ARTE E EMPREENDEDORISMO UNIDOS POR UMA CAUSA SOCIAL

Edna de Oliveira Lenardon

Northon Salomão de Oliveira

 

  1. INTRODUÇÃO

Bob Geldof, nascido em 1954 em Dublin, Irlanda, foi o grande empreendedor do projeto Live 8.

Em 1975, Geldof fundou a banda Boomtown Rats, na qual esteve ligado até 1986, onde se separou da mesma e seguiu carreira solo.

Geldof, antes mesmo da desintegração da banda, se dedicava a causas sociais como o combate à pobreza, que o levou a iniciativas empreendedoras de solidariedade, usando a música para este efeito.

Tudo teve início em um documentário da BBC em 1984 sobre a fome na Etiópia, inspirando assim o cantor irlandês sobre a necessidade de fazer alguma coisa que acabasse com esse sofrimento.

Neste mesmo ano, Geldof gravou a música “Do They Know It’s Christmas”, com Midge Ure (Ultravox), com tema e objetivo de solidariedade para arrecadar fundos e ajudar nesta crise. Organizou também, o concerto Live Aid que juntou vários nomes do pop/rock internacional, arrecadando milhões para ajudar a combater a fome na África.

Nos últimos anos, Bob Geldof tem se dedicado quase que exclusivamente a causas sociais, sendo que em 2005 ele promoveu um grande evento no qual ressuscitou o Live Aid, agora com o nome de Live 8 contando com o apoio de Bono Box ,vocalista do U2.

Às vésperas da reunião dos líderes políticos do G8, Bob Geldof identificou a oportunidade de realizar o Live 8, organizado com o intuito de intimar os responsáveis pelos países que formam o G8, sendo estes: Estados Unidos da América, Reino Unido, Itália, França, Canadá, Alemanha, Grã Bretanha, Japão e Rússia (os países mais ricos do mundo), com o objetivo de contribuir para erradicação da pobreza na África, duplicação da ajuda financeira, cancelamento da dívida externa e justiça comercial para estes países. Este acontecimento valeu a Geldof a segunda nomeação para Nobel da Paz - a primeira tinha sido logo após o Live Aid, e a distinção com o prêmio Free Your Mind, no MTV Europe Music Awards de 2005, que é um prêmio concedido pelo trabalho e envolvimento de uma entidade ou personalidade em torno de causas sociais e humanitárias. Neste mesmo ano ele também recebeu em Portugal o Prêmio Norte-Sul, atribuído pelo Conselho da Europa, onde discursou na Assembléia da República pedindo que Portugal tivesse um empenho maior no combate à pobreza.

O Live 8 foi uma série de shows com performances de grandes nomes da música mundial, em diferentes pontos do mundo, entre os dias 2 e 6 de julho de 2005, tendo a Organização Make Poverty History como parceira. Participaram muitas das estrelas do pop, como A-Ha, Pet Shop Boys, Madonna, Paul McCartney, U2, Green Day, Robbie Williams, Coldplay, Pete Doherty, Joss Stone, The Killers, Pink Floyd e Snow Patrol nos países integrantes do G8 e na África do Sul.

O Live 8 não teve como objetivo arrecadar fundos, mas sim, conscientizar as sociedades que pressionassem seus governantes, que focassem mais na questão de acabar com a pobreza no mundo.

Geldof soube correr riscos calculados e mostrou muito comprometimento, persistência e um poder de persuasão invejável, conseguindo reunir bandas que já estavam separadas, brigadas e até mesmo, inativas. É um grande exemplo de empreendedor social, com papel social relevante em causas humanitárias voltadas aos países em desenvolvimento.

Mais de 1.000 músicos tocaram no evento, que foi transmitido em 182 redes de televisão e 2.000 estações de rádio.

No Brasil, o evento foi transmitido pela MTV Brasil. A emissora transmitiu boa parte das apresentações, por mais de 10 horas seguidas e cerca de 400 estações de rádio e mais de 140 canais de televisão transmitiram os concertos que também estavam disponíveis na internet. Os organizadores acreditam que cerca de 2 bilhões de pessoas assistiram ao Live 8.

A comunidade mundial, os fãs dos músicos envolvidos, o governo, a sociedade, os empresários, os acionistas das gravadoras e meios de comunicação, os músicos e todos os trabalhadores envolvidos no Live 8 foram beneficiados e se sentiram orgulhosos em fazer parte de algo tão grandioso e de uma causa tão justa pela qual todos devemos lutar.

Conforme Bob Geldof, ´´O evento deu a seus organizadores um mandato sem precedentes para exigir o fim da pobreza extrema na África´´.

            O maior desafio para um empreendedor é atingir o objetivo de seu projeto social e ao mesmo tempo, beneficiar todos os públicos envolvidos, mesmo sob críticas. Este foi o caso de Geldof, muito bem sucedido com o Live 8, obtendo retorno para todos os envolvidos no projeto.

  1. UM GRANDE EMPREENDIMENTO SOCIAL

Uma idéia sozinha não vale nada, é preciso enxergar uma oportunidade e foi o que fez Bob Geldof, juntamente com Bono da banda U2. Eles se empenharam no show musical, reunindo grandes astros da música para arrecadar fundos e conscientizar a população.

Para que este evento ocorresse, milhões de pessoas se reuniram criando oportunidades de trabalho para muitas pessoas, mesmo que por um curto espaço de tempo. Todos trabalharam com união, coordenação e harmonia, trazendo assim um resultado espetacular e servindo de exemplo para que novos projetos como este, fossem idealizados posteriormente.

Geldof definiu metas e traçou um plano de negócios, alcançando um ótimo resultado na concretização em relação à missão, visão e valores do seu projeto. Com seu otimismo e sua motivação elevada, reuniu uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. A apresentação do Pink Floyd foi histórica, pois a banda voltou a tocar depois de 24 anos, se apresentando com a formação clássica pela primeira vez, no Hyde Park, em Londres. Os integrantes do grupo haviam brigado e o vocalista Roger Waters chegou a dizer que nunca mais, sob hipótese alguma, se reuniriam novamente, após sua separação, resultante de brigas pessoais e na justiça. Durante todo esse tempo, Pink Floyd cumpriu a promessa rejeitando algumas propostas milionárias para voltar ao mercado.

Após o convite de Bob Geldof, que chegou a interpretar “Pink”, personagem do filme “The Wall”, lançado paralelamente ao disco que leva o mesmo nome, pelos Pink Floyd, Roger e os outros membros da banda, o tecladista Richard Wright, o guitarrista e vocalista David Gilmour e o baterista Nick Mason, também aceitaram, rompendo barreiras, deixando as brigas e os desentendimentos de lado, em prol de algo muito maior, mostrando que está presente no ser humano esse sentimento empreendedor e altruísta e só é preciso que as pessoas com este espírito as incentive, para grandes projetos como este serem concretizados.

A banda se reuniu novamente, graças ao empenho de Geldof em concretizar seus ideais pela causa de ajudar a África. "Foi um show emocionante e era possível perceber que os músicos também estavam emocionados", conta o repórter da BBC Brasil Rodrigo Coelho, que assistiu ao espetáculo.

Geldof realizou este trabalho com grande prazer, pois além das causas sociais pelo qual se dedica, a música é parte de sua vida, portanto este foi um trabalho beneficente e prazeroso voltado para o grande empreendedorismo social. Ele reconheceu o problema destes países pobres e tentou utilizar das ferramentas que possui e domina para tentar resolver parte destes problemas. Juntamente com Bono, criando idéias, reuniu uma equipe que o apoiou e assim colocou em prática o seu projeto tornando-o real, tentando com isto promover a redução da desigualdade social.

Este show teve como meta também a valorização das pessoas envolvidas, criando oportunidades para novos astros da música, colocando em evidência talentos afastados da mídia e atraindo investidores que se interessam por este grande negócio que envolve um precioso público: a música.

Com este evento totalmente voltado para levantar fundos para tentar solucionar este problema da África, os músicos e suas respectivas gravadoras, também lucraram com a apresentação de suas músicas, com sua imagem ficando globalmente conhecida e pelas vendas de CDs e DVDs.                                      

Conforme Bono Box, vocalista do U2: “Live 8 foi e continua sendo um momento brilhante, mas o mais importante é o movimento brilhante do qual fazemos parte. Isso dá uma conscientização política real aos pobres, pela primeira vez. É a oportunidade de religiosos e de sindicalistas, empresários do futebol e ativistas estudantis, levarem o espírito do Live 8 adiante. Não apenas as estrelas do rock tornarão o mundo sustentável no futuro, todos precisam fazer e cumprir promessas às pessoas mais vulneráveis do planeta. Procuramos sempre mostrar isso nos shows”.

No dia 02 de Julho de 2005, foram realizados 10 shows, sempre com um intervalo de 3 segundos entre as músicas, para sensibilizar as pessoas, pois este é o intervalo de tempo em que morre uma criança no mundo, devido à pobreza.

Bob Geldof se apresentou no Hyde Park, em Londres, sempre aparecendo no palco ao lado de seus convidados. O evento contou com discursos do Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan e Bill Gates em Londres e contou com Nelson Mandela, na África, além de estrelas do esporte e comediantes.

Ian Dickenson, chefe de polícia, criticou Bob Geldof por incentivar a multidão em Edimburgo, com pouca antecedência ao show e sem consultar as autoridades locais, devido ao fato de não haver estrutura para acomodar uma multidão no local.

Até mesmo boas ações são alvo de críticas, algumas com certa razão, mas devemos sempre levar em consideração que o empreendedor de um projeto como esse, tomou uma iniciativa que serve de exemplo para que outros idealizem e coloquem em prática, como aconteceu com o Live 8.

O Chanceler britânico Gordon Brown isentou os organizadores da cobrança da taxa no concerto em Londres, chegando a apoiar um protesto pacífico na Escócia. Bilhetes de loteria no Reino Unido continham textos convidando as pessoas para o concerto de Londres.

Um dos principais objetivos do Live 8 foi alcançado. Os ministros das finanças do G8 concordaram em cancelar a dívida de 18 dos países mais pobres. Realmente este foi um show com grandes novidades e conquistas.

Após o Live 8, o músico Peter Gabriel, ex-líder da banda Gênesis, anunciou que pretende organizar um novo Live 8 no futuro, com artistas africanos. O evento contará com a participação do cantor senegalês Youssou N’ Dour.

Muitas pessoas se entusiasmaram por esta causa, inclusive o músico Bryan Adams que anunciou o evento Live 8 Canadá, poucos dias depois do Live 8, que contou com a apresentação dos comediantes Dan Aykroyd e Tom Green.

A conceituada dupla Inglesa Pet Shop Boys se apresentou na Praça Vermelha de Moscou durante o Live 8, tocando a música ´Go West´, realizando a performance mais memorável de sua carreira, na opinião de seu vocalista, Neil Tennant.

Apesar do empenho dos organizadores e colaboradores, o Live 8 foi alvo de críticas, com algumas pessoas alegando que  Bob Geldof teria interesses políticos, usando o evento como uma plataforma para atingir seus interesses na África e atrair fãs mais jovens não apenas para ele, mas para os artistas e as gravadoras envolvidas no evento.

David Gilmour, guitarrista e vocalista do Pink Floyd, anunciou que doaria os lucros das vendas de seus discos que foram beneficiados com o evento e isso fez com que muitos artistas fossem cobrados, de certa forma, para tomarem a mesma atitude. Mesmo que o objetivo do evento tenha sido conscientizar os líderes do G8, o dinheiro que o evento retornou indiretamente aos artistas deveria ser empregado para a mesma causa, na opinião de alguns críticos.

Empresas como a Hugo Boss, também se aproveitaram do evento, presenteando artistas para que estes usassem suas roupas no evento, o que não foi visto com bons olhos pelos críticos. Outro problema do evento foi o fato de não ter havido censura por parte dos meios de comunicação, chegando a ponto da BBC pedir desculpas por não censurar palavrões ditos por Snoop Dogg, Green Day, Madonna, U2 e Velvet Revolver, em horário impróprio.

No final das contas, o brilho do projeto não foi ofuscado pelas inevitáveis críticas que sempre são esperadas. O importante é que Geldof atingiu seu objetivo, mobilizando e conscientizando milhões de pessoas, desde empresas, fãs dos músicos envolvidos, políticos e músicos, abrindo portas para que novos projetos como este, sejam idealizados e colocados em prática.

Para alguns, o Live 8 pode ser encarado como uma campanha de relações públicas em prol de multinacionais e até mesmo para os líderes do G8, pois os esforços realizados após o evento não surtiram todos os efeitos desejados. Mas, muitas conquistas foram obtidas, graças a Geldof.

A forma como a mídia cobriu o evento também foi criticada. A mensagem política foi diluída e teve um efeito maior em cobrir o show, deixando o movimento em segundo plano.

Algumas emissoras de TV cortaram parte dos shows para ir aos seus comerciais, além dos seus VJs estarem mal informados sobre o evento e sua causa, focando mais músicas e chegando até mesmo a atrapalhar as performances dos artistas.

Na Escócia, alguns dias depois do Live 8, Geldof e Bono participaram de uma reunião ao lado dos homens mais poderosos do mundo, onde pediram mais ajuda e o perdão da dívida externa. O G8 não perdoou a dívida dos países pobres, mas concordou em dobrar até 2010 a ajuda que presta aos mesmos, acrescentando US$ 50 bilhões por ano, isso depois de ter fechado um acordo de alívio da dívida externa no valor de mais de US$ 40 bilhões.

Outro resultado obtido com a repercussão dos shows, que aconteceram no início de Julho, foi o aumento nas vendas de álbuns de nomes que se apresentaram. Entre os artistas que subiram nas listas de mais vendidos estão The Who, Annie Lennox, Dido, entre outros. Mas o mais espantoso de todos foi o crescimento astronômico que as vendas da coletânea do Pink Floyd, Echoes, teve. A banda, que se reuniu pela primeira vez em 20 anos teve aumento de 1.343% sobre as vendas de sua coletânea na Inglaterra, comparando com o domingo anterior aos shows. 

Foi lançado um DVD do evento no dia 07 de novembro de 2005 e os valores obtidos nas vendas foram destinados ao combate da pobreza na África.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Geldof, através de causas sociais se tornou um grande empreendedor, suas idéias para ajudar o próximo levou multidões a se reunirem em prol de ajudas humanitárias para colaboração de uma vida melhor para a população africana.

Com a estruturação de um plano estratégico e os ideais de um empreendedor, ele notou a necessidade de um projeto social para amenizar este problema, motivou e reuniu outras pessoas a se envolverem neste projeto, encontrando parceiros interessados a apoiar esta causa, colocando em prática seus planos para melhoria do bem estar social.

O Live 8 foi o mais ambicioso empreendimento internacional de televisão por satélite que já havia sido tentada até o momento. Em certo ponto do show foi informado que 95% dos televisores em todo o mundo estavam assistindo ao evento, mas segundo um relatório divulgado 01 ano após este grande show, o G8 não cumpriu todas as suas promessas de 2005,  mostrando um movimento lento nos esforços para cumprir o prometido.

Geldof e Bono ficaram felizes com o resultado, com a arrecadação e com todos os benefícios trazidos por este evento, eles pretendiam misturar o poder da música com a mensagem a ser passada para o público alvo, e obtiveram um bom resultado, ajudando a promover a redução das desigualdades sociais.

A forma bem sucedida da integração entre empreendedorismo e responsabilidade social promovida por Geldof, juntamente com todas as empresas envolvidas, obtiveram fortalecimento de suas marcas perante seu público e para novos consumidores, ou seja, todos os participantes deste projeto de certa forma, tiveram retornos financeiros, além dos benefícios em relação ao próximo.

Com a implantação do Live 8, as vendas dos discos de todos os artistas envolvidos aumentaram, muitos se tornaram mais conhecidos mundialmente, outros tiveram a oportunidade de reaparecer na mídia, visto que esses artistas atraíram  seu público para o projeto, beneficiando a todos.

O DVD do Live 8 serviu como um produto que materializou e imortalizou este evento, para que novas gerações possam ter acesso a esta causa e que este empreendimento sirva de exemplo e incentivo a novos projetos similares.

Críticas sempre estarão presentes em praticamente todos os setores de investimentos ou causas sociais, mas o que importa é que o objetivo seja alcançado e que algumas falhas existentes não deixem abalar o lado empreendedor e o sentimento de solidariedade. Que a luz do sucesso não se apague mediante o julgamento de algumas pessoas, mas que se aprenda com os erros e acertos de projetos como o Live 8, organizado por grandes empreendedores que lutaram e conquistaram boa parte dos seus objetivos e incentivaram milhões de pessoas a serem empreendedoras e a lutarem pelos objetivos que ainda não foram alcançados.

Um bom empreendedor acredita, confia, e nunca desiste de seus ideais. Promove e desenvolve projetos com confiança e acima de tudo acredita sempre que vencer é o objetivo, mesmo que enfrente derrotas e muitos obstáculos, confia que alcançará a vitória.

Muitos críticos não acreditaram nos projetos sociais promovidos por Geldof, mas este foi um grande empreendimento que apoiou a população da África no momento em que necessitava de ajuda, obtendo bons resultados e agradando a todos os participantes que fizeram acontecer e apoiaram o Live 8.

  1. REFERÊNCIAS

Disponível em: http://www.thelive8concert.com/: Acesso em 21 de Novembro de 2010, às 21:05 h.

Disponível em: http://www.comandorock.net/materia0021.html: Acesso em 23 de Novembro de 2010, às 10:15 h.

Disponível em: http://www.m80.iol.pt/artistas/artista.aspx?id=9446: Acesso em 25 de Novembro de 2010, às 9:00 h.

Disponível em: http://www.bbc.co.uk/music/thelive8event/ Acesso em 27 de Novembro de 2010, às 20:03 h.

Disponível em: http://www.bbc.co.uk/music/thelive8event/news/: Acesso em 27 de Novembro de 2010, às 20:24 h.

Disponível em http://whiplash.net/materias/news_921/024268-pinkfloyd.html: Acesso em 05 de Dezembro de 2010, às 10:57 h.              

                                  

Disponível em http://www.bobgeldof.info/Charity/liveai.html: Acesso em 06 de Dezembro de 2010, às 11:05 h.

 

WILDE, Mauritius. Pedro ou Paulo: quem decide?: O Administrador e o empreendedor. São Paulo: Editora Santuário, 2006.