Pe. Joacir, além de padre, filósofo e escritor, é também uma pessoa que sempre manteve viva sua criança interior, uma criança que nunca se esqueceu dos contos que seu pai “Nozin” contava. E era Nozin que dizia que não se devem contar histórias de barriga vazia porque nada deve perturbar esse momento tão importante. Nem mesmo a fome.

            E foi assim: com a simplicidade da criança, a sabedoria do filósofo, a profundidade de alma do padre e a criatividade do escritor que esse livro foi feito. Seus contos, enquanto nos divertem, nos levam a reflexões sobre valores humanos, fé, comportamentos e questões sociais.

 

Sobre os contos:

 

            UM POBRE E UM RICO

            É um conto à moda antiga, daqueles que eram contados à beira do fogão à lenha, cheio de magia, e que fala de valores e ambição.

 

            INTERROGAÇÕES AO EU

            Nesse texto Pe. Joacir trata de assuntos delicados do comportamento humano com muita clareza e honestidade e nos leva a reflexões sobre nossas atitudes.

 

            A METAMORFOSE DA GALINHA

            Imaginem uma galinha que atravessa uma movimentada avenida e acaba botando um ovo no meio da rua. Agora pensem em que relação pode haver entre essa galinha e um homem que acaba de ser eleito Presidente da República. Nesse conto, Pe. Joacir não só relaciona esses dois personagens como trata de problemas sociais enquanto nos diverte.

 

            OS SAPATOS

            Sinto dor no pé só de lembrar! É um conto divertido de um jovem estudante que vai visitar sua mãe na fazenda. Por algum motivo tem que andar descalço do ponto de ônibus até a casa de sua mãe! Fala também dos costumes da fazenda, da sabedoria do povo e entre uma conversa e outra, discutem temas polêmicos da época, como a eutanásia.

 

            O SONHO NÃO SONHADO

            Muito mais do que um sonho é um pesadelo pra ninguém botar defeito! Tem como personagens um sacerdote de caráter duvidoso, um ateu, um rato e muitos outros. Fala sobre Folia do Divino, fé, vida após a morte, rituais e outros assuntos. Um conto que induz, acima de tudo, à muita reflexão.

 

            PITA, UMA CACHORRINHA QUE MATOU A FOME...

            Esse não é o último conto, mas eu o deixei por último porque para mim foi um verdadeiro presente! Foi o meu momento de trazer de volta a minha criança interior e lembrar de quando minha mãe me contava essa estória à luz do lampião, na fazenda onde nasci, no interior do Paraná. Nunca vi esse conto em livro nenhum e nunca ouvi ninguém contá-lo a não ser minha mãe. Poder lê-lo no livro do Pe. Joacir foi um presente de inestimável valor.

            É a estória de uma cachorrinha e de um jovem que quer se casar com uma princesa. Nesse conto há uma charada que o rei precisa decifrar. Eu pedia à minha mãe para repeti-la muitas vezes até que a decorei. É ligeiramente diferente da charada do livro do Pe. Joacir, mas em essência é a mesma.

 

            A charada como minha mãe contava:

 

            Mamãe matou Jessé

            Jessé matou sete

            de sete escolhi o melhor

            Atirei no que vi, matei o que não vi

            Morto carregando vivo,

            Coisa que nunca vi

            Aos pés da Santa Cruz assei e comi.

 

            A charada como Pe. Joacir conta:

 

            Pão matou Pita

            Pita matou sete

            De sete escolhi o melhor

            Atirei no que vi, matei o que não vi

            Na lasca da Cruz Santa assei e comi

            E também bebi água sem ser dos montes.

            Obrigada, Pe. Joacir, por nos presentear com seus belos contos, não só a mim, mas a todos os que tiverem o privilégio de conhecê-los.

          Minha sugestão é que leiam esse livro, depois convidem parentes e amigos para um bom lanche. Quando terminarem de lanchar, peguem aqueles banquinhos de madeira, de troncos de árvores, e se sentem no quintal, na varanda ou à beira do fogão a lenha e, de barriga cheia, contem os contos do Pe. Joacir.

 

* Geraldina Lombardi, professora, escritora, autora do livro: “Altas histórias do Paraíso”