ISEED – FAVED

OCTAVIANO AUGUSTO ALVAREZ CARDOSO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS ARTES MARCIAIS COMO FILOSOFIA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CACHOEIRAS DE MACACU - RJ

2016

 

ISEED – FAVED

OCTAVIANO AUGUSTO ALVAREZ CARDOSO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS ARTES MARCIAIS COMO FILOSOFIA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

 

 

 

 

 

 

 

Artigo Científico Apresentado à ISEED - FAVED, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura Plena em Educação Física.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CACHOEIRAS DE MACACU - RJ

2016

 

 

AS ARTES MARCIAIS COMO FILOSOFIA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

 

Octaviano Augusto Alvarez Cardoso

 

RESUMO

 

 

A preocupação básica deste estudo é refletir sobre o incentivo do ensino de Artes Marciais e defesa pessoal dentro do aspecto da Filosofia Oriental como coadjuvantes e mediadoras já que estudam o comportamento em função do meio, colaborando na formação de caráter, educadoras da mente dos jovens, futuros cidadãos com sua base teórico-metodológica além de prática franqueando o comportamento ético- filosófico, favorecendo explicações, análises, compreensões e relações de interdependência de diferentes culturas, devido à complexidade do ato de filosofar. Este artigo tem como objetivo analisar o destaque da defesa pessoal e seu aspecto positivo na vida dos alunos mostrando que os resultados dos estudos não são de interesse apenas de profissionais de Educação Física e professores de Artes Marciais, mas também de psicólogos, sociólogos e filósofos, devido à sua interdisciplinaridade. .Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, considerando as contribuições de autores como KOHAN, W.O. (2002), MENDES, D.T. (1999), MEKSENAS (200), CHAUÍ (2004), LARAIA (1993), RYAN, A. (1977), GALLIANO, A. G. (1981), FERNANDES, F. (1998), SOUZA (2009), WATSON, BRIAN (2011), VIRGILIO, STANLEI (1992), ROZA, ANTÔNIO FRANCISCO C. (1999), entre outros, procurando enfatizar a importância do ensino de artes marciais nas escolas cumprindo a meta social de estimular relacionamentos interpessoais, contemplando a cordialidade das artes orientais no cotidiano do indivíduo, trazendo à tona uma boa relação entre preceptores e discentes. Concluiu-se a relevância da defesa pessoal e sua eficácia no fortalecimento físico e desportivo, assim como, grande alívio de tensões psíquicas, e facilitador de vínculos sociais, não apenas dentro da escola, mas também fora de seus muros, na intimidade familiar e no exercício cotidiano da cidadania.

Palavras-chave: Artes marciais; Filosofia; interdisciplinaridade; interpessoais; cidadania.

Introdução

O presente trabalho tem como tema os benefícios físicos, psicológicos e sociológicos das Artes Marciais nas Escolas criando vínculos relacionais humanos nos dojos, propiciando a melhora do temperamento da criança, adolescente e adulto. Favorece o processo ensino-aprendizagem entre o professor e o aluno e criando senso de responsabilidade, moral, ética, dignificando a cultura e disciplina oriental, que com seus ensinamentos teóricos, traz na prática diária o senso de cidadania. A Filosofia Oriental aliada à prática diária de exercícios e treinamentos de defesa pessoal nas Escolas vem favorecer o processo ensino-aprendizagem entre o docente e o discente criando o senso de responsabilidade, moral, ética, dignificando a cultura da resposta acadêmica, integrada às experiências naturais de cada ser humano, na busca incessante não apenas da compreensão das mazelas, mas de um antídoto que evite a desnecessária autodestruição social.

Nesta perspectiva, construíram-se questões que nortearam este trabalho:

  • Pode o treinamento regular de arte marcial favorecer o fortalecimento físico, psicológico moldando o caráter e boa conduta do educando através da disciplina dos tatames, e filosofia oriental, tornando-o um cidadão consciente e bem relacionado na sociedade?
  • Qual deve ser a colaboração do professor frente aos alunos como exemplo de interação e fortalecimento dos laços sociais em um esporte extremamente competitivo e de intenso contato físico?
  • Há possibilidade através dos estudos teóricos de filosofia oriental, de um futuro de respeito às desigualdades e divergências em que o diálogo e o senso de humanidade estejam acima de interesses políticos escusos? Podemos motivar os jovens através do esporte a serem cidadãos comprometidos com o combate à falta de caráter?

Quando se fala em processo de interação competitivo, pressupõem-se os estímulos trocados entre os alunos iniciantes e os experientes, como o sparing versus carrasco, mas em academias sérias, o esporte é considerado e tratado na doutrina filosófica das artes marciais. O respeito à integridade física, o pronto auxílio em caso de acidente, o uso de técnicas orientais de relaxamento, massagem e movimentos respiratórios. O aprender a cair no chão sem sofrer lesões, o estudo do tempo e espaço e da inércia na prática, na esquiva, usando a força do oponente contra ele mesmo com movimentos circulares. A doutrina da moral e da boa conduta que se ensina em grande maioria dos dojos do país e do Mundo. (WATSON 2011) Com o tempo, o praticante e fica tão à vontade com os outros alunos, que passa a fazer parte de um círculo fraternal, que vem a suprir aquela necessidade de extravasar com brutalidade, soltar a válvula de escape. De uma forma intimista, cercada de técnicas, macetes contados ao “pé do ouvido”, na verdade, todos que participam efetivamente de um treino são alunos-professores. Sempre tem muito para ensinar e muito mais a aprender. A relação física tão intrínseca torna o sujeito mais inteirado. Não sabemos como foi o dia do aluno que ali chegou pra treinar. (WATSON 2011) Uma criança pode ter tido um dia ruim no colégio, sofrido bullying, tirado nota baixa, discutido com o amigo, sido advertido pelos pais, e um adulto pode ter tido um dia péssimo no trabalho, ou tido um embate com sua namorada ou esposa, preocupado com as prestações da escola dos filhos, etc. Deficientes físicos também treinam Artes Marciais. Indivíduos portadores de deficiências visuais, físicas e até mentais treinam defesa pessoal e melhoram muito a atuação no seu nicho social. (ROZA 2009) Em pesquisas de campo nas Academias de Judô do Rio de Janeiro, podemos afirmar os alunos sempre saem bem melhores e renovados do que entraram. Treinam até o esgotamento e provável relaxamento, aprendendo na prática a anteceder o problema e esquivar-se dele. O sujeito fica confiante e mais bem entrosado na sociedade. Daí a importância de investigar as relações entre alunos novatos e antigos no decorrer do processo ensino-aprendizagem no ambiente de escolas, academias e clubes, e o papel do professor diante de possíveis destemperos na ocorrência desse treino, além de seu papel garantidor da manutenção do ambiente sóbrio e solene comum nos dojos brasileiros e mundiais.

Todos os estudantes têm direito a conhecer o patrimônio do pensamento acumulado pelos principais pensadores que se conhece, e saber também como cada corrente questionou as anteriores. Aristóteles e Platão terão sempre que ser estudados, mas foram questionados por Descartes (1595-1650), que foi questionado por Kant (1724-1804). As questões são muito mais importantes.  (OLGARIA 2010). Devemos estimular o aluno a pensar e tirar suas próprias conclusões moldando assim sua personalidade.

A importância de investigar as relações entre alunos no decorrer do processo ensino-aprendizagem no ambiente escolar, e o papel imparcial e ao mesmo tempo instigador do professor diante de possíveis divergências e pré-conceitos, é essencial e um diferencial para garantir seu papel mantenedor da sensatez e respeito às diferenças de cada indivíduo na sala-de-aula e quiçá, posteriormente no seio familiar e em sociedade.

Temos o conceito de interação social como a ação recíproca entre duas ou mais pessoas, na condição de impulsos trocados entre si, com a influência da instalação física e moral, sobre as capacidades corporais e intelectuais do indivíduo e sua ação sobre o entorno, permitindo a disposição e a expansão do ser humano. (TASSONI 2010)

Por meio de técnicas de autodefesa, o aluno aprimora o equilíbrio corporal, aprende a utilizar-se da disciplina e do respeito nas ações e reações, desenvolve a segurança e autoconfiança. Aprende, ainda, a lidar com suas limitações e a controlar suas emoções. Além de ser uma atividade de relaxamento e de prazer, o judô é uma prática esportiva que desenvolve no aluno a concentração e a possibilidade de analisar e conviver com situações de sucesso e fracasso. . (VILLAMON & BROUSSE 2002 Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 2, julho/dezembro 2010, p 119.)

Neste contexto, o objetivo primordial deste estudo é, pois, investigar como as artes marciais trazem benefícios físicos e psicológicos aos praticantes, além de estimular a coordenação motora, as relações interpessoais e afetivas, já que envolve o atleta em um círculo de aprendizado condicionador e hierárquico, em que os mais novos e (ou) menos experientes no tatame, são incentivados à repetição até chegarem à perfeição do golpe. Tudo isso em uma atmosfera de respeito e disciplina oriental. Também observar como as artes marciais, aliadas à Filosofia, adaptada aos dias atuais podem trazer benefícios aos alunos, tornando-os engajados aos movimentos, criando seres pensantes, indivíduos sociais, adequados às causas político-sociais, além de estimular a tolerância, as relações interpessoais e afetivas, já que envolve os educandos em uma atmosfera ilimitada, com raciocínio aberto ao diálogo, sem a intransigência que os tolhidos do conhecimento adquirem.

Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise minuciosa de materiais já espargidos na literatura e artigos científicos difundidos na internet.

O texto final foi fundamentado nas ideias e concepções de autores como: Tegner (1967), Roza (1999), Virgílio (1992), Freitas (2005), Villamon & Brousse (2002), Tassoni (2010) GAMA (1986), Watson (2011), Souza (2009), Filho Savian (2009), Chauí (2004), Laraia (1993), Tomazi (2000).

Desenvolvimento

 

A educação física é de importância inigualável no cotidiano do ser humano saudável. Fator prevalecente no processo de formação física e mental de qualquer sociedade, e a escola ou academia, por sua vez, enquanto instituições educativas executam um papel primordial no progresso de qualquer indivíduo e oferecem expectativas para a extensão da cidadania, sendo palco de diversas relações. (WATSON 2011) A reunião com outras pessoas é uma característica humana, pois, desde que nasce o indivíduo se relaciona com outros congêneres, formando vínculos sentimentais e gregários, inspirados por valores culturais de seu âmbito.

O termo interação é bastante antigo. Utilizado nas mais variadas ciências designando as relações e influências mútuas entre duas ou mais pessoas. TASSONI (2010) Cabe ao professor de defesa pessoal transferir aos atletas aprofundamentos consistentes, relativos ao esporte em questão. O estudo da Educação Física aliado à filosofia e sociologia é de importância inigualável no cotidiano de qualquer ser fisicamente e mentalmente saudável, pois como ser social, o indivíduo experimenta diariamente a necessidade natural de entrosamento. Sua capacidade de participação, competição, liderança, tolerância, autoconfiança estão à prova a cada instante de sua vida. A reunião com outras pessoas é uma característica humana, pois, desde que nasce o indivíduo se relaciona com outros congêneres, formando vínculos sentimentais e gregários, inspirados por valores culturais de seu âmbito. LARAIA (1993)

Cabe ao professor transferir aos educandos, aprofundamentos consistentes relativos à ética, moral e costumes de cada sociedade em questão, para melhor ilustrar a intenção da importância dos conhecimentos filosóficos como base para o avanço no caminho da conduta correta, de acordo com os valores sociais de cada tipo de sociedade.

Sendo assim, notamos a importância das disciplinas de sociologia, filosofia, psicologia e educação física, devidamente conjugadas e interdisciplinares para a formação do caráter das crianças e dos jovens para a compreensão e respeito às formas e entendimentos culturais de cada sociedade.  

O ser humano precisa conviver em sociedade e é ser político bastante consistente na exposição das suas habilidades. Pode-se observar que uma das características da espécie humana é a capacidade de romper com as suas limitações. Nas palavras de LARAIA (2004), o homem é:

[...] um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. Laraia (2004, p. 24).

Um bom exemplo de habilidade aliada à concentração que a filosofia oriental favorece ao homem no campo físico, além da conduta moral e ética e que continua sendo exemplo de vida aos seus seguidores e alunos até os dias atuais: Mestre Jigoro Kano, homem comum, humilde, de família não tradicional, nascido em 1860 no distrito de Hyogo foi morar em Kyoto com onze anos de idade, a fim de aprender inglês. Tornou-se professor e tradutor da língua. Faleceu em quatro de maio de 1938, aos setenta e sete anos, ao retornar da Assembleia Geral do Comitê Internacional dos jogos Olímpicos. Foi considerado o precursor do Judô. Devido à sua dedicação ao esporte, galgou os degraus da escala Imperial Japonesa, tendo em homenagem póstuma, ascendido ao segundo grau da realeza. TEGNER (1967)

O mestre media apenas 1, 55 de altura, média de 55 kg, mas compensava seu pequeno porte com tenacidade, vigor físico, inteligência atípica e grande força de vontade. Aos dezessete anos iniciou Jiu-Jitsu na Escola Coração de Salgueiro com o Mestre Fukuda, posteriormente os mestres Iso e Likugo. Buscou conhecimento em várias escolas trocando informações com diversos atletas. O estudo prático levou ao teórico, o que fez com que criasse o conjunto de técnicas, regras e princípios que constituem o Judô olímpico que conhecemos hoje. Formou-se em 1882, pela Universidade Imperial de Tóquio em filosofia, Economia e Ciência Política e fundou sua escola, o KODOKAN. É considerado o “pai da Educação Física no Japão”. TEGNER (1967)

Stanlei Virgílio, assim conceitua o idealismo do Professor de Judô nas atitudes suas e de seus educandos na Academia:

[...] é bastante comum encontrarmos instalações pobres e improvisadas, sem conforto, mas com pessoas interessadas e disciplinadas. O professor idealista, mesmo em meio à simplicidade e escassez de recursos, leva a sério os ensinamentos do mestre Jigoro Kano, cultivando e mantendo presente o espírito do Judô. Deve ser louvada essa luta pelo verdadeiro esporte. É preciso lembrar que Jigoro Kano começou sua Escola com um dojo de apenas vinte metros quadrados. Virgílio (1994, p. 65),

No ano de 1879, Jigoro Kano iniciava um estudo meticuloso de artes marciais, no interesse do aprimoramento para montar seu próprio dojô. De acordo com Stanlei Virgílio, ele percebia e não gostava da rotina das escolas de Jiu-Jitsu, preocupadas em manter segredos, e desvalorizar outros mestres. Buscou então expandir-se em busca da perfeição técnica e conduta moral ilibada. As técnicas também eram pobres, sem princípios pedagógicos científicos, e colocavam os instruídos em perigo de morte, devido à rivalidade das escolas na época. Uma tentava destruir a outra a qualquer custo sem ética, desprezando e desrespeitando a todos. O Jiu-Jitsu estava fadado à decadência. Pensando nisso, o mestre Kano colocou a disciplina e a retidão moral como base de sustentação do Judô. Também o Quimono (judogui) nasceu da mente inventiva de Kano! Havia uma necessidade de uma roupa forte, que suportasse arremessos sem rasgar. A partir da confecção dessa roupa, o mestre teve a possibilidade de preparar golpes que enriqueceram a cultura de uma nação - Técnicas poderosas como o Kata-Guruma, Tai-Otoshi, Harai-Goshi, Tsuri-Komi-Goshi entre outras puderam ser aperfeiçoadas a partir do uniforme perfeito, que aguentasse os “trancos, pegadas, puxadas e solavancos” do treino. FREITAS (2005)

Bruce Tegner, assim conceitua o Judô:

[...] Literalmente o Judô significa “o modo suave”. Talvez se tornasse de mais fácil compreensão interpretá-lo como “o meio mais fácil”, baseado na definição do próprio Dr. Kano, de que o modo mais eficiente de se fazer qualquer coisa é o modo suave. Com isso sugeria a ideia básica do “Caminho da Vida”.  Tegner (1967, p. 17),

Com todas as vicissitudes desde o século XVI até a atualidade, apesar de toda a discriminação, pois as escolas de artes marciais eram consideradas redutos de marginais, percebemos o idealismo do mestre, que lecionava no Colégio Gakushuin, e mantinha sua escola de inglês, o Kobukan. Para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi (templo Budista) passava noite adentro fazendo traduções. Um grande exemplo de perseverança e solidariedade aos mais humildes. Criou normas que faziam seus alunos empenharem sua palavra: Se fosse admitido no Kodokan não ensinaria nem divulgaria os conhecimentos, salvo com a autorização de seus mestres; não faria demonstrações públicas com o fim de lucro; sua conduta nunca poderia desacreditar ou comprometer o Kodokan; que não abusaria nem faria uso indevido dos conhecimentos adquiridos no Judô. Nasceu a filosofia do Judô.

Diante destes pressupostos, necessário se faz, que o profissional de Educação física, professor de Artes Marciais, como elemento facilitador das relações na escola e academia, esteja sempre atento às interações existentes entre os alunos modernos e antigos, criando situações que levem a cordialidade e civilidade. ROZA (1999). O professor deve facilitar o entrosamento e boa formação dos alunos, de modo que tenha a oportunidade de respaldar seu fazer educativo, buscando a boa interação entre seus alunos, para cumprir o papel essencial do educador: Orientar e formar cidadãos. RYAN (1977)

Conclusão

Diante do exposto, concluiu-se que a interação existente entre os profissionais de Educação Física, praticantes de defesa pessoal e os seus alunos, é um dos integrantes mais importantes para o sucesso do ensino como formador de cidadania. Sem que haja uma coexistência positiva entre os diversos indivíduos no âmbito educacional, não há aprendizagem de qualidade.

O professor de Artes Marciais enquanto sujeito formador e gestor dos procedimentos de aprendizagem dentro da escola, é responsável por tratar que na rotina da instituição, haja mais do que apenas manifestações de interação, haja um local saudável, em que os participantes da Arte Suave se sintam seguros, caucados na técnica, sempre analisados pelo profissional que estimula o companheirismo, criando a condição do aluno mais experiente ajudar a ensinar os golpes ao menos graduados, intensificando a responsabilidade de um com o outro, estimulando os laços mais importantes que constroem a atmosfera fraternal, com um instruendo se preocupando com o outro, repassando detalhes, manhas do esporte, convivendo em plena cumplicidade, esquecendo os problemas, se concentrando na filosofia do esporte. A filosofia oriental e fatos históricos devem ser repassados a todos os alunos para completa difusão da moral e conduta ilibada. O exemplo de vida do mestre Kano, potencializando a importância da disciplina necessária a qualquer arte marcial, moldando o caráter e dando ciência da realidade para quem vai aprender golpes capazes de aleijar ou até tirar a vida de alguém. Que seja usada a técnica apenas em defesa de sí ou da vida de outrem. A consequência desta doutrina é que o indivíduo detentor de graduação inclusive passa a se policiar, pois seu corpo após adquirir a técnica necessária passa a ser uma arma letal, e por perceber a fragilidade dos que ignoram o conhecimento marcial, passa a ver os outros indivíduos de uma forma menos agressiva, mais respeitosa e humilde.  Dessa forma constatou-se que o profissional de Educação Física, professor de qualquer luta marcial, em sua função de dirigente deve elucidar os conflitos e tensões no dojo, exortando a solidariedade, urbanidade e educação com aqueles considerados mais fracos, exercitando a bondade e paciência com os deficientes físicos e idosos no tatame, no intuito de cumprir a meta estabelecida pela filosofia oriental.

Nesse intervalo, cabe ao profissional de defesa pessoal, formalizar a missão que a ele foi dada desde o início de sua formação, ainda na faixa branca. A de zelar para o bom convívio entre os aprendizes, lúcido das dificuldades que pode encontrar devido à sua interposição entre possíveis conflitos consequentes do estado emocional diário de cada pessoa. A visão clínica de um profissional da área reconhece a mudança nas características, no olhar, no humor do atleta que ele treina e conhece. Aluno alterado é perfeito para gastar energia. Em casos de alterações reconhecidas pelo docente, este deve imediatamente parar o combate, no interesse de esfriar ânimos. Exercícios para os hiperativos e agressivos e massificação do ensino filosófico exemplar que nos deixaram os diversos mestres de artes marciais são boas formas de quebrar o mal estar com inteligência digna de um professor envolvido com a causa da formação de cidadania. Estes são valores sociológicos importantes, que vem a estabelecer o clima de igualdade e respeito entre atletas, de forma a otimizar os relacionamentos não apenas no âmbito do dojo, mas em toda a esfera social.

 

REFERÊNCIAS

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FREITAS, Armando. O que é Judô? Porto Alegre: Casa da Palavra, 2005.

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TRUSZ, Rodrigo Augusto & DELL’AGLIO, Debora Dalbosco. A prática do Judô e o desenvolvimento moral das crianças. Disponível em:

 http://www.abrapesp.org.br/revista/v3n2/RBPE_12_117-135.pdf Acesso em 11de março de 2015.

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