1 DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE DO GÊNERO

1.1 Definição ? O artigo científico é um pequeno estudo, porém completo, sobre uma questão científica (LAKATOS e MARCONI, 2001, p. 259). Sua extensão vai de cinco a dez páginas, segundo informa Santos (2004). Alguns periódicos, entretanto, comportam artigos de 20 a 25 páginas, a exemplo das revistas Ciência e Trópico e Cadernos de Estudos Sociais. Trata-se de um gênero textual, muito disseminado no meio acadêmico, que prima por divulgação de estudos e resultados de pesquisas de uma forma concisa, clara e, sobretudo, fidedigna, entretanto, pode difundir ideias originais de um ou mais autores, sem necessariamente fazer parte de um projeto maior, ou simplesmente resumir informações já publicadas. Deve estar devidamente dentro dos critérios do editor ou evento ao qual se destine. Para se produzir um artigo científico, faz-se necessário de início uma ideia original, para sondagem de opiniões ou mesmo atualizações de informes, em seguida, respaldo teórico para desenvolver essa ideia e conhecimento das normas técnicas para desenvolvimento do tema proposto.

1.2 Funcionalidade ? O artigo científico se destina à análise e à reflexão de um dado assunto, em um dado período de tempo, funcionando, sobretudo, como um meio de comunicação e de intercâmbio de ideias da comunidade científica de uma área específica de atuação. Sua função precípua é transmitir observações comprovadas que levem à reflexão do leitor, servindo de referência a outras pesquisas, uma vez que através da descrição metodológica empregada, do processamento utilizado e dos resultados obtidos, permitem a esse leitor repetir a experiência (Op. cit, 2001).

2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

O artigo científico apresenta a mesma estrutura orgânica exigida em estudos maiores, a exemplo de monografias e dissertações de mestrado. Os elementos que estruturam um artigo científico são: elementos pré-textuais, elementos textuais, os de apoio ao texto e os elementos pós-textuais. É necessário pontuar que, diferentemente desses estudos maiores, no artigo científico não há a possibilidade subdivisões em capítulos.

2.1 Elementos pré-textuais ? São os elementos que antecedem o texto propriamente dito, com informações que ajudam na identificação do trabalho. Primeiro tem-se o cabeçalho, que se compõe de: título, nominação dos autores e suas credenciais, local de atividades e, em alguns casos, nota de agradecimento. Em seguida, tem-se o resumo, seguido de sua tradução para uma língua estrangeira, em comum acordo com o editor.

2.1.1 Título ? O título deve ser claro, objetivo e estar digitado em caixa alta, ou seja, com todas as letras maiúsculas, e estar centralizado. Se houver subtítulo pode ser em caixa alta ou baixa, a critério do autor. Faz-se necessário que o título corresponda, de maneira adequada, ao conteúdo.

2.1.2 Nominação ? Refere-se ao(s) nome(s) do autor(es), que deve ser seguido das credenciais.

2.1.3 Credenciais ? As credenciais são informações que qualificam o(s) autor(es) em sua área de conhecimento. Podem aparecer abaixo do nome do autor ou marcado com um asterisco para serem especificadas em nota de rodapé, a critério do editor. Após dois espaços de 1,5cm, o nome do(s) autor(es). É necessário se apontar para a localização em que o(s) autor(es) atuam.

2.1.4 Agradecimentos ? As notas de agradecimentos aparecem na primeira página do artigo e são direcionadas normalmente a pessoas ou instituições que, de alguma forma, deram o apoio de que necessitava o autor para a produção do artigo. Vale ressaltar que somente são necessárias, se a contribuição foi relevante para o desenvolvimento do trabalho.

2.1.5 Resumo ? O resumo deve ser apresentado de forma concisa, contudo contemplando os aspectos de maior relevância do artigo, a saber, tema, perspectiva teórico-metodológica, objetivo. Ao final do resumo, apõem-se as palavras-chave do artigo, termos representativos do assunto abordado, para facilitar sua difusão em bibliografias internacionais (SANTOS, 2003). O resumo se constitui um elemento pré-textual de grande relevância, posto ser exigido inicialmente com os dados do autor, quando da inscrição em congressos e seminários. Após o exame cuidadoso do resumo é que a equipe organizadora do evento envia a carta de aceite do artigo para apresentação e possível publicação. Normalmente é exigido em outra língua, o que chamamos em inglês de Abstract, em espanhol de Resumne, em francês de Résumé. Quanto à estrutura do resumo, deve ser redigido em um único parágrafo, sem espaçamento entre as linhas, sem recuo de parágrafo, sem citações bibliográficas, a depender da exigência do editor, ou do evento onde deva ser apresentado, varia de 100 a 250 palavras.

2.2 Elementos Textuais ? Os elementos que compõem o texto do artigo científico são os mesmos de qualquer redação: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução o autor anuncia o que irá discutir; no desenvolvimento, apresenta aos leitores os aspectos essenciais dessa perspectiva e na conclusão reserva-se ao direito de fazer suas considerações finais sobre o resultado da pesquisa.

2.2.1 Introdução ? Essa primeira parte do artigo apresenta a sua abordagem temática e deve estar intrinsecamente relacionada com as obras consultadas. Depois de apresentar o tema, deve cercar o problema que suscitou o interesse da pesquisa, para então apresentar o objetivo da pesquisa. A introdução de um artigo é uma abordagem de todo o trabalho em que o autor avisa o quê vai abordar e justifica a finalidade de sua abordagem ao leitor, podendo também informar o público a que se destina o assunto de sua pesquisa. Geralmente a introdução termina informando da sua estruturação, do plano do trabalho (BOGDAN e BIKLEN, 1992, p. 249).

2.2.2 O Desenvolvimento ? O desenvolvimento do artigo é a sua parte mais extensa, pois nessa parte o autor vai expor as suas ideias e fundamentá-las, para isso se pautará em uma literatura e em uma teoria se for o caso. Segundo afirma Bogdan e Biklen (1994, 257), é o "esqueleto do manuscrito e advém diretamente do foco". O investigador deixa claro o ponto de vista, a análise, a explicação e a interpretação daquilo que os dados revelam, documentando-os com exemplos extraídos dos dados. Na maioria das vezes, o corpo de um artigo científico é subdividido em seções: Aporte teórico, Metodologia, Análise dos resultados e, depois do desenvolvimento, a Conclusão.

2.2.2.1 Aporte teórico ? Parte, em que o pesquisador apresenta seus fundamentos teóricos, apoiado numa literatura que embasará suas hipóteses e interpretações. Existe um conjunto de conceitos ou proposições inteiramente relacionados que orientam o pensamento e a investigação. Todas as informações devem estar relacionadas ao foco, com fundamentação que convença o leitor daquilo que se defende. Essa parte requer pesquisa profunda para que sejam coletadas informações realmente válidas para argumentar a temática. Os autores se orientam por uma determinada perspectiva, seja positivista, seja fenomenológica. A positivista é baseada no teórico social Augusto Comte, que enfatiza os fatos e as causas do comportamento. A fenomenológica leva o investigador a buscar compreender os acontecimentos a partir do olhar de pessoas comuns em situações particulares. Os autores que se pautam pela perspectiva fenomenológica "fazem uma compreensão interpretativa das interações humanas." (Op cit).

2.2.2.2 Metodologia ? A metodologia pode ser qualitativa ou quantitativa. A primeira é uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais. Nessa parte do desenvolvimento do artigo, o autor, à luz de uma determinada teoria ou de pressupostos metodológicos de outros pesquisadores, vai descrever os passos de sua pesquisa, apresentando os métodos que utilizou, os instrumentos de pesquisa para a coleta de dados se for o caso (entrevista, questionários, filmagem).

2.2.2.3 Análise dos resultados ? Não importa se quantitativa ou qualitativa, a pesquisa tem resultados que precisam ser apresentados. No caso de um estudo teórico, houve um levantamento de experimentos de outros que embasaram o foco de pesquisa e cabe, na análise, a discussão e interpretação desses resultados a que o autor chegou.

2.2.3 Conclusão ? A conclusão aponta unicamente para os resultados obtidos na pesquisa ou no estudo que se fez. Ratificando o objetivo do trabalho, o autor apresenta de maneira breve os resultados e como chegou a eles. Não deve teorizar mais nada nas considerações finais, nem fazer citações e apresentar quadros ou notas de rodapé, pois todas as informações novas necessárias a elevar o grau de informatividade do texto, presume-se, já foram ditas no corpo do artigo, nessa parte final, basta tão-somente os resultados da pesquisa. Alguns acrescentam às suas considerações finais uma proposta de investigação subsequente. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 257), os que agem dessa forma, sugerindo uma investigação posterior mais profunda ao seu trabalho de pesquisa, é porque já não têm energia suficiente para chegar ao fim da jornada, isto é, para completar com coerência um bom artigo).

2.3 Elementos de apoio ao texto ? Para apoiar o texto temos as citações e as notas de rodapé. Servem para dar suporte ao texto com informação extraída de outra fonte, a título de esclarecimento, ilustração ou mesmo sustentar o assunto abordado. As citações devem contribuir para uma maior compreensão do texto. Pode ser de dois tipos: direta ou indireta. A citação direta é aquela que reproduz na íntegra as palavras do texto-fonte e se contiver mais de três linhas deve recuada, seguida do ano e da página de onde foi extraído; a citação indireta é aquela transcrita com as palavras do autor do artigo com base nas ideias de outros autores. Se o autor referenciado estiver fora do parêntese, seu nome deve ser de digitado em caixa baixa, se dentro do parêntese, seguido do ano e da página, deve ser digitado em caixa alta: ex1: Segundo Carvalho (2007, p. 27), o ditongo pode ser falso ou verdadeiro; ex2: O ditongo pode ser falso ou verdadeiro (CARVALHO, 2007, p. 27). As notas de rodapé são indicações bibliográficas ou observações ou ainda informações que se queira acrescentar ao texto.

2.4 Elementos pós-textuais ? Os elementos que podemos considerar pós-textuais são as referências, apêndices e os anexos.

2.4.1 As referências ? Há duas maneiras de referenciar: o sistema autor-data ou o numérico, o primeiro, segue a ordem alfabética, o segundo não. IMPORTANTE: Se o autor preferir fazer as referências no rodapé, NÃO poderá dividir o espaço com notas explicativas (ABNT NBR 6023 2002).

2.4.2 Os apêndices são textos elaborados pelo próprio autor, com a finalidade de complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade central do artigo, entretanto deve ser colocado somente mediante sua relevância;

2.4.3 Os anexos são textos ou documentos NÃO elaborados pelo autor que servem de base, comprovação ou mesmo, ilustração dos assuntos abordados no artigo. Os anexos podem ser recortes de jornais, revistas, alguma imagem ou texto da internet que seja relevante para enriquecer ou corroborar as informações do artigo.

3 ESPECIFICAÇÃO DE FORMATAÇÃO

3.1 Da edição do texto ? É exigido a utilização da fonte Times New Roman ou Arial (a depender da exigência da Editora). O tamanho é 12 (título, palavras-chave, redação do texto e nas referências) e 10 (resumo, nome do(s) autor(es), citações longas, ou seja, com mais de três linhas); o texto deve estar justificado.

3.1 Do formato das páginas ? O papel no formato A4 (21cm X 29,7cm); as margens normalmente exigidas são: superior (3cm), inferior (2cm), esquerda (3cm) e direita (2cm).

3.3 Do espacejamento ? 1,5 (entre linhas e parágrafos).

3.4 Da estrutura do parágrafo ? Devidamente justificados, os parágrafos devem ser demarcados com uma tabulação específica.

3.5 Da citação ? As citações devem ser destacadas, preferencialmente em itálico; se, porém, houver mais de três linhas de citação, deve ser recuada, em recuo bem maior que o parágrafo (4cm), ao final, deve-se apor o sobrenome do autor com todas as letras em maiúsculas, seguido do ano da publicação da obra citada e do número da página. Importa, sobretudo, atentar para a ABNT (NBR 10520 2002)


4 MODELO DE ARTIGO

ESTUDO VARIÁVEL DO DITONGO EM SALA DE AULA:
UMA SUGESTÃO PEDAGÓGICA

Solange Carlos de CARVALHO
Mestre em Linguística pela UFPE



RESUMO


Este estudo sugere o ensino dos ditongos decrescentes orais (ai, ei, ou), a partir de uma perspectiva variacionista, seguindo a orientação sociovariacionista de Labov (1972), por ser considerada pertinente para delimitação de uma amostra representativa, válida para o estabelecimento de generalizações. Como se trata da inserção do estudo variável do ditongo no ensino da Língua portuguesa, sugerimos aos professores o despertar para a realidade da variação da língua, que a partir do estudo de fenômenos variáveis como este, provoque discussões em suas salas de aula, em torno do combate ao preconceito linguístico, mediante o conhecimento das diversidades linguísticas. Entre as variáveis sociais trabalhadas, apontamos a escolaridade, por entendemos que o grau de escolaridade influencia a aplicação da regra variável. Os resultados alcançados na pesquisa (CARVALHO, 2007) constatam que o apagamento dos ditongos decrescentes orais evidencia uma mudança, uma vez que as semivogais, quando em contextos específicos foram apagadas. Este estudo nos levou à necessidade de relevar a questão do ensino de variação e mudança na escola, para tanto sugerimos algumas práticas que podem servir de estratégias em termos de subsidiar o professor na introdução do estudo variável do ditongo em sala de aula.

PALAVRAS-CHAVE: Ditongo decrescente. Variação linguística. Mudança linguística, Sociolinguística. Semivogal. Preconceito linguístico


1 Introdução

Este artigo trata do estudo variável dos ditongos decrescentes orais (ai, ei, ou) em sala de aula, como sugestão metodológica aos professores a ser aplicado em suas salas de aula.
A educação no Brasil alimenta o preconceito linguístico quando apresenta uma escola que impõe o ensino da gramática normativa, em que o aluno se vê quase que obrigado a memorizar uma gama de regras, cuja dificuldade fulcral é a distância do uso natural da fala. O falante acredita que a sua "deficiência" está relacionada a sua capacidade cognitiva, achando-se inapto ao aprendizado da língua nativa. Alguns passam a se policiar para não se descuidarem da chamada norma padrão e tornam-se seguidores fiéis dos gramáticos, disseminando assim o preconceito linguístico.
Além do mais, a possível má formação dos professores não contribui para a dissipação de mitos e preconceitos que criam uma ideologia conservadora que instaura nos falantes certa aversão à linguística, até entre os reconhecidamente cultos (BAGNO, 2005, p.78). Certo estava Gilberto Freyre quando transcreveu nos muros Fundação Joaquim Nabuco, as palavras de João Cabral de Mello Neto: "Ninguém escreveu em português no brasileiro de sua língua".
Dessa forma, cabe ao professor, em sua prática pedagógica, esclarecer o aluno quanto à distinção entre o Português do Brasil e o Português falado em Portugal. O objetivo precípuo do trabalho é levar o professor a instigar os alunos na busca da compreensão da Língua Portuguesa falada no Brasil, a partir do conhecimento da variação e mudança linguística. Acreditamos que a aceitação dessa diversidade, sem preconceito, venha a favorecer o processo ensino-aprendizagem. Este breve estudo se justifica pela pertinência temática em relação à realidade educacional no Brasil, prestando-se ao interesse de professores de Português, linguistas, estudantes e qualquer pessoa que se interesse em conhecer mais profundamente a Língua Portuguesa e suas variações.

2 Aporte teórico

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1977), é preciso acabar com o mito propagado pela escola, de que a escrita é o "espelho da fala", sugerindo, por conseguinte, o aluno escreve mal porque fala "errado", incorrendo assim, numa prática de "mutilação cultural" que vem a desmerecer a variedade de fala (o modo de falar) do aluno e além de mostrar o desconhecimento que a escola tem de que a escrita de uma língua é, por natureza, diferente da fala. Entendemos assim, que certos professores, por estarem a serviço da escola, colocam em segundo ou terceiro plano a formação linguística do aluno, o que somente seria possível com o apoio da Sociolinguística, posto que não podemos dissociar a língua do contexto social, sobretudo, a fala. O professor, cujo grau de compromisso com o aluno se encontra para além de seu compromisso com a escola, sente-se responsável pelo bom funcionamento do processo ensino-aprendizagem, buscando caminhos alternativos de interação com o aluno em sala de aula, orientando-o a construir saberes e, sobretudo, respeitando sua individualidade, seu grau de competência linguística e comunicativa. Além disso, cabe ao professor por um fim à morosidade desse processo, evidenciada em práticas pedagógicas que não contemplam a língua em uso, a partir da inserção de estudos variáveis em sala de aula, como ora sugerido neste artigo, cujo objeto de estudo são os ditongos decrescentes orais, que estão gradualmente desaparecendo na fala do brasileiro.
Um modelo teórico que não leve em consideração a variação e, por conseguinte, a heterogeneidade, é incapaz de dar conta do problema da mudança. Os linguísticas nunca foram inconscientes dos problemas da variação. A prática normal consiste em deixá-la de lado, mas não é porque a consideram sem importância, e sim, porque pensam que as técnicas da linguística não são adequadas para estudá-las (LABOV, 1972, p. 70). É preciso, portanto, perceber a variação linguística como inerente ao próprio sistema linguístico, "característica essencial das línguas" e não "um acidente. (MONTEIRO, 2002, p.57). O modelo teórico laboviano nos permitiu compreender que a variação linguística apresenta padrões de regularidade. A realidade variável a ser refletida nesse estudo é a aplicação da regra variável do apagamento do ditongo, cujos falantes tanto os da norma desprestigiada (aquele falante com baixo grau de escolaridade), como o falante da norma culta (considerado com elevado grau de escolaridade), aplicam a regra variável, ou seja, apagam o ditongo levando-o a um monotongo.
Os ditongos decrescentes depois da constatação da aplicação da regra variável de apagamento dos ditongos pelos falantes em várias regiões do Brasil, e tomando como base a pesquisa realizada no Recife, pela autora referida na metodologia, seguimos com a análise da variável escolaridade, que, como mostra a tabela a seguir, os falantes da norma culta não estão isentos de aplicarem a regra de apagamento, apesar de o fazê-lo menor quantidade. O ditongo pode ser estudado sob várias perspectivas de autores diversos, aqui estudaremos sob a perspectiva de Bisol (1991, 1994, 1996). O ditongo é uma sequência de segmentos vocálicos no interior de uma sílaba, em que um dos segmentos é compreendido como uma vogal propriamente dita (a que constitui o pico da sílaba) e o outro é interpretado como glide ou semivogal, ou seja, vogal sem proeminência acentual no ditongo (SILVA, 2002, p. 94). Os ditongos são uma peça fundamental para compreendermos questões fonológicas da língua portuguesa. Nossa abordagem compreende os ditongos que são condicionados ao apagamento (ai, ei, ou), em sala de aula como sugestão de incluir estudos variáveis nas práticas de ensino dos professores. É certo que o estudo desse objeto deve ser considerado como em passos preliminares a procura de caminhos ainda pouco explorados, entretanto, a partir da compreensão de estudos variáveis como este, os professores terão em seu poder uma ferramenta segura contra o preconceito linguístico a serviço de assegurar o entendimento de aspectos gramaticais da língua pelos alunos.

3 Metodologia

Dada a confirmação do apagamento dos ditongos decrescentes orais, atestados na fala, pela pesquisa empírica realizada no Recife (CARVALHO, 2007), processada à luz da Teoria da Variação (LABOV, 1972), que norteia o tema sugerido neste artigo, utilizamos como critério para a seleção dos dados, os aspectos referentes ao grau de variação do ditongo na fala, conforme a escolaridade dos informantes apresentados em tabela (Cf. seção 4.1).
Para o levantamento de sugestões de práticas de ensino do ditongo como fenômeno variável, nos pautamos nas perspectivas teóricas de Labov (1972), Bortoni-Ricardo (2005) e Bagno (2007).
Fizemos uma lista de sugestões para auxiliar os professores na prática pedagógica que leve em consideração o estudo variável do ditongo, ou seja, que apresentam os ditongos decrescentes orais como suscetíveis ao apagamento. Para o levantamento das sugestões incluímos como suporte para a sua aplicabilidade como os recursos audiovisuais necessários, gravadores, fitas-cassetes, vídeos, projetores, entre outros, os quais devem ser utilizados pelo professor, em suas demonstrações e pelos alunos, na coleta de dados e na sala de aula.

5 Sugestões ao ensino do ditongo

Os professores, sobretudo os de nível fundamental e médio, desconhecem a importância da variação linguística como ferramenta necessária ao ensino da Língua Portuguesa, talvez por isso não introduzam em sua didática, estudos de fenômenos variáveis, como o aqui proposto. Optar por fazê-lo implica incluir na metodologia, estratégias que comportem tais fenômenos (tão naturais na língua em uso).
O apagamento dos ditongos decrescentes é uma realidade vivenciada em várias regiões do País, apresentamos a título de exemplo palavra do uso comum que são pronunciadas sem a semivogal (i, u) em situação natural de fala: baixa, caixa, faixa, baile, beijo, peixe, feixe, eira, beira, ouro, ouvir, ouvinte, ouço, outro, outubro, outono (CARVALHO, 2007).
Como sugestão teórico-metodológica à prática de ensino, levantamos alguns itens que podem servir de estratégias em termos de subsidiar o professor na introdução do estudo variável do ditongo em sala de aula.

1- O professor deve conceituar o ditongo segundo prescreve a gramática, inclusive diferenciando o ditongo crescente do decrescente, sempre com exemplos ilustrativos e solicitando, em seguida, que os alunos observem uns aos outros. Os alunos devem criar histórias que comportem os exemplos citados pelo professor;
2- Trazer para sala de aula gravações de recortes de fala espontânea que apresentem palavras com ditongos. O orientador deve pedir para que os alunos identifiquem tais palavras. Depois que estiverem distinguindo bem os ditongos crescentes e os decrescentes, levá-los a perceber que os ditongos decrescentes passam a monotongos, ou seja, a semivogal é apagada na fala;
3- O professor deve solicitar aos alunos gravações de entrevistas, realizada por eles mesmos, com duração de 30min a 40min a fim de que possam escutar suas falas e identificar a pronúncia realizada ou apagada dos ditongos.
4- Os alunos devem trazer as gravações com as falas em que eles verificaram apagamento de ditongos para ser objeto de discussão em sala de aula;
5- Depois de ensinar as técnicas de transcrição aos alunos, solicitar que realizem transcrições das falas gravadas; depois de observar as falas e as transcrições, possivelmente surgirá a observação de que alguns ditongos apagam e outros não;
6- O professor deve levar os alunos ao conhecimento dos verdadeiros e falsos ditongos, a partir da perspectiva de Leda Bisol (2005), mostrando na lousa duas colunas em que estão listadas palavras com os dois tipos de ditongos, então poderão entender porque beijo pode ser pronunciado bejo, mas leite nunca é pronunciado lete. Explicar então que os falsos ditongos são suscetíveis à aplicação da regra variável do apagamento, os verdadeiros ditongos não;
7- Depois de uma aula de fonética, mediante a qual os alunos poderão conhecer os articuladores ativos e passivos, pontos e modos de articulação (bom que as explicações sejam feitas com recursos visuais), sugerir que os contextos fonológicos vão favorecer ou não o apagamento dos ditongos decrescentes orais.

6 Conclusão

Conceber a língua como um lugar de interação humana, ou seja, que prioriza a comunicação pela produção de efeitos de sentidos entre os interactantes, e, considerando também o contexto social, implica trabalhar com a língua em uso e, consequentemente, com uma gramática reflexiva e produtiva que se encarregará de fornecer o material para leitura e produção de textos pelos alunos.
O problema da escola (professores a serviço da escola) é querer avaliar os usos linguísticos pela valoração social. É preciso deixar claro que não pretendemos a adoção brusca (pelo professor) da nova perspectiva de conceber os fenômenos variáveis, mesmo porque acreditamos na necessidade de capacitação desses orientadores na área de variação e mudança de língua. Sabemos, pois, que não se troca uma prática pedagógica sem que se tenha outra para colocar no lugar (MARTINS, 2006, p. 107)
Por isso, acreditamos que os procedimentos teórico-metodológicos que nortearam este brevíssimo estudo são essenciais para o redirecionamento da prática de ensino de professores de língua portuguesa, inquietando-os a repensar suas estratégias de ação no sentido de incluir aquelas que contemplam estudos variáveis como o caso do apagamento dos ditongos decrescentes na fala.
Provavelmente, as sugestões levantadas foram capazes de demonstrar como é possível ao professor aproximar variação linguística e prática pedagógica em sua sala de aula, sobretudo nos níveis de ensino fundamental e médio. Com isso deixamos nossa contribuição em termos de incentivar a busca de alternativas para o tratamento de aspectos gramaticais da língua portuguesa pela escola.




REFERÊNCIAS

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso. Por uma pedagogia da variação lingüística. São Paulo, Parábola Editorial, 2007.

__________Língua Materna. Letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

BISOL, L. O Ditongo na perspectiva da fonologia atual. D.E.L.T.A, São Paulo, v. 5, n. 2, p.185-224, 1989.

BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolingüística & educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
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CALLOU, D.; LEITE, Y. As vogais pretônicas do falar carioca. Estudos Lingüísticos Literários. Salvador: UFBA, v. 5, 1986.

CARVALHO, S. C. de. O apagamento dos ditongos decrescentes orais em falares do Recife. Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, 2007.

LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University Pennsylvania Press, 1972.
_______. The intersection of sex and social class in course of linguistic change: language variation and change: Cambridge: University press, 1990.

_______. Principles of linguistic social factors. Social factors. Oxford: Blackwell Publishing, 2001.


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REFERÊNCIAS

ABNT NBR 6023: 2002 ? Informação e documentação ? Referências - Elaboração
BOGDAN, Robert C. & BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994.
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed, São Paulo: Atlas, 2001.
SANTOS, Antônio Raimundo dos Santos. Metodologia Científica ? A contribuição do conhecimento. 6ªed., São Paulo: Editora D.P&A, 2004.
SANTOS, Dely Bezerra de Miranda. Normalização de Trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Rural, 2003.