recomeçar a prática de uma actividade física, seja qual for, sem escutar o parecer clínico do seu médico. Aliás, a rigor em todas as faixas etárias, e não só por parte dos idosos, este procedimento deveria ser seguido, para evitarem problemas futuramente.

Duração e Frequência das Actividades Físicas:

Qualquer actividade física deve ser pensada, organizada e praticada em função de vários factores. Sendo um destes factores a faixa etária, torna-se indispensável que as actividades físicas destinadas aos idosos tenham uma especificidade quanto à sua duração e frequência. A duração de cada sessão, segundo a maioria dos autores, deve variar de 30 a 60 minutos, incluindo o período de aquecimento ou preparo. Sua realização deve ter uma frequência mínima de três vezes por semana.

Plano Nutricional e Hídrico para os Idosos:

A alimentação e o exercício físico são considerados os factores mais importantes para uma vida salutar do idoso. Saldanha (2001) afirma em seu livro de Nutrição Clínica, no capítulo Nutrição e Envelhecimento, "o conceito de que o estado nutricional dos indivíduos idosos é o factor chave do envelhecimento saudável tem vindo a ser provado por numerosos estudos". Quando se pratica uma actividade física, é fundamental que haja um grande cuidado com a nutrição equilibrada, balanceada e adequada, assim como com a hidratação do idoso. Recomenda-se a ingestão de água antes e depois da prática da actividade física. Bom atentar para o facto que o idoso normalmente sente menos sede que as pessoas de outras idades, o que o leva muitas vezes a ingerir menos água. Na alimentação, além das necessidades nutricionais diárias, é necessário um acréscimo proteico e mineral, em função da actividade física realizada.

Não se deve dar Carácter Competitivo às Actividades Físicas do Idoso:

Se na infância, adolescência e idade adulta, a competição pode surtir um efeito positivo, na terceira e quarta idade não acontece da mesma forma. O mais importante ao idoso é a participação e o convívio com os outros participantes, e não a competição. Aliás, a preocupação em competir e/ou superar outros participantes poderá levar o idoso a uma actividade excessiva e prejudicial ao seu organismo e, por conseguinte, comprometer a sua saúde. J. Gomes Ermida (2000) justifica bem porque se deve retirar o carácter competitivo às actividades físicas do idoso: "O amor-próprio, a ignorância das capacidades reais ou a minimização dos défices existentes, podem levar o idoso a exceder a sua reserva funcional comprometendo todo o benefício que pode retirar de uma prática física regular e adequada às suas capacidades".

O Idoso não Deve Sofrer Por Causa da Actividade Física:

Em hipótese alguma, o idoso deverá sentir dores ou desconfortos pela actividade física ou exercícios. Queiroz (2004) ressalta que "os exercícios não podem ser fonte de dor ou de fadiga, devendo ser interrompidos temporariamente aquando de qualquer uma destas eventualidades, para serem recomeçados, de novo, no dia ou nos dias seguintes". Os limites e características individuais dos idosos devem ser cuidadosamente considerados.

Conclusão:

Concluímos que a prática das actividades físicas regulares favorecem em muito um envelhecimento saudável e equilibrado. As vantagens de uma vida activa por parte dos idosos são inúmeras e não se restringem aos aspectos físicos e/ou orgânicos, mas abrangem ainda o bem-estar psicossocial.

Várias são as patologias e doenças que são evitadas e/ou minimizadas através da prática de actividades físicas pelos idosos, de entre elas podemos destacar: a aterosclerose, a hipertensão, a osteoporose, os cancros, os males cardiovasculares (enfarto, derrame), etc.

As actividades físicas regulares devem ser precedidas por uma consulta médica, para que sejam avaliadas as condições de saúde daqueles que irão praticá-las.

Além dos chamados exercícios aeróbios, a dança, o golfe, a jardinagem e outros hobbies podem e devem ser encorajados, pois optimizam a qualidade de vida dos idosos. Há ainda uma modalidade de actividade sugerida especificamente para a estimulação cerebral do idoso: a "neuróbica" ou ginástica cerebral.

O ser idoso, sendo uma pessoa experiente e vivida, possuindo uma bagagem a ser considerada, precisa ser valorizado e respeitado durante a prática de actividades físicas. A ênfase das actividades deve ser dada ao seu bem-estar bio-psico-social, ao aumento da sua auto-estima e nunca à competição com outros idosos.  Todas as orientações dadas aos idosos devem ser que todos seres humanos estão sempre a aprender, em diálogo, trocas dinâmicas e em constante interacção. 

Bibliografia:

BARACCO, Lino (1988) ? Invecchiare è bello. Guida al pianeta anziani. Bréscia (Itália): Edritice Morcelliana. 

PINTO, Anabela Mota, Coord. (2002) ? Saúde e Exercício Físico. Coimbra: Quarteto Editora.

PÓVOA, Helion (2001) ? A chave da longevidade: novos tratamentos para a prevenção de doenças, técnicas para retardar o envelhecimento, a revolução da medicina ortomolecular. Rio de Janeiro (Brasil): Objectiva. 

SALDANHA, Helena (2001) ? Nutrição Clínica Moderna na Saúde e na Doença. Lisboa: Lidel.

SCORTEGAGNA, Renzo (2005) ? Invecchiare. 2ª Ed. Bologna (Itália): il Mulino.