Quando eu era jovem, gostava de colecionar trechos de livros que foram importantes para mim. Eles eram copiados em letras bem caprichadas, numa caderneta, a qual faz parte dos meus arquivos. Um deles, uma história contada por Diógenes - O Cínico - comparou o destino do boi com o de um soldado na guerra.
  Vou resumir o escrito: a história começa quando um boi, fugindo da sua manada refugiou-se num bosque, enquanto um soldado, que também estava fugindo da guerra, escondeu-se no mesmo lugar...
  Possuído subitamente pela faculdade de pensar, o boi aterrorizou-se com as verdades que o novo dom lhe descortinou e viu um destino muito cruel  pesando sobre a sua espécie. Davam-lhes boas pastagens, curavam suas enfermidades e depois, - nhact! - eram destruídos no apogeu da força e da vida.
  Haveria destino pior que aquele?
  Ter o limite da existência traçado, não pela natureza, mas por homens. Haveria no mundo espécie mais infeliz?
  Esta última frase, dita em voz alta e em tom de lamento foi ouvida pelo soldado que se aproximou do boi e respondeu-lhe à amarga interrogação, dizendo que havia uma espécie mais infeliz ainda, a dele - a espécie humana. Mais triste que o boi, ele comentou que as alimárias eram sacrificadas com fins bastante úteis e até nobres, porque seus pedaços póstumos eram vendidos para manterem a espécie que o sacrificara, enquanto que a guerra, um terrível crime coletivo servia apenas para imortalizar os reis ambiciosos.
  O boi então, consolou-se do seu infortúnio...

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