ANSIEDADE NO COMPORTAMENTO HUMANO E SUAS CONSEQUENCIAS PARA O TRÂNSITO

Ester Rozenburszt, psicóloga especialista em trânsito.

Fátima Rassul, psicóloga especialista em trânsito.

Vera Lucia Carmona Vasques Mata, psicóloga especialista em trânsito. 

     A ansiedade é a mãe de todos os sentimentos e desejos

     É uma sensação de que esta faltando algo....

     É a mola propulsora para o crescimento

A ansiedade ou angustia, não consiste em apenas mais um tema de interesse da psiquiatria dinâmica, ou da psicanálise e da psicologia do trânsito, mas sim de um problema que afeta o homem e a humanidade como um todo. Trata-se de um problema central e básico ao redor do qual se acomodam a compreensão das grandes dificuldades do comportamento e do relacionamento humano.

Os dias atuais podem ser definidos como a Idade da Ansiedade, considerando à relação existente entre o estado psíquico e o ritmo de vida nas sociedades industriais modernas, já que se exige do homem um comportamento mais competitivo e consumista. Com base nessa afirmação podemos pensar que a simples existência do homem no mundo contemporâneo é um fator de prognóstico para o surgimento da ansiedade, podendo todos os indivíduos ser afetados por ela.  A ansiedade pode ser definida como um sentimento incerto e desconfortável de medo, preocupação e nervosismo que geram uma tensão emocional e física provocando uma sensação desagradável de perigo antecipado.

Com efeito, a angustia existe no ser humano desde o seu nascimento até a morte e durante todo o processo de formação e desenvolvimento da pessoa, isto é, seus sentimentos, seu caráter, sua conduta, seus aspectos sadios ou doentes terão na angustia um dos seus determinantes mais importantes e decisivos.1       

Alguns estudiosos consideram que a formação da ansiedade é devida a um fascínio das pessoas em interpretar a realidade de uma forma trágica e dolorosa, atribuindo esse sentimento a uma sensação de perigo eminente.

Possivelmente esse fato esteja ligado ao processo evolutivo do homem, onde na idade da pedra houve a necessidade do enfrentamento de perigos reais e diários, como por exemplo, o ataque de feras. Isso fazia com que as pessoas se mantivessem em alerta constante para garantir a sua sobrevivência. Essa possivelmente é uma das nossas heranças, ou seja: manter-nos preocupados permanentemente com a nossa integridade física e com a nossa sobrevivência.

A ansiedade ou angustia pode ser também uma reação episódica a uma situação de estresse momentâneo.

O homem utiliza-se dos diversos mecanismos de defesa psicológico para aliviar ou tentar livrar-se da angustia, sendo que a eleição e utilização predominante de alguns mecanismos no combate a angustia podem ajudar o profissional da saúde mental a entender as ações e  reações, alem das estruturações psiconeuróticas, psicopáticas, psicóticas e psicossomáticas que se manifestam na vida do individuo como um todo e inclusive no trânsito.

A neurose é a consciência da existência de uma luta interna entre dois sentimentos ambíguos, sendo desencadeada frente à necessidade de escolha numa determinada situação de conflito. A situação problema oferece no mínimo duas opções que o individuo deseja muito, porém terá que decidir e escolher uma única alternativa abrindo mão da outra. Isso gera tensão e angústia, pois escolher uma opção significa “perder” a outra. Esse tipo de angustia pode gerar também um sentimento de insegurança.

Como exemplo dessa situação de conflito, temos a Lenda do burro: Um burro vai andando pelo deserto, chega a um oásis e para bem no meio entre a água e a comida. Aí começa um grande conflito interno: não pode beber a água porque tem fome e não pode comer porque tem sede. “O burro morre de tanto pensar”.

Nessa situação o burro desejava tanto a água como a comida e não consegui optar por nenhuma das opções por não conseguir protelar uma situação de prazer. É típico do comportamento infantil o imediatismo e querer tudo ao mesmo tempo.

Em se tratando de um adulto em situação de transito se o individuo não for capaz de definir o comportamento mais assertivo de acordo com a necessidade do momento respeitando o fluxo e não a sua vontade e o seu prazer, poderá provocar ou ser vítima de um acidente.

A maturidade pode ser caracteriza pela capacidade do individuo conseguir se impor uma frustração a curto prazo, para obter uma compensação a longo prazo; isto é, diante da situação de conflito entre sentimentos ambíguos consegue definir-se por um deles estabelecendo uma hierarquia de objetivos e interesses comuns dentro do contexto onde se encontra.

A escolha é considerada compensatória quando traz satisfação e não compensatória quando gera a frustração. Quando a pessoa não consegue suportar uma frustração mesmo que em curto prazo, pode gerar o desajuste emociona e comportamental.

Ansiedade, frustração, e conflito:

Toda vez que um objetivo não é alcançado, experimenta-se frustração. A frustração pode ocorrer por demora, por contrariedade ou por conflito. As pessoas reagem às frustrações através dos mecanismos de defesa, que podem ser: agressão, agressão deslocada, fantasia, regressão, fixação, apatia, esforço intensificado, mudança dos meios e substituição de objetivos.

Freud também formulou outros mecanismos de defesa, como: racionalização, compensação, projeção, identificação, fuga e negação. É reagindo às frustrações através destes mecanismos, que conseguimos nos adaptarmos a vida, a sociedade e ao transito. O conflito se apresenta quando nos vemos diante de duas exigências e só podemos atender a uma. Conflitos não resolvidos podem causar extrema ansiedade.

A ansiedade é semelhante ao medo, porém a diferença entre este e a ansiedade é que sentimos medo diante de um perigo real, concreto, enquanto que a ansiedade é uma reação diante de perigo oculto, imaginário ou subjetivo. A ansiedade prolongada pode causar reações adversas ao indivíduo que dela sofre, de psicológicas a biológicas, senão ambos. Porém, conflitos, ansiedade e frustrações fazem parte da vida normal, só são prejudiciais em excesso quando não conseguimos resolver os nossos conflitos.

A ansiedade pode transformar-se num problema quando nosso estado de alerta é constante a ponto de atrapalhar nossas atividades cotidianas como o ato de dirigir, por exemplo. Nesse nível podemos pensar em um transtorno de ansiedade generalizado.

Em pesquisa realizada, normalmente os indivíduos com esse tipo de transtorno tendem a responder afirmativamente as seguintes questões:

1. Nos últimos seis meses, pelo menos, o indivíduo experimenta inquietação e ansiedades excessivas em várias atividades (como profissional, social ou doméstica).

2. Sente dificuldade em controlar essa preocupação e o nervosismo.

3. Essa preocupação pode ser acompanhada de 3 ou mais dos sintomas relacionados:  

   agitação ou sensação de estar com "os nervos à flor da pele", canseira, fadiga.

-dificuldade em manter a concentração em suas atividades, sensações de "branco" na    cabeça.

-irritação contínua e maior que o habitual além de tensão muscular nos ombros, na nuca, nas costas, nos braços, etc.

-problemas com o sono, como por exemplo: insônia, sono interrompido várias vezes durante à noite, sono  "agitado", ou insatisfatório. Quando acorda já se sente cansado como se não tivesse dormido.

4. Os sentimentos de preocupação, ansiedade ou os sintomas físicos estão provocando consternação ou estrago em minha vida pessoal, social, profissional, etc.

O cenário da psicologia enquanto ciência é polemico desde sua origem até a atualidade. Algumas de suas escolas mais expressivas são: A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, que criou e definiu a estrutura psíquica através de três instâncias: o Id, Ego e o Superego, afirmando que a parte consciente da nossa mente é só a ponta do iceberg e que nossa vida seria comandada em sua maior parte pelos desejos inconscientes.

No nosso cotidiano, assim como no transito a todo o momento estamos sofrendo influencias dessas três instancias e temos que estabelecer uma hierarquia para definirmos o comportamento mais adequado para o momento.

A Teoria humanista afirma que todos os homens nasceram com uma capacidade ilimitada para realizar-se, caberia ao psicólogo suprimir os entraves que bloqueiam à pessoa e dificulta a concretização plena.

O Behaviorismo considerado como uma psicologia de linha dura, afirma que só devemos considerar o que podemos ver e mensurar, sendo que tudo pode ser explicado através do estímulo-resposta.

Quando a pessoa esta angustiada, sente-se dividida e passa a “suspirar” pelos cantos, sem conseguir tomar nenhuma iniciativa. O indivíduo não percebe que a única forma de solucionar a questão é assumindo uma “decisão”, representada pela escolha que fizer e pela atitude que tomar.

Filosoficamente falando seria assumir um raciocínio dedutivo sobre o problema, e psicologicamente seria ter um insight, encontrando a solução para o conflito.

O psiquismo humano é provido de vários mecanismos de defesa, que se formam inconscientemente e entram em ação para amenizar a tensão e o sofrimento que são gerados por uma escolha.

Esses mecanismos de defesa servirão para organizar e estruturar a personalidade e o caráter da pessoa, tanto o normal quanto o patológico. Estudar e avaliar essas estruturas são de suma importância para um transito seguro.

Para Theobaldo M. Santos a definição de Caráter seria o conjunto das indicações e tendências que diferenciam um individuo do outro.

A estruturação do caráter tem o objetivo de conter e dominar as angustias de intensidades variáveis e por vezes insurpotáveis. É esse controle que ajuda e impulsiona o homem na sua evolução e na construção do que conhecemos por civilização.

 

O Caráter, O Temperamento, e A Constituição do Indivíduo

O desenvolvimento da personalidade do ser humano está intimamente relacionado e associado ao desenvolvimento físico acompanhando o mesmo ritmo. Porém existe uma forte tendência em separar o aspecto psíquico do aspecto físico, supervalorizando as funções psíquicas como, por exemplo, a afetividade e subestimando e desprezando funções físicas como, por exemplo, a excreção.

Sabemos que as primeiras manifestações da motivação e da ansiedade no ser humano estão ligadas diretamente aos processos fisiológicos.

Durante o processo da evolução, em qualquer fase do desenvolvimento que o individuo se encontra a personalidade vai se apoiar na estrutura física, ou seja, em seu organismo.

Nesse organismo existe um conjunto de características individuais hereditárias que poderão ou não ser desenvolvidas em suas interações com o meio onde vive. A este conjunto de características damos o nome de genótipo.

Por outro lado existem as características individuais que são adquiridas fundamentalmente pela influência do meio ambiente e as experiências vivenciais individuais, que no seu conjunto recebem a denominação de paratipo.

Quando observamos ou avaliamos uma pessoa, não podemos esquecer que ela apresenta uma estrutura fenotípica que é o resultado da integração genótipo/paratipo, o que para psicologia no processo de avaliação é capital para prever o comportamento do individuo no transito.

Cada pessoa é única e apresenta uma maneira muito particular de ser e reagir aos conflitos, lidando com sua ansiedade de modo particular e respondendo aos estímulos de modo peculiar.

Isso pode ser observado nas diferentes respostas dos motoristas diante de uma situação comum. Por exemplo, num engarrafamento, alguns motoristas buzinam sem parar, outros xingam, outros ouvem musica e aguardam, enfim comportamentos diferentes no mesmo ambiente e na mesma situação.

Sem examinar minuciosamente o significado dos conceitos apresentados acima, por afinidade podemos relacionar, no plano psicológico, o temperamento com o genótipo, caráter com paratipo e personalidade com fenótipo.

Temperamento seria a disposição herdada que faz o indivíduo responder ao meio de modo característico. Assim, desde o nascimento, observa-se entre os indivíduos limiares diferentes de sensibilidade aos estímulos internos ou externos; diferenças na afetividade predominante e diferenças no ritmo, intensidade e periodicidade dos fenômenos neurovegetativos etc.; onde todos esses fatores somados determinarão o grau de ansiedade e de angustia frente as situações do dia-a-dia.

Podemos entender o caráter como um conjunto de formas mais elaboradas e determinadas pelas influências ambientais, sociais e culturais que o indivíduo emprega para adaptar-se ao meio, tentando manter um controle satisfatório sobre sua angustia. Em contraposição ao temperamento, o caráter é predominante volitivo e intencional. Porém de modo geral, o temperamento e o caráter estão intensamente associados e entrelaçados de modo que se torna difícil sua distinção. Assim, podemos definir a personalidade como sendo a integração dos aspectos físicos, temperamentais e caracterológicos do indivíduo. Esta integração é dinâmica e evolutiva, bem como os mecanismos de defesa que serão utilizados para abrandar o sofrimento causado pelo conflito.

Ao mesmo tempo em que todos esses componentes interagem ativamente em diferentes proporções, de acordo com as condições de cada episódio que gera conflito a personalidade vai adquirindo alternadas e contínuas modalidades de comportamento durante a vida embora mantenha características que lhe conferem consistência, continuidade e individualidade o que nos permite na avaliação psicológica prever que tipo de comportamento o individuo poderá ter no transito.

 

A dinâmica da personalidade

Inúmeras teorias têm sido elaboradas e desenvolvidas numa tentativa de buscar linhas diretivas para o estudo e a compreensão da personalidade. Entre elas a teoria psicodinâmica é de fundamental importância para a compreensão do comportamento humano por conseguir formar uma co-ligação entre o sentimento e o comportamento. Mesmo sem conhecer as bases desta teoria, pessoas leigas ao assunto manifestam uma atitude psicodinâmica ao tratarem com seus semelhantes esperando compreender o comportamento do outro em determinada circunstancia, esforçando-se para alcançar o motivo de suas atitudes e opiniões, sentimentos e crenças tentando relacionar a conduta com os impulsos, as emoções, os pensamentos e as percepções que a motivaram. O mérito de estabelecer as bases cientifica para essa compreensão cabe a Freud e seus estudos sobre os mecanismos de defesa e a angustia.

O selo da responsabilidade humana é a marca do nosso caráter, e da nossa personalidade permitindo ao individuo ser autentico consigo mesmo e com os outros.

A angustia é um fenômeno difuso e de limites imprecisos, de configuração ambígua, entre as fronteiras da psicologia, da fisiologia e das ciências sociais.

Podemos pensar em três fatores que podem colaborar para a ansiedade:

Predisposição – fator fisiológico

Precipitante – fator ambiental

Perpetuante - fator que mantém o problema.

No processo da avaliação psicológica de motoristas todos esses fatores são analisados estabelecendo-se uma ligação entre eles de modo que nos permita compreender o individuo, seus sentimentos e seu comportamento.

Alguns termos utilizados em diversos idiomas para definir a angustia

 

Após um breve discurso sobre o caráter e a personalidade, vamos estudar alguns termos que podem ajudar a definir a angustia ou ansiedade.

Nos seus originais, em alemão, Freud discutiu muitas vezes os diferentes matizes do significado das palavras “Schreck” (susto); “Furcht” (medo) e “Angst” (ansiedade, angustia), considerando inadequada sua utilização como sinônimos.

Angst ou ansiedade é um estado especifico de esperar o perigo ou preparar-se em relação ao mesmo, ainda que desconhecido; Furcht ou medo difere da ansiedade, pois requer um objeto definido que é temido; e Schreck ou susto caracteriza o estado que a pessoa fica quando tem que enfrentar uma situação de perigo sem estar preparada para tal. Freud enfatiza o fator surpresa nessa situação.

“Angst” é uma palavra aparentada com “eng” que em alemão significa estreito, apertado, restrito. Ansiedade ou Angustia em português deriva do latim “angere”, ou seja, sufocar, afogar, apertar. Ambas as palavras dizem respeito a sentimentos angustiantes, asfixiantes e caracterizam formas graves do estado psicológico.

Para Webster (Webster New World Dictionary 1970) – “o estado de.....apreensão ou preocupação sobre o que poderá acontecer; preocupação a um possível evento futuro...em psiquiatria um intenso estado desta espécie, caracterizado por graus variáveis de perturbação emocional e tensão psíquica... 1. O mesmo autor define “Anguish” como sendo um estado de aperto, grande sofrimento, aflição, luto ou dor, agonia...

Em francês e de acordo com Parot “anxiète” e “angoisse” são utilizados como sinônimos.

No espanhol ambos os vocábulos são utilizados, “ansiedade” e “angustia”, porem o mais encontrado é ansiedade.

Caldas Aulete definiu Ansiedade como sendo uma angustia de espírito, aflição de quem receia alguma desgraça, impaciência, sofreguidão; angustia foi definida por ele como sendo uma sensação de estreiteza, aperto.

A ansiedade, aflição, agonia (medo) seria um estado intolerável de opressão e constrição epigástrica que se manifesta em diversas doenças....

Outros autores como Levim cita que a angustia descreve os aspectos corporais como a constrição torácica, dispnéia, taquicardia, sudorese e pavor intenso, porem “desprovidos de conteúdos psíquicos claramente destacáveis na consciência. Ao passo que a ansiedade diz respeito ao aspecto psíquico – desagradável sensação de que algo iminente e terrível esta para acontecer”. 1

Winnicot2 supõe que o termo “anxiety” não é suficiente para descrever certos estados emocionais, utilizando então a expressão “agonias primitivas” que procedem do tempo da absoluta dependência, onde a mãe supre como auxiliar as funções do ego do bebe.

Freedman e Kaplan 3 apresentam duas definições de angustia:

1-Angustia é um sentimento difuso, altamente desagradável, e muitas vezes vago de apreensão, acompanhado por uma ou mais sensações fisiológicas que caracteristicamente se repetem na mesma pessoa, por exemplo, um sentimento de vazio na região epigástrica, aperto no peito, taquicardia, transpiração, dor de cabeça, ou o súbito desejo de evacuar. Um desassossego e um desejo de movimentar-se são também muito comuns.

2-A angustia é um sinal de alerta; previne quanto a um perigo próximo e permite a pessoa tomar medidas para lidar com a ameaça.

O medo é um sinal de alerta, e é facilmente distinguido da angustia com base no perigo que pode ou não ser conhecido e diferenciado, podendo ser externo ou interno, imediato ou futuro, definido ou vago, de origem conflituosa ou não conflituosa. 6    

Parot em seus estudos conceituou os termos “Anxiète” e “angoisse” separando 3 condições essenciais para sua compreensão:

1- o sentimento da iminência de um perigo indeterminado;

2- a atitude de espera diante do perigo, verdadeiro estado de alerta ante uma catástrofe iminente;

3- a convicção de absoluta impotência e o sentimento de desorganização e de anulação diante do perigo.

Segundo o Diagnóstic and Statistical Manual of Mental Disorders da American Psychiatric Association3 a angustia é conceituada como uma reação difusa e não restrita a situações definidas ou objetos definidos, como no caso das reações fóbicas. Não se acha controlada por nenhum mecanismo de defesa psicológico especifico como nas outras reações psiconeuróticas. Esta reação é caracterizada por uma expectativa ansiosa e freqüentemente associada com sintomatologia somática. 6

Este conceito de ansiedade deve ser diferenciado dos conceitos de apreensão normal e do medo.

Moore e Fine em 1968 conceituaram a angustia como uma aflição que é vivenciada subjetivamente como uma preocupação semelhante ao sentimento do medo de um perigo real ou a sua antecipação, e que usualmente é acompanhada de manifestações concretas de atividade aumentada das funções corporais sob controle do sistema nervoso (vegetativo) autônomo, como por ex, palpitações, sudorese, alteração respiratória, etc...Segundo estes autores, as fontes geradoras de angustia são 4:

1-a angustia devida a perda de objeto;

2- a angustia devida à perda de amor;

3- A angustia devida ao complexo de castração, e;

4- a angustia devida a má consciência ou angustia de Superego (sentimento de culpa).

Eidelberg em 1971 definiu a angustia como sendo uma sensação de desprazer que é vivenciada quando o objetivo é desconhecido e é eminente a perspectiva de uma perturbação de ordem interna ou externa, gerando um conflito diante de uma ameaça desconhecida.

A ansiedade pode ainda ser definida como “uma emoção caracterizada por sentimentos de previsão de perigo, tensão e aflição e pela vigilância do sistema nervoso simpático” 4

A ansiedade e o medo podem ser distinguidos entre si por duas dimensões: o objeto e a intensidade do sentimento em relação a ele. No medo na maior parte das vezes o objeto é conhecido e o sentimento proporcional à magnitude do perigo; enquanto que na ansiedade o objeto não é claro e a intensidade do sentimento não corresponde à realidade dos fatos objetivos. 6

A ansiedade pode ser desencadeada por fatores tanto do mundo real como do mundo imaginário, ambos levando as alterações físicas e psíquicas. As respostas físicas podem ser brandas ou intensas.

Experimentos em laboratórios mostraram que, quando as pessoas julgam poder controlar a situação estressante os efeitos aversivos são reduzidos, pois a ansiedade também passa a ser controlada.

O stress imprevisível leva a um sentimento de desamparo que aumenta a intensidade da ansiedade e diminui a capacidade de tolerar a situação de frustração perturbando a capacidade de raciocínio.

O individuo passa a sentir-se melancólico, sentindo-se abandonado a um total vazio de sentimento de vida. Aristóteles (384-322 A.C.) fala da melancolia como um profundo sentimento de tristeza, onde a pessoa sente-se caindo num abismo de dor.

Para Freud a ansiedade é uma permanente expectativa de que algum mal ou perigo vai acontecer; perspectiva pessimista dos acontecimentos e sobre o futuro; inquietação vaga e desoladora da existência; desamparo diante da ameaça desconhecida. “Irritabilidade generalizada, inquietação desordenada, tensão muscular, a pessoa vive em permanente estado de alerta”. 7

Freud arrolou em suas observações 2 detonadores da ansiedade:

1- perigos do mundo real

2- previsão de punição por comportamento inadequado

No primeiro caso a ansiedade é causada por fatores reais que levam ao sofrimento físico; e no segundo caso o sofrimento é causado pelo pensamento.

Cientistas do comportamento enfatizam uma outra fonte geradora de ansiedade. Os psicólogos cognitivos realçam conflitos entre:

-Expectativa

-Crença

-Atitude

-Percepção

-Informação

-Concepção e coisas parecidas que conduzem a uma dissonância cognitiva.

Campbell 5 considera que a ansiedade difere dos outros estados emocionais por sua característica desagradável incluindo manifestações somáticas, fisiológicas (respiração perturbada, aumento da atividade cardíaca, mudanças vaso-motoras, distúrbios da musculatura esquelética, como tremores e paralisia, aumento da transpiração, etc...) e manifestações psicológicas caracterizadas por:

1-percepção física e mental dolorosa de impotência para fazer seja o que for em relação a assuntos pessoais;

2-pressentimento de perigo eminente e inevitável;

3-estado de alerta e vigilância tensa e fisicamente exaustiva como se enfrentasse uma situação de emergência;

4-ensimesmamento apreensivo que impede a solução efetiva e vantajosa de problemas reais;

5-duvida cruel sobre a ameaça do perigo constante e de “meios objetivos de reduzir a ansiedade ao eliminar o perigo e sobre a capacidade subjetiva para fazer uso efetivo desses meios, se e quando a emergência surgir”.

Em 1894 Freud descreveu as características clinicas da neurose de ansiedade como sendo: irritabilidade geral, expectativa e remorso, acessos de ansiedade e fobias; distinguindo esta síndrome da neurastenia. Na expectativa ansiosa existe certa quantidade de ansiedade à deriva que esta sempre pronta a ligar-se a qualquer conteúdo ideacional adequado. 5

Como podemos observar, o controle da ansiedade é uma das bases da civilização garantindo o bom convívio social entre os homens. Ajudar as pessoas a pensar que tem controle sobre as situações ameaçadoras, provavelmente ajuda a reduzir a intensidade da ansiedade estabilizando o comportamento do individuo e consequentemente, diminuindo a agressividade.

No trânsito a tendência é o indivíduo descarregar toda sua frustração e agressividade na forma de uma direção perigosa.

Por tratar-se de um fenômeno difuso abrangendo o individuo em sua totalidade, é mister estudar esse fenômeno abarcando o contexto geral no qual o homem esta inserido.

A ansiedade normal é um dos sentimentos que garantem a sobrevivência da espécie, humana, pois permite ao homem antecipar uma situação de perigo, como no transito, por exemplo, observar e prever o que o condutor a sua frente vai fazer pode ser a diferença entre envolver-se em um acidente ou safar-se do mesmo. Passa a ser patológica quando começa a causar sofrimento excessivo e/ou prejuízo no desempenho e nas atividades do dia-a-dia da pessoa.

Diferentemente da ansiedade ou angustia, o medo possui um objeto definido e real, portanto permite uma reação de defesa especifica e ao mesmo tempo um alivio do sintoma, pois quando elimina ou afasta-se do objeto que desencadeia o sintoma, o medo desaparece.

Quando há a possibilidade de controlar a situação, o estresse tende a diminuir e a angustia causada pelo medo também.

Já na ansiedade a pessoa não tem um objeto especifico, sente medo, mas não sabe do que, e isso gera um aumento da ansiedade e um stress duradouro, uma vez que a luta é contra o desconhecido.

O descontrole da ansiedade é uma das causa da síndrome do pânico, que é caracterizada por crises inesperadas de medo e desespero, além de sintomas orgânicos como sudorese, taquicardia, falta de ar, etc.. é um sentimento de morte eminente.

A pessoa que padece da síndrome do pânico sofre durante as crises e mais ainda entre uma e outra, pois não tem a menor idéia de quando elas ocorrerão novamente.

Essa sensação de insegurança diante do perigo abstrato, traz uma enorme insegurança ao individuo, comprometendo seriamente o seu estado emocional e a sua qualidade de vida.

Seus relacionamentos familiar, social e profissional ficam seriamente prejudicados.

No meio familiar e social começa a aparecer dificuldade no contato quando a ansiedade o impede de conviver, pois tem a nítida sensação de que algo horrível vai acontecer a qualquer momento. Reage sempre de forma impulsiva em qualquer situação, numa tentativa de fugir do perigo.

Sendo a ansiedade a soma da tensão física e psíquica, no trabalho a capacidade de produção da pessoa fica afetada. Em função da alta ansiedade não consegue manter-se concentrado em sua atividade uma vez que sua memória também é afetada por esse sentimento prejudicando a condição de codificação da mensagem e a capacidade de armazenamento e recuperação.

A aprendizagem fica seriamente comprometida desencadeando o que Goleman chama de seqüestro emocional, O famoso “branco” diante de situações onde a pessoa é colocada à prova.

Na avaliação psicológica quando o individuo é submetido aos testes, o mesmo sente-se exposto, e essa exposição tem a conotação de perigo, sua insegurança vem a tona e ele tem que se defender,....mas do que? O individuo não sabe, mas tem que se defender.

Os instrumentos utilizados para a avaliação psicológica nos ajudam a compreender e relacionar os sentimentos com o comportamento do individuo, colaborando para um prognóstico de como ele será no trânsito.

Imagine uma pessoa com todos estes sentimentos e sintomas tão contraditórios, que tipo de motorista poderá ser?

Referências

  1. Boletim de Psiquiatria; Vol. X pg. 86
  1. D. W. Winnicott - Tudo Começa Em Casa; Editora: Martins Fontes; São Paulo 2005
  1. Freedman e Kaplan

4.    Linda L. Davidoff Introdução à psicologia. Trad. Auriphebo Berrance Simões e Maria da Graça Lustosa: Rio de Janeiro McGraw-Hill do Brasil Ltda; 1983.

5.   Campbell RJ. Dicionário de psiquiatria. São Paulo: Martins Fontes; 1986.

6-   Bol.Psiq. EPM março de 1977.

7.   Pereira, Mario Eduardo Costa- Psicopatologia dos Ataques de Pânico; Ed.Escura Ltda São Paulo, 1º ed.2003

8.   Bernstein GA, Borchardt CM, Perwien AR. Anxiety disorders in children and adolescents: a review of the past 10 years. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1996;35:1110-9.         [ Links 

9   http://www.psiqweb.med.br/ansitext.html

10.   SPOERRI, T. H. Compêndio de psiquiatria. 8. ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro: O Atheneu, 1979.