Aprendizagem Significativa: um Compromisso para os Docentes Universitários

 Autor: Leonel Jone - Docente da Universidade Pedagógica, Delegação de Quelimane, Departamento de Ciências de Educação e Psicologia

Jorge Lufiande - Docente da Universidade Pedagógica, Delegação de Quelimane, Departamento de Ciências de Educação e Psicologia 

 

RESUMO

Quando se questiona sobre o tipo de aprendizagem que deve merecer atenção no ensino superior, muitas ideais convergem na aprendizagem por descoberta que emparelha com o ensino centrado no estudante. O presente ensaio, pretende mostrar quão importante é a aprendizagem significativa no ensino superior. A base da pesquisa foi a revisão bibliográfica. Conclui-se que tanto a aprendizagem por descoberta ou o ensino centrado no aluno podem ter êxito quando se transformam em significativa para o estudante.

Palavras-chave: aprendizagem; aprendizagem significativa.  

 

INTRODUÇÃO

Num mundo extremamente competitivo, a universidade precisa se preocupar com o estudante, impulsionando condições para o seu desenvolvimento integral, tentando desenvolver suas potencialidades ao máximo, para que possa atingir seu nível de excelência pessoal e estar preparado para um papel actuante na sociedade.

Para tanto, a universidade precisa olhar o estudante de forma diferenciada e empática, principalmente nos caloiros, por estarem num período crítico para o seu ajustamento académico.

É papel da universidade ajudar o estudante a conhecer melhor o mundo que lhe rodeia e a intervir nos problemas do dia-a-dia. Isto só acontece quando os conteúdos de ensino não se dissociam da realidade do dia-a-dia do estudante. Para tal o docente é chamado a ser flexível, criativo no sentido de fazer com que os conteúdos a serem aprendidos sejam significativos para o estudante.

O presente ensaio vai abordar sobre aprendizagem significativa, focalizando na actividade do docente que impulsionam este tipo de aprendizagem. Não só como também vai mostrar; os erros mais comuns cometidos pelos docentes que minam uma aprendizagem significativa. 

 

CONCEITO DE APRENDIZAGEM 

Tavares & Alcarão (2005:86) definem a aprendizagem como sendo uma construção pessoal, resultante de um processo experiencial, interior à pessoal e que se traduz numa modificação de comportamento relativamente estável.

Para Netto (1987:10), citando G. A. Kimble (1961), aprendizagem é uma mudança relativamente permanente na potencialidade do comportamento, que resulta da prática reforçada.

Podemos descrever a aprendizagem como sendo “um processo de aquisição e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir.” (SCHMITZ, E. F. Op. cit. P. 53).

A partir destes três conceitos seleccionados percebe-se que existe algo em comum entre os autores, isto é, todos acreditam que onde há aprendizagem existe mudança de comportamento. Portanto, diz se que alguém aprendeu quando manifesta um comportamento diferente que antes não exibia. Por exemplo, uma criança que não conseguia contar e começa a contar poucos dias depois de participar nas aulas relacionadas a contagem. Note-se que no último conceito existem dois termos “assimilação e acomodação” que são termos piagetianos. No primeiro consiste no aprendiz responder aos estímulos do ambiente com base nos conhecimentos já adquiridos e no segundo o individuo é obrigado a modificar ou reestruturar os conhecimentos existentes na estrutura cognitiva para incorporar nova realidade. Portanto os dois conceitos assimilação e acomodação são dependentes de um conhecimento prévio do aprendiz. É deste conhecimento prévio que é de acordo com Ausubel (um dos psicólogos de educação que introduziu o conceito de aprendizagem significativa) que depende a Aprendizagem Significativa.    

 

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA OU RECEPTIVA

Para Ausubel, aprendizagem significativa é aquela que acontece quando um novo conteúdo é relacionado a um aspecto evidente, já existente, na estrutura cognitiva do aprendiz. Ao contrário será, a aprendizagem mecânica que ocorre quando a nova informação não se relaciona a conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva do sujeito sendo arbitrariamente armazenada e, portanto, pouca ou nenhuma interacção ocorre entre a nova informação adquirida e aquela já armazenada (Novak, 1981).

Ausubel refere-se à estrutura cognitiva como o conteúdo total das informações, isto é experiências, conceitos, princípios etc., sendo esta altamente organizada e hierarquizada, na qual elementos menos importantes são incorporados a conceitos maiores, mais gerais e inclusivos.

Portanto, todo docente que queira desenvolver um ensino virado para uma aprendizagem significativa deve é explorar o mapa cognitivo dos seus estudantes e ter em conta alguns pontos fundamentais deste tipo de aprendizagem. 

 

Pontos fundamentais da aprendizagem significativa

O docente deve ter em conta que o aluno só aprende quando encontra sentido no que aprende, para tal:

  • O conteúdo a ser aprendido deve ser relacionável com a estrutura cognitiva do aprendiz.
  • O conteúdo deve ser potencialmente significativo, não só no sentido de relação entre o existente e o novo, mas também no sentido de ser útil para a resolução de problemas do dia-a-dia. Não quer isto dizer que, o professor vai escolhendo no plano curricular ou no plano analítico conteúdos significativos para os alunos, mas sim fazer com que os conteúdos se tornem significativos para os estudantes. Para tal é necessário como se disse a exploração do mapa cognitivo dos estudantes.   
  • O aprendiz deve manifestar uma disposição para relacionar o novo material à sua estrutura cognitiva. Neste ponto refere a motivação do aprendiz que é uma variável muito importante para a ocorrência da aprendizagem significativa. É o papel do docente, na sua actividade de leccionação prestar a tenção ou criar estratégia que visam a motivar os seus estudantes. 

 

Práticas de Ensino que Visam uma Aprendizagem Significativa

 Nenhum docente poderá ensinar algo a um estudante que não quer aprender. Para que alguém aprenda é necessário que ele queira aprender. Por isso é muito importante que o docente saiba motivar os seus alunos. Como?

Através de uma variedade de recursos, o tipo de conteúdo, métodos e procedimentos, o docente pode criar uma situação favorável à aprendizagem. Para criar essa situação o docente deve:

  • Conhecer os interesses actuais dos alunos para mantê-los ou orientá-los.
  • Buscar uma motivação suficientemente vital, forte e duradoura para conseguir dos alunos uma actividade interessante e alcançar o objectivo da aprendizagem;
  • Fazer o aluno relacionar a nova informação com outros conceitos relevantes já existentes em sua estrutura cognitiva;
  • Organizar a matéria a ensinar de uma forma lógica;
  • Explicar quais os objectivos que se pretendem alcançar em cada actividade;
  • Buscar um assunto que tenha ligação com a vida do aluno;
  • Deixar claro no primeiro contacto com os estudantes que o sucesso daquela disciplina vai depender de um trabalho em equipa entre professor e alunos, de parceria e co-responsabilidade e que irá começar naquele mesmo instante.
  • Procurar sempre fazer com que o conteúdo se torne potencialmente significativo, ou seja ele tem que ser logicamente e psicologicamente significativo: o significado lógico depende somente da natureza do material, e o significado psicológico é uma experiência que cada indivíduo tem;
  • Evitar dissociar a sala de aula da vida prática do aluno;
  • Servir-se do currículo, dos métodos de trabalho, das actividades, dos materiais, para ensinar o aluno a pensar, não para encher sua cabeça com informações. Portanto isto exige não só mudanças metodológicas, mas, principalmente, reflexão contínua sobre o contexto cultural que cerca seus alunos. 

 

Erros mais comuns cometidos pelos docentes que minam a aprendizagem significativa ou receptiva

 De acordo com Coll (1993), cintando Ausubel, considera que esses métodos estejam livres de perigos, pelo contrário, considera que, tradicionalmente os métodos de exposição foram mal utilizados. Entre os erros mais comuns cometidos pelos docentes na utilização da aprendizagem por recepção estão:

  1.  O uso prematuro de técnicas previamente verbais com alunos cognitivamente imaturos.
  2. Apresentação arbitrária de factos não relacionados, sem organização alguma ou princípios explicativos.
  3. O fracasso na integração dos novos conhecimentos com os materiais apresentados previamente.
  4. O uso de procedimentos de avaliação que medem unicamente a habilidade dos alunos para reproduzir as ideais, com as mesmas palavras ou em contexto idêntico àquele em que foram aprendidas.

Todas estas práticas docentes fomentam no aluno a utilização de uma aprendizagem repetitiva e não significativa. Pelo contrário Ausubel e seus colaboradores (Ausubel, Novak e Hanesian, 1978, pp. 123-124) sustentam que o docente deve instigar no aluno o desenvolvimento de formas activas de aprendizagem por recepção, promovendo uma compreensão precisa e integrada dos novos conhecimentos. Para isso propõem: 

  1. Apresentação das ideais básicas e unificadoras de uma disciplina, antes da apresentação dos conceitos mais periféricos.
  2. A observação e o cumprimento das limitações gerais sobre o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos.
  3. A utilização de definições claras e precisas, e a explicitação das similitudes e diferenças entre conceitos relacionados.
  4. A exigência aos alunos, como critério de compreensão adequada, da reformulação dos novos conhecimentos com suas próprias palavras.

Estas recomendações para os docentes têm como propósito assegurar uma correcta compreensão dos novos conteúdos por parte do aluno, ou seja, em termos ausubelianos, conseguir uma adequada integração dos novos conhecimentos na estrutura cognitiva prévia do indivíduo. A ideia chave é proporcionar ou indicar ao aluno quais são os conceitos de maior nível de generalidade, os inclusores, que devem ser activados para consegui-lo

Mediante a apresentação de um organizador prévio, antes de uma lição ou de um texto, trata-se de proporcionar uma ponte “entre o que o sujeito já conhece e aquilo que necessita conhecer, para assimilar significativamente os novos conhecimentos. 


Conteúdos que os estudantes mais gostam

De acordo com Moran (s/d), hoje milhões de estudantes passam de um ano para o outro sem pesquisar, sem gostar de ler, sem situações significativas vividas. Não guardam nada de interessante do que fizeram a maior parte do tempo. Há uma sensação de inutilidade em muitos conteúdos aprendidos só para livrar-se de tarefas obrigatórias. Isto acontece, quando o docente durante a distribuição de actividades não é claro quanto aos objectivos que se pretendem alcançar, e não procura explorar o conhecimento que os estudantes possuem sobre a matéria e muito menos a utilidade dela para o dia-a-dia do estudante ou no seu campo profissional.

Casos como estes acontecem com muita frequência nos caloiros que são recomendados trabalhos como elaborar fichas de leitura, fazer resumos, apresentar seminários, antes de perceberem pelo menos os conceitos básicos, estrutura de um trabalho e muito menos consultar uma obra e fazer citações. Talvez haja espaço para estas actividades quando se aborda de aprendizagem por descoberta ou centrada no aluno. Será a aprendizagem centrada no aluno ou por descoberta não necessita de alguma bagagem para se apoiar? Acredito que necessita, porque ao contrário seria uma aprendizagem descoberta mecânica.

Os estudantes gostam e participam activamente nas aulas quando se identificam ou percebem a necessidade do conteúdo para o seu dia-a-dia. Diante desta visão podem surgir algumas inquietações na parte dos docentes. Como por exemplo, onde encontrar conteúdos interessantes ou significativos para os alunos, uma vez que os mesmo não dependem do professor, mas sim do plano analítico.

O professor não selecciona, mas sim faz com que cada conteúdo se torne significativo e interessante para os estudantes. Para tal, é necessário que em cada plano de aula o docente se questione a importância de cada conteúdo para os estudante e sobre qual é a mais-valia que o conteúdo possui para os aluno? O que eles vão ganhar com o conteúdo? E procurar mostrar exemplos concretos do dia-a-dia relacionados ao conteúdo em estudo. Portanto, o aluno deve se identificar ou relacionar os conteúdos com o quotidiano. Quando isto acontece os alunos participam activamente porque os conteúdos são significativos para eles.   

 

CONCLUSÃO

 No ensino superior há espaço para a prática de Aprendizagem significativa. E qualquer tipo de aprendizagem deve ser significativo para o aprendiz, seja ela por descoberta ou ensino centrado no aluno. Porque, tanto o ensino centrado no aluno assim como a aprendizagem por descoberta deve se apoiar no conhecimento prévio do aprendiz. Para tal o docente tem um papel importante na construção de uma aprendizagem significativa. Conhecendo melhor as experiencias, do dia-a-dia, o docente pode desenvolver nos seus alunos uma aprendizagem significativa. É papel do docente Universitário enquadrar os conteúdos as necessidades do dia a dia-a-dia do estudante.   

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

AZEVEDO, A. & AZEVEDO, C. Metodologia Científica: Contributos Práticos Para Elaboração de Trabalhos Académicos. 2a ed. Porto editora, 1994.  

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. Cortez editora, São Paulo, 2000.

COLL, C. et all. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. 2a ed. ARTMED Editora, Brasil, 1993.   

MENESES, E. & SILVA, E. Metodologia de Pesquisa e Elaboração de Dissertação, 3a ed. Floreanópoles editora, 2001.

NETTO, Samuel Pfrom. Psicologia da Aprendizagem e do Ensino. São Paulo, Editora Pedagógica e Universitária, 1987.

TAVARES, J. & ALARCÃO, I. Psicologia de Desenvolvimento e da Aprendizagem. Almeida ed. Coimbra, 2005.

TEODORO, A. Ensinar e Aprender no Ensino Superior. 2a ed. Cortez editora, São Paulo, 2005.

MORAN, J. Aprendizagem Significativa. Disponível em www.eca.usp.br/prof/moran, http://www.escola2000.org.br/comunique/entrevistas/ver_ent.aspx?id=47