APRENDIZADO DE OUTRO IDIOMA: A IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE HUMANA
Eliane Lago Moraes



RESUMO

Compreender o processo de formação do ser humano em sua totalidade ainda está longe de ser realidade absoluta. Mas debruçar-se diante das investigações no intuito de descobrir as etapas constituintes de tal processo é oportunidade inadiável para qualquer indivíduo, mas principalmente para os facilitadores da aprendizagem. Uma das possibilidades para a interpretação da formação da identidade consiste na aquisição de uma segunda língua. A linguagem e o conteúdo ideológico são inseparáveis na construção da identidade, uma vez que, esse processo possibilita a reconstituição constante do próprio eu. No entanto, para que a exteriorização da estruturação lingüística ideológico-reflexiva aconteça é preciso mudança de postura tanto nas instituições regulares, quanto nos centros de ensino especializados em ensino de idiomas.
Palavras-chave: aprendizagem, identidade, idioma, reconstituição




Introdução
O aluno de língua estrangeira em sua maioria não sabe da real importância dessa aprendizagem, ele repete o conceito que fora atribuído por muitos, quando na verdade o professor deve assumir a tarefa de mostrar que tudo isso vai além da exigência do mercado de trabalho, o acesso às diferentes culturas existentes e os posicionamentos ideológicos tornam-se bem mais relevantes que a disputa por uma vaga de trabalho.
A linguagem e o conteúdo ideológico são inseparáveis na construção da identidade, uma vez que esse processo possibilita a reconstituição constante do próprio eu. Não existe receita estruturada para ensinar outra língua e, a intenção deve ser a disseminação cultural da mesma; a propagação e o confronto ideológico reflexivo devem ser desenvolvidos constantemente nesse momento de estruturação linguística. Para que tal exteriorização aconteça precisa haver mudança de postura tanto nas instituições regulares, quanto nos centros de ensino especializados em ensino de idiomas. A provocação nos discentes quanto à cultura do país que produziu tal língua estrangeira, oferta um ponto de partida para uma possível reflexão, pois a língua é tanto a manifestação de valores/ideais de um povo quanto um instrumento que favorece o conhecimento de uma nação. Suscitando sempre uma discussão a respeito da importância do aprendizado de outro idioma no processo de formação da identidade no intuito de formar indivíduos intelectualmente independentes e autônomos.
O estudo será o resultado de um trabalho investigativo, uma vez que, a real importância do aprendizado de idiomas não é perpassada aos discentes em sua essência, negligência educacional que distorce consequentemente o aprimoramento do educando como pessoa humana.




1 A concepção de língua

O acesso à segunda língua deve ser entendido como parte integrante e indispensável na formação do sujeito. A efetivação da aprendizagem de uma segunda só é possível quando existe o acesso à linguagem por intermédio da língua materna.
Segundo Revuz (1998, p. 219), "muito tempo antes de poder falar, a criança é falada intensamente pelo seu ambiente, e não há nenhuma palavra que não seja, a um só tempo, designação de um conceito pelo ambiente". Através da subjetividade existe a explicitação da linguagem.
É bastante comum o equívoco quanto à concepção de língua, linguagem e escrita. Para a maioria das pessoas, inclusive docentes acreditar que língua é o ensino da gramática normativa, da sintaxe em sua essência, a linguagem é interpretativa como uma relação com o pensamento e a leitura como a decodificação de um texto.
A história da linguagem perpassa a composição histórico-humana e, é preciso analisar as defesas dos clássicos no assunto. Em se tratando da lingüística estrutural é imprescindível destacar Saussure, ele a classifica da seguinte forma:
A linguagem é de natureza heterogênea, portanto é multiforme e heteróclita, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, além disso, pertence ao domínio social...a linguagem é um produto social da linguagem, constitui algo adquirido e convencional, compõe-se de um sistema de signos aceitos por uma comunidade linguística...a fala é um ato individual de vontade e inteligência do indivíduo que usa a língua é acessória e mais ou menos ocidental.(2006, p. 17-22)

Na visão desse autor a linguagem não pode ser objeto da Linguística pelo fato de não classificá-la em nenhuma categoria de fatos humanos. Em um poema de Gregório de Matos ao fazer uma analogia pode-se verificar os conceitos tanto de língua como quanto de linguagem:

"O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte;
Não se diga que é parte, sendo o todo".

As interpretações sobre tais elementos são diferentes aos olhos de Bakhtin, uma vez que, seleciona como objeto de estudo a linguagem em uma perspectiva sociointeracionista, ele afirma que a interação verbal constante na sociedade é que fundamenta o princípio do diálogo interacionista: "a palavra constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro", (BAKHTIN, 1986, p. 113). A língua e a linguagem são atividades interativas, pois o ser humano faz uso da linguagem para manter as suas relações no âmbito social.
Diante de tais analogias é preciso ter consciência que o ato de apreender "outra língua colocará sempre o aprendiz em contato com outra ideologia, o que poderá gerar um conflito permanente com a ideologia de sua língua materna." (CORACINI, 2003).
Evidentemente que esse conflito poderá distanciar o aprendiz da segunda língua, aí entra o docente como o maior auxiliador no rompimento das barreiras impostas pelo medo do desconhecido. Para Revuz (1998, p.227), "aprender uma língua é sempre, um pouco, tornar-se um outro." A partir disso destaca-se como probabilidade a atração ou rejeição. Mas o indivíduo não deixará de ter a construção de sua identidade alterada, o desdobramento do outro eu possibilita esse processo renovador.

2 A necessidade da linguagem
O ser humano não faz idéia em primeira instância, da importância da palavra em sua própria formação e na organização social. Toma-se por base, a necessidade de exprimir um pedido de socorro ou um alívio. Com o passar do tempo, o desenvolvimento de uma comunicação mais estreita tornou-se necessária, devido às suas idéias. A junção de sons, as inflexões na voz, os gestos multiplicaram-se, dessa forma começaram a explicar os objetos visíveis e móveis por meio de gestos, mas esses gestos ainda eram muito falhos por não ser universal, o que dificultava a compreensão, assim as articulações da voz começaram a ser mais importantes. O homem dava a cada palavra o sentido de uma proposição inteira, mais tarde cada uma delas já ocupava a sua classe gramatical.
Como o homem pode expressar-se sem a linguagem? Ela pode ser verbal ou não-verbal, mas a linguagem permeia todas as ações, sejam individuais ou coletivas. Não existe maior estado de miséria do que a falta de compreensão lingüística.
Refletir sobre a substancialidade da linguagem no processo de formação da identidade humana é tarefa de todos os educadores, pois sem ela não se pode transmitir qualquer informação e, essa é uma necessidade tipicamente humana. Além de ajudar o indivíduo no desdobramento constante do seu eu.
A maior parte dos alunos apresenta dificuldade em expressar plenamente (razão+emoção) em outra língua devido à falta de embasamento cultural do povo que a fala e dos valores que a compõe. Os elementos intrínsecos num texto fictício, a parte metafórica, a sonoridade, a ironia, que podem ser características de uma época ou autor daquela nação ficam comprometidos diante da ausência do conhecimento da origem cultural .
Conforme Eliot (1991, p. 30)
É mais fácil pensar do que sentir numa língua estrangeira (....). Um povo pode ter sua língua trasladada para longe de si, abolida, e uma outra língua imposta nas escolas; mas a menos que alguém ensine esse povo a sentir numa nova língua, ninguém conseguirá erradicar o idioma antigo(...). Um pensamento expresso numa língua diversa pode ser praticamente o mesmo pensamento, mas um sentimento ou uma emoção expressos numa língua diferente não são o mesmo sentimento nem a mesma emoção (...). Uma das razões para que aprendamos bem uma língua estrangeira é que isso nos permite adquirir uma espécie de personalidade suplementar; uma das razões para não adquirirmos uma nova língua em lugar de nossa própria é que a maioria de nós não deseja tornar-se uma pessoa diferente.

Expressar-se na própria língua é mais confortável, dado o conhecimento acerca da cultura que a envolve, mas o inverso não é verdadeiro caso não exista o conhecimento do mundo que a constitui. Exatamente por isso, a escola de idiomas e a tradicional deve trabalhar com os valores constitutivos da língua a ser estudada. É tarefa do professor apresentar textos que demonstrem aos discentes o universo que constitui tal língua tornando-os capazes de intervir criticamente e recriar quando necessário. Assim o facilitador da aprendizagem mostra o caminho da criticidade e promove a interação, fator responsável pelo aprendizado mais rápido de outro idioma favorecendo assim a reconstituição do eu do educando.

3 Os professores reflexivos de língua estrangeira
Ensinar é uma tarefa multidimensional, é preciso maturidade para perceber as variações de um sujeito para o outro e desenvolver paralelamente a mais adequada técnica didático-pedagógica e transmitir de forma eficaz uma segunda língua. A formação de professores passou por diversas fases, cada uma delas com suas características valorativas e que foram sendo lapidadas ao longo do tempo, exigindo flexibilidade e adaptação dos docentes. Pimenta (2000, p.17) afirma que

A formação de professores pode ser percebida em quatro movimentos durante os últimos anos. Inicialmente e a educação de professores baseava-se na competência acadêmica. Posteriormente houve uma formação mais personalista e individual. No movimento seguinte pode-se perceber um foco na linguagem e no aprendizado. E, finalmente, destaca-se a formação com base na transformação de perspectiva. Esse último movimento se baseia na maneira pela qual os professores podem adquirir maior consciência crítica de seus pensamentos e práticas. Esse processo reflexivo auxilia o professor a lidar com dificuldades no ensino.

Muitos docentes acreditam na memorização constante, outros na repetição e alguns no método conversativo. Diversas instituições já interpretam positivamente a manutenção da conversação na sala de aula, como forma de promover tanto o aprendizado quanto a interação, deixando de lado o inglês instrumental (baseia-se na tradução) que durante muito tempo foi a técnica mais utilizada, ainda nas universidades este encontra espaço significativo, mas os resultados positivos obtidos com a criação de diálogos e indagações que favorecem a emissão de opiniões estão sendo perceptíveis e adotadas, mesmo que lentamente, por diversos educadores e instituições.
Não existe um método mais eficaz do que outro, mas sim a adequabilidade do que mais coaduna com as necessidades de um determinado grupo ou situação, mas todos eles devem ser aplicados de forma consciente para que a formação do outro eu do discente seja mantida, desmascarando sempre a ideologia dominante na prática cotidiana através da reflexão.

4 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e sua aplicabilidade
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram desenvolvidos a partir da criação da LDB 9.394/96, pelo Ministério da Educação (MEC), objetivando elaborar vários documentos orientativos sobre a práxis pedagógica, haja vista, a dimensão territorial do Brasil e as divergências na formação dos educadores. Surgiram abordando enfaticamente desde a tradição pedagógica brasileira, inclusive os Temas Transversais, até o nível Superior.
O conhecimento de uma Língua Estrangeira é hoje um direito e um requisito para o exercício pleno de cidadania. O contato físico está mais acessível por conta da facilidade encontrada no mundo do turismo, ma a distância social ainda persiste. Como atender aos pedidos/objetivos dos PCNs e democratizar o acesso à outra língua?
A diversidade cultural existente na esfera social está intrinsecamente ligada ao passaporte comunicacional chamado de domínio de outro idioma.
Ter acesso ao ensino de língua estrangeira propiciará a auto-afirmação e a superação do sentimento de exclusão, ainda latente no seio da nação que adotou a visão Comtiana de Ordem e Progresso. Se isso nos estimula a pensar em reformulações, pode-se refletir sobre o que afirma Morin (2000, p. 20): "a reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar á reforma do ensino".
Sendo assim, torna-se necessário compreender quais são os objetivos defendidos pelos PCNs (1999, p.153), relacionados à Língua Estrangeira Moderna. Vejamos a tabela abaixo:




Representação
E comunicação ?Escolher o registro adequado à situação na qual se processa a comunicação e o vocábulo que melhor reflita a idéia que pretende comunicar.
?Utilizar os mecanismos de coerência e coesão na produção oral e/ ou escrita.
?Utilizar as estratégias verbais e não-verbais para compensar as falhas, favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido em situações de produção e leitura.
?Conhecer e usar as Línguas Estrangeiras Modernas como instrumento de acesso a informações a outras culturas e grupos sociais.


Investigação
E compreensão ?Compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e/ ou culturais.
?Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal,
relacionando textos/contextos mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas, tecnologias disponíveis).

Contextualização
sócio-cultural
?Saber distinguir as variantes lingüísticas.
?Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.
Fonte: PCNs (1999) ? Ministério da Educação
Os objetivos acima destacam com afinco as possibilidades interacionistas dentro do contexto social. O acesso às diferentes culturas e grupos sociais, as variantes lingüísticas, a comparação/relação entre textos e contextos e as partes mais densas que são a criação e a propagação de idéias/escolhas a partir da compreensão de quem foi, pensou, agiu e sentiu o que produziu.
O desdobramento do eu começa desde o momento em que para apreender outro idioma o balbuciar do alfabeto daquela língua passa a ser executado. É um momento de flexibilidade e tipicamente racional que um ser humano pode experimentar. Essa reconstituição do próprio eu revela as potencialidades naturais e pouco exploradas da espécie humana. Se um dia a língua materna aprendida dava conta de que aquela planta produzia uma rosa ele constitui o seu eu e em outro momento aprendera que aquela mesma flor era uma rose (em inglês) ele precisou se reinventar, reconstituir próprio eu para internalizar tal palavra.
O momento de aprendizagem de outro idioma pode ser entendido como uma verdadeira exposição das potencialidades humana.
No Brasil as regras em sua maioria só são seguidas pelos cidadãos quando são obrigatórias. Embora a legislação anterior a LDB 9.394/96 já contemplasse uma Língua Estrangeira Moderna, sem o caráter obrigatório, isto atrasava essa reconstituição do eu em larga escala, pois a não obrigatoriedade deixava sem estímulo professores e alunos quanto à disciplina. Ainda hoje, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a maioria das atividades propostas educativas no Ensino de línguas já oferece uma abordagem comunicativa, mas as atividades em geral, ainda exploram a estrutura gramatical fora de qualquer contexto. Ou seja, a gramática é vista como algo desvinculado das situações de contato interpessoal e dos textos disponíveis na vida real (livros, revistas, internet, canções).
Muitos dos alunos brasileiros recorrem aos institutos de idiomas divido as lacunas existentes no processo de ensino-aprendizagem que as escolas de ensino regular e também universidades/faculdades deixam ao longo do caminho. Um número expressivo de docentes de institutos especializados no ensino de línguas, afirma receber discentes bloqueados por conta da mutilação educacional que sofreram na escola, justamente pela falta da adequabilidade ainda utópica defendida pelos PCNs.
A educação brasileira precisa de avanços não teoricamente, mas uma de progressão teórica ? pratica. Será que as licenciaturas em Letras (Português/Inglês) habilitam realmente os docentes? Ensinar regras gramaticais e um punhado de metodologia ainda é pouco para a responsabilidade do docente frente á reconstituição do eu do seu educando.


5 A heterogeneidade social e o ensino de línguas vigentes.

Atentar-se para a língua como algo vivo torna-se mais dinâmico o ensino de um segundo idioma.
A dificuldade da permanência do conceito de gramática como sistema abstrato diante da concepção heterogênea da linguagem não significa o abandono do valor da sistematicidade da linguagem. Entendendo um sistema como um conjunto de regras, qualquer sistema tem como função descrever as regras de uma determinada prática. (BOURDIEU, 1977).

Infelizmente, na tradição de ensino de línguas, a gramática vem sendo abordada como antecessora do uso prático da linguagem. Conforme Gee, referindo-se ao docente de inglês, em dizeres aplicáveis a professores de Língua Estrangeira:
[...] os professores de inglês podem cooperar em sua própria marginalização imaginando-se como meros "professores de língua" sem conexão alguma com questões sociais e políticas. Ou então podem aceitar o paradoxo do letramento como forma de comunicação interétnica que muitas vezes envolve conflitos de valores e identidades, e aceitar seu papel como pessoas que socializam os aprendizes numa visão de mundo que, dado seu poder [...] deve ser analisada criticamente. (GEE, 1986, p.722).

Não se pode preparar um educando somente para o presente, mas principalmente para a heterogeneidade social vigente e futura.
O uso de diferentes técnicas tendo como princípio a vivacidade da língua pode favorecer o ensino-aprendizagem de melhor qualidade. O docente do século XXI precisa ser estrategista, sensível ao grupo para o qual leciona para conseguir a aplicação efetiva de diferentes técnicas.





6 O que é estratégia de aprendizagem?

O vocábulo "estratégia", que vem do grego antigo strategia, significa, em geral, a arte da guerra. De acordo com Oxford (1990), além e todas as referências possíveis a batalhas, guerras, entre outras, o termo também mantém relação estreita com palavras táticas, e, algumas vezes, confunde-se com esta. Em ambas as palavras verificam-se algumas características implícitas, tais como: "(...) planejamento, competição, manipulação consciente e movimento direcionado a um objetivo" ¹ (OXFORD, 1990, p.7).
Destaca-se também no estudo das estratégias de aprendizagem de LE, a autora Wenden (1987; 1991), que além desse estudo, ela ainda foca bastante na formação do aprendiz autônomo. De acordo com a autora:
(...) o termo estratégias do aprendiz refere-se aos comportamentos que ocorrem durante o aprendizado de língua, pertinentes aqueles aprendizes que realmente se comprometem em aprender e regular o aprendizado da segunda língua . (p.6).

A diferença entre os autores citados consiste basicamente na relação entre o cognitivismo e as estratégias de aprendizagem diretas (OXFORD, 1990) e (WENDEN, 1991), cuja preocupação é ajudar o aprendiz a memorizar e recuperar as informações sobre a nova língua.
No processo de ensino-aprendizagem de uma LE são distinguidos quatro componentes que influenciam fortemente. De acordo com Basso e Calazans a forma geral é:
o cognitivo, o metacognitivo, o afetivo e o social. Cada qual é responsável por uma das partes que compõe o processo do aprendizado de línguas. Quando se fala em fatores cognitivos, refere-se aos componentes diretamente relacionados com a língua (o léxico, a gramática, entre outros). Os fatores metacognitivos revelam a relação estabelecida pelo aprendiz e seu processo de aprendizado; os afetivos e os sociais trabalham com a relação do aprendiz consigo mesmo e com o maior que o cerca. (2009, p. 48)

Dentro dessa perspectiva existe a reconstituição do eu, não pautada na visão de repetição de vocábulos ou somente na importância do domínio de outro idioma para conseguir um excelente trabalho, como muitos docentes fomentam na cabeça dos seus educandos, mas na ótica sociointeracionista, na possibilidade de relacionar-se consigo e com os outros de forma crítico-reflexiva.
Proficiência na língua da globalização é uma qualificação básica sim, mas não somente para o mercado de trabalho como também para a formação consistente da criticidade diante de outro grupo social.

7 Considerações finais

Todo docente deve atentar-se para o estudo da formação individual do discente. Cada ser humano é um mundo a ser desvendado e isso denota responsabilidade. Desde o conhecimento das teorias lingüísticas até o processo de formação crítico-reflexiva.
Compreender e ter sensibilidade diante da reconstituição do eu de cada educando quando ele apreende outra língua, exige maturidade epistemológica frente às estratégias disponíveis no âmbito educacional. Moura (1992), diz que é preciso também saber utilizá-las corretamente, orientando os alunos de acordo com suas necessidades e diferentes níveis de proficiência.
As estratégias para com o uso de uma segunda língua na formação da identidade humana, não possuem contra-indicações, desde que as utilizem de forma coerente e bem planejada, assim como defendem os PCNs, apesar de situações ainda utópicas, como a falta de docentes especializados e infra-estrutura, mas do ponto de partida da dialogicidade com o mundo, dada a aquisição de uma nova língua.
Além dessa preocupação somente com o discente, quando o docente predispõe-se a partir da reflexão à utilização de diferentes meios para atingir o desdobramento do eu do seu educando, ele também está reinventando-se, pois essa arte é tipicamente humana.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M./ VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira, 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
BOURDIEU, P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: 1999, p. 153.
CORACINI, M.J. Língua estrangeira e língua materna: uma questão de sujeito e identidade. In: _______ (Org.). Identidade & discurso: (des) construindo subjetividades. Campinas: Unicamp; Chapecó: Argos. 2003, p. 139.
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GEE, J. P. Orality and literacy: from the savage mind to ways with words. TESOL Quarterly, v. 20, n.4, p. 720, 1986.
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MOURA, E.V.X. Estratégias de Aprendizagem de Língua Estrangeira entre Alunos de Diferentes Níveis de Rendimento e de Proficiência. Dissertação de Mestrado. Assis, Universidade Estadual Paulista,1990.
OXFORD, R. L. Language Learning Strategies: What Every Teacher Should Know. Boston, Heinle & Heinle,1990.
PIMENTA, S.G .Professor Reflexivo: Construindo uma Crítica. In: PIMENTA, S.G. & GHEDIN, E. Professor Reflexivo no Brasil: Gênese e Crítica de um Conceito. São Paulo, Editora Cortez, 2002, p. 17.
REVUZ, C. A língua estrangeira entre o desejo de outro lugar e o risco do exílio. In: SIGNORINI, I. (Org.). Língua (gem) e Identidade: elementos de uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Fapesp, 1998, p. 219 e 227.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
WENDEN, A. Learner Strategies for Learner Autonomy: Planning and Implementing Learner Training for Language Learners. New York ? York College, prentice Hall, 1991.