Ultimamente tenho realizado consultorias na área rural. Somente nestes dois últimos anos desenvolvi programas de implantação da gestão e da qualidade em 105 fazendas em diversos municípios variando de Iturama a Bambuí, de Medeiros a Campos Altos, de Uberaba a Uberlândia, com atividades específicas em produção de leite, queijo artesanal, cana e café.

Na administração do negócio rural há algumas peculiaridades que não se encontram no negócio empresarial urbano, que são:

  • Dependência do clima;
  • Tempo de produção maior que o tempo de trabalho;
  • A perecibilidade dos produtos;
  • A dependência das condições biológicas;
  • A produção tem a terra como participante diretamente;
  • A oferta da produção depende das estações do ano, gerando entre plantio e colheita a chamada entressafra, que influencia diretamente no preço dos produtos;
  • Distância entre produtor e consumidor;
  • O horário de trabalho na agropecuária, pelas suas peculiaridades, não pode ser interrompido. Trabalham-se domingos, dias santos e feriados;
  • Alto custo de entrada e de saída da atividade;
  • Trabalho disperso, distante das áreas de trabalho e expostas ao ar livre;
  • Riscos climáticos, sujeitos às intempéries (seca, geada, tempestade, granizo e outros);
  • Riscos biológicos e econômicos.

Muito embora a administração urbana e a rural tenham o mesmo enfoque, que é a obtenção de lucro, segundo Chiavenato (1985), do ponto de vista da Teoria Geral de Administração, não há distinções entre as organizações, agrícolas ou não, governamentais ou não, lucrativas ou não. Os processos produtivos, as metas das organizações e as pessoas é que são distintos, para o conceito de organização.

E por falar em pessoas, o diferencial da administração está no gestor. Ouvi uma frase de um cliente que disse: "antigamente prevalecia o patrimônio, hoje a gestão". Não que uma exclua a outra, mas somente o patrimônio não garante o sucesso de um negócio, ou seja, o patrimônio por si só não garante a gestão, mas a gestão pode garantir o patrimônio.

O negócio rural necessita de gestores capazes de gerenciarem com sabedoria. É necessário que este se revista de características comportamentais de empreendedor.

O agronegócio é responsável por cerca de 33 % do Produto Interno Bruto do Brasil e emprega 37 % dos trabalhadores do país. Neste ano, o PIB mineiro bateu a marca de 67,8 bilhões de reais.

Com a abertura do mercado, inclusive o de produtos agrícolas, o agronegócio precisa ser mais competitivo, exigindo profissionais com visão ampla de toda cadeia produtiva. Este profissional deve saber equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações, atuar preventivamente, transferir e gerar conhecimentos.

O administrador deve ser visto como um braço forte de todo complexo agroindustrial, que engloba todos os setores da agricultura e indústria envolvidos na produção de alimentos, tais como suprimentos à produção (máquinas e insumos), produção, transformação, acondicionamento, armazenamento, distribuição e consumo.

No Brasil, existe comumente a figura do gerente da fazenda, que cuida das tarefas rotineiras. Mas o conceito de gerente vai mais além do que se pratica, ele deve fazer uso de práticas modernas de gerenciamento e controle, além de ser responsável pela realização dos negócios de compra de insumos, máquinas e venda dos produtos.

A administração também passa pela agricultura familiar, que, por desconhecerem processos relacionados à cadeia produtiva, deixam de gerar negócios e empregos.

Este profissional ainda pode contribuir para o comércio nas pequenas e médias cidades, tornando-o mais ativo, ao incrementar, junto às associações comerciais, políticas que mantêm o consumidor no local.