APRENDER... SEMPRE, MAS COMO?

        Idanir Ecco[1]

Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.

                                (Leonardo da Vinci).

O aprender e o reaprender, que se convertem em saber, comungam-se com o viver. Preocupações entorno das condições necessárias para que a aprendizagem seja processada de forma efetiva e eficiente estão presentes, de modo especial, entre os que tem como incumbência estimular, desenvolver e ampliar novos saberes, isto é, os que exercem o ofício docente, que consiste em cuidar para que o aluno aprenda.

Antes, porém, de elencar determinadas condições como fundamentais para que a aprendizagem ocorra, transcrevo, com adequações, uma lenda, de domínio público, para, posteriormente, retirar dela indicativos que se constituem em princípios que fundamentam o processo de aquisição de conhecimentos.

Narra-se que um velho sábio foi procurado por alguns membros de uma aldeia para que lhes dessem um ensinamento. Estando reunidos, o sábio perguntou:

- As pessoas da aldeia sabem sobre aquilo que vou falar?

Unanimemente, responderam:

- Não!!!

O sábio silenciou por um instante e então disse:

- Neste caso, não adianta eu ir, pois não entenderiam minha mensagem.

Mesmo confusos, imediatamente retrucaram:

- Eles sabem, sim!!!

Sem hesitar, argumentou o sábio:

- Se eles já sabem, minha presença é dispensável.

Os aldeões pensaram um pouco e disseram:

- Na verdade, alguns sabem e outros não.

O sábio convictamente afirmou:

- Ora, então os que sabem ensinem os que não sabem.

Diante do impasse, os aldeões, entusiasticamente, anunciaram:

- Alguns sabem mais, outros sabem menos, mas o que queremos mesmo é saber com o senhor.

Finalmente convenceram o sábio a ir para a vila uma vez que conseguiriam expressar a motivação mais profunda da solicitação.

A fábula descrita acima contém referências relevantes em relação às condições e/ou motivações para aprender. Pois bem: por que os aldeões dirigiram-se ao sábio? “Para que lhes dessem um ensinamento”. Desejavam deliberadamente uma lição. Ou seja: a disposição para aprender estava em destaque. Portanto, querer aprender é uma das condições primeiras para que haja aprendizagem efetiva e duradoura.

Na sequência da fábula observa-se que mediante a constatação de que as pessoas da aldeia não saberiam sobre o que sábio falaria, este se nega em deslocar-se até o povoado e justifica: “[...] não entenderiam minha mensagem.” Logo, para que determinada mensagem seja entendida há que se, a priori, ter noção do que se trata. Esta situação confirma que a qualidade do aprendizado do ser humano relaciona-se aos conhecimentos prévios. Estes são saberes que todos possuímos e que são fundamentais, por se constituírem em pilares, alicerces para construir novos conhecimentos.

A presença do sábio na aldeia tornou-se igualmente dispensável mediante a confirmação de que todos saberiam sobre aquilo que o mestre falaria. Nisso está claro outra condição para aprender: a repetição não gera conhecimento novo e nem é combustível para novas aprendizagens.

Assim que o senhor de notório saber foi informado pelos aldeões de que uns saberiam o conteúdo da sua fala e outros não, propôs: “os que sabem ensinem os que não sabem.” Em outros termos: o saber deve ser socializado e não enclausurado ou reservado para seres “iluminados” ou guardado como se fosse um prêmio individual. Compartilhar o aprendido engrandece o saber coletivo, pois é conhecimento ampliado.

O argumento que convenceu o velho sábio a deslocar-se até à povoação está na assertiva de que “Alguns sabem mais, outros sabem menos, mas o que queremos mesmo é saber com o senhor.” Aprender com outro, colaborativamente, constitui-se na condição primordial para qualificar o processo de aprendizagem, pois o conhecimento é produzido no diálogo com o outro, semelhante ou diferente. Na pedagogia dialógica todos são chamados a conhecer. Verdadeiramente, aprende-se em comunhão!

A aprendizagem como necessidade é uma condição pertencente unicamente aos humanos, pois nossa existência precisa ser produzida cotidianamente. Uma vez que o cotidiano, bem como, o próprio viver, ambos, são marcados pela dinamicidade, é impossível alguém furtar-se ao desenvolvimento e ao aprimoramento de aprendizagens, constante e progressivamente.



[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim/RS. [email protected]