RESUMO

Este artigo apresenta o livro “Raphael Grisi contemporâneo: deixa ser cérebro e coração no universo da educação brasileira”, por Andrea Maria Biondo e Eliana Biondo Magri, publicado, em Bauru, pela editora Cá entre nós, na primavera de 2009. Obra que consagra a especial trajetória de vida do Filósofo Brasileiro Contemporâneo da Educação, do século XX, Raphael Grisi. Tão grandiosa trajetória, entretanto, pouco conhecida. As suas experiências singulares, o seu passado, o início da sua vida, a vida em família, o filósofo, o educador, o gestor, o homem político, as obras publicadas, o antes resgatado, revivê-lo servirá à Educação. Narrativa e memória consolidam este estudo biográfico escrito a quatro mãos, providencial escrevê-lo a quatro mãos, por duas irmãs, melhor ainda. Os procedimentos para colher as informações originais fundamentam-se na pesquisa qualitativa – a documentação indireta e a observação direta intensiva, a entrevista semiestruturada – fonte intrínseca de veracidade à historiografia. Relíquias como fotos de Raphael Grisi e imagens das capas de suas publicações, resumos das suas obras e entrevistas compõem o corpo desta obra. Encontra-se neste exemplo de mestre, a frente de seu tempo, os ideais utópico, ético, participativo e democrático, fortes características do gestor educacional do século XXI. Tudo o que se tem, hoje, de mais contemporâneo de aprendizagem e de gestão educacional estão em Raphael Grisi.

ABSTRACT

This article presents the book “Contemporary Raphael Grisi: allows being brain and heart in the Brazilian Education universe” by Andrea Maria Biondo and Eliana Biondo Magri, published in Bauru, by “Cá entre nós” Publishing House in the Spring of 2009. Masterpiece which establishes the Education Contemporary Brazilian Philosopher’s special life track, from the 20th century, Raphael Grisi. It was such a great track, however little known. His singular experiences, his past, the beginning of his life, his life in family, the philosopher, the educator, the manager, the political man, the published work, the rescued before, reliving him will serve to Education. Narrative and memory reinforce this biographic study written by four hands, providential writing it by four hands, by two sisters, better yet. The procedures to pick the original information are settled on qualitative research – the indirect documents and the intensive direct observation, the half-structured interview – intrinsic source of veracity to historiography. Relics as Raphael Grisi’s photos and images from the covers of his publications, summaries of his works and interviews compose the body of this work. It’s found in this master’s example, ahead from his time, the Utopian ideals, ethic, participative and democratic, strong features from this 21st century educational manager. Nowadays, everything there is from the most contemporary in learning and educational management is found in Raphael Grisi.

"Caminhos de Raphael Grisi vão e voltam no nosso costurar, com agulha e linha, esta história." (BIONDO, 2009, p. 113).

I. Introdução, II. Raphael Grisi: vida magnífica, contextualizada, III. Professor Raphael Grisi: as suas missões educacionais, IV. O Gestor Educacional Dr. Raphael Grisi, V. Conclusão.

I. Introdução

"Raphael Grisi contemporâneo: deixa ser cérebro e coração no universo da educação brasileira" é um livro sobre o Filósofo da Educação do Brasil Raphael Grisi.

As escritoras empenharam-se em conhecê-lo, "O essencial, o educativo, não é resolvê-lo, mas empenhar-se na pesquisa ativa" (Grisi, 1938, p. 102).Onde ele nasceu, cresceu, como ele fez-se, o mestre, o filósofo, o gestor, o escritor que se tornou, questões norteadoras em que elas mergulharam: "Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei" (Clarice Lispector).

Resgatar a história do Filósofo, do século XX, Raphael Grisi e versar a sua biografia, o seu passado, o antes, olhando para o futuro e nele encontrar um mestre a frente de seu tempo, uma fonte grandiosa de sabedoria, ideias, sentimentos, exemplo.

Biografia, utilizando narrativa e memória, instrumentos de grande força educativa. São importantes as experiências particulares, íntimas, as circunstâncias históricas, cotidianas vividas por este filósofo. Resgataram-nas em uma pesquisa qualitativa por meio de documentação indireta – fontes primárias: arquivos públicos, arquivos particulares e fotografias e em fontes secundárias: jornais, revistas, livros, dicionários e publicações como obras, discurso e teses - e observação direta intensiva – a entrevista semiestruturada.

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas nas residências dos entrevistados. São eles: a aluna do filósofo Nilce Apparecida Lodi, na cidade de São José do Rio Preto/São Paulo, e o filho de Raphael Grisi Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, na localidade de São Paulo.

II.Raphael Grisi: vida magnífica, contextualizada

Filho de José Grisi e de Teresa Rosolen Grisi, Raphael Grisi nasceu em Pirassununga, interior de São Paulo, em 2 de março de 1909. Vida simples.

Em um país tipicamente rural, São Paulo e Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, a Paris dos Trópicos) querendo transformar-se em metrópoles estruturadas, modernas, avançadas - porto, iluminação, saneamento, carroças entre bondes e carros, Avenida Paulista em São Paulo, Avenida Central, hoje, Rio Branco no Rio de Janeiro, entre outros. A aviação e Santos Dumont - seu 14 BIS. Rodrigues Alves no governo do Brasil. A Arte – Cubismo, Expressionismo, a Arquitetura, a Literatura, uma evolução rumo ao Modernismo. Uma guerra.

Nasciam gênios nesta época: Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Oscar Niemeyer, Raphael Grisi, Genaro Bilion Ruiz, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Vinícius de Moraes...

Raphael Grisi estudou em Pirassununga até os 16 anos – o primário e o ginásio no Instituto de Educação e Escola Normal. Ele era normalista.

Aos 17 anos, prestou concurso público para o cargo de Inspetor de Ensino em Guaxupé, MG. Aprovado, mudou-se para lá. Voltou a Pirassununga, em uma temporada curta, e fundou o jornal e o clube da cidade.

Raphael Grisi ingressou na Universidade de São Paulo, na Faculdade de Filosofia, em 1934. Era um curso, no início desta Universidade, que congregava Filosofia, Psicologia e Sociologia.

Ano de 1934 marca, no âmbito educacional brasileiro, o ensino superior: a criação da Universidade de São Paulo. Grisi estava lá... Tempo que morava no Hotel Paissandu, em São Paulo.

Formou-se em 1937. Época de 1937, marcas na personalidade, na vida, no pensamento de Raphael Grisi, reveladoras desses contextos de circunstâncias sociais. A história, sempre a história.

Filósofo esperançoso, conhecedor das coisas, sadio espírito, lia muito, falava línguas (Francês – uma parte dos professores da Universidade de São Paulo veio da França, davam aula em Francês - Inglês, Espanhol, Italiano, Latim e Grego), pensava crítica e valorativamente o problema da Educação.

Neste tempo, Raphael Grisi trouxe sua futura esposa Sra. Araci para São Paulo. Ela prestou um Concurso Público para o Magistério e tornou-se professora. Casaram-se.

Sr. Grisi e Sra. Araci geraram quatro filhos: José Henrique de Hildebrand e Grisi, Léo Carlos de Hildebrand e Grisi, Antônio Carlos de Hildebrand e Grisi e Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi. E geraram uma grande família de intelectuais.

Começou sua vida acadêmica como professor primário, era alfabetizador.

Depois, é aprovado no Concurso Público para ingresso no Magistério Público como Professor Secundário – ginásio e científico.

Aprovado, também, em concurso para Cadeira no Colégio Caetano de Campos, na Praça da República, um dos colégios mais famosos de São Paulo.

Professor do Ensino Superior Público, fez mestrado, doutorado, chegou a Livre-Docente na Universidade de São Paulo - começou, em 1938, Livre-Docente da 7ª Cadeira Metodologia do Ensino Secundário do Instituto de Educação; em 1952, assumiu a Cadeira de História e Filosofia da Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Nesta Universidade, aposentou-se.

Junto a essas cadeiras, lecionou no Ensino Superior Privado - no Mackenzie, no Higienópolis, ele era considerado uma das estrelas de primeira grandeza da constelação do Ensino Superior, e na Escola de Comércio Armando Penteado, no Largo São Francisco.

Professor de disciplinas que versavam os fatos e os problemas da educação nos cursos oficiais de ensino pedagógico (Escolas Normais e Faculdades de Filosofia) com as denominações de Psicologia Educacional, História da Educação, Pedagogia, Filosofia da Educação e Didática, articulava a ideia de um trabalho educacional participativo e democrático.

Isso tudo levou Professor Raphael Grisi a ser convidado a ocupar cargos políticos importantes dentro da área de Gestão Pública para contribuir com a Educação Brasileira. Foi Diretor Geral da Secretaria da Educação de São Paulo para implantar sistemas de alfabetização, Secretário da Educação no Espírito Santo.

Também professor, criador e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI) de São José do Rio Preto/São Paulo no período 1957-1961.

Um ser maravilhoso, em sua fazenda, interior do Estado de São Paulo, fez um altar ao ar livre. O altar, feito de madeira cedro, é a grandiosa forma de explicitar toda a sua poiésis.

Uma vida intensa, longa, conquistada com trabalho, familiar, bem vivida. Velhice alegre, feliz. "Partiu" de falência generalizada dos órgãos, perto de completar 90 anos, em 1998.

III. Professor Raphael Grisi: as suas missões educacionais

Três missões educacionais diante das vicissitudes históricas do tempo e do espaço marcaram a vida deste filósofo.

Contarei as coisas que eu sei dele, que consegui acompanhar, tive um relacionamento relativamente íntimo com ele. [...] Hoje, entendo, como filho, tendo convivido muito com ele, dava-me bem com meu pai, [...] sempre foi uma pessoa bem próxima, que o primeiro momento marcante de meu pai foi a sua primeira missão pedagógica – a alfabetização. [...] Segundo momento forte – discutir a Didática. [...] Terceiro momento – entender que havia uma importância muito grande no ensino profissionalizante. (Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi).

A sua primeira missão educacional foi a alfabetização. Entre as décadas de 40 e 50, um analfabetismo grande continuava, 70% dos brasileiros eram analfabetos. Neste contexto, professor Raphael Grisi dedicava as suas investigações científicas à alfabetização.

Sua missão alfabetizadora revela o nosso país na década de 1940. Por ser filósofo e pensar os problemas da vida, enxergou a população analfabeta, excluída e fez por ela.

Suas obras infantis eram histórias sentimentais, em ambientes rurais e cidades pequenas, feitas para aquela época e que tocaram as pessoas daquela época. Isto alfabetizando.

No livro, são analisadas as suas obras publicadas neste período:

·"A missão do Instituto de Educação" é o discurso de representante dos alunos das cinco turmas de graduandos de 1937 do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo;

Mas a formação que defendemos é integral: abrange o cérebro e o coração dos professores, dando-lhes a consciência de suas responsabilidades, a habilitação para o seu ofício e o entusiasmo para a sua missão. (GRISI, 1937, p. 11).

  • "O ensino do vernáculo na Escola Secundária", em 1938, é o título da monografia apresentada ao concurso para Livre-Docente da 7ª cadeira – Metodologia de Ensino Secundário – do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo;

Concluamos, portanto, que se deve procurar conduzir os alunos a estudar a língua nos bons autores, que lhes vão, por assim dizer, inoculando as leis, erigindo-se estas regras, que, ao mesmo tempo, vão sendo praticadas e mais ou menos automatizadas na "conduta lingüística". Que os alunos cheguem a praticar a língua com elegância [...]. (GRISI,1938, p. 21-22).

  • "O ensino da leitura: o método e a cartilha", em 1946, a alfabetização ensinando verdadeiramente a ler;

E não há senão uma espécie de leitura que interessa à juventude, sobretudo à infância: a de história ou histórias... se o livro não contem uma história ou histórias, não é livro de criança. Tudo mais: preceitos de moralidade, lições de coisas, ensinamentos científicos, ou vem implícito na história e, neste caso, tem a força da motivação e educa ou vem explícito e, então, torna as páginas do livro objeto de desinteresse e de ojeriza. (GRISI, 1946, p. 52).

  • a obra infantil "Lalau, Lili e o Lobo", na década de 40, narra uma história rural emocionante de dois irmãos, uma menina, um menino e um cachorro de estimação dos dois. A relação entre eles é linda, "um sentimento provocado no aluno, isto vai alfabetizando-o", Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi recorda o pensamento do seu pai;
  • a obra infantil "Uma História e Depois... Outras... 4º Grau", em 1948, conta histórias para emocionar, sensibilizar, isto alfabetizando. Assim era Professor Grisi. "Hão de ouvir aqui muitas histórias bonitas e aprender muita coisa útil!..." (GRISI, 1948, p.24).

A sua segunda missão foi discutir a Didática. Duas literaturas fotografam Dr. Raphael Grisi de corpo e alma em mais um momento de sua trajetória, Dr. Grisi e a Didática: "Pedagogia e Utopia", em 1952 e "Didática Mínima", 1956, obras para refletir e modificar o público-alvo – o futuro educador, o educador graduado e o pós-graduado. Publicações, também, analisadas no livro pelas autoras.

Duas literaturas reveladoras de uma época. Dr. Grisi, homem contemporâneo, porque escreveu a sua época. Ele sentia a Educação e seus entraves e escrevia para ele mesmo entender e para transformar isso. Uma ponte entre Dr. Raphael Grisi e a forte ação educativa da Literatura Brasileira:

Escrevo, porque à medida que escrevo vou me entendendo e entendendo o que quero dizer, entendo o que posso fazer. Escrevo, porque sinto necessidade de aprofundar as coisas, de vê-las como realmente são. (Clarice Lispector).

A sua terceira missão revela o Brasil buscando a sua afirmação industrial – o ensino profissionalizante.

É nessa estratégia que, nos anos 40, surgem no Brasil instituições de direito privado, mas com aportes do fundo público – como o Serviço de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço de Aprendizagem Comercial (SENAC) – cuja função precípua era de oferecer formação-profissional em grande escala. (FRIGOTTO, 1999, p.2).

Grandiosas missões do Filósofo da Educação do Brasil Raphael Grisi, "[...] ser humano voltado para os alunos prosperarem. Educador, formando pessoas. Acreditava na transformação do mundo via Educação" (Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi).

IV. O Gestor Educacional Dr. Raphael Grisi

Pensar a Educação e pensar a vida humana guioueste filósofo, mestre e gestor educacional em mais uma de suas missões: a criação do Ensino Superior Público da FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetras (FAFI) em1957, na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Hoje, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – IBILCE/Unesp

Dr. Grisi, articulador entre a administração estadual, a municipal e a sociedade rio-pretense, uma forte característica do gestor educacional participativo, ético e democrático do século XXI.

De um lado, Dr. Grisi envolvido com a Gestão Pública Educacional do Estado de São Paulo. E, do outro, a sociedade local de São José do Rio Preto. Gente determinada, pioneira, aguerrida, "criadeira" da sua Instituição de Ensino Superior, gente desejando estudar, aprender, prosseguir em seus estudos universitários.

Na obra, vários documentos oficiais visibilizam a implantação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em São José do Rio Preto. Eles revelam o trabalho do gestor educacional Dr. Grisi, gestor autêntico, ágil, mobilizando a sociedade, os órgãos públicos, a imprensa; formando o corpo docente desta faculdade, os cursos – currículo e fundando uma preciosa biblioteca nesta instituição.

V. Conclusão

Ao resgatarem as experiências singulares, o passado deste mestre, percebe-se que esta investigação traz a público o trabalho incansável de Grisi.

Trabalho organizado (cérebro e coração), gestor autêntico, mestre voltado para os alunos prosperarem, guia para sua família, homem dedicado às suas missões educacionais nascidas das circunstâncias históricas do nosso país, acreditava na transformação do mundo via Educação, filósofo que sentiu, pensou, escreveu e fez pela Educação Brasileira. Contemporâneo, ser humano de todas as épocas. (BIONDO, 2009, p. 110).

Assim, um caminho novo, uma experiência nova, um sentimento novo, uma história nova feita de tempo, memória e transformação, a de Raphael Grisi e o seu dom...

O seu poder de pensar a vida humana, de escrever, de aprender e ensinar e, também, de fazer as pessoas pensarem, aprenderem, ensinarem e escreverem e mais ainda, Raphael Grisi e o seu dom de fazer o ser humano "voar".

Referências Bibliográficas

BIONDO, A. M.; MAGRI, E. B. Raphael Grisi contemporâneo: deixa ser cérebro e coração no universo da educação brasileira. Bauru: Cá entre nós, 2009.

FRIGOTTO, G. Globalização e crise do emprego: mistificações e perspectivas da formação técnico-profissional. Boletim Técnico do Senac, n. 2, p. 1-32, 1999.

GRISI, R. A missão do Instituto de Educação. 1937. 11 f. Discurso de Representante dos Alunos das cinco Turmas de graduandos de 1937, do Instituto de Educação, da Universidade de São Paulo.

______. O ensino do vernáculo na escola secundária. 1938. 112 f. Monografia apresentada ao concurso para Livre-docente da 7ª Cadeira – Metodologia do Ensino Secundário – do Instituto de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.

______. O ensino da leitura: o método e a cartilha. São Paulo: Imprensa Oficial,1946.

______. Lalau, Lili e o Lôbo. São Paulo: Brasil, [194-]

______. Uma história e depois... outras... 4º grau. São Paulo: Brasil, 1948.

______. Pedagogia e utopia (O problema do "método didático universal"). 1952. 273 f. Tese (Apresentada ao Concurso para provimento da Cadeira de História e Filosofia da Educação) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, São Paulo.

______. Didática mínima. 4. ed. São Paulo: Brasil, 1956.