Antigamente ou Antiga Mente

Quando se fala a palavra antigamente logo vem à mente um passado longínquo, pensa-se em tempos remotos, em saudosismo e, em última análise, logo se fala que antigamente é sem dúvidas coisa velha ou, coisa de velho. Refere-se aqui como antigamente, a um tempo de aproximadamente, uns 50 anos atrás.

Falar de determinados assuntos, remetendo a uma determinada época, não significa que se tenha uma antiga mente ou que se esta presa a um passado, mas, como seres histórico-social pode-se re-visitar o passado para sem dúvidas não repetir erros e aperfeiçoar os acertos.

Dentre muitas histórias, antigamente, em especial em cidades de interior e em zonas rurais os bebês nasciam em casa, com parteiras que automaticamente se tornavam mães ou avós dos recém-nascidos. A parturiente seja ela primípara, mãe de primeira vez ou, multípara, que já tivera outros filhos, logo depois que a criança nascia à parteira preparava uma bebida, considerado remédio, que era a base de cachaça (pinga) com arruda e a parturiente tomava logo a seguir e, o objetivo desse preparado era para que a mesma não tivesse infecção.

Começava-se aí todo o cuidado com o resguardo que era de quarenta dias. Não se podia lavar a cabeça, pegar peso, varrer a casa, tomar vento e, sempre ficar calçada de meias, dentre outras coisas.

Era preparado para a mãe nos primeiros dias uma sopa a base de farinha de milho com caldo de frango, também chamada sopa de mulher parida, não podia ser galinha, quando a moça ficava esperando neném, não se usava falar que estava grávida, a galinha que estava com os pintinhos novos já se separava aquele que seria o frango para a referida sopa. Esse pintinho desenvolvia, tornando-se frango, junto com a gravidez da moça.

Quando nascia o neném, nessa época dizia-se que a mulher "ganhou neném", durante sete dias não podia sair do quarto e este só ficava na penumbra. Só podia receber visitas, ou seja, ser visto, após o sétimo dia. Nesse intervalo de tempo, era preparado, para o recém-nascido, um banho a base de folhas de mandioca, que não podia ser folhas verdes e esta era banhada por alguns dias para evitar o amarelão ou a tiriça, o que hoje já sofisticou e não se fala em amarelão e sim em icterícia.

O umbigo era curado com uma mistura feita de embiri (uma planta medicinal), fumo e azeite de mamona até cair e, quando caia tomava-se o cuidado de enterrar, quando menino, na porta do chiqueiro ou do paiol que era para dar sorte e significava fartura na vida, quando menina no pé de roseira para que a menina ficasse formosa, não se podia jogar em qualquer lugar, pois, se o rato carregasse a criança viraria ladra ou ladrão e também o cachorro poderia comer e se isso acontecesse não era nada bom. Usava-se também uma faixa antes do umbigo cair e até um determinado tempo para que o mesmo não ficasse para fora.

Para o leite "descer" usava-se passar um pente fino, virgem, sobre os seios e daí ele, o leite, vinha com fartura.

Segundo Maria de Lourdes Silva, que foi parteira por mais ou menos 40 anos, residente em Rosário, Distrito de Itumirim, hoje aos 73 anos não pratica mais a profissão. Durante sua jornada, trouxe ao mundo aproximadamente 150 crianças. É conhecida na comunidade como Vó Lourdes ou Sá Lourdes, tem uma família grande, pois é mãe de 14 filhos, tem 29 netos e 9 bisnetos. Sá Lourdes é uma senhora muito simpática, com todo aquele jeito característico de vó, fala com muita emoção da profissão que herdou da mãe, pois, vem de uma família de parteiras. Confirma essa história.Provavelmente a profissão ira se encerrar com ela.

Isso foi antigamente.

Atualmente a mulher da à luz. O neném nasce sob os holofotes e em uma sala toda especial.porém muito fria. Mas, independente da época nascer é sofrer, pois "quando uma criança vem ao mundo, à primeira coisa que faz é gritar. E o grito alegra a assistência. "Ouçam, ouçam como ele grita!", diz a mãe toda contente, encantada de que uma coisinha tão pequena faça tanto barulho. O que significam os gritos dos recém-nascidos? Que têm reflexos normais. Que a máquina está em funcionamento. ... os gritos não falam de sofrimento? Para gritar como grita, será que o bebê não sente imensa dor? Nascer seria doloroso para a criança, assim como o parto era, antigamente, para a mãe?[1]". Com certeza essa dor tem vários fatores. Inclusive é pelo choro que vai começar a comunicação do neném com a mãe e o mundo.

Hoje dificilmente têm-se crianças nascendo em casa, e principalmente por parto normal, e inclusive há uma grande preocupação quanto o procedimento de cesariana que é realizado no Brasil. A revista Pais e Filhos, mês de abril, traz uma reportagem a respeito do procedimento e revela que o índice é muito alto chegando a 98% em certas maternidades[2]. Mas independentemente da condição financeira de certa forma tornou-se chique programar o parto, Diferentemente da Holanda onde 85% das grávidas são acompanhadas por parteiras e tem seus filhos em casa[3].

Nesse tempo a criança, sendo menino ou menina se desenvolvia constituindo sua personalidade e seu caráter como qualquer outra, nascida na atualidade, e naturalmente passava por todas as fazes de desenvolvimento e, em alguns casos assumiam responsabilidades ainda na puberdade, pois, muitos pais, ainda com uma antiga mente, entendiam que o trabalhar mais cedo era o que iria dignificar aquele ser que estava se formando e para que no futuro fosse um adulto responsável, o que para outras famílias, as tradicionais, o mais importante era os estudos.

Mas, chegava à hora em que menino ou menina, tornavam-se rapazes e moças e pensava-se em namorar e o namoro era também muito interessante. Normalmente o rapaz ia até a casa da pretendida e fazia o pedido aos pais, geralmente à palavra final sempre era do pai, se desse tudo certo o romance começava, porém, somente se namorava nos finais de semana e no máximo até as nove e meia da noite, não se usava falar até as vinte e uma horas e trinta.

Na sala, onde sempre estava o casal, assentados em cadeiras a volta da mesa, geralmente a luz de vela ou de lamparina, sempre estava uma pessoa da casa – o pai, a mãe, irmã ou irmão, para que o namorado não fizesse nenhuma "bobagem". Era difícil pegar na mão. O beijo e o abraço sempre aconteciam às escondidas. Às vezes um ou outro rapaz fazia "mal" para a moça, é claro que isso somente viria à tona se ela ficasse esperando neném ou com o "bucho" cheio, não se usava dizer que estava grávida. Em muitos casos era obrigado a casar para não desonrar a família. Gostando ou não. Nesse momento acontecia uma coisa grave, pois, provavelmente o rapaz não estava preparado para ser pai e nem a moça para ser mãe. Concebia-se uma criança indesejada. Fruto de uma aventura.

Normalmente o "suposto" pai não aceitava o fato e a moça que geralmente tivera a promessa ficava a ver navios, entrava em estado de "choque" e amaldiçoava a si e a pobre criança que mal acabara de conceber. "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem[4]". Na atualidade esse fato não é muito raro tornou-se "comum" adolescente engravidar. Ficou muito em voga ter "produção", não se falava filhos, independente. Não se pensava em ter família e sim filhos.

Mas, isso também foi antigamente.

Então: Nessa época namorava-se, noivava-se, casava-se e tinham-se filhos e de certa forma se tinha uma relação mais estável. Hoje, na atualidade, se têm o filho, casa-se, ou então vai morar junto, fica noivo e, só daí começa o namoro sempre na esperança de que vai dar certo e, se caso não der certo se separa.

Não é preciso ir mais longe. Não vamos perder na floresta encantada da dialética, como diz Leboyer, mas sim tentar refletir buscando subsidio na história para daí observar a atualidade. Pode-se então fazer algumas perguntas: O que aconteceu com a sociedade nessas aproximadas cinco décadas? O desenvolvimento afetou as famílias criando assim a Desestruturação Familiar? Pode-se falar em uma culpa? "Uma vida a dois requer dedicação, fidelidade, tolerância às diferenças individuais, companheirismo, cumplicidade, partilhamento das dores e prazeres, esforço de adaptação e competência para a superação dos problemas, responsabilidades a cumprir, respeito mútuo, incluindo uma forte atração física e amor com muito, mas muito carinho[5]". Isso é aprendido e apreendido.

Nota-se que desde a tenra idade, os pais por não terem tempo, e refere-se aqui como sendo esse tempo não à quantidade de horas que se passa com a criança, mas sim as quantidades de horas afetivas de estarem com os filhos, muitos tentam de certa forma preencher esta lacuna com presentes que vai desde um simples brinquedo a um eletrônico que por vezes ultrapassa o orçamento tudo para que o menino fique "bonzinho" ou a menina fique "boazinha". Pode-se verificar que antigamente esse tempo existia, pois, dificilmente o neném era privado do leite materno e até mamava por mais tempo. Não se pensava nos exatos seis meses. Na atualidade fazem-se campanhas com mulheres famosas para que as crianças tenham o precioso alimento, mas, também que recebam junto o afago, o carinho e, em especial o amor daquela que a trouxe ao mundo.

Hoje em dia têm-se muitos pais procurando ajuda em consultórios de psicólogos e psicopedagogos a procura de uma resposta para uma pergunta que traz em si uma grande culpa quando dizem "Onde foi que errei?". "Um grande engano dos pais é repetir o mesmo ensinamento várias vezes. A maioria dos filhos faz o que não é permitido não por desconhecimento, mas por desrespeito ao que foi ensinado[6]". Normalmente as famílias da atualidade tanto o pai quanto a mãe trabalham às vezes pela necessidade e outras até mesmo para manter certo status e, em ambos os casos os filhos irão ficar com algum membro da família, com a secretária, outrora chamada de empregada doméstica ou, mesmo em creches.

Acredita-se que essas crianças não terão uma referência familiar, pois os pais quando ao saírem para o trabalho deixara a criança dormindo e muitas vezes o mesmo acontecerá quando voltarem.

Crianças ainda bebês quando cuidadas pala mãe e pelo pai tem grandes possibilidades de crescer com menos preconceito, ou seja, vêem o mundo não sendo sempre uma grande ameaça. "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele[7]".

Diferentemente do antigamente vive-se em um mundo informatizado e que a espera para realização de uma tarefa, por mais simples que seja, tornou-se insuportável. Nota-se que esta ansiedade foi transferida para os relacionamentos, a falta do diálogo tornou-se comum. Não se fala mais. O diálogo está sendo feito através de mensagem no celular. A criança assim que começa a ser alfabetizada logo recebe um celular, os pais com essa atitude sentem o sentimento de segurança acreditando que dessa forma podem monitorar os filhos. Em muitos lares a preocupação com os filhos adolescentes chega a ponto de se ter um "quarto de namoro" todo equipado.

Isso é modernidade.

Então, pode-se pensar na questão dos valores, na moral e na ética. Acredita-se que está faltando DEUS, pois, "O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino[8]". Pode-se notar que a sociedade está vivendo sob um grande estresse, considerado para muitos especialistas no assunto como sendo o mal do século, coisa que no passado não se falava. O mundo frente a tanta tecnologia esta se enlouquecendo? Esta sociedade frenética esta sendo uma fabrica da loucura?

Essa resposta deverá ser construída através do que não se está tendo mais – A PACIÊNCIA.

Refere-se como o ter a paciência não para com o outro e, esse outro aqui como sendo um filho, filha, pai, mãe ou mesmo aquele que é próximo, mas, ao próprio EU. "Todos nós – quase todos – aprendemos a maltratar nosso interior... treinamos sobretudo para não escutar nossas aspirações veladas... resolver os problemas mais urgentes, encontrar um parceiro para a vida, cuidar dos filhos, corresponder às expectativas dos pais, dosamigos, dos chefes, dos colegas etc.–, preferimos sufocar os impulsos, profundos mas presentes, que murmuram no fundo de nós. Se os escutássemos, teríamos sem dúvida ouvido isto: "Não estou bem. Sinto-me privado de coisas que são importantes para mim. Tenho necessidade de mais beleza, generosidade, alegria, ternura, integridade. Não tenho o suficiente ... E isto de fato me faz sofrer..." É mais fácil fingir que não escutamos[9]". Uma das prioridades que deve ser observada para se ter uma saúde mental é sem dúvida ter paciência.

"Por isso vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?[10]".

Esse é um ensinamento de antigamente.

 



[1] Leboyer, Frédérick. Nascer Sorrindo. pag.15

[2] http://revistapaisefilhos.terra.com.br/htdocs/index. php?id_pg=112&id_txt=3100

[3] http://www.primaluz.com.br/ArtigosOK.asp?url=entrevista-parteira-mary-zwart&Id=1&IdSub=2

[4] Bíblia Sagrada. Efésios. cap 4, v.29

[5] Içami, Tiba. Família de Alta Performance. pag.158

[6] Içami Tiba. Família de Alta Performance. pag.119

[7] Bíblia Sagrada. Provérbios, cap. 22 v. 6

[8] Biblia Sagrada. Provérbios, cap. 1 v.7

[9]Servan-Schreiber, David. Anticâncer. pags. 202/203

[10] Bíblia Sagrada. Mateus, cap. 6 v.25