O papel da Família na Aprendizagem

Para desenvolver de maneira adequada os aspectos biológicos, motores, fisiológicos e também psicológicos, a criança necessita da intervenção e mediação dos pais.  A mediação entre a criança e a realidade social se dá, na maioria das vezes, pela vivencia familiar. A tarefa de educar a criança é, pois, primeiramente da família. Desta maneira, é necessário que haja bons vínculos familiares, para o bom desenvolvimento da pessoa. 

De acordo com Barone (apud OLIVEIRA, 2003), na família, a mãe é a mediadora entre a criança e o mundo. A criança, ao nascer, diferentemente dos animais, não consegue sobreviver sozinha. Ela necessita, desde o primeiro instante da mediação de outra pessoa para auxiliá-la a satisfazer suas necessidades. Tal mediação se dá primeiramente, e mais diretamente, pela mãe e, em seguida, pela cultura que a cerca e que compreende através da linguagem e do conhecimento.

A família é a mediadora entre a criança e a realidade externa e esta é uma realidade essencial na criação das bases para que a criança tenha um desenvolvimento mental saudável. O afeto familiar produz um clima emocional para que o desenvolvimento da criança seja favorável em todos os seus aspectos. Para Winnicott (2005), a criança necessita dessa troca de afeto para ter bom desenvolvimento.

As crianças e jovens precisam sentir que pertencem a uma família. Sabe-se que a família é a base para qualquer ser, não se refere aqui somente família de sangue, mas também famílias construídas através de laços de afeto. Família, no sentido mais amplo, é um conjunto de pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas, de construírem algo e de se complementarem. É através dessas relações que as pessoas podem se tornar mais humanas, aprendendo a viver o jogo da afetividade de modo mais adequado.

É no âmbito familiar que a criança desenvolve suas habilidades, valores e comportamento sociais que irá auxiliá-la em sua adaptação a sociedade em que está inserida.

Atualmente, os pais devem estar cada vez mais atentos aos filhos, ao que eles falam, o que eles fazem, as suas atitudes e comportamentos. Eles se comunicam conosco de várias formas: através de sua ausência, de sua rebeldia, seu afastamento, recolhimento, choro, silêncio. Outras vezes, grito, zanga por pouca coisa, fugas, notas baixas na escola, mudanças na maneira de se vestir, nos gestos e atitudes. Os pais devem perceber os filhos. Muitas vezes, através do comportamento, estão querendo dizer alguma coisa aos pais. E estes, na correria do dia-a-dia, nem prestam atenção àqueles pequenos detalhes.

É inegável o importante papel que a família desempenha no processo de aprendizagem, tendo em vista que se constitui como elemento mediador entre a criança e a sociedade. Segundo Marques (2006) “nasce a criança necessitada de inserir-se humano genérico, de indivíduo aculturado e de sujeito singular”.

Reforçamos aqui a necessidade de se estudar a relação família/escola, onde o educador procura considerar o educando, não perdendo de vista a globalidade da pessoa, percebendo que, a criança, quando ingressa no sistema escolar, não deixa de ser filho, irmão, amigo, etc. A necessidade de se construir uma relação entre escola e família, deve ser para planejar, estabelecer compromissos e acordos mínimos para que o educando/filho tenha uma educação com qualidade tanto em casa quanto na escola.

 

 

A PARCERIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NA APRENDIZAGEM

 

A família como o primeiro contexto na qual se desenvolvem padrões de socialização onde a criança constrói o seu modelo de aprendiz e se relaciona com todo o conhecimento adquirido durante sua experiência de vida primária.  E a escola como lugar de aprendizagem de formas de convivência que não cabe aprender na família.

 Família e escola juntas, cria uma força de trabalho para superarem as suas dificuldades, construindo uma identidade própria e coletiva; é fundamental que se encarem como parceiras de caminhada, pois ambas as duas são responsáveis pelo que produzem - podendo reforçar ou contrariar a influência uma da outra. Aí entra a parceria família/escola. Uma conversa franca dos professores com os pais, em reuniões simples, organizadas, onde é permitido aos pais falarem e opinarem sobre todos os assuntos, será de grande valia na tentativa de entender melhor os filhos/alunos. A construção desta parceria deveria partir dos professores, visando, com a proximidade dos pais na escola, que a família esteja cada vez mais preparada para ajudar seus filhos. Muitas famílias sentem-se impotentes ao receberem, em suas mãos os problemas de seus filhos que lhe são passados pelos professores, não estão prontas para isso.

Passamos a trabalhar com a possibilidade de que o modelo de aprendizagem não se caracterize como algo de cunho somente individual, mas também como modelo desenvolvido em uma rede de vínculos. Assim, a família se revela não somente como fator indispensável na estabilidade emocional da criança como também na sua educação, com isso, o sucesso da tarefa da escola depende da colaboração familiar ativa.

Independentemente de como a família é constituída, esta é uma instituição fundamental da sociedade, pois é nela que se espera que ocorra o processo de socialização primária, onde ocorrerá a formação de valores. Este sistema de valores só será confrontado no processo de socialização secundário, isto é, através da escolarização e profissionalização, principalmente na adolescência. (Valadão; Santos, 1997, p. 22).

A criança desde pequena sofre influências dos pais que assumem duas formas distintas. Os que participam ativamente da vida escolar de seus filhos acompanhando o processo de aprendizagem incentivando nos estudos, leituras, realizações de tarefas, reuniões escolares, etc,contribuindo assim, para que a aprendizagem se dê de maneira construtiva. E aqueles que não estabelecem nenhum vínculo com a “vida escolar” de seus filhos, transferindo seu papel para a escola, como: educação sexual, definição política, formação religiosa, entre outros. Com isso a escola vai abandonando seu foco e a família perde a função.  A escola não deve ser somente um lugar para a aprendizagem, mas também um lugar onde se dará uma continuidade da vida afetiva que acontece no ambiente familiar.

 A escola é, para a maioria, o primeiro lugar de aproximação com a diversidade existente e crescente na sociedade global. Nela a criança é levada conviver de forma sistemática com crianças de outras origens, raças, culturas, classes e capacidades com as quais, fora da escola, tem uma relação nula ou restrita (Enguita, 2004, p 67)

 

Tendo em vista a importância do trabalho coletivo para que a aprendizagem ocorra de fato, é necessário a interação entre escola e família, e que ambas se encarem responsáveis neste processo. Uma depende da outra na tentativa de alcançar o maior objetivo, qual seja, o melhor futuro para o filho e educando e, automaticamente, para toda a sociedade.

O que ocorre é que torna-se difícil caracterizar os papéis dessas instituições. As funções da família e da escola encontram-se muito difusas numa sociedade tão complexa como a atual. Há uma confusão de papéis, sendo que tanto os pais quanto os professores sentem dificuldades em definir suas funções. (Valadão; Santos, 1997, p. 47).

             Sendo assim, ao mesmo tempo em que se é aluno também se é filho e vice-versa, o que faz com que família e escola estejam interligadas; portanto, é importante se perceber as funções e as responsabilidades de ambas, para as duas não fiquem em um “jogo de empurra”, onde o aluno acaba ficando no meio, sendo ele o personagem de suma importância para ambas, mas suas necessidades ainda continuam à espera de atitudes corretas e eficazes.

 

 INDIVÍDUO NA SOCIEDADE

 

            Nossa vida cotidiana é demarcada pela vidaem comunidade. Estamos o tempo todo nos relacionando com outras pessoas. Todos nós como indivíduos estamos inseridos em uma sociedade, por meio de grupos institucionalizados e que determinam nossa vida social.

            Segundo Lane (1985) “é nas relações entre os indivíduos, pela participação entre eles, estes se transformam e transformam o grupo produzindo o próprio grupo”.

 

A escola se constitui num pólo de referência e ampliação de uma identificação com a família para uma identificação mais geral com o grupo social externo, ou seja, na construção da identidade do ser social. (Valadão; Santos, 1997, p. 8).

Contudo, para que o indivíduo seja um agente consciente da sua prática social, é preciso que ele se torne capaz de dominar o conhecimento elaborado existente na sociedade em que vive, inclusive o próprio modo de produzir este conhecimento.

Para Lane (1985) “apenas a ação efetiva compartilhada com os outros é que poderia ser caracterizada como participação”. A autora ainda acrescenta que “é o grupo condição para que o homem supere a sua natureza individualista, se tornando um agente consciente na produção da historio a social”.

Portanto podemos definir a socialização como a sequência de experiências de aprendizagem social cujo resultado é a integração do indivíduo na sociedade. Sendo assim, a aprendizagem social é o processo fundamental da socialização, entendendo-se por qualquer modificação dos conhecimentos ou dos comportamentos como resultado da interação com as pessoas.

 

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Para que exista capacidade de aprender é necessário que a criança forme ações mentais adequadas, inicialmente existentes sob a forma de eventos externos que são apropriados pelo indivíduo e gradativamente interiorizados. Deste modo, a aprendizagem é um conteúdo da experiência humana e das ações compartilhadas que a criança apropria-se ao manter contato com seu grupo.

Portanto,  ao pensarmos nos alunos como filhos e cidadãos, veremos que é impossível colocar à parte escola, família e sociedade, pois a tarefa de ensinar não compete apenas ao professor, até mesmo porque o aluno não aprende apenas na escola, entre outras coisas, ele aprende também através da família, dos amigos, das pessoas consideradas significativas, dos meios de comunicação, do cotidiano. Por isso, é preciso que professores, família e comunidade tenham claro que a escola, por sua complexidade, precisa contar com o envolvimento de todos.

 

REFERÊNCIAS

 

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. PSICOLOGIAS: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia.13 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

 

ENGUITA, M. F. Educar em Tempos Incertos. Porto Alegre: Artimed, 2004.

 

LANE, S. T. M. O que é Psicologia Social? 22 ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

 

MARQUES, M.; O. A Aprendizagem na Mediação Social do Aprendido e da Docência. 3 ed. Ijuí- RS/Brasília-DF: Unijuí, 2006.

 

OLIVEIRA, V. B. de. et al. Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis

_________. Avaliação Psicopedagógica da criança de sete a onze anos. Editora Vozes, 2003.

 

WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

__________. A criança e o seu mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC Editora 1982.

 

  VALADÃO, Cláudia Regina, e SANTOS, Regima de Fátima Mendes (1997): Família e escola: visitando seus discursos. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a UNESP-Franca).

   Autores:  AUDREI A. MOTTA - Fonoaudióloga CRFa 9751-Pr

                  JOSIANE APARECIDA B. DA SILVEIRA - Pedagoga

                  MARIUCE AGUSTIN DE OLIVEIRA- Pedagoga