AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA NA FASE DA ALFABETIZAÇÃO
INFANTIL


WALTER AP. GONÇALVES
MAURÍCIO VASCONCELOS DE BRITO







Objetivos

A criança possui um modo particular de aquisição do código escrito. A alfabetização não se realiza da mesma forma para todas as crianças, e para compreender a língua escrita é necessário conhecer o seu funcionamento. Este trabalho tem como objetivo, analisar o processo de aquisição da linguagem escrita infantil, e compreender os diferentes desempenhos durante a aquisição da língua escrita na fase de alfabetização.
Revisão Bibliográfica

Os problemas de aprendizagem estão relacionados às situações difíceis enfrentadas pela criança, mas com expectativa de aprendizagem a longo prazo, podemos considerar os problemas de aprendizagem, como um sintoma, e pela intensidade com que este se apresenta fica difícil para o professor diferenciar um distúrbio de um problema de aprendizagem. Portanto estabelecer claramente os limites que separam problemas de aprendizagem dos chamados "distúrbios" de aprendizagem, é uma tarefa muito complicada, que fica a critério do especialista na área em que a deficiência se apresenta. Aos educadores compete apenas identificar as dificuldades de aprendizagem que aparecem em sua sala e tentar encaminhar para uma solução eficaz.
Segundo Ferreiro, o processo evolutivo da escrita é caracterizado por hipóteses. Através da coleta de dados, verificaram-se claramente as hipóteses apresentadas pelas crianças em relação à escrita. Sendo assim, o professor não só deve compreender as hipóteses da escrita, bem como fazer uso de uma metodologia que favoreça a reflexão da criança sobre a escrita para que seja possível problematizar e provocar contradições que irão gerar os avanços necessários para a compreensão do sistema alfabético. (Ferreiro, 1999).
A língua portuguesa tem as suas complexidades por apresentar uma grande variedade de letras que oferecem fones idênticos; fato este que provoca muita confusão nas crianças em período em que estão em fase de alfabetização, quanto ao grafar das palavras, ao encontramos esses textos é necessário principalmente entender o que leva esses alunos a cometer tais erros. Portanto devemos entender que eles estão na fase de aprendizado, e com base nesses termos iremos analisar as ocorrências na fonética e fonologia nesse processo de aquisição da escrita.
Nosso primeiro texto a ser discutido, tem como titulo "minha escola," escrito por um aluno de oito anos do 2º ano de escolaridade de uma escola pública. No presente texto foram seleciona algumas palavras para discussão. Iniciaremos com a palavra (emportante > importante), nesse caso, nossa hipótese é que pode ter ocorrido uma hipercorreção nessa palavra, ou seja, o aluno ao se basear na regra do professor, que quando se pronúncia [i], a escrita é com [e], então ele automaticamente se corrige. Outro fato existente acontece com a palavra (aprede > aprende), nesse caso a criança se deparou com uma situação muito complexa, que é o caso da nasalização. E por desconhecimento da marcação gráfica por meio do til ou do travador consonantal levou o a não grafá-la.
O segundo texto tem como titulo "minha casa", também é escrito por um aluno de oito anos do 3º ano de escolaridade de uma escola publica estadual. Em sua escrita podemos notar através da palavra (caza > casa), que este aluno possui uma dificuldade com o emprego do [s], não sabendo quando empregá-lo, devido que este fone é uns dos mais complexos de nossa língua. Outra palavra é (meamigo > meu amigo), nessa ocorrência a criança tenta reproduzir na escrita, a partir de sua realidade oral. Outro aspecto encontrado é o da escrita em cordão, como é o caso da palavra (depegapega > de pega, pega), onde o aluno não deixa o espaço de uma palavra a outra. Já a palavra (bico > brinco), o aluno não capta a nasalização, deixando a palavra sem grifo.
O terceiro texto a ser tratado tem como titulo "Os meus pais", é escrito por uma aluna de seis anos do 1º ano de escolaridade também de uma escola publica estadual. Nele observamos a situações pertinentes a ser analisado, é a palavra (ámor >amor), podemos perceber que a criança acentua a vogal inicial, devido a influencia da nasalização ocorrente no meio da palavra. Ou seja, ao perceber o som nasal, ela acentuou a silaba que achou o maior vestígio. Já na palavra (faminha > família), entendemos que o aluno tenta reproduzir na escrita a sua fala.
O quarto texto a ser analisado, narra a história de uma flor que morava na floresta, de um aluno de oito anos do 2º ano de escolaridade, pertencente a uma escola da rede publica municipal. Do mesmo modo que os outros foram selecionadas algumas palavras a serem discutidas. Nesse texto nos deparamos com uma situação que já foi abordada em textos anteriores. É o caso da palavra (sobiu > subiu), nessa palavra ocorreu uma hipercorreção da vogal [u], para a vogal [o], entendemos que o aluno deva ter baseado nas regras estabelecidas pelos professores, que quando o som é [u], grafa - se [o]. Outra situação muito pertinente encontrado nesse texto é a palavra (quaõda>quando), essa situação é umas das mais complexas que o aluno se depara. Nesse caso o aluno ao captar o som nasal, ele utilizou do til, para marcar sua nasalização na silaba. Já em outra palavra, nos deparamos com uma nova ocorrência a ser tratada, é o caso da palavra (morteu>mordeu), o que ocorreu nesse vocábulo é a troca da consoante [d], pela consoante [t], ou seja, a criança confundiu as letras por terem som semelhante.
O quinto e ultimo texto a ser analisado pertence ao mesmo aluno anterior, e tem como titulo "A páscoa". Nesse outro texto podemos observar vestígio de marca da oralidade, como é o caso (i > ir), nota se que o verbo [ir] passa a ser somente a vogal [i ], o que de fato entendemos é que a criança tentou reproduzir na escrita de modo que ela fala. Já na palavra ( aprofesora > a professora) podemos notar no inicio da palavra a escrita em cordão, que é a junção do artigo com o substantivo. E o que pode perceber é que o aluno transpõe para a escrita a ausência do silêncio. No entanto, houve nessa mesma palavra a ocorrência da forma incorreta do emprego do [s]. Fato que nos mostra o quanto esse fone é de maneira complexa. Conforme já discutimos em textos anteriores, vejamos a palavra (imbora>embora) mais um caso que entendemos que ocorreu uma hipercorreção nesse vocábulo.
Metodologia
Realizamos nosso trabalho através de pesquisa bibliográfica, associada às discussões realizadas em sala de aula. Contudo foi a partir de pesquisas de campo que coletamos dados suficientes, para que esta analise fosse desenvolvida. Nela foi usado 05 textos de crianças da faixa etária de 6 a 8 anos de idade, de escola publica, pertencentes ao Município de Pontes e Lacerda ? MT.
Discussão Dos Resultados
Diante dos resultados obtidos, pode se notar que cada criança possui o seu ritmo de aprendizagem diferenciado uma das outras. Porém suas dificuldades para lidar com a escrita são quase sucessivas as mesmas. Ou seja, em cada texto analisado, quase sempre as mesmas ocorrências se repetem. É o caso da ortografia, o som de [S], que possui oito formas gráficas a serem representado. Este som é o mais complexo de todos em nosso alfabeto, o que de fato se torna muito difícil para os alunos memorizar de imediato. Outro problema que se manifestou na escrita é o da nasalização, essa situação é também umas das mais complexas que existe em nosso idioma, o que acaba por dificultar o aluno durante sua escrita. Podemos observar também que a marca da oralidade, é uns dos maiores problemas encontrado na escrita infantil. Pelo fato da criança viver em um mundo totalmente diferente da realidade escolar, o que de fato leva para a escola sua variação linguista, deixando transparecer em suas escrita.
Conclusão
A partir do que foi discutido, compreendemos que o problema da escrita infantil não tem como ser solucionado de forma imediata, mas compete ao professor, estimular o aluno através da pratica de leitura e da escrita, para que ele aperfeiçoa cada vez mais suas habilidades.




Referências Bibliográficas:


CAMARA JR., J. Mattoso. História e Estrutura da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro:
FERREIRO, E. Com todas as letras. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo; Scipione, 1998.

DEVINE, M. A fala do bebê e a arte de comunicar com ele. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009.
FERREIRO, Emília; PALÁCIO, Margarita Gomes. Os processos de leitura e escrita: Novas perspectivas. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
AMARAL, Emília; PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do; ANTÔNIO, Severino. Português. São Paulo: Nova Cultural, 1994.
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

PIAGET, Jean. A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.