Jairo Augusto Nogueira Pinheiro

Meteorologia - UFPa

1. INTRODUÇÃO

Desde muito tempo, o homem vem trocando o meio rural pelo meio urbano. As cidades foram crescendo, na maioria das vezes de forma muito rápida e desordenada, sem um planejamento adequado de ocupação, provocando vários problemas que interferem sobremaneira na qualidade de vida do homem que vive na cidade.

Atualmente, a maioria da população humana vive no meio urbano necessitando, cada vez mais, de condições que possam melhorar a convivência dentro de um ambiente muitas vezes adverso.

A vegetação, pelos vários benefícios que pode proporcionar ao meio urbano, tem um papel muito importante no restabelecimento da relação entre o homem e o meio natural, garantindo melhor qualidade de vida.

2. ARBORIZAÇÃO URBANA NO MUNDO

O desenvolvimento urbano na Europa iniciou-se na metade do século XV e o aparecimento da vegetação em espaços públicos ocorreu no século XVII (Segawa,1996).

O estilo francês destacou-se no século XVII, o inglês, no século XVIII, ambos evidenciando árvores (Farah,1999).Aléias são caminhos ladeados por árvores, que têm a sua gênese nos jardins renascentistas italianos (Farah,1999).

A partir do século XVII, várias cidades da Europa construíram seu passeio ajardinado. Assim, Berlim teve, em 1647, a " Unter den Linden", alameda arborizada ligando a cidade ao parque de caça; Dublin teve o "Beaux Walk" e o "Gardener's Mall"; Amsterdam aproveitou um charco, transformando-o na "Nieuwe Plantage"; Bordeaux ganhou o Jardim Royal e Nancy; Viena, Munique, São Petersburgo, Madrid e Lisboa implantaram passeios públicos arborizados (Segawa,1996).

3.ARBORIZAÇÃO URBANA NO BRASIL

No Brasil, o interesse por jardins nasce somente no fim do século XVIII, com o objetivo de preservação e cultivo de espécies, influenciado pela Europa (Terra, 2000).

È escasso o material histórico brasileiro, mas destacam-se alguns paisagistas, como Auguste François Marie Glaziou, que veio ao Brasil a convite de D. Pedro II para ocupar o cargo de diretor geral de matas e jardins e permaneceu no Brasil por 39 anos, de 1858 a 1897, sendo autor de muitas produções de jardins no exterior e no Brasil, porém com influência européia, como o passeio público do Rio de Janeiro (Terra, 2000).

A análise histórica denota não apenas a forte influência do paisagismo sobre o desenho urbano, como a sobreposição existente entre esses campos. Além disto, elucida o momento em que a arborização e os elementos vegetais passam a ser compreendidos como elementos estruturadores do espaço urbano, e têm sua força de tal forma adquirida, que passam a definir novas tipologias e estilos de paisagem e desenho urbano (Farah,1999).

4.IMPORTÂNCIA DA ARBORIZAÇÃO URBANA

4.1. MICROCLIMA

No caso do ambiente urbano, verifica-se que o acelerado crescimento demográfico, conjugado a outras variáveis do espaço urbano, contribuem de forma significativa nas alterações dos elementos climáticos. A cidade imprime modificações nos parâmetros de superfície e da atmosfera que, por sua vez, conduzem a uma alteração no balanço de energia (Lombardo,1990).

De acordo com Furtado & Melo Filho (1999), todos os elementos paisagísticos devem ser cuidadosamente tratados a fim de trazer benefícios que interferirão no projeto integrado, visando a melhoria da qualidade do ar, o sombreamento da edificação e adjacências, o controle da ventilação e da umidade. A maior parte da carga térmica de uma edificação provém da radiação solar e da temperatura do ar exterior, sendo necessário um rigoroso controle dos elementos microclimáticos para eliminar um excesso de energia que tornaria inóspito o ambiente construído.

De acordo com Lima (1993), as áreas urbanas constituem um ambiente artificial, pois possuem grande concentração de áreas construídas e pavimentadas que favorecem a absorção da radiação solar de dia e reflexão durante a noite. Denominado ilha de calor, este fenômeno pode ter um diferencial térmico bastante significativo em relação a locais mais vegetados. As árvores interceptam, refletem, absorvem e transmitem a radiação solar. Uma adequada arborização e uma boa ventilação constituem dois elementos fundamentais para a obtenção do conforto térmico para o clima tropical úmido. O conjunto arbóreo colocado a uma distância mais apropriada possível da edificação fornecerá um bom sombreamento nas fachadas, compondo um entorno mais favorável (Furtado & Melo Filho, 1999).

4.2.SAÚDE

A área verde tem função de se constituir em um espaço "social e coletivo", sendo importante para a manutenção da qualidade de vida. Por facilitar o acesso de todos, independentemente da classe social, promove integração entre os homens (Martins Júnior,1996). A Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 12 metros quadrados de área verde por habitante (Lang,2000).

As árvores podem ser consideradas agentes antimicrobianos. As árvores agem ainda contra a poluição atmosférica, sonora e visual (Pedrosa,1983).

No ambiente urbano, têm considerável potencial de remoção de partículas e gases poluentes da atmosfera. Cortinas vegetais experimentais foram capazes de diminuir em 10% o teor de poeira do ar (Pedrosa,1983). O excessivo som urbano proveniente do tráfego, equipamentos, indústrias e construções interfere na comunicação, lazer e descanso das pessoas podendo afetá-las psicológica ou fisiologicamente. É possível fazer o uso de árvores como complementação para o atenuamento do ruído, já que os vegetais diminuem a reverberação do som. È preciso ressaltar que o efeito protetor varia de acordo com a freqüência dos sons, com a posição das árvores em relação à fonte emissora e com a estrutura e composição do plantio (Milano,1984).

Segundo Bianchi (1989), a arborização contribui também para atenuar a poluição visual, pois as árvores são componentes que conferem forma aos ambientes urbanos e desempenham um papel importante, delimitando espaços, caracterizando paisagens, orientando visualmente e valorizando imóveis, além de integrar vários componentes do sistema.

4.3. ECOSSISTEMAS URBANOS

A uniformização da vegetação nos centros urbanos constitui um dos maiores perigos para o equilíbrio ecológico da Terra e deve ser evitada. A diversidade das espécies vegetais é condição básica para a sobrevivência da fauna e o equilíbrio ecológico.

As cidades que não diversificarem sua vegetação poderão se transformar em desertos verdes. Cada cidade deveria dar prioridade ás espécies nativas da região. Quando isso acontecer, os turistas terão maior prazer ao visitá-las, pois elas apresentarão aspectos distintos e típicos de sua vegetação.

5. SITUAÇÃO DAS ÁRVORES PÚBLICAS

Embora sejam inúmeros os benefícios proporcionados pelas árvores, o reconhecimento histórico destes pela população brasileira tem deixado a desejar.

Mesmo atualmente, as árvores das ruas e avenidas continuam sendo danificadas, mutiladas, ou mesmo, eliminadas, quando se trata de reformas urbanas como alargamento de vias, conserto de encanamentos, manutenção da rede elétrica, construção e reforma de edificações residenciais, comerciais e mesmo institucionais.

As árvores podadas têm seu aspecto original alterado e jamais satisfarão as exigências impostas pela estética e ciência, embora possam satisfazer às exigências que lhes são feitas pela salubridade pública. Portanto, é bom que tenhamos árvores com seu porte natural, e para tê-las, é necessários que lhes proporcionemos o espaço correspondente à sua natureza (Hoehne,1944).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As paisagens estão em constante transformação, tanto no contexto ecológico quanto no contexto cultural. Ao planejar paisagens, devem ser considerados o contexto temporal e espacial, a história, as fases ecológicas e os períodos culturais, justamente para se adequar ao dinamismo dessa mudança de paisagens (Marcucci,2000).

Os requisitos básicos são planejar harmoniosamente e concomitantemente a arborização e as intervenções urbanas, programar o atendimento permanente das necessidades da arborização e assegurar condições essenciais à concretização dos programas de arborização (Mesquita,1996).

A pesquisa e o desenvolvimento são ferramentas importantes para a evolução do planejamento, adequação, implantação e manejo de árvores urbanas. As pesquisas devem contribuir para o estímulo da discussão científica e intelectual do presente e do futuro da vegetação urbana de um modo geral.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANDRADE, T.O. de. Inventário e análise da arborização viária da estância turística de Campos do Jordão, SP. 2002. 112f. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002.

BIANCHI, C.G. Caracterização e análise das áreas verdes urbanas de Jaboticabal-SP. Jaboticabal, 1989. 56 p. Monografia (Graduação)- Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho".

FARAH, I.M.C. Arborização urbana e sua inserção no desenho urbano. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. V.7, n.3, p.6, 1999.

FURTADO, A. E.; MELLO FILHO, L. E. A interação microclima, paisagismo e arquitetura. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. V.7, n.3., p.9, 1999.

HOEHNE, F.C. Arborização urbana. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio, 1944. 215 p.

LANG, E. Como fazer sombra na entrada de casa. Folha de São Paulo, 02 nov. 2000. Folha Equilíbrio p.6.

LIMA, A.M.L. Piracicaba, SP: Análise da arborização viária na área central e em seu entorno. Piracicaba, 1993. 238 p. Tese (Doutorado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo.

LOMBARDO, M.A. Vegetação e clima. In: ENCONTRO NACIONAL DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 3.,Curitiba,1990. Resumos. Curitiba: FUPEF, 1990.p.1-13.

MARCUCCI, D.J. landscape history as a planning tool. Landscape and Urban Planning, n.49, p. 67-81, 2000.

MARTINS JUNIOR, O.P. Uma cidade ecologicamente correta. Goiânia: A B Editora, 1996. 224 p.

MESQUITA, L. B. Arborização do Recife: notas técnicas para ajustes na execução e manutenção. Recife: Secretaria do Planejamento Urbano e Ambiental da Prefeitura da cidade do Recife, 1996. 88 p.

MILANO, M. S. Avaliação e Análise da arborização de ruas de Curitiba-PR. Curitiba, 1984. 130 p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Paraná.

PEDROSA, J.B. Arborização de cidades e rodovias. Belo Horizonte: IEF, 1983. 64 p.

PIVETTA, K. F.L.; SILVA FILHO, D. F. da. Arborização Urbana. Boletim Acadêmico. Série Arborização Urbana. Unesp, Fcav, Funep. Jaboticabal, SP, 2002.

SEGAWA, H. Ao amor do público: jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1996. 240p.

TERRA, C.G. Os jardins no Brasil no século XIX: Glaziou revisitado.2.ed. Rio de Janeiro: EBA, UFRJ, 2000.