Quase todas as pessoas que ouvem ou lêem a palavra apocalipse lembram de "fim do mundo". Isso está ocorrendo na Amazônia, especificamente em Rondônia.

As pessoas familiarizadas com a leitura da bíblia devem se lembrar do episódio do dilúvio, narrado no Antigo Testamento. Devem se lembrar que após aquela catástrofe, Deus teria dito aos sobreviventes que jamais castigaria a humanidade com novo dilúvio. A partir disso a tradição popular criou a afirmação de que o "próximo fim do mundo será com fogo". E assim se associa o apocalíptico "fim do mundo" com o "próximo fim do mundo será com fogo" Isso está ocorrendo na Amazônia, especificamente em Rondônia.

Não sei de onde saiu ou como se formou essa associação de fim do mundo com fogo, mas tem muita gente que assim se refere à possibilidade desse fim. O fato é que isso está ocorrendo na Amazônia, especificamente em Rondônia.

Não vamos nos enveredar pelas sendas da discussão religiosa. Apenas estamos retomando essas afirmações para comentar o que está ocorrendo em nosso estado. Um fenômeno que arremete ao dito popular de que "o mundo vai acabar em fogo", que está acontecendo aqui. Todo anos sentimos o cheiro da fumaça.

Vamos por partes: Muitos devem saber que na região amazônica prevalecem duas estações do ano. Verão e inverno, sendo que verão corresponde aos seis meses de pouca ou nenhuma chuva e inverno corresponde aos outros seis meses, de setembro a março, em que ocorrem muitas chuvas. Por isso também se fala de tempo das águas e tempo da seca.

Essas duas estações amazônicas também ocorrem em Rondônia, pois este é um estado amazônico.

Ocorre que isso não está ocorrendo: a interferência humana alteou esse ciclo!

Quem vive em Rondônia há mais de uma década pode confirmar que o "tempo das águas" tem se reduzido progressivamente, na mesma proporção que tem avançado o processo de desmatamento, trazendo, como conseqüência, um verão cada vez mais expandido. Daí a afirmação anterior dizendo que está ocorrendo uma situação apocalíptica: permanecem as queimadas e se amplia a estiagem. Mistura seca que produz falta de chuva que estamos observando e, a médio prazo, desertificação.

A Amazônia pode ser melhor entendida se comparada com uma jarra cheia de água. Imagine que a cada manhã você retira um copo de água dessa jarra e à tarde você o recoloca. Esse é o ciclo natural da Amazônia. Seis meses de chuvas e seis meses de seca. Isso se aplica a Rondônia.

Ocorre que podemos interferir nessa jarra d'água. Retirar mais de um copo de água e somente devolver um copo. A tendência, obvia, é a água da jarra diminuir. Isso é o que está ocorrendo. O crescente desmatamento faz com que o sol equatorial – justamente nos meses de dias mais longos – aumente a evaporação. Em contrapartida, deveria haver maior precipitação, nos seis meses de inverno. Mas está ocorrendo o inverso. Ocorre que a diminuição do volume de vegetação (em Rondônia mais de 90% da vegetação natural já foi derrubada) interfere no ciclo das chuvas: pouca significa menos chuva pois um dos elementos que fazem ocorrer precipitação é a presença de vegetais. Diminuindo a vegetação diminui a precipitação.

Esse processo se ampliando, ano a ano, produz o fenômeno da diminuição das chuvas. Junto com isso, vale considerar: ano após ano, além do desmatamento crescente, permanecem as queimadas. Assim sendo, ao lado da diminuição das florestas que ocasiona o aumento da evaporação, as queimadas aumentam o aquecimento global. Tudo isso faz aumentar a evaporação. Como diminuíram as florestas, que auxiliam no processo de formação das chuvas... e permanecem as queimadas, que aumentam o aquecimento global e que faz aumentar a evaporação, temos instalado o início do apocalipse amazônico. E isso está começando por Rondônia... e se ampliando a partir de Rondônia.

Mas não se preocupem, pois essa instalação ou o início do apocalipse amazônico é uma maravilha: os lucros estão aumentando!

Claro que as pessoas estão sofrendo e vão sofrer mais...mas quem se importa? Inúmeros igarapés e rios perenes estão secando e os peixes estão morrendo... mas isso não tem a menor importância! Aumentam os casos de doenças respiratórias, de câncer de pele e outras enfermidades decorrentes do aumento do calor, da diminuição das chuvas... mas isso não diminui os lucros, portanto pode continuar ocorrendo! Várias espécies de animais e vegetais estão desaparecendo... mas como isso não atinge a economia não tem a menor relevância. O que ocorre com as pessoas e com o ambiente, não afetando a economia, só interessa aos movimentos ecológicos, portanto não conta para nada!!!

O que importa é que outras contas estão sendo feitas: está aumentando a veda de ventiladores e de aparelhos condicionadores de ar, de geladeiras... mais carros com condicionadores de ar são produzidos... aumenta o consumo de energia elétrica... aumenta a venda de medicamentos e protetor solar... em síntese, a mola propulsora do capital continua impulsionando o "progresso"... portanto, que se calem os ecologistas e que se amplie o apocalipse amazônico, para que cresçam os lucros!

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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