Pensam errados que a reforma protestante começou com Martins Lutero, o advento da reforma começou muito antes disto, Martins Lutero foi fruto de outros fatos, fatos esses que chamaremos de antecedentes da reforma protestante. Os antecedentes podem sim ser listados, eles foram: renascimento, o surgimento da burguesia, o nacionalismo (formação das unidades nacionais e a crise da igreja católica). Tais fatos supracitados não são razões da reforma, pensar assim também se constitui um erro, os antecedentes foram apenas elementos influenciadores da reforma protestante. Neste momento a sociedade estava passando por mais uma metamorfose político-social, o mundo estava mudando, estava surgindo novos pensamentos, novos pensamentos políticos.

No começo do século XV o mundo começou a mudar, ou seja, o pensamento do homem medieval, cristão tinha sido substituído por pensamentos mais racionais, não se dava mais ênfase às revelações, a escatologia, ao cristão, se falarmos ao modo religioso vamos dizer que o mundo tinha se tornado pagão, mas será que isto realmente foi pagão? Não de forma alguma, a maioria dos renascentistas mantinha vínculos com a igreja, apenas queriam reformular os conceitos cristãos baseados no conhecimento clássico (idade antiga). O pensamento renascentista tinha três pilares: o humanismo, o racionalismo e o individualismo, todos esses valores chocavam com o interesse da igreja medieval, a igreja via tais movimentos como ameaça ao seu monopólio das idéias. Uma das idéias que mais incomodava era o antropocentrismo, este pensamento humanista chocava com a verdade fundamental da igreja, o teocentrismo. O novo pensamento quebrava todos os grilhões, toda a mordaça que a igreja tinha imposto na sociedade medieval, e através disto manipulado e enriquecido as custa do espiritual.

Pensadores surgiram para defender este ideal, um dos mais importantes foi Erasmo de Roterdã, este pensador por mais incrível que pareça era católico, e não um simples católico, ele chegou a ser monge, mas abandonou a vida sacerdotal um ano após a sua ordenação, tal fato faz-nos pensar que tenha acontecido por decepção sofrida no meio da instituição que começara a viver, este pensamento pode ser ratificado pelo fato de logo após a sua suposta decepção ele tenha escrito um livro intitulado por Elogio a Loucura.

"Na sua notável obra Elogio a Loucura criticou vigorosamente os abusos e desvios morais da igreja, como, por exemplo, a venda de indulgências (perdão dos pecados). Com isso, lançou os prenúncios da reforma protestante." (COTRIM, 1996)

Cotrim confirma o nosso pensamento, a sua grande obra, foi fundamental para o surgimento do pensamento reformador, mas vale salientarmos que o que Erasmo queria não era causar uma ruptura na igreja, como também Lutero, ambos não pensava assim, o que Erasmo queria era apenas reformular e revisar alguns conceitos, sempre usado como base a historiografia e a literatura clássica. Um evento semelhante notamos ao assistirmos um clássico do cinema chamado O Nome da Rosa, este filme narra a busca de um religioso humanista em responder as indagações existentes num mosteiro de forma racional e a sua atração pela literatura clássica.

Outro antecedente da reforma foi o surgimento da burguesia. A burguesia não sugira por acaso, este novo estrato social surgira em torno de uma ascensão ou ressurgimento do comercio na Europa, os burgos como afirma Leonel Itassu, estavam localizados propositalmente em meio das rotas comerciais. A nova classe fora responsável pela a dinamização da economia e pelo surgimento do novo modo de produção. Mas que tais fatos têm a ver com a reforma protestante? Sim tem tudo a ver, a burguesia fora castigada pelo pensamento cristão da época, ou seja, como Weber chama de pecado danado da usura, a igreja condenara todo comercio que obtivesse lucros por juros, José Honório Rodrigues narra este fato assim:

"Os estados que reconheciam oficialmente a Igreja Católica deviam orientar-se em matéria de juros pela doutrina canônica, que proibia a usura e afirmava o principio vitorioso em tantos séculos: pecúnia pecuniam non parit, o dinheiro não produz dinheiro. Principio tão rígidos não poderiam facilitar a era capitalista, na qual estava destruído o paralelismo bíblico entre o esforço e o beneficio (ganhará teu pão com o suor do teu rosto). Mas agora que a realidade provava que o dinheiro, e não o trabalho gerava o dinheiro independente do suor e do cansaço, não era possível continuar-se adstrito a tais princípios." (RODRIGUES, 2008)

A partir deste pressuposto da rivalidade da igreja com a burguesia, este novo estrato social necessitava de uma ideologia que o fundamentasse, o protestantismo foi esta ideologia, ou seja, serviu de abrigo para o novo mundo econômico que surgira, mas vale salientar que com o apoio dos reformadores os juros não podiam ser aplicados dissolutamente, a igreja, neste caso a igreja protestante agora controlava a economia de forma parcial, vejamos o que diz Rodrigues:

"Calvino, escreveu um pastor inglês, tratou da usura como um farmacêutico trata com o veneno. O pensamento de Calvino é que os juros deveriam ser legais desde que não excedesse um máximo oficial, e mesmo quando um máximo fosse fixado, os empréstimos deveriam ser gratuitos aos pobres; aquele que pede emprestado deve lucrar tanto quanto o emprestador; não se pode exigir uma garantia excessiva; o empréstimo é um expediente ocasional e torna-se repreensível quando transformado em ocupação regular." (RODRIGUES, 2008)

O protestantismo representou um apoio, uma fundação para o novo modo de produção, o capitalismo, e isso nos perturbam ao periodizá-lo tais fatos, porque não sabemos ao certo de o capitalismo foi posterior a reforma ou a reforma posterior ao capitalismo, o que sabemos é que ambos se sustentaram e firmaram-se juntos.

Outro colaborador da reforma, melhor, antecedente da reforma protestante foi o sentimento nacionais, no século Xv e XVI a igreja se apresentava como instituição universal, a sua função era unir os povos, era trabalhar com as suas semelhanças, em contrapartida os reis das novas unidades nacionais queria o individualismo – doutrina renascentista, não mais aceitavam a interferência da igreja nos seus territórios, o mundo não era mais feudal, ou seja, agora tinha unidades políticas, não podia mais existir interferências religiosas no âmbito político nacional, o momento em que o mundo estava vivendo era novos período políticos. A reforma respondia positiva diante da mudança que o mundo passava um exemplo disto foi o culto ser administrado na língua local, tal fato valorizava as diferenças nacionais, fato que a igreja católica não aceitava, pois as missas eram rezadas em Latim.

O ultimo antecedente da reforma foi à crise interna que a igreja passava, a igreja medieval não se assemelhava nem de longe com a igreja primitiva, com a igreja dos apóstolos, tudo tinha se tornado diferente. O primeiro fator da crise moral da igreja medieval era o nicolaísmo, o nicolaísmo era quando componentes do clero quebrava o voto de castidade, isso por mais que seja um escândalo hoje, neste período era comum entre o século XII ao XV, um exemplo disto foi a festa promovida pelo papa Alexandre Vi para comemorar o seu papado, nesta festa segundo a Séverine fargette - doutoranda em história medieval, existiu um banquete chamado de cortesãs, onde um grupo de mulheres nuas dançavam e plantavam bananeira, este só foi um dos fatores que anunciavam a crise moral da igreja católica. Outro fato anunciador da crise foi a simonia, a simonia era a venda de relíquias ou cargos eclesiásticos a pessoas que o desejassem, a mesma medievalista em seu artigo fala deste outro fato, citando como exemplo o para Inocêncio VIII, ela diz: "Inocêncio VIII (1484-1492) continuou as malversações de seus predecessores e ganhou uma soma colossal vendendo dezenas de postos de secretários apostólicos.", este foi só um dos fatos dos milhares que existiram. Outro fato que agravava a crise interna da igreja católica foi à rivalidade entre o clero regular e o clero secular, ambos vivia em longas disputas, o clero regular era mais respeitado pelos fiéis, a razão disto era pelo o clero regular está separado da sociedade e o clero secular esta próximo, ou seja, as falhas e corrupções do clero secular eram logos notadas, mais o clero regular não sai livre de acusações, muitos dos monges e monjas era verdadeiros prostitutos, as monjas de Mont-Martre chegavam a vender o seu corpo em troca de algum retorno financeiro; quando começamos a listá-lo os fatores da crise moral da igreja medieval parece que não acabam, prova disto é o surgimento de mais um, o nepotismo, vários papa ao assumirem o poder logo distribuíam cargos eclesiásticos para os seus familiares, exemplo deste fato foi o papa do banquete das cortesãs, o papa Alexandre VI, que quando assumira o papado nomeou os seus bastados para cargos eclesiásticos; por fim um dos fatores que mais incomodou a monge Martins Lutero, as indulgências, as indulgências era mais uma forma da igreja construir o seu império no vaticano, vendendo perdão de pecados a igreja construíra a famosa basílica de São Pedro, que existe até os dias atuais, uma obra arquitetônica fenomenal, mas fruto de roubos, de apropriação ilícita, a igreja aproveitou da ingenuidade dos povos medievais para enriquecer, este fato fecharia a lista dos fatores da crise moral da igreja católica medieval.

Todos os fatos supracitados não podem ser compreendidos como razões da reforma protestante, todos os fatos citados foram na verdade anunciação da reforma, apenas mostrava que a igreja católica precisava ser reformada, conceitos precisavam ser revisto, a moral necessitava ser buscada, os reformadores não conseguiram isto, pelo contrario, causaram rupturas, ai fica a pergunta as rupturas foram necessária? Não podia ser de outro jeito?

REFERÊNCIAS

§MELLO, Leonel Itassu A. COSTA, Luis Cesar Amad. História Antiga e Medieval. São Paulo: Scipione, 2001.

·. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Scipione, 2001.

§RODRIGUES, José Honório. História e Historiografia. Petrópolis: Vozes, 2008.

§COTRIM, Gilberto. História e consciência do Mundo 2. São Paulo: Saraiva, 1996.

§FARGETTE, Séverine. A Crise da Igreja Antes da Reforma. Revista História Viva. São Paulo, Edição Especial, n. 20, p. 14-17, abr/jun. 2008.

§MARTIGNONI, Andrea. A Europa em efervescência Cultural. Revista História Viva. São Paulo, Edição Especial, n. 20, p. 10-13, abr/jun. 2008.