A melhor altura para aprender uma língua é em criança. Ponto final. Portanto não se pensa mais no assunto. Nada podia ser mais errado. Todos podem aprendem uma língua independentemente da idade, de facto, nada indica que um adulto não seja capaz de aprender. Só não aprende como uma criança, porque não tem tempo...

As crianças e as línguas
Aprender a falar faz parte do crescimento, da socialização das crianças, para elas é um processo natural que começa por escutar, seguida da produção de sons até à formulação das palavras, das frases e finalmente dos enunciados em forma de textos descritivos ou narrativos. Se as ajudarmos e participarmos desse processo, elas vão aprender mais e desenvolver a linguagem mais facilmente, se não as ajudarmos e as limitarmos nas suas perguntas e dúvidas, para nós muitas vezes aborrecidas, incompreensíveis até, elas também vão desenvolver a linguagem mas mais lentamente ou com menos interesse.
A audição é o primeiro contacto com as línguas e as linguagens: a criança escuta e entende muito antes de começar a falar, depois vem a fase da produção de sons (antes disso, o choro é uma forma de falar) e lentamente a criança diz a primeira palavra, por regra algo próximo como "mamã" ou "papá" ou "olá": afinal devem ser as palavras que mais ouve quando um adulto se lhe dirige. Depois vêm as palavras estranhas que só a família entende, o meu filho, com cerca de 2 anos chamava a tudo que tivesse botões "lhigólhigó". Aos 4 anos faz frases curtas e esforça-se para contar um pequeno evento, para o qual lhe faltam ou palavras ou tempos verbais correctos ou estruturas condicionais por exemplo. Mas já pronuncia praticamente todos os sons correctamente -precisou de quase um ano para pronunciar o r intervocálico correctamente (aro, caro, pera, etc).
A necessidade de comunicar faz com que a vontade e motivação para aprender a língua dos pais e dos colegas seja muito forte e natural, não precisando de fazer trabalhos de casa para a aprender: nós vamos corrigindo à medida que ele se desenvolve.

Os adultos e as línguas
Já os adultos que dominam pelo menos uma língua, quando não duas pela aprendizagem escolar, estão um passo à frente das crianças no que respeita à produção de sons, sendo que em determinadas línguas há sons difíceis de produzir para falantes de outras línguas, - por exemplo os alemães do norte têm muita dificuldade em produzir o tal nosso r intervocálico, porque eles não o tem. Além disso, julgam que aprender uma língua deveria ser coisa rápida como para as crianças. Ora alto aí, se fizermos bem as contas a criança afinal precisou de pelo menos 4 anos para atingir um nível de quase proficiência!

Além disso a motivação dos adultos é regra geral menos urgente: querem aprender, porque gostam, porque querem entender melhor filmes, livros, canções na língua escolhida, porque acham que é um melhoramento na vida deles, mas raramente por necessidade imperiosa de comunicar.  E, a não ser que sejam obrigados a emigrar para um contexto onde não se fale a sua língua materna, ou quando por motivos laborais sejam obrigados a enfrentar colegas que não falam a sua língua materna, o grau de motivação é como se pode ver muito inferior. Afinal querer não é o mesmo que ter necessidade de!

A melhor forma de aprender uma língua
Para conseguir aquilo que nos parece tão fácil a uma criança temos de certa forma fazer como a criança: primeiro sentir uma verdadeira necessidade de aprender e depois para nos facilitar esse processo, encontrar a nossa forma particular de aprender. Como adultos racionalizamos a informação e cada um de nós fá-lo à sua maneira, e se para uns a estrutura é fundamental, outros aprendem de forma intuitiva repetindo informações; outros ainda gostam de treinar vocábulos e depois treinar frases, outros não têm método de todo.... Além disso o ritmo de aprendizagem é naturalmente diferente. Para complicar achamos que deveríamos saber falar outra língua em menos de 1 ano.

Na minha opinião de formadora de línguas, a melhor forma de aprender em qualquer idade é usando um método muito simples: aplicar todos os nossos sentidos. Ouvir e ler numa língua e falar e escrever. A interacção com nativos ou falantes da língua é fundamental: porque é a necessidade de comunicar que nos agiliza a aprendizagem. Em alternativa métodos interactivos de multimédia podem ajudar a fortalecer esses conhecimentos, para depois podermos praticar: porque não tentar ajudar turistas falantes da língua que se está a aprender, em vez de responder com ar envergonhado, "não falo inglês!"