Arte e literatura: uma possibilidade pedagógica

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Publicação:

Resumo

Levando em consideração a grande dificuldade dos alunos do Ensino Médio de uma escola pública do município de Novo Gama, em Goiás em compreender e analisar obras literárias, o referido projeto teve como propósito usar a Arte como instrumento facilitador do processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Literatura. Para isto, foi proposta uma metodologia baseada, inicialmente, nas idéias de Vygotsky (1976), que estudava o desenvolvimento cognitivoem crianças. Assim, por meio de um estudo de caso e da pesquisa-ação, o estudo voltou-se para o público adolescente, uma vez que, notada a ausência de um contato primário destes alunos com as várias linguagens artísticas, percebeu-se grande possibilidade de alcançar resultados positivos no que tange à intermediação e, posteriormente, facilitação, da interpretação da literatura, suprindo assim a carência de compreensão e oferecendo uma oportunidade de mudança de ambiente social destes indivíduos.    

 

Palavras-Chave: Desenvolvimento cognitivo – percepção- cultura – arte – mudança.

 

 

  1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu a partir de um estudo de caso associado a uma pesquisa ação. A pesquisa-ação pode ser conceituada, segundo Tripp (2005), como uma das muitas diferentes formas de investigação-ação, a qual é por ele sucintamente definida como toda tentativa contínua, sistemática e respaldada pela intenção do pesquisador em lançar novos olhares para o objeto a ser investigado. Nesse sentido, a pesquisa foi empiricamente fundamentada a partir da observação em sala de aula e das reflexões acerca da grande dificuldade de interpretação de obras literárias nas aulas de Literatura em uma escola de Ensino Médio do município de Novo Gama-Go.  Foi possível perceber que o tradicionalismo metodológico, a falta de preparação docente e a falta de vivência cultural do discente relacionada ao contexto artístico interferem diretamente nos altos índices de analfabetismo informal e na baixa capacidade de interpretação e compreensão de textos voltados para essa área.

Assim,  afirma-se que, apesar do objetivo de tentar melhorar as condições do ensino nas aulas de literatura e língua portuguesa, os meios políticos ideais - que são as propostas nas quais exigem clareza, objetividade e planejamento - são deixados de lado em função de abrir espaço para a burocracia, que vai de encontro a tudo que foi citado anteriormente.

Pode-se dizer, então, que não existe homem sem cultura, nem cultura sem arte. Para compreender este pensamento, de que a arte é indispensável ao ser, foi observada a realidade dos estudantes inseridos nesta comunidade, pois, em virtude de suas realidades sociais, ficam excluídos do acesso às artes e isso influencia em diversas outras atividades, como por exemplo, na interpretação, criação, estruturação do pensamento e principalmente execução da leitura, que é a ferramenta fundamental para executar as atividades anteriores.

A falta de sensibilidade que atinge o estudante no processo cultural causa uma normalidade preconceituosa. Isto acontece porque não houve conhecimento prévio a respeito do contato com o universo artístico.  A partir disso, o indivíduo busca então resposta para a seguinte pergunta: “De que forma isso vai interferir na minha vida?” Sabe-se que este questionamento surge porque não existe uma preparação familiar eficaz, ou seja, os pais não podem oferecer algo que nunca lhes foi antes oferecido (Souza 2010). Por isso, existe uma rejeição inicial do aluno no primeiro contato com a arte. 

Torna-se necessário entender que a compreensão artística tem a mesma significância, senão maior, do que as aulas convencionais de literatura, as quais associadas à arte transformam-se em uma práxis. Oferecer aulas mais dinâmicas e divertidas aos alunos, porém com uma riqueza extraordinária de conhecimento aplicado e útil, pode ser uma grande estratégia de aprendizagem para uma significativa melhora no interesse do aluno em estudar.

Vale a ressalva de que quando se fala em arte, não se fala somente em períodos ou estilos já consagrados, representados por artista como Da Vinci, Van Gogh e Michelangelo, entre outros, mas, também, em artista da arte contemporânea, como Mario Cravo, Marcelo Grassmann, Maria Bonomi e muito outros. Nesse sentido, podemos, sim, estabelecer diálogos entre as produções artísticas de vários períodos. Para isto, é relevante que o docente já conheça e tenha acesso a uma linguagem que seja de fácil compreensão ao discente, porque já que não existe um incentivo financeiro específico na instituição escolar pública destinado à arte, será utilizado como ferramenta tudo o que pode ser aproveitado e o que houver de fácil acesso na própria comunidade escolar.  Para Ana Mae Barbosa: 

As relações estéticas entre  a palavra e a imagem visual permeiam toda a história da arte e da literatura. Trata-se de uma relação intrínseca à natureza comunicativa da linguagem. (BARBOSA, 1998, p. 143). 

O objetivo principal é desenvolver o cognitivo do aluno a partir da sensibilidade artística, que é o primeiro contato do discente com o novo. Este, além de despertar, facilita e instiga o aluno a ter uma percepção crítica e reflexiva sobre a sua realidade, proporciona a tomada de decisões individuais e reflexivas que são capazes de mudar o seu futuro. Em contrapartida, para desenvolver esse senso crítico, o aluno tende a perceber que é necessária uma leitura interpretativa para fazer um comparativo sobre o que ele lê e o que ele percebe. 

  1. OBJETIVO

Oferecer aos alunos subsídios os quais os tornem capazes de encontrar na Arte e suas mais diversas formas de apresentação, a matéria prima para compreensão e interpretação da Literatura, facilitando, dessa forma, todo o processo de aprendizagem no que diz respeito à execução de atividades pedagógicas oferecidas dentro do ambiente escolar. 

  1. metodologia

Para alcançar resultados satisfatórios, foi utilizada a função simbólica (Vygotsky). Ela refere-se à relação estabelecida entre sujeito e realidade que o cerca. Para tanto, antes da execução da pesquisa, foi realizado um estudo de caso, partindo de observações e coleta de dados por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas.  Assim, foi possível analisar a situação inicial em que se encontravam os alunos. Após a análise dos dados obtidos, foram iniciados os trabalhos específicos, dos quais fez parte a exposição dos participantes em atividades ligadas ao mundo artístico (pinturas, músicas, imagens, produções textuais, leitura de textos literários, peças teatrais, etc.).

A última etapa metodológica foi a constatação (ou não) do desenvolvimento das habilidades múltiplas dos alunos, principalmente, na capacidade de ler, compreender e interpretar textos literários, pois, segundo Efland (1999), as escolas têm a missão de desenvolver as múltiplas formas de literatura, ou seja, o desenvolver as capacidades dos alunos por meio da arte, das ciências, da matemática e outras formas das quais o significado é construído. 

  1. DESENVOLVIMENTO

Mikhail Bakhtin, importante estudioso russo acerca das especificidades da lingüística, transcendeu seus apontamentos para os vários níveis do entendimento a partir do repertório dos sujeitos. Nessa interlocução, aquilo que é dito, visto ou lido passa a adquirir sentidos outros que ultrapassa o simples significado.

Assim sendo, pode-se afirmar que quanto maior for o acesso, o contato, a experiência e a vivência dos alunos em meios culturais diversificados, maior será a capacidade do aluno de construir sentidos a respeito daquilo que lê ou vê.  Ao atrelar arte e literatura, cria-se a possibilidade dialógica, criando relações subjetivas entre o verbal e o não verbal, o escrito e o falado, a imagem e o texto.

Essa necessária interdependência, em Bakhtin, equivale ao Dialogismo e para uma compreensão mínima do termo, precisamos ampliar nossos olhares para os modos como Bakhtin inter-relaciona recepção e compreensão: para ele, o movimento o dialógico da enunciação é o território comum do locutor e do interlocutor.

Logo  linguagem, em sua alternância de objetividade e subjetividade, articulando formas complexas de sentidos comunicacionais. Um e outro, os sujeitos estão numa rede de respondibilidade — possibilidade de entendimento e devolução do que foi apreendido.

Em Bakhtin, os enunciados são constituídos a partir da co-dependência entre os sujeitos. A relação sujeito/outro/mundo é norteadora em Estética da criação verbal, obraem que Bakhtin transcende o dialogismo para outros campos além da linguística e o eleva, ao associá-lo às artes visuais, à música ou à dança, por exemplo. Nesse contexto, Bakhtin se refere, o tempo todo, ao sujeito sensível, criador e capaz de provocar e ser provocado pela obra de arte. Para ele:

 

O homem, concebido em sua integridade, é o produto de uma ótica estética criadora, e apenas dela; a cognição é indiferente aos valores e não nos oferece o homem concreto e singular; o sujeito ético, por princípio, não é único (o imperativo propriamente ético é vivido na categoria do eu), o homem em sua integridade, pressupõe um sujeito esteticamente ativo, situado fora dele. (BAKHTIN, 1997, p. 98) 

O termo dialogismo adquire maior visibilidade e sustentação ao se entrelaçar com outro termo originário do universo bakhtiniano: polifonia, pois sendo o dialogismo entendido como um fenômeno percebido no discurso, entende-se que um discurso se encontra com o discurso de outro sujeito, evidenciando interações das vozes que permeiam o com o contexto desses sujeitos. Assim, a interação das vozes, incorpora outros gêneros, estilos, reverberando, então a inter-relação dialógica da polifonia.

Emprestado da linguística, o termo polifonia deriva da análise do território romanesco que inclui a permanente mobilidade das personagens.   É considerado por Mikhail Bakhtin a inter-relação das possibilidades comunicacionais e interpretativas oriundos dos espaços do diálogo.  A transposição de um romance para o cinema — ou o teatro —; a interpretação de uma música instrumental ou a releitura de uma pintura, por exemplo, alternam dialogismo e polifonia.

Paulo Bezerra, um dos grandes estudiosos de Mikhail Bakhtin no Brasil, infere que: 

O dialogismo e a polifonia estão vinculados à natureza ampla e multifacetada do universo romanesco, ao seu povoamento por grande número de personagens, à capacidade do romancista para recriar a riqueza dos seres e caracteres humanos traduzida na multiplicidade de vozes da vida social, cultural e ideológica representada. (BEZERRA, 2005, pp. 191-192) 

Assim, dialogismo e polifonia, ao permitirem abordagens ampliadoras para as relações dos sujeitos — dentro e fora do romance —, tornam-se veículo das inter-relações entre a identidade dos sujeitos (os alunos em questão) e a polissemia oriunda de suas produções imagéticas. E nas produções imagéticas residem poesia, entrega, afeto, devoção, esforço.

Tais ocorrências só terão sentidos se apontarmos para a duplicidade subjetiva que nelas estão impregnadas: primeiro pelos processos do sujeito-autor e depois pela complexa rede de sentidos que será urdida pelos olhadores, apreciadores, contempladores, fruidores. A subjetividade se emaranha com o múltiplo e permite que cada um desses sujeitos analise, interprete e descreva uma imagem, a partir de seu repertório. Para realização deste estudo, foi escolhida uma sala de aula cujo número de alunos era 30.

Inicialmente, foram levantadas algumas informações relevantes para a pesquisa a partir da convivência com o grupo de alunos. Tais informações, grosso modo, dialogam com aspectos sociais, econômicos ou culturais, por exemplo.  

Posteriormente, foram coletados depoimentos de professores acerca dos modos como são trabalhados os objetos a serem conhecidos a partir da experiência nas aulas ministradas por esses. Além disso, evidenciou-se aspectos em torno da metodologia usada para despertar o interesse e o prazer pela literatura e, também, sua estreita inter-relação com as várias linguagens artísticas.  

Mais à frente, como forma de ampliar as possibilidades de entendimento em torno da proposta, foram aplicadas várias aulas práticas da disciplina. Nelas, os alunos eram colocados em contato com ferramentas do tipo lápis, pincéis, fotos e desenhos de diversas obras artísticas brasileiras, músicas, poemas, danças, filmes e outras possibilidades antes de iniciarem, de fato, o estudo do movimento literário.

A partir do início das aulas práticas as quais visavam não mais somente transmitir conhecimentos, conceitos e definições de momentos da literatura brasileira, mas sim, usar a arte para despertá-la, foi possível perceber grande mudança de comportamento dos alunos; houve um despertar para as artes (em suas mais diversas manifestações) e também um considerável ganho nas notas dos alunos quando foram submetidos às avaliações.  Além desta notável melhora nos quesitos já mencionados, houve relatos dos professores acerca da concentração dos alunos daquela sala em comparação aos de outras. Dessa forma, acredita-se então, que após o término da coleta de dados, será possível afirmar que ARTE E LITERATURA SÃO UMA POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA !

 

 

  1. Resultados

Para realização deste estudo, foi escolhida uma sala de aula cujo número de alunos era 30.

Inicialmente, foram levantadas algumas informações relevantes para a pesquisa a partir da convivência com o grupo de alunos. Tais informações, grosso modo, dialogam com aspectos sociais, econômicos ou culturais, por exemplo.  

Posteriormente, foram coletados depoimentos de professores acerca dos modos como são trabalhados os objetos a serem conhecidos a partir da experiência nas aulas ministradas por esses. Além disso, evidenciou-se aspectos em torno da metodologia usada para despertar o interesse e o prazer pela literatura e, também, sua estreita inter-relação com as várias linguagens artísticas.  

Mais à frente, como forma de ampliar as possibilidades de entendimento em torno da proposta, foram aplicadas várias aulas práticas da disciplina. Nelas, os alunos eram colocados em contato com ferramentas do tipo lápis, pincéis, fotos e desenhos de diversas obras artísticas brasileiras, músicas, poemas, danças, filmes e outras possibilidades antes de iniciarem, de fato, o estudo do movimento literário.

A partir do início das aulas práticas as quais visavam não mais somente transmitir conhecimentos, conceitos e definições de momentos da literatura brasileira, mas sim, usar a arte para despertá-la, foi possível perceber grande mudança de comportamento dos alunos; houve um despertar para as artes (em suas mais diversas manifestações) e também um considerável ganho nas notas dos alunos quando foram submetidos às avaliações.  Além desta notável melhora nos quesitos já mencionados, houve relatos dos professores acerca da concentração dos alunos daquela sala em comparação aos de outras. Dessa forma, acredita-se então, que após o término da coleta de dados, será possível afirmar que ARTE E LITERATURA SÃO UMA POSSIBILIDADE PEDAGÓGICA !

  1. considerações finais

A inter-relação entre arte e literatura apresenta-se como possibilidade relevante para se trabalhar em sala de aula. Ao evidenciar como aspectos literários estão em sintonia com as várias linguagens artísticas, abrem-se portas para a interdisciplinaridade. Ao se revelar, para o aluno, como a produção literária está em sintonia com os movimentos artísticos, por exemplo, surgem possibilidades pedagógicas de se valorizar ações de intervenção didática.

No contexto da pesquisa empreendida, percebeu-se como o aluno passa a refletir com

mais intensidade acerca dos modos como arte e literatura dialogam, pois em nossa     

realidade, sentimos falta  de relações mais profundas entre imagem e texto. Estamos

cercados por imagens de variados modos. Cartazes, vitrines, outdoors, estampas de

camisetas e as inúmeras obras de arte povoam nosso universo visual e, na sala de aula ,podemos criar uma nova cultura que integre imagem e texto, arte e literatura.

Referências

 

BAKHTIN, Mikhail.. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.

BEZERRA. Paulo. Polifonia. In: BRAIT. Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Conceito, 2005.

 

 

BRASIL. Medida provisória nº. 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Estabelece uma multa em operações de importação, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,14 dez. 1997. Seção 1, p. 29514.

 

______. Superior Tribunal de Justiça. Habeas-corpus nº. 181.636-1, da 6ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Brasília, DF, 6 de dezembro de 1994. Lex: jurisprudência do STJ e Tribunais Regionais Federais, São Paulo, v. 10, n. 103, p. 236-240, mar. 1998.

 

COSTA, V. R. À margem da lei: o Programa Comunidade Solidária. Em Pauta: revista da Faculdade de Serviço Social da UERJ, Rio de Janeiro, n. 12, p. 131-148, 1998.

 

GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998.

 

PUCCI, B.; OLIVEIRA, N. R.; SGUISSARDI, V. O ensino noturno e os trabalhadores. 2. ed. São Carlos: EdUFSCar, 1995. 148 p.

 

REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE, 1939- . Trimestral.

 

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº. 42.822, de 20 de janeiro de 1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo, v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

 

SILVA, M. M. L. Crimes da era digital. .Net, Rio de Janeiro, nov. 1998. Seção Ponto de Vista. Disponível em: <http://www.brazilnet.com.br/contexts/brasilrevistas.htm>. Acesso em: 28 nov. 1998.